Araçari-de-pescoço-vermelho

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Espécime avistado em Arari, no Brasil
Espécime avistado em Arari, no Brasil
Ilustração de P. b. bitorquatus por Gould e Richter em 1854
Ilustração de P. b. bitorquatus por Gould e Richter em 1854
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Subclasse: Neognathae
Ordem: Piciformes
Família: Ramphastidae
Género: Pteroglossus
Espécie: P. bitorquatus
Subespécie: Ver texto
Nome binomial
Pteroglossus bitorquatus
(Vigors, 1826)
Distribuição geográfica
Distribuição do araçari-de-pescoço-vermelho na Bolívia e Brasil
Distribuição do araçari-de-pescoço-vermelho na Bolívia e Brasil
Ilustração de P. b. sturmii por Gould e Richter em 1854

O araçari-de-pescoço-vermelho[2] (nome científico: Pteroglossus bitorquatus) é uma espécie de ave piciforme da família dos ranfastídeos (Ramphastidae), endêmica da Bolívia e do Brasil. Habita uma variedade de tipos de floresta, desde as terras baixas até terrenos montanhosos, principalmente floresta tropical úmida de terra firme, mas também mata de galeria no cerrado, bambu denso e floresta secundária madura. A espécie reconhecidamente engloba três subespécies. A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN) segue a taxonomia HBW e, portanto, avaliou separadamente os araçaris-de-pescoço-vermelho "ocidentais" e "orientais". Consta em várias lista de conservação do Brasil. Em algumas dessas listas é classificado como em perigo, apesar de que, dependendo da forma como a espécie é subdividida, às vezes consta como pouco preocupante dada sua ampla distribuição.

O araçari-de-pescoço-vermelho tem cerca de 36 a 40 centímetros de comprimento e pesa 112 a 171 gramas. O bico da subespécie nominal possui maxila de cor amarela a branca esverdeada com preto e branco ao longo da borda que se assemelha a dentes. A mandíbula tem base branca que se inclina sob o preto do resto da mandíbula. É provavelmente sedentário, com movimentos locais limitados. Forrageia desde o nível médio até o dossel da floresta, sozinho, em pares ou em pequenos grupos. Sua dieta não é bem conhecida, mas é principalmente de frutas e provavelmente também inclui insetos, ovos e pequenos vertebrados. Presume-se que nidifique em cavidades de árvores como outros tucanos. Nada mais se sabe sobre sua biologia reprodutiva. Tem grande variedade de vocalizações.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O vernáculo araçaci origina-se do termo tupi arasa'ri como designativo genérico para várias aves da família dos ranfastídeos (Ramphastidae).[3] Foi registrado em 1618 como arasari, em 1631 como arasary e em cerca de 1777 como araçari.[4] É possível que tenha uma origem onomatopaica.[5] O nome genérico Pteroglossus vem do grego antigo pteron, "pena", e glōssa, "língua". O epíteto específico bitorquatus deriva do latim bi-, "dois", e torquatus, "com faixas", "colarinho" (torques de colar).[6]

Taxonomia e sistemática[editar | editar código-fonte]

O Comitê Ornitológico Internacional (COI), a taxonomia Clements e o Comitê de Classificação Sul-Americano da Sociedade Ornitológica Americana (SACC) reconhecem três subespécies de araçari-de-pescoço-vermelho:[7][8][9]

  • P. b. sturmii - (Natterer, 1843)
  • P. b. reichenowi - (Snethlage, E, 1907)
  • O nominal P. b. bitorquatus - (Vigors, 1826)

O Manual das Aves do Mundo da BirdLife International trata a subespécie P. b. sturmii como espécie separada, o "araçari-de-pescoço-vermelho-ocidental", e as outras duas subespécies como o "araçari-de-pescoço-vermelho-oriental".[10] Este artigo segue o modelo do COI et al. de três subespécies.

