Carlos Lamartine

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José Carlos Lamartine Salvador dos Santos Costa (Benguela, 29 de março de 1943) é um músico, regente, poeta, pedagogo, diplomata e político angolano.

É um dos mais importantes nomes da Música Popular Angolana, trabalhando como cantor, compositor e percursionista.[1][2] Suas composições possuem uma riqueza de sátira e de trovas, em gêneros de música de intervenção, semba e canções tradicionais,[3] com temáticas que vão desde a exaltação da história política de Angola, a liberdade, a celebração da independência e a defesa dos valores culturais da africanidade.[4]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido na cidade de Benguela em 29 de março de 1943, Carlos Lamartine é filho de Sebastião José da Costa — jornalista, funcionário dos Correios, dançarino da rebita, e um dos fundadores da Liga Nacional Africana — e de Ludovina da Silva.[5] Aos dez anos Carlos Lamartine mudou-se com o pai[2] e duas irmãs para o Bairro Indígena (atual bairro Nelito Soares), em Luanda.[6][7]

Na capital angolana, continuou seus estudos na Escola Católica da Missão de São Paulo em 1953.[2][6][5] Em 1956,[5] já como estudante do Liceu Salvador Correia, teve como professor o músico Águas Cruz, que mantinha uma turma de canto coral acompanhada por piano, seu primeiro contato com a música.[8] Formou-se em 1963 na secção de letras do curso geral dos liceus no Colégio da Casa das Beiras.[5]

Terminados os estudos liceais, passa a ter interesse em assuntos políticos, participando de reuniões da Liga Nacional Africana.[6] Uma vez que a Liga também promovia atividades político-culturais, conheceu vários nomes ligados a este segmento como Lopo do Nascimento, Aristides Van-Dúnem, Gabriel Leitão, David André Tizinho, Madalena Lili Monteiro, Círios Cordeiro da Matta e Tonito Fortunato.[6] Estes nomes também estavam circulando pela periferia de Luanda, onde Lamartine morava, e produzindo poesia, batuque, acordes de violão e canto popular.[6]

Mas foi por influência de Sebastião Babaxi, seu sobrinho, que passou a tocar batuque, bem como se interessou pela dança popular.[6] Ao mudar-se para o bairro do Marçal, Lamartine fundou, com outros jovens do bairro, o grupo musical "Os Kissweyas".[6][2] O grupo, formado por Carlos Lamartine, Bonga Kuenda, Amaral Morgado, Tizinho, Nelito Soares e Nando Kajibota,[9] possuía uma performance peculiar, pois além da dança, da música e das festividades carnavalescas, utilizavam o futebol como forma de expressão musical.[6] Apresentavam-se nas ruas e nos locais de desporto, fazendo uma circulação constante entre as zonas mais ricas e mais pobres da capital, promovendo um intercâmbio cultural muito rico.[6] Chegaram a ganhar posições de destaque em concursos de música em Luanda.[2]

No seu ápice, o grupo "Os Kissweyas" se desfez, e Carlos Lamartine seguiu carreira solo, cantando em festivais de Luanda, além de competições e clubes noturnos da cidade.[2] Afiliou-se ao famoso grupo musical "Os Águias Reais",[8] que constantemente apresentava-se nas emissoras de rádio luandenses.[2] Tornou-se um dos grandes nomes da popularização do gênero musical semba,[10] gravando as seguintes obras: "Um single",[9] em 1970, pelo selo musical Ngola, onde constam as canções "Bazooka"[9] e "Jesus dialá uá kidi",[9] e; o LP "Angola nº I",[9] em 1974, com o conjunto "Merengues", pelo selo da Companhia de Discos de Angola (CDA).[8] Teve ainda participações musicais com o grupo "Os Kiezos"[8] e com o grupo "Coração de Angola".[10]

