Batalha de Neopatras

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Batalha de Neopatras
Guerras bizantino-latinas

Mapa do Império Bizantino e dos Estados vizinhos em 1265.
Data Década de 1270
Local Neopatras, Grécia
Desfecho Derrota bizantina
Beligerantes
Império Bizantino Tessália
Ducado de Atenas
Comandantes
Império Bizantino João Paleólogo
Império Bizantino Aleixo Cabalário
João I Ducas
Ducado de AtenasJoão I de la Roche
Forças
c. 30 000 300-500

A Batalha de Neopatras (em grego: Νέαι Πάτραι) foi travada no início da década de 1270 entre um exército bizantino sitiante da cidade de Neopatras (atual Ipati, Grécia) e as forças de João I Ducas (r. 1268–1289), governante da Tessália. João Ducas foi pego de surpresa em sua capital pelas tropas bizantinas, porém conseguiu fugir, ao se disfarçar de cavaleiro, em direção ao Ducado de Atenas. Lá, aliou-se com João I de la Roche (r. 1263–1280), e ao retornar com um exército latino, atacou de surpresa o acampamento bizantino. Embora seu exército fosse numericamente inferior, João Ducas conseguiu uma esmagadora vitória perante o exército bizantino desorganizado.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Em 1259, o Império de Niceia, liderado por Miguel VIII Paleólogo (r. 1259–1282), tinha conseguido uma grande vitória na batalha de Pelagônia contra uma coalizão de seus principais adversários europeus, o Despotado do Epiro, o Reino da Sicília e o Principado de Acaia. A vitória tinha sido conseguida em grande medida através da deserção de João Ducas, filho ilegítimo de Miguel II do Epiro (r. 1230–1266/1268).[1][2] Esta vitória permitiu que Miguel Paleólogo consolidasse seu território na Europa; ainda, o enfraquecimento do Epiro e dos estados latinos permitiu ao império realizar a reconquista de Constantinopla em 1261 e restabelecer o Império Bizantino, tendo Miguel como imperador.[3] As forças de Niceia falharam, todavia, em subjugar o Epiro: João Ducas rapidamente voltou a ser leal a seu pai, e a população local permaneceu leal a Miguel II. Os nicenos foram expulsos da área em 1259, e depois derrotados e expulsos da Tessália em 1260.[4]

Em 1266 ou 1268, Miguel II do Epiro morreu, e suas possessões foram divididas entre seus filhos: o filho legítimo mais velho, Nicéforo I (r. 1268–1267), herdou o que restava do Epiro propriamente, enquanto João, que tinha se casado com a filha de um líder valaco tessálio (Grande Valáquia), recebeu a Tessália com sua capital Neopatras.[5][6] Ambos os irmãos eram hostis com o Império Bizantino restaurado, que visava recuperar seus territórios, e mantiveram estreitas relações com os Estados latinos no sul da Grécia. No entanto, Miguel VIII tentou anexá-los através de casamentos dinásticos: Miguel deu a Nicéforo sua sobrinha Ana Cantacuzena, enquanto um de seus sobrinhos, Andrônico Tarcaniota, casou-se com a filha de João Ducas, que recebeu o título de sebastocrator.[7][8][9] Miguel falhou em seu objetivo como ambos que permaneceram mal dispostos em relação a ele.[10]

Após a união profundamente impopular das Igrejas em 1274, Nicéforo e João I forneceram refúgio para os dissidentes e críticos das políticas religiosas de Miguel.[10] Através destas negociações a respeito do Ato da União e a submissão da Igreja Ortodoxa Grega à Sé de Roma, Miguel afastou o perigo de um ataque latino concentrado em seu Estado, e foi livre para mover-se contra seus inimigos. Imediatamente, ele lançou ofensivas contra os territórios sicilianos na Albânia, e contra João Ducas na Tessália.[11][12]

Batalha[editar | editar código-fonte]

Para a campanha contra a Tessália (a data é incerta, mas estudiosos recentes favorecem 1272/1273 ou 1274/1275),[a] Miguel montou uma força enorme, em grande maioria de mercenários, que fontes contemporâneas colocam, certamente exagerando, em 30 000 (Jorge Paquimeres fala de 40 000 homens, incluindo as forças navais). Eles foram colocados sob seu próprio irmão, o déspota João Paleólogo, e o general Aleixo Cabalário. Esta força foi enviada contra a Tessália, e era para ser ajudada pela marinha bizantina sob o protoestrator Aleixo Ducas Filantropeno, que foi atacar os principados latinos e impediu-os de ajudar João Ducas.[10][13][14][15]

Ducas foi pego completamente de surpresa pelo avanço das forças bizantinas, e foi encurralado com alguns homens em sua capital, Neopatras, que os bizantinos procederam para sitiar. Ducas, contudo, recorreu a um estratagema: escalou os muros da fortaleza com uma corda e, disfarçado como um cavaleiro, conseguiu atravessar o cerco bizantino. Após três dias, chegou a Tebas, onde pediu ajuda de João I de la Roche (r. 1263–1280), duque de Atenas. Os dois governantes concluíram um tratado de aliança, pela qual o irmão de João de la Roche e herdeiro, Guilherme I (r. 1280–1287), casaria com a filha de João Ducas, Helena, e receberia as fortalezas de Gravia, Siderocastro, Gardici e Lâmia como dote. Em retorno, de la Roche deu a Ducas 300 ou 500 cavaleiros (dependendo da fonte), com quem voltou rapidamente para Neopatras.[9][16][14][17]

