Catástrofe do dirigível Pax

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Catástrofe do dirigível Pax
Acidente aéreo
Catástrofe do dirigível Pax
O dirigível em voo
Sumário
Data 12 de maio de 1902 (121 anos)
Causa Ignição do hidrogênio
Local Paris, França
Tripulantes 2
Mortos Augusto Severo e Georges Saché
Aeronave
Modelo Dirigível

A Catástrofe do dirigível Pax foi a explosão da aeronave Pax no dia 12 de maio de 1902, em Paris, que vitimou o inventor brasileiro Augusto Severo e o mecânico francês Georges Saché.

História[editar | editar código-fonte]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

O dirigível Pax, de formato fusiforme, tinha uma capacidade de 2 mil metros cúbicos, trinta metros de comprimento, uma nacele de trinta metros,[1] e pesava 2 mil quilos.[2] Seu inventor, Augusto Severo, já estudava aeronáutica havia 20 anos[3] e investiu todo o restante de sua fortuna no Pax.[4] Originalmente o dirigível teria um motor elétrico, mas devido ao tempo que demoraria para desenvolvê-lo e a obrigação de retornar ao Brasil para cumprir seu mandato parlamentar, Severo foi convencido a seguir o exemplo de Santos Dumont e adotar motores a gasolina,[5] cujo uso ele se demonstrava hesitante mesmo cinco dias antes do voo.[6]

O Pax foi concluído quinze dias antes do acidente, com experiências sendo realizadas de forma presa a terra e em uma situação climática complicada no dia 4 de maio, no parque de Vaugirard, com resultados satisfatórios, o que levou o inventor a prosseguir com um voo tripulado.[7]

Nos dias seguintes as condições climáticas dificultaram novas experiências, porém a meia noite do dia 12 de maio ele iniciou o enchimento do balão, completo as 5 da manhã.[7] Antes de iniciar o voo, Severo anuncia que o Brasil saberia de seu sucesso no aniversário da Lei Áurea e apresenta seus planos para o dirigível Jesus, com 100 metros de comprimento e com o qual atravessaria o Atlântico.[7] Como forma de poupar peso, Severo deixou o Alvaro Reis em solo, subindo apenas com seu mecânico Georges Sachet,[8] que nunca havia feito uma ascensão.[9]

Por vinte minutos Severo voou com o dirigível preso ao chão por um cabo, experimentando sua manobragem. Ele pousa, conversa com amigos e familiares e as 5:25 retoma seu voo.[7] Já não mais cativo, o dirigível demonstra dificuldade com sua manobragem. Os aeronautas tiram lastro por três vezes, sobe a 350 metros e o aeronauta passa a apresentar dificuldades ao lutar contra o vento, com a aeronave realizando círculos de 100 a 150 metros de diâmetro.[7] Por 15 minutos o aeronauta lutou contra o vento, mas o motor de 40cv não era suficientemente potente nestas condições.[7]

Explosão[editar | editar código-fonte]

O dirigível Pax, pilotado por Augusto Severo, de 42 anos de idade e o mecânico Georges Saché de 28,[7][10] explodiu as 5:40 do dia 12 de maio de 1902, com seus destroços caindo na avenida do Maine,[11] vitimando seus ocupantes.[7]

Os destroços do dirigível.

A chama envolveu o motor, logo envolvendo a totalidade da aeronave. Os destroços caíram na frente da casa n. 79, na avenida Maine, com a nacele onde os aeronautas se encontravam atravessou o teto e terminou dentro do quarto de um casal,[12] cuja cama ficava do lado oposto do quarto, salvando a vida dos moradores que dormiam naquele momento.[10]

Causa do acidente[editar | editar código-fonte]

O coronel Rénard, logo após a explosão, opinou que o acidente foi causado pelo uso do motor a combustão.[12] Henri Lachambre acreditou que as peças mecânicas sofreram uma torção e o fogo teria atravessado do carburador ao reservatório e dali indo à válvula de escape do gás.[12] O astrônomo Albert Charbonneaux, do observatório de Meudon, investigou os destroços e entre outras coisas, apontou um curto circuito na parte elétrica do motor como causa do desastre.[13]

Santos Dumont considerou ser imprudente colocar os motores tão perto do balão, porém inicialmente disse não crer que eles fossem a causa do acidente. Ele apontou que somente uma das duas válvulas, acima do segundo motor, estava funcionando.[12] Santos Dumont apontou que uma válvula foi fechada com cera pelo aeronauta e que, em condições de voo, o balão foi incapaz de resistir a pressão interna e que o principal erro foi o fato de terem jogado balasto ao notarem que o dirigível estava subindo, o que permitiu que a aeronave subisse com mais velocidade.[9][14]