Neste período a Guerra de Independência de Angola já estava em curso, mas Lamartine, embora alinhado com os ideais do Movimento Popular de Libertação de Angola (MLPA) e com muitas canções gravadas de cunho nacionalista e pela independência de Angola,[8] não envolveu-se nos combates até 1974.[2]

Foi convidado por Lúcio Lara, Manuel Rui e Ruy Mingas para ser o regente[10] do Grupo Coral Gigante que pela primeira vez cantou a canção Angola Avante!, o hino nacional de Angola.[11] A apresentação, sob sua regência, ocorreu no Largo da Independência, em 11 de novembro de 1975.[10] Além disso, foi o regente do mesmo Coral na Cerimônia da Tomada de Posse do primeiro governo da República Popular de Angola, que teve lugar na Câmara Municipal de Luanda,[1] bem como regente da primeira gravação oficial do hino nacional na Rádio Nacional de Angola.[10]

Após a independência nacional, em 1977, Carlos Lamartine foi designado a trabalhar em projetos culturais do MPLA, chegando a ser eleito para o Comité Central do partido.[8] Foi neste período também que licenciou-se em pedagogia com especialização em história.[6] Em 1987 passou a ser funcionário do Estado angolano, trabalhando na Secretaria de Estado da Cultura,[2] sendo nomeado Director Nacional de Acção Cultural em 1995.[2] Em 2007 passa a desempenhar funções diplomáticas, trabalhando como adido cultural na embaixada da República de Angola no Brasil.[1][2]

A partir da década de 1990 volta gradativamente para a carreira artística, marcado pela gravação das obras musicais "Memórias" (1997), "Historias da Casa Velha" (2001), "Cidrália" (2001), "Frutos do Chão São Coisas Nossas" (2005) e "Caminhos Longos" (2007).[9]

Em 2023 Lamartine lançou seu primeiro livro de poesias, intitulado "Ser poeta nas harmonias e no silêncio", publicado pela Mayamba Editora.[1][8] Em 2023 participou também da edição da obra "Semba: Perfil Histórico", publicada pela Imprensa Nacional de Angola e pela União Nacional dos Artistas e Compositores - Sociedade de Autores.[10]

Reconhecimento[editar | editar código-fonte]

Carlos Lamartine ganhou reconhecimento por sua obra com o Prémio Nacional de Cultura e Artes na categoria de Música, em 2017,[1] e o Prémio Carreira no AMA (Angola Music Awards).[1] Foi ainda homenageado no Festival da Canção de Luanda da LAC, em 2013, numa edição onde os concorrentes interpretaram temas de sua autoria.[1]

Referências

  1. a b c d e f g Pedro Dias (9 de abril de 2023). «Carlos Lamartine prova que nunca é tarde demais para se ser poeta». VOA Português 
  2. a b c d e f g h i j k Drew Gamboa (11 de agosto de 2023). «Carlos Lamartine (1943- )». Black Past 
  3. «Carlos Lamartine». União Nacional de Autores e Compositores - Sociedade de Artistas (UNAC-SA). 2017 
  4. «Biografia». LEA. 2007 
  5. a b c d Rosa de Sousa (11 de abril de 2011). «O percurso musical de Carlos Lamartine». Platina Line 
  6. a b c d e f g h i j Raimundo Salvador; Arno Holl (2021). «Carlos Lamartine». Goethe-Institut Angola 
  7. «Carlos Lamartine celebra 65 anos de carreira». Angop. 18 de dezembro de 2023 
  8. a b c d e f g «Carlos Lamartine lança livro "Ser poeta em harmonia e silêncios"». Jornal Éme. 1 de abril de 2023 
  9. a b c d e f «Carlos Lamartine actua hoje no Espaço Brasom». Jornal de Angola. 19 de abril de 2019 
  10. a b c d e f Analtino Santos (17 de setembro de 2023). «Carlos Lamartine confirma o seu lado de pesquisador». Jornal de Angola 
  11. «Manuel Rui escritor angolano: "Não somos especiais. Tivemos uma história diferente"». Observatorio da África. 12 de novembro de 2018