As forças bizantinas tinham sido consideravelmente enfraquecidas, com vários destacamentos enviados para capturar outros fortes ou saquear a região e, além disso, era desajeitada e não muito coesa, dado as muitas etnias que serviam na mesma. De acordo com o historiador veneziano Marino Sanudo, quando João Ducas e João I de la Roche avistaram o enorme acampamento bizantino, de la Roche proferiu, em grego, uma frase de Heródoto: "Há um monte de pessoas aqui, mas poucos homens". Na verdade, as tropas bizantinas em pânico sob o súbito ataque de uma força latina menor e mais disciplinada quebraram completamente quando o contingente cumano abruptamente mudou de lado. Apesar das tentativas de João Paleólogo para reagrupar suas forças, eles fugiram e se dispersaram.[9][14][16][17]

Rescaldo[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Batalha de Demétrias

Com a notícia do sucesso, os latinos se encorajaram e montaram uma frota para atacar a frota bizantina, que estava ancorada em Demétrias (próxima da moderna Vólos). Inicialmente, os latinos tiveram um bom progresso, causando muitas baixas aos bizantinos. No entanto, assim quando a vitória parecia iminente, João Paleólogo chegou com reforços e virou a maré da batalha. Apesar desta vitória, contudo, o déspota foi abalado pelo desastre de Neopatras: ele renunciou a seu posto e morreu mais tarde no mesmo ano.[10][18][19]

Notas[editar | editar código-fonte]


[a] ^ A data da Batalha de Neopatras e, portanto, também da subsequente Batalha de Demétrias, é disputada entre os estudiosos. Historiadores mais antigos seguiram o estudioso jesuíta do século XVII Pierre Poussines, que colocou o evento em 1271.[9] A. Failler re-datou os eventos para 1272/1273,[20] uma data também adotada por outros autores como Alice-Mary Talbot no Oxford Dictionary of Byzantium.[8] Deno J. Geanakoplos colocou a campanha na Tessália após o Concílio de Lyon, no final de 1274 ou começo de 1275,[21] e sua datação tem sido adotada por um número de recentes estudiosos como Donald Nicol e John Van Antwerp Fine.[14][22]

Referências

  1. Geanakoplos 1959, p. 62; 72.
  2. Fine 1994, p. 162-163.
  3. Geanakoplos 1959, p. 73-74.
  4. Fine 1994, p. 163-164.
  5. Nicol 1993, p. 58.
  6. Fine 1994, p. 169.
  7. Nicol 1993, p. 58-59.
  8. a b Kazhdan 1991, p. 1044.
  9. a b c d Setton 1976, p. 423.
  10. a b c d Nicol 1993, p. 59.
  11. Geanakoplos 1959, p. 277-279.
  12. Fine 1994, p. 186-188.
  13. Geanakoplos 1959, p. 282.
  14. a b c d Fine 1994, p. 188.
  15. Bartusis 1997, p. 60–61; 264.
  16. a b Geanakoplos 1959, p. 283.
  17. a b Bartusis 1997, p. 61.
  18. Geanakoplos 1959, p. 283-284.
  19. Fine 1994, p. 190.
  20. Failler 1981, p. 189-192.
  21. Geanakoplos 1959, p. 279; 282.
  22. Setton 2006, p. 257.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Bartusis, Mark C. (1997). The Late Byzantine Army: Arms and Society, 1204–1453. Filadélfia: Pennsylvania University Press. ISBN 0-8122-1620-2 
  • Failler, A. (1981). «Chronologie et composition dans l'Histoire de Georges Pachymérès». Revue des études byzantines. 38 (1) 
  • Fine, John Van Antwerp (1994). The Late Medieval Balkans: A Critical Survey from the Late Twelfth Century to the Ottoman Conquest. Ann Arbor, Michigan: Michigan University Press. ISBN 0-472-08260-4 
  • Geanakoplos, Deno John (1959). Emperor Michael Palaeologus and the West, 1258–1282: A Study in Byzantine-Latin Relations. Cambridge: Harvard University Press 
  • Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8 
  • Nicol, Donald MacGillivray (1993). The Last Centuries of Byzantium, 1261–1453. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-43991-4 
  • Setton, Kenneth Meyer (1976). The Papacy and the Levant, 1204–1571: Volume I. The Thirteenth and Fourteenth Centuries. Filadélfia, Pensilvânia: American Philosophical Society. ISBN 0-87169-114-0 
  • Setton, Kenneth Meyer; Robert Lee Wolff; Harry W. Hazard (2006). A History of the Crusades, Volume II: The Later Crusades, 1189–1311. Madison, Wisconsin: Wisconsin University Press. ISBN 0-299-04844-6