Baciro Dabó

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Baciro Dabó
Nascimento 12 de março de 1958
Bigene
Morte 5 de junho de 2009
Cidadania Guiné-Bissau
Ocupação político, músico

Baciro Dabó (Bigene,[1] 12 de março de 19585 de junho de 2009)[2][3] foi um político da Guiné-Bissau. Considerado um aliado próximo do presidente do país, Nino Vieira, serviu como ministro da administração territorial em seu governo, e estava concorrendo como candidato na eleição presidencial de junho de 2009 quando foi morto por forças de segurança, supostamente porque estaria envolvido numa tentativa de golpe de Estado.

Biografia e carreira[editar | editar código-fonte]

Dabo era um cantor e um jornalista antes de entrar para a política.[4] Como chefe da segurança pessoal do presidente Kumba Yalá,[5] anunciou, em fevereiro de 2001, que uma trama para assassinar o presidente depois de seu retorno de tratamentos médicos em Portugal, "fomentando uma guerra etnorreligiosa", havia sido frustrada, e seus responsáveis presos.[6] Pouco tempo depois, Yala demitiu Dabó de seu cargo, em 27 de fevereiro de 2001, sem qualquer explicação.[5] Em 2002, Dabó passou a ser funcionário do Ministério do Interior do país.[7]

Dabó era um membro de longa data do partido governante no país, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC)[8] e era um aliado íntimo do presidente Vieira.[9] Foi indicado Secretário de Estado para a Ordem Pública em 9 de novembro de 2005, cargo que ocupou até que Mamadu Saico Djalo foi indicado para substituí-lo, em 28 de julho de 2006;[10] na sequência, tornou-se Conselheiro de Informações de Vieira, no fim de novembro de 2006.[10][11][12]

Quando um governo formado por uma aliança tripartidária hostil a Vieira subiu ao poder, no meio de abril de 2007, Dabó foi incluído no governo como Ministro da Administração Interna;[9][10] era o único ministro naquele governo a ser considerado aliado de Vieira,[9] que o demitiu do cargo em outubro de 2007 (segundo algumas teorias, devido a pressões dos líderes de oposição e autoridades militares).[13] Após a eleição parlamentar de novembro de 2008, Dabó reassumiu um cargo no governo, desta vez como Ministro da Administração Territorial, em 7 de janeiro de 2009.[10]

Vieira foi assassinado por membros das forças armadas do país em 2 de março de 2009; os soldados o mataram em retaliação por uma explosão anterior que matara o chefe de gabinete Batista Tagme Na Waie[3][8] - que tinha uma longa e violenta rixa com Vieira.[3] Ninguém foi responsabilizado pela morte, e uma eleição presidencial para escolher um novo mandatário foi marcada para 28 de junho.[8] Dabó renunciou ao seu cargo no PAIGC e como ministro em meados de maio de 2009, e lançou-se como candidato independente na eleição,[4][8] cuja campanha ele iniciaria em 6 de junho.[3]

Morte[editar | editar código-fonte]

Seus partidários dizem que entre 3h30 e 4 da madrugada (horário local e GMT), em 5 de junho de 2009, um grupo de cerca de 30 soldados uniformizados e armados teria chegado à casa de Dabó e exigido vê-lo.[14] Os soldados teriam então aberto seu caminho a tiros até o quarto de Dabó, onde ele estava deitado com sua esposa, ferindo membros da equipe de seis homens que fazia a sua segurança.[14][15] Os soldados teriam então disparado contra Dabó diversas vezes, matando-o instantaneamente.[16] De acordo com a Agence France-Presse, uma "fonte médica" teria informado que Dabó apresentava três ferimentos causados por balas de AK-47 no abdômen, e um na cabeça, todos provocados por disparos feitos a queima-roupa.[14]

As autoridades de Guiné-Bissau apresentavam uma versão diferente dos fatos ocorridos, afirmando que Dabó teria morrido durante uma troca de tiros, ao resistir à sua prisão, por uma suposta tentativa de golpe de Estado.[8] O ex-ministro da defesa Hélder Proença também teria sido morto, numa estrada entre Bula e Bissau, juntamente com seu motorista e um guarda-costas.[4] Diversos outros políticos do PAIGC foram detidos pelas forças de segurança do país, como parte da investigação a respeito do suposto golpe.[8] O serviço de inteligência estatal da Guiné-Bissau afirmou que as intenções do golpe eram "eliminar fisicamente o chefe das forças armadas, derrubar o chefe de Estado interino e dissolver a assembleia nacional".[8]

O jornalista Jean Gomis, citado pela BBC, afirmou que Dabó teria sido morto sob ordens de líderes militares, que temiam serem culpados pelo assassinato do presidente se Dabó vencesse a eleição.[8] Analistas consultados pela agência de notícias Reuters declararam que, caso um vácuo de poder se instaurasse no país, cartéis de droga latino-americanos poderiam expandir sua influência no país, que serve como um porto estratégico para a remessa de cocaína à Europa.[3] O secretário-geral das Nações Unidas Ban Ki-moon afirmou que estava "preocupado com o surgimento de um padrão de assassinados de personalidades de alto escalão na Guiné-Bissau", e enfatizou "a importância e a urgência de se conduzir uma investigação rigorosa, transparente e digna de crédito sobre as circunstâncias destes assassinatos".[14]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «CENTRO DE SAÚDE DE BIGENE TEM TRÊS TÉCNICOS PARA QUINZE MIL PESSOAS». O Democrata GB 
  2. «Africa Research Bulletin: Political, Social and Cultural Series». Blackwell Synergy. Volume 38 
  3. a b c d e «Gunmen kill Guinea-Bissau presidential candidate». Reuters. 5 de junho de 2009. Consultado em 5 de junho de 2009 
  4. a b c «Presidential candidate shot dead in Guinea-Bissau». Associated Press. 5 de junho de 2009. Consultado em 5 de junho de 2009 
  5. a b "Guinea-Bissau: President dismisses security chief", Pana (nl.newsbank.com), 1 de março de 2001.
  6. "World IN BRIEF / GUINEA-BISSAU; Assassination Plot Foiled, Official Says", Los Angeles Times, 23 de fevereiro de 2001, pág. A6.
  7. "GUINEA-BISSAU: Detained journalist freed", IRIN, 20 de junho de 2002.
  8. a b c d e f g h «Bissau poll candidate shot dead». BBC. 5 de junho de 2009. Consultado em 5 de junho de 2009 
  9. a b c Alberto Dabo, "Guinea-Bissau's new government named", Reuters (IOL), 17 de abril de 2009.
  10. a b c d Lista de governos da Guiné-Bissau, IZF.net (em francês).
  11. "Presidente bissau-guineense nomeia novo ministro Interior", Panapress, 28 de novembro de 2006 (em português).
  12. List of members of the government of Guinea-Bissau, presse-francophonie.org (pág. de arquivo de 2007) (em francês).
  13. "Guinea-Bissau interior minister replaced", Radio France Internationale (nl.newsbank.com), 17 de outubro de 2007.
  14. a b c d «G.Bissau government denounces 'attempted coup'». Agence France-Presse. 5 de junho de 2009. Consultado em 5 de junho de 2009 
  15. «Guinea-Bissau poll candidate killed». Al Jazeera. 5 de junho de 2009. Consultado em 5 de junho de 2009 
  16. «Presidential candidate shot dead in Guinea-Bissau». Taiwan News. 5 de junho de 2009. Consultado em 5 de junho de 2009