Annot (artista)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Annot Jacobi
Nascimento
Morte
Pseudónimo
Jacobi,
Cidadania
Atividade
Pai
Otto Krigar-Menzel (d)
Mãe
Jacoba Elling (d)
Cônjuge
Rudolf Jacobi (d)
Descendentes
Stella Jacobi (d)

Annot (Berlim, 27 de dezembro de 1894 - Munique, 20 de outubro de 1981), nascida Anna Ottilie Krigar-Menzel e também conhecida pelo nome de casada como Annot Jacobi, foi uma pintora, professora de arte, escritora, pacifista e antifascista alemã. Devido à forte hostilidade política que viveu na Alemanha durante o regime nazi, viveu grande parte de sua vida nos Estados Unidos da América e em Porto Rico.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascimento e Família[editar | editar código-fonte]

Annot nasceu a 27 de dezembro de 1894, em Berlim, sob o nome de Anna Ottilie Krigar-Menzel, sendo filha de Otto Krigar-Menzel, professor alemão de física teórica na Universidade de Berlim, e de Jacoba Elling, cantora lírica de nacionalidade norueguesa e ascendência dinamarquesa.[1] Oriunda de uma família de académicos de classe alta, os seus padrinhos eram o compositor Johannes Brahms e o pintor Adolph Menzel, que também era seu tio-avô paterno.[2] Era ainda sobrinha pelo lado materno do engenheiro e inventor norueguês Ægidius Elling e do músico Catharinus Elling.

Educação[editar | editar código-fonte]

Dotada para as artes desde jovem idade, começou a sua formação artística na Escola de Desenho e Pintura da Verein der Berliner Künstlerinnen, uma associação de artistas em Berlim, sendo discípula dos pintores e retratistas alemães Fritz Rhein (1873-1948) e Karl Bennewitz von Loefen der Jüngere (1856-1931). Anos mais tarde, dando continuidade aos seus estudos, em 1915, ingressou na escola de pintura de Lovis Corinth (1858-1925), integrando pouco depois o grupo de artistas de vanguarda, conhecidos como a Secessão de Berlim, sendo uma das poucas mulheres artistas que foi aceite no grupo.[3][4]

Pacifismo[editar | editar código-fonte]

Em 1916, adepta do pacifismo, escreveu e distribuiu vários panfletos e manifestos a apelar a paz, em protesto contra a Primeira Guerra Mundial, sendo condenada pelas suas acções à prisão por 30 dias.[5][6] Devido a este facto, de 1916 a 1920, Annot fixou-se temporariamente em Oslo, Noruega, onde continuou a defender os seus ideais.[2] Regressando à sua cidade natal em 1920, aderiu à Deutsche Liga für Menschenrechte (Liga Alemã para os Direitos Humanos), bem como na organização antecessora Bund Neues Vaterland e na Liga Internacional de Mulheres pela Paz e Liberdade, tendo desenvolvido desde esse momento uma duradoura amizade com Annette Kolb e Carl von Ossietzky.

Casamento[editar | editar código-fonte]

Em 1921, Annot casou-se com o pintor Rudolf Jacobi, com o qual teve dois filhos. Após se ter fixado com a sua família em Positano, entre 1923 a 1926, o casal e os seus filhos partiram para Paris, onde Annot tornou-se discípula do pintor André Lhote.[2] Regressando em 1928 para Berlim, o casal de pintores abriu a escola de pintura Malschule Annot e fizeram uma exposição conjunta na Galerie Neumann-Nierendorf,[7] tendo várias pinturas de Annot sido compradas pela Galeria Nacional de Berlim.