Descrição[editar | editar código-fonte]

O araçari-de-pescoço-vermelho tem cerca de 36 a 40 centímetros (14 a 16 polegadas) de comprimento e pesa 112 a 171 gramas (4,0 a 6,0 onças).[11][12] O bico da subespécie nominal possui maxila de cor amarela a branca esverdeada com preto e branco ao longo da borda que se assemelha a dentes. A mandíbula tem base branca que se inclina sob o preto do resto da mandíbula. Os machos adultos têm coroa enegrecida e rosto, queixo e garganta marrom-escuros. Seus olhos são cercados por pele nua de azul a cinza esverdeado. A nuca e o peito são vermelhos; faixas amarelas e pretas separam este último da garganta. O restante de suas partes superiores é verde escuro e suas partes inferiores são amarelas abaixo do peito. As fêmeas adultas têm coroa mais marrom, rosto e garganta mais claros e faixa amarela mais estreita acima do peito do que os machos. A subespécie P. b. reichenowi não possui faixa amarela acima do peito e a vermelha é menos extensa no peito. Seu bico tem aparência irregular perto da base da mandíbula, onde o preto e o branco se encontram. P. b. sturmii tem faixa amarela mais larga acima do peito vermelho. Os "dentes" na maxila são menos aparentes e a mandíbula é toda preta, exceto por faixa amarelo-alaranjada em sua base e ponta pálida.[13]

Distribuição e habitat[editar | editar código-fonte]

As subespécies de araçari-de-pescoço-vermelho são encontradas nos seguintes lugares:[13]

  • P. b. sturmii, centro-norte do Brasil, ao sul do rio Amazonas, entre o rio Madeira e o rio Tapajós, ao sul até o estado de Rondônia e leste da Bolívia, e a leste próximo ao rio Xingu;
  • P. b. reichenowi, no Brasil, ao sul da Amazônia, entre o rio Tapajós e o rio Tocantins, e do sul até o norte de Mato Grosso;
  • P. b. bitorquatus, nordeste do Brasil ao sul da Amazônia, desde o rio Tocantins a leste até a costa atlântica no estado do Maranhão.

O araçari-de-pescoço-vermelho habita uma variedade de tipos de floresta, desde as terras baixas até terrenos montanhosos, principalmente floresta tropical úmida de terra firme, mas também mata de galeria no cerrado, bambu denso e floresta secundária madura. Em elevação, varia do nível do mar até cerca de 800 metros (2 600 pés).[13][12]

Ecologia[editar | editar código-fonte]

O araçari-de-pescoço-vermelho é provavelmente sedentário, com movimentos locais limitados. Forrageia desde o nível médio até o dossel da floresta, sozinho, em pares ou em pequenos grupos. Sua dieta não é bem conhecida, mas é principalmente de frutas e provavelmente também inclui insetos, ovos e pequenos vertebrados. A época de reprodução do araçari-de-pescoço-vermelho em grande parte de sua distribuição vai de fevereiro a agosto, mas em algumas áreas é de abril a setembro e na Bolívia é de julho a dezembro. Presume-se que nidifique em cavidades de árvores como outros tucanos. Nada mais se sabe sobre sua biologia reprodutiva. Tem grande variedade de vocalizações, variadamente repetidas notas tik ou tek, repetidas ttak ou tyat e notas ik únicas, um tweah e chamadas dcheeeaah semelhantes a rosnados.[13]

Situação[editar | editar código-fonte]

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN) segue a taxonomia HBW e, portanto, avaliou separadamente os araçaris-de-pescoço-vermelho "ocidentais" e "orientais". O "ocidental" P. b. sturmii foi originalmente classificado como quase ameaçado, mas no final de 2021 foi rebaixado para espécie de menor preocupação. Tem grande variedade, mas seu tamanho populacional não é conhecido e acredita-se que esteja diminuindo. O "oriental" P. b. reichenowi + P. b. bitorquatus é avaliado como "em perigo". Também tem grande variedade, mas seu tamanho populacional também não é conhecido e acredita-se que esteja diminuindo. O desmatamento contínuo na bacia amazônica é a principal ameaça para ambas as populações.[1][14]

Em 2007, o nominal P. b. bitorquatus foi classificado como vulnerável na Lista de espécies de flora e fauna ameaçadas de extinção do Estado do Pará;[15][16] como vulnerável na Portaria MMA N.º 444 de 17 de dezembro de 2014;[17] em 2018, como vulnerável no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio);[18] e em 2022, como em perigo no anexo dois (aves) da Lista Oficial da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção da Portaria MMA N.º 148, de 7 de junho de 2022.[19][20] O Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do ICMBio ainda avalia as subespécies P. b. reichenowi[21] e P. b. sturmii[22] como pouco preocupantes, mas a espécie, de uma maneira geral, como quase ameaçada.[23][18]

