Apostas nas eleições papais

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Papa Gregório XIV fez apostar nas eleições papais punível por excomunhão.

Apostas nas eleições papais têm uma história de pelo menos 500 anos. Apostar em conclaves no século 16 está entre os primeiros exemplos documentados de apostas em resultados de eleições.[1] Durante o mesmo período, apostas eram também comuns nos resultados de eleições seculares italianas, como a do Doge de Veneza.[2]

Século 15[editar | editar código-fonte]

A República de Veneza proibiu apostar na vida do papa em 1419, e cancelou apostas já feitas. Políticas de seguro de vida era frequentemente feitas ao papa atual, por vezes como seguro genuíno por empresários cujo papado lhes devia dinheiro pois tinham medo de uma mudança de Pontífice, mas também um empreendimento puramente especulativo. Tais políticas nas vidas dos papas e outras figuras notáveis eram proibidas em Barcelona (1435) e Génova (1467 e 1494).[3]

Século 16[editar | editar código-fonte]

O primeiro exemplo gravado de apostas em candidatos a serem selecionados por uma eleição papal ocorre com a conclave de setembro de 1503, embora Frederic Baumgartner, um historiador de eleições papais, considera-a já "uma prática antiga."[4]

Discutindo a eleição de Leão X em 1513, foi dito:

Apostar no desfecho de eleições papais era bastante comum e era frequentemente feito pelas casas bancárias em Roma que empregavam sensali, ou mensageiros, para correrem de um lado para o outro a entregar bilhetes de aposta. Os apostadores viam as probabilidades atentamente.[5]

Antes e durante a conclave de 1549-50, muitos banqueiros romanos ofereceram spreads de apostas do papabili (cardinais prováveis a serem eleitos). Segundo o veneziano Enrico Dandolo, uma testemunha da conclave, "é mais que claro de que os comerciantes estão muito bem informados sobre o estado do inquérito, e que os atendentes dos cardinais na Conclave fazem parcerias com eles em apostas, que assim causa muitas dezenas de milhares de coroas a mudar de mãos". Dandolo escreve um exemplo antigo de insider trading.[6] O Cardinal del Monte (que foi eventualmente eleito Júlio III) tinha eventualmente começado como o favorito com 5-1, seguido por Salviati, Ridolfi, e Pole, mas Pole era o favorito três dias depois com 4-1.[7] A 5 de dezembro, as probabilidades de Pole tinham diminuído para 100-95.[7] Com a chegada de quatro cardinais franceses adicionais a 11 de dezembro, as probabilidades de Pole deslizaram para 5-2.[8] A 22 de janeiro, as probabilidades cotadas contra a conclave acabar durante janeiro eram 10-9, contra fevereiro: 2-1, contra março 5-1, e nunca: 10-1.[9]


Em março de 1591, o Papa Gregório XIV, impôs uma penalidade de excomunhão contra qualquer pessoa que apostasse no desfecho ou duração de eleições papais (como também a criação de cardinais),[1] e baniu a prática nos Estados Papais.[10] O cânone foi revogado (junto com o resto do direito canónico) pelas reformas do Papa Bento XV.[11]

Século 19[editar | editar código-fonte]

Segundo um artigo do New York Times, depois da conclave de 1878: "Os italianos são todos supersticiosos, e todos gostam da loteria. Todos os grandes eventos levam a especulação em números. As mortes e adventos dos Papas têm sempre dado crescimento a uma quantidade excessiva de apostas na loteria, e hoje as pessoas de Itália estão num estado de entusiasmo que é indescritível. Figuras são escolhidas que têm alguma relação com a vida ou morte de Pio IX. Todos os dias grandes quantias são pagas por bilhetes na loteria prestes a ser sorteada".[12]

Século 20[editar | editar código-fonte]

Apostas sobre os desfechos da conclave de 1903 e da conclave de 1922 foram relatadas em vários jornais.[1][13] Com a conclave de 1903, a loteria feita pelo governo italiano ofereceu probabilidades na morte do papa e, tivesse o Papa Leão XIII morrido uma semana antes, o governo teria perdido mais de 900,000€.[14]

Houve apostas extensas na Grã-Bretanha pelas eleições do Papa João Paulo I e do Papa João Paulo II, e o primata Católico inglês, o Arcebispo de Westminster sentiu que era necessário proibir a participação por Católicos.

Século 21[editar | editar código-fonte]

Paddy Power,[15] a maior casa de apostas da Irlanda, começou a aceitar apostas do sucessor do Papa João Paulo II cinco anos antes da morte do Pontífice.[16] As casas de apostas britânicas como a Pinnacle Sports e William Hill também ofereceram tais apostas, com probabilidades significantemente diferentes.[17] O Cardinal Ratzinger, a eventual escolha para a conclave de 2005 como Papa Bento XVI, começou com probabilidades de 12-1, mas era um favorito de 3-1 na altura da conclave.[16] Sr. Power, o proprietário da Paddy Power, foi expulso da Praça de São Pedro pela equipa de segurança antes do começo da conclave de 2005 por exibir os seus preços de apostas,[16] pelo que ele alega serem polícias à paisana.[18] Só a Paddy Power tomou mais de 357,000€ em apostas da conclave, fazendo dela- segundo Sr. Power - "o maior mercado de apostas não-desportivas de todos os tempos".[16] Com a renúncia do Papa Bento XVI a 28 de fevereiro de 2013,[19] o website[20] da Paddy Power para a conclave de 2013 listava os sucessores para o Papa. A 13 de março de 2013, Jorge Mario Bergoglio foi eleito Papa Francisco. Antes da eleição de Papa Francisco, as probabilidades eram 25-para-1 de Bergoglio se tornar papa, segundo a casa de apostas William Hill Plc.[21][22] O website da Paddy Power também publicou probabilidades de 25-para-1 pouco antes da eleição de Papa Francisco.[23]