Exílio[editar | editar código-fonte]

Durante a ascensão do regime nazi e recusando-se a expulsar da sua escola os alunos judeus, em 1933, os Jacobis foram forçados a fechar a Malschule Annot.[8] Devido à sua forte e conhecida oposição ao regime, as suas pinturas foram designadas como "degeneradas" e destruídas ou saqueadas pelos nazis.[9][10][11][12]

Retrato fotográfico de Käthe Kruse e as suas filhas (1935) da autoria de Annot Jacobi

Temendo pela sua vida, Annot emigrou com a sua família para os Estados Unidos,[13] onde durante as décadas de 1930 e 1940, viveram em Nova Iorque, passando os Verões em Gloucester, Massachusetts.[14] Durante esse período, a artista alemã abriu a Annot Art School and Gallery no Rockefeller Center,[15][16] expôs obras de artistas como Katherine Sophie Dreier,[17] trabalhou como designer de interiores, tornou-se quaker e foi galardoada com vários prémios, incluindo uma medalha de ouro em 1935, pelo retrato fotográfico da criadora de bonecas Käthe Kruse com as suas filhas Mimerle e Fifi.[18][19]

Apesar de viverem no exílio, mesmo após a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial em 1942, Annot e o seu marido continuaram a ser ativos no movimento pacifista, sendo eleita, em 1945, presidente do Subcommittee on Food Parcels for Europe, criado com o objectivo de enviar mantimentos para várias povoações afectadas pela guerra.

Em 1956, Annot, Rudolf Jacobi e a sua filha Stella viajaram para Porto Rico, onde visitaram o maestro e violoncelista Pau Casals. Durante a sua estadia, sentiram-se particularmente atraídos pela "integração racial que se faz sentir em todas as condições de vida", decidindo mudar-se para a região pouco depois. Fixando-se na cidade de San Juan, Annot fez campanha pelo desarmamento nuclear, ajudando a formar o Puerto Rican Committee for a Sane Nuclear Policy, do qual foi nomeada presidente honorária. Posteriormente Pau Casals e Albert Schweitzer também foram presidentes honorários da mesma organização.[20]

Em 1967, Annot e Rudolf Jacobi regressaram à Alemanha, estabelecendo-se em Munique, onde a artista continuou a expor e a criar novas obras.

Morte[editar | editar código-fonte]

Annot Jacobi faleceu a 20 de outubro de 1981, em Munique, Alemanha.

Obra artística[editar | editar código-fonte]

Fotografia a preto e branco da obra Sunflowers (1929) de Annot Jacobi

Influenciada pelos movimentos artísticos do impressionismo e pós-impressionismo, de 1928 a 1930, Annot concentrou o seu trabalho artístico num ciclo de pintura em que retratava rostos de mulheres trabalhadoras de diferentes classes sociais, incluindo médicas, advogadas e fisioterapeutas. Caracterizado por um tratamento de superfície generoso e solto, este ciclo de pinturas foi bastante elogiado pela historiadora de arte Annelie Lütgens, remetendo influências de Henry Matisse, Paul Cézanne e de outros artistas fauvistas e cubistas analíticos.[21]

Em fevereiro de 1935, a artista plástica realizou a sua primeira exposição individual nos Estados Unidos, na Galeria Marie Sterner, em Nova Iorque, onde apresentou várias pinturas a óleo e guaches, que receberam várias críticas positivas.[22] Um ano depois montou uma exposição na Galeria Katharine Kuh em Chicago.[23]

Durante a década de 1940, após a Segunda Guerra Mundial, começou a explorar o expressionismo abstrato e a fotografia, realizando retratos de figuras conhecidas da sociedade intelectual europeia a viver nos Estados Unidos.[24]

Em 1977, foi organizada uma exposição com obras de Annot na Haus am Lützowplatz em Berlim, e em 1978, na Galerie von Abercron em Munique.[25][26]