Em artigo publicado em setembro do mesmo ano, Santos Dumont apontou que o motor estava a meros 91 centímetros do envólucro, o que deixou a aeronave propensa a acidentes.[15] O Comitê Científico do Aeroclube da França por fim decidiu que o acidente foi causado pela proximidade do motor à válvula de escape do balão e que nestas condições, o Pax não seria aceito nas competições do Aeroclube.[16]

Consequências[editar | editar código-fonte]

Severo faleceu segundos após o impacto. Ambos os aeronautas sofreram ferimentos de extrema violência.[12] O corpo de Augusto Severo foi levado do hangar para sua casa as 9 da manhã do mesmo dia, enquanto o do mecânico Georges Sachet ficou no posto policial até a chegada de sua mãe.[10]

Os arredores dos destroços foram logo cercados de testemunhas. O comandante Rénard realizou o transporte dos restos do dirigível de volta para o hangar.[12] Cinquenta agentes policiais fecharam as ruas, assim possibilitando a retirada dos destroços.[17] Alfredo Maia, ex-ministro da Viação, telegrafou ao Presidente Campos Salles, pedindo que o Congresso votasse o funeral de Severo e concedesse uma pensão à sua viúva.[2] Toda a comunidade aeronáutica francesa se dirigiu até o local do acidente[12] e uma comissão do Aeroclube da França levaram seus pêsames à viúva de Augusto Severo.[9]

Antes do seu transporte ao Brasil, o caixão foi enterrado no cemitério de Passy, em Paris, no dia 17 de maio de 1902.[18] O corpo de Augusto Severo chegou no Rio de Janeiro no dia 17 de junho, com seu enterro sendo realizado no dia seguinte, tendo a participação do presidente Campos Salles.[19] Seu hangar em Paris passou para o Barão de Bradsky [de], outro balonista.[20]

Legado[editar | editar código-fonte]

Em setembro de 1902, foi decidido batizar os nomes de duas ruas no Brasil com os nomes dos aeronautas.[21] No ano seguinte foi colocada uma lápide no local do acidente e um busto de Severo foi colocado no cemitério em Paris.[20][22] O acidente foi representado no curta A Catástrofe do Balão "Le Pax", do diretor Georges Méliès.[23] Em 1903 ocorreu em Paris uma cerimônia em memória das vítimas.[24] Em 1952 ocorreu uma homenagem realizada por amigos do inventor brasileiro em sua memória.[25] Em 2019 foi apresentado um projeto de lei para inscrever seu nome no Livro dos Heróis da Pátria.[26] 120 anos após seu falecimento, em 2022, os restos mortais de Augusto Severo foram transportados do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Norte, sua terra natal.[27]

Referências

  1. Jornal do Brasil, 1 de dezembro de 1901, p. 1, Col. 10.
  2. a b Diario do Maranhão, 7 de junho de 1902, p. 2, Col. 6.
  3. A Republica, 6 de junho de 1902, p. 4, Col. 3.
  4. Diario de Pernambuco, 8 de junho de 1902, p. 1, Col. 4.
  5. A Republica, 25 de junho de 1902, p. 1, Col. 1.
  6. A Republica, 26 de junho de 1902, p. 1, Col. 1.
  7. a b c d e f g h Estado do Espirito Santo, 18 de junho de 1902, p. 2, Col. 2.
  8. A Republica, 27 de junho de 1902, p. 1, Col. 3.
  9. a b c Estado do Espirito Santo, 18 de junho de 1902, p. 2, Col. 4.
  10. a b c Diario de Pernambuco, 11 de junho de 1902, p. 1, Col. 3.
  11. Estado do Espirito Santo, 18 de junho de 1902, p. 2, Col. 1.
  12. a b c d e f g Estado do Espirito Santo, 18 de junho de 1902, p. 2, Col. 3.
  13. A Republica, 22 de julho de 1902, p. 1, Col. 1.
  14. McClure´s Magazine, setembro de 1902, p. 460, Dumont’s Theory of Severo’s Fall.
  15. McClure´s Magazine, setembro de 1902, p. 464.
  16. McClure´s Magazine, setembro de 1902, p. 464, *.
  17. Diario de Pernambuco, 11 de junho de 1902, p. 1, Col. 4.
  18. A Republica, 27 de junho de 1902a, p. 1, Col. 4-5.
  19. O Contemporaneo, 22 de junho de 1902, p. 2, Col. 4.
  20. a b A Federação, 11 de outubro de 1902, p. 2, Col. 4.
  21. O Contemporaneo, 14 de setembro de 1902, p. 1, Col. 5.
  22. Jornal do Recife, 12 de maio de 1903, p. 1, Col. 1.
  23. Senado Federal 2019, p. 3.
  24. Jornal do Brasil, 7 de junho de 1903, p. 2.
  25. Diario da Tarde, 21 de março de 1952, p. 1.
  26. Senado Federal 2019.
  27. G1, 16 de dezembro de 2022.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

(Organizado por ordem cronológica)