Apostar em conclaves tem grande base na internet, pois a maioria das apostas desportivas convencionais, como as de Las Vegas, não aceitam apostas em desfechos de eleições.[24] Um apostador do Bally's e Paris Las Vegas disse que os casinos se recusam a aceitar apostas nas eleições por questões de "gosto".[25] A prática é ilegal nos Estados Unidos sob o Ato Federal de Transferência de 1961.[26]

Apostar nas conclaves pode já não ser considerado ilegal nos Estados Unidos.[15][27] A 20 de setembro de 2011, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos reverteu a sua opinião que todas as formas de apostas na internet estão em violação do Ato Federal de Transferência.[27] A decisão diz que "a proibição no Ato de Transferência de usar comunicações interestaduais para apostas aplica-se apenas a apostar num "evento ou concurso de desporto".[28] Apostas interestaduais da conclave podem agora ser legais.[29] No entanto, a política interestadual ainda não foi determinada.[29]

A bula de excomunhão de Gregório XIV como uma penalidade para tais apostas nunca foi especificamente rescindida, mas foi revogada junto com todas as provisões de direito cânone associadas com o lus Decretalium em 1918.[30]

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. a b c Paul W. Rhode and Koleman Strumpf. 2008. "Historical Political Futures Markets: An International Perspective Arquivado em 2010-07-11 no Wayback Machine". NBER Working Paper 14377.
  2. Jonathan Walker. 1999. "Gambling and the Venetian Noblemen, c. 1500-1700". Past and Present. No. 162: 28-69.
  3. Clark, 14
  4. Baumgartner, 2003, pp. 88, 250.
  5. Melissa Meriam Bullard, Filippo Strozzi and the Medici, Cambridge Univ. Press (1980), p. 72 n. 36.
  6. Baumgartner, 1985, p. 305.
  7. a b Baumgartner, 1985, p. 306.
  8. Baumgartner, 1985, p. 308.
  9. Baumgartner, 1985, p. 310.
  10. Noelle Knox. 2005, 18 de abril. "Gamblers bet on who will be chosen as next pope". USA Today.
  11. Peters, Edward. 2013, 26 de fevereiro. "Betting on the Conclave". In Light of the Law.
  12. New York Times. 1878, 2 de março. "The Death of Pope Pius IX". p. 2.
  13. Atlanta Constitution. 1903, 11 de julho. p. 3; Chicago Tribune. 1903, 27 de julho .p. 4; Los Angeles Times. 1903, 18 de agosto. p. 5; Scotsman. 1922, 24 de janeiro. p. 4; Scotsman. 1922, 7 de fevereiro. p. 5.
  14. New York Times. 1903, 11 de julho. "Pope Leo's Life Slowly Ebbing". p. 2.
  15. a b «Wire Act Wire Wager Act United States Gambling Laws». Consultado em 27 de abril de 2024. Cópia arquivada em 14 de janeiro de 2013 
  16. a b c d Peter Gould. 2005, 22 de abril. "Bets open on Benedict's successor". BBC News.
  17. Shawn Pogatchnik. 2005, 18 de abril. "Picking the pope a gambler's science at top bookmaker in Ireland". AP.
  18. Frank Delaney. 2005, 18 de agosto. "Holy Rollers And Papal Perfectas". New York Times.
  19. Susannah Cullinane (27 de abril de 2024). «Pope Benedict XVI's resignation explained». CNN (em inglês). Consultado em 1 de junho de 2021 
  20. http://www.paddypower.com/bet/current-affairs/pope-betting?ev_oc_grp_ids=1178744
  21. Donovan, Jeffrey (13 de março de 2013). «Francis Ventures Out of Vatican on First Day as Pope». Bloomberg.com. Consultado em 27 de abril de 2024 
  22. «William Hill PLC - Company Profile and News». Bloomberg.com. Consultado em 27 de abril de 2024 
  23. «Meet Jorge Bergoglio, Pope Francis». 13 de março de 2013. Consultado em 27 de abril de 2024 
  24. Mark Arsenault. 2005, 15 de abril. "Offshore sites let you risk cash, God's wrath on next pope". Seattle Post-Intelligencer.
  25. Don Fernandez. 2005, 15 de abril. "Online and off, bettors pin hopes on a pope". Atlanta Journal-Constitution.
  26. Helen Kennedy. 2005, 16 de abril. "Big Bucks Riding on Red Hats[ligação inativa]". New York Daily News.
  27. a b Wyatt, Edward (25 de dezembro de 2011). «Ruling by Justice Dept. Opens a Door on Online Gambling». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 27 de abril de 2024 
  28. «Archived copy» (PDF). Consultado em 27 de abril de 2024. Cópia arquivada (PDF) em 10 de outubro de 2012 
  29. a b Blagdon, Jeff (22 de fevereiro de 2013). «Online gambling going interstate thanks to new Nevada law». The Verge (em inglês). Consultado em 27 de abril de 2024 
  30. «Betting on the conclave?». In the Light of the Law (em inglês). 26 de fevereiro de 2013. Consultado em 27 de abril de 2024 

Referências[editar | editar código-fonte]

  • Baumgartner, Frederic J. 1985. "Henry II and the Papal Conclave of 1549." Sixteenth Century Journal. 16, 3: 301–314.
  • Baumgartner, Frederic J. 2003. Behind Locked Doors: A History of Papal Elections. New York: Palgrave.
  • Clark, Geoffrey Wilson; Betting on lives: the culture of life insurance in England, 1695-1775, Manchester University Press ND, 1999, ISBN 0-7190-5675-6, ISBN 978-0-7190-5675-8