Cemitério Santa Isabel

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O Cemitério Santa Isabel (conhecido também como Cemitério Bizantino ou Cemitério de Mucugê), é uma construção de meados do século XIX, que se constitui na imagem-símbolo da cidade brasileira de Mucugê, no centro da Chapada Diamantina, estado da Bahia. Foi reconhecido como patrimônio histórico e paisagístico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no ano de 1980.[1]

É uma das poucas necrópoles brasileiras que obtiveram o status de patrimônio nacional. A despeito de seu tombamento, por intercessão de políticos e moradores junto ao IPHAN a necrópole sofreu uma reforma com ampliação para novos sepultamentos, sendo ali construídos cento e setenta mausoléus em gavetas, a partir de 2011.[1]

Histórico[editar | editar código-fonte]

Emancipada da cidade de Rio de Contas em 1847 como Vila de Santa Isabel do Paraguaçu, a cidade teve seu nome alterado para Mucugê em 1917. Teria sido o cemitério erguido após uma epidemia ocorrida no século XIX.[1]

Na década de 1970 a cidade foi "redescoberta" por pesquisadores que procuravam construir uma política patrimonial no estado da Bahia. Assim, com o tombamento, sua função inicial de local de veneração e respeito aos mortos ganhou nova significação como instrumento histórico, paisagístico e simbólico do passado.[1]

Com sua significação como patrimônio nacional o local teve que deixar de ser utilizado pelos moradores para o sepultamento de seus mortos. Antes da incrementação do turismo como fonte de renda da cidade, houve resistência pelos moradores mas, ao final, consolidou-se a imagem do Cemitério como icônica do lugar, sendo uma das grandes atrações turísticas de Mucugê.[1]

Características[editar | editar código-fonte]

Num primeiro olhar, vê-se somente os jazigos instalados sobre as pedras. Eles são construídos de tijolos revestidos de reboco e caiados de branco, ornamentados com elementos arquitetônicos clássicos e medievais. Esta parte do cemitério agrupa formas reconhecidas pela historiografia da arte, todavia de um modo muito peculiar, que nos faz remeter a valores estabelecidos pela arquitetura vernacular, que carrega no seu bojo certo ar genuíno. Possivelmente ele está em conformidade com a religiosidade popular, e com ornatos facilmente reconhecidos pelos imigrantes que ali vieram em meados do século XIX. Cabe aqui, mediante a variação dos adornos levantados e de como estão inseridos nos jazigos, constatar a sua feição mediterrânea, e verificar a referência sacra no Cemitério Santa Isabel.

Maria Elizia Borges[1]

A imagem do Cemitério Santa Isabel mescla-se à paisagem da Serra do Sincorá no qual está erguido, compondo assim um conjunto integrado entre o natural e o produto humano, numa espécie de "simbiose".[1][nota 1]

Apesar do nome popular que dá como "bizantino" o estilo de seus túmulos, na prática isto não se verifica: a arte bizantina (ocorrida no Império Bizantino no leste europeu e oriente próximo entre os anos de 330 a 1453), era marcada por uma mistura da arte oriental com a greco-romana.[1][nota 2]

Pelos estudos do IPHAN e outros, contudo, o estilo do cemitério é um possível exemplo de arquitetura vernacular[nota 3], que segundo este órgão poderia como tