Argumento do ato puro

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Argumento do ato puro[1][2] é uma tentativa de provar a existência de Deus com o uso da lógica. Seu proponente foi Aristóteles e consiste no seguinte. Suponha-se que uma semente é um carvalho em estado de potência e que o carvalho é a mesma semente em estado de ato. O desenvolvimento da potência em ato é chamado de atualização. Entretanto, um carvalho não se atualiza sozinho, ele necessita de um carvalho anterior a ele, que gera a semente a se desenvolver no processo de atualização.

Dessa forma, cada ser em potência necessita de um ser em ato anterior a ele para se atualizar. Cada carvalho necessita de um carvalho mais antigo de modo a se recuar numa série de seres em potência e ato, cada ser em ato gerando um novo ser em potência, que se atualiza e gera outro ser em potência. Essa regressão não pode ser infinita porque uma série de causas que se estende infinitamente nunca vai produzir um efeito, é impossível atravessar um tempo infinito entre a causa e o efeito.

Então, para que o Universo faça sentido, deve haver um ser em estado de puro ato, aquele que não possui potência alguma, logo não precisa se atualizar e não depende de um ser preexistente. Esse ser, a quem se pode chamar Deus, sempre existiu porque nunca teve um estado de potência, não possui uma origem e um processo de desenvolvimento. Nessa condição, ele pode dar início a toda a cadeia de atualizações que culmina na semente proposta inicialmente.

O argumento se fundamenta na causalidade e na finitude do tempo, as mesmas premissas do argumento da causa primeira e, de fato, os dois argumentos estão intimamente ligados. A metafísica de Aristóteles foi apropriada por Santo Tomás de Aquino para justificar as crenças cristãs de um criador e de uma criação em certo tempo passado. Não é necessariamente a prova de Deus como este é visto pelos cristãos, nem se pode atribuir ao ato puro qualidades antropomórficas. Além disso, os objetivos de Aristóteles eram diferentes.

É claro que o argumento não se restringe a séries de árvores. A industrialização da madeira sob a forma de papel é também uma passagem de potência para ato. O acender de uma lâmpada é uma passagem de potência para ato. Aristóteles pensou na alma como o ente que atualiza o corpo. Nessa cadeia de seres em potência e ato, ele viu subsídio para pensar Deus como o primeiro motor, aquele que move (atualiza) sem ser movido.

Referências

  1. Ato e potência Arquivado em 17 de dezembro de 2013, no Wayback Machine.. Mundo da Filosofia, página acessada em 17 de dezembro de 2013.
  2. Primeiro Motor. Revista Pandora, página acessada em 17 de dezembro de 2013.

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