Referências

  1. «Records of the Witness Coordinating Committee and of the Outreach Committees of New York Yearly Meeting». Swarthmore College. Consultado em 27 de fevereiro de 2016 
  2. a b c «Annot Jacobi». BildIndex. Bildarchiv Foto Marburg. Consultado em 17 de fevereiro de 2016. Cópia arquivada em 5 de março de 2016 
  3. Gaddis, Eugene R. (9 de novembro de 2011). Magician of the Modern: Chick Austin and the Transformation of the Arts in America (em inglês). [S.l.]: Knopf Doubleday Publishing Group 
  4. «Paintings and Guaches by Annot». The Brooklyn Daily Eagle. 11 de fevereiro de 1934. p. 32 
  5. Artinger, Kai (2000). Agonie und Aufklärung : Krieg und Kunst in Großbritannien und Deutschland im 1. Weltkrieg. Weimar: VDG. ISBN 9783897391253 
  6. Siebrecht, Claudia (2012). The aesthetics of loss. German women's art of the First World War. First ed. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780199656684 
  7. Vierhaus, Rudolf (2006). «Jacobi, Annot». Deutsche Biographische Enzyklopädie : (DBE) 2nd, revised ed. München: Saur. ISBN 9783598250354 
  8. Meisner, Judith. «Mit der Ausstellung "Kunst in Berlin 1933–1938. Verfemt, verfolgt, verboten" zeigt die Berlinische Galerie Bilder heute fast vergessener Künstler» [Images of almost forgotten artists are being shown today in the Berlin Gallery's exhibition, "Art in Berlin 1933–1938. Outlawed, persecuted, banned"]. Den Tingeltangel Luna-Park. Consultado em 27 de fevereiro de 2016 
  9. «Wilhelm Arntz papers, 1898–1986». The J. Paul Getty Trust. A comprehensive documentation of Bildersturm, the campaign against art the Nazi government considered degenerate, and of the efforts to recover the looted artworks after the war... Annot is listed among the artists at the Berlin: Nationalgalerie. 
  10. Fulda, Bernhard; Soika, Aya (2012). Max Pechstein The Rise and Fall of Expressionism 1. Aufl. ed. Boston: De Gruyter. ISBN 978-3-11-028208-5. Unfortunately we are missing for this the most important illustrative material because so little has survived, all that has not been burnt or been stolen has been shipped abroad. 
  11. «Archiv Bildende Kunst: Annot Jacobi Archiv». Akademie der Künste 
  12. «DANCING ON THE VOLCANO The Berlin of the Twenties as Reflected in the Arts» (PDF). Stadtmuseum Berlin 
  13. Thompson, Dorothy (1936). «Culture Under the Nazis». Foreign Affairs. Consultado em 29 de fevereiro de 2016 
  14. «Rudolf Jacobi». Emily Weintraub Fine Art. Consultado em 16 de janeiro de 2016. Cópia arquivada em 25 de janeiro de 2019 
  15. «Notes». Parnassus. 6: 30–31. 1934. doi:10.1080/15436314.1934.11467367 (inativo 31 de maio de 2021) 
  16. Addison Gallery of American Art (1941). European artists teaching in America. Andover, Massachusetts: Phillips Academy. Consultado em 29 de fevereiro de 2016 
  17. Annot (1934). 40 variations by Katherine S. Dreier. New York City: Annot Art School 
  18. «Sie tanzten auf dem Vulkan» (PDF). SAISONAUFTAKT. 27 de agosto de 2015. Consultado em 27 de fevereiro de 2016. Cópia arquivada (PDF) em 4 de março de 2016 
  19. Rudolf Jacobi and Annot (Jacobi). (em inglês). [S.l.]: Marie Sterner Gallery. 1936 
  20. «Friends and their friends» (PDF). Friends Journal. 5. 19 de novembro de 1959. p. 494. Consultado em 27 de fevereiro de 2016 
  21. Lütgens, Annelie (1987). Das verborgene Museum I Dokumentation der Kunst von Frauen in Berliner öffentlichen Sammlungen ed. Berlin: Hentrich. 239 páginas. ISBN 3-926175-38-9 
  22. Annot. Annot. [S.l.: s.n.] Exhibition of paintings and gouaches by Annot Marie Sterner Gallery, New York, February 5 to February 17, 1934 
  23. Prince, Sue Ann (1990). The Old guard and the avant-garde : modernism in Chicago, 1910–1940. Chicago: University of Chicago Press. ISBN 9780226682846 
  24. Fulda, Bernhard; Soika, Aya (30 de outubro de 2012). Max Pechstein: The Rise and Fall of Expressionism (em inglês). [S.l.]: Walter de Gruyter 
  25. «Galerie von Abercron» 
  26. Annot (1978). Annot : Gemälde, Aquarelle : erschienen anlässlich einer Ausstellung der Galerie von Abercron, Köln-München, Februar 1978 in München : [Katalog]. Cologne: Die Galerie