Referências

  1. a b BirdLife International (2016). «Eastern Red-necked Araçari Pteroglossus bitorquatus». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2016: e.T22728132A94971638. doi:10.2305/IUCN.UK.2016-3.RLTS.T22728132A94971638.enAcessível livremente. Consultado em 21 de dezembro de 2022 
  2. Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 172. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de abril de 2022 
  3. Ferreira, Alberto Buarque de Holanda (1986). Novo dicionário da língua portuguesa 2.ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. p. 153 
  4. Grande Dicionário Houaiss, verbete araçari
  5. Clerot, Leon F. R. (2010). Glossário etimológico tupi-guarani: termos geográficos, geológicos, botânicos, zoológicos, históricos e folclóricos de origem tupi-guarani, incorporados ao idioma nacional. 143. Brasília: Edições do Senado Federal 
  6. Jobling, James A. (2010). The Helm Dictionary of Scientific Bird Names. Londres: Christopher Helm. pp. 72, 322. ISBN 978-1-4081-2501-4. Consultado em 14 de maio de 2023 
  7. Gill, F.; Donsker, D.; Rasmussen, P., eds. (agosto de 2022). «Jacamars, puffbirds, barbets, toucans, honeyguides». IOC World Bird List. v 12.2. Consultado em 15 de dezembro de 2022 
  8. Clements, J. F.; Schulenberg, T. S.; Iliff, M. J.; Roberson, D.; Fredericks, T. A.; Sullivan, B. L.; Wood, C. L. «The eBird/Clements checklist of birds of the world: v2022». The Cornell Lab of Ornithology (em inglês). Consultado em 13 de maio de 2023. Cópia arquivada em 1 de fevereiro de 2023 
  9. Remsen, J. V., Jr.; Areta, J. I.; Bonaccorso, E.; Claramunt, S.; Jaramillo, A.; Lane, D. F.; Pacheco, J. F.; Robbins, M. B.; Stiles, F. G.; Zimmer, K. J. «A classification of the bird species of South America». American Ornithological Society. Consultado em 13 de maio de 2023 
  10. HBW; BirdLife International (2022). «Handbook of the Birds of the World and BirdLife International digital checklist of the birds of the world». 7. Consultado em 13 de maio de 2023. Cópia arquivada em 28 de março de 2023 
  11. Short, Lester L.; Horne, Jennifer (2001). Toucans, Barbets, and Honeyguides: Ramphastidae, Capitonidae and Indicatoridae. Oxônia: Imprensa da Universidade de Oxônia. ISBN 0-19-854666-1 
  12. a b van Perlo, Ber (2009). A Field Guide to the Birds of Brazil. Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Oxônia. ISBN 978-0-19-530155-7 
  13. a b c d del Hoyo, J.; Short, L. L.; Kirwan, G. M.; Collar, N.; Sharpe, C. J. (2022). «Red-necked Aracari (Pteroglossus bitorquatus)». In: Keeney, B. K. Birds of the World. Col: 1.1. Ítaca, Nova Iorque: Laboratório Cornell de Ornitologia. doi:10.2173/bow.renara1.01.1. Consultado em 13 de maio de 2023. Cópia arquivada em 21 de dezembro de 2022 
  14. BirdLife International (2022). «Western Red-necked Araçari Pteroglossus sturmii». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2022: e.T22728139A211279262. doi:10.2305/IUCN.UK.2022-1.RLTS.T22728139A211279262.enAcessível livremente. Consultado em 21 de dezembro de 2022 
  15. Extinção Zero. Está é a nossa meta (PDF). Belém: Conservação Internacional - Brasil; Museu Paraense Emílio Goeldi; Secretaria do Estado de Meio Ambiente, Governo do Estado do Pará. 2007. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 2 de maio de 2022 
  16. Aleixo, Alexandre (2006). Oficina de Trabalho "Discussão e Elaboração da Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção do Estado do Pará (PDF). Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi; Conservação Internacional; Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (SECTAM). Consultado em 5 de maio de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 19 de junho de 2022 
  17. «PORTARIA N.º 444, de 17 de dezembro de 2014» (PDF). Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente (MMA). Consultado em 24 de julho de 2021. Cópia arquivada (PDF) em 12 de julho de 2022 
  18. a b «Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção» (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2018. Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 3 de maio de 2018 
  19. «Portaria MMA N.º 148, de 7 de junho de 2022» (PDF). Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente (MMA). Consultado em 14 de abril de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 1 de março de 2023 
  20. «Deconychura longicauda (Pelzeln, 1788)». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 13 de maio de 2023 
  21. «Pteroglossus bitorquatus reichenowi Snethlage, 1907». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 13 de maio de 2023 
  22. «Pteroglossus bitorquatus sturmii Natterer, 1843». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 13 de maio de 2023 
  23. «Pteroglossus bitorquatu Vigors, 1826». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 13 de maio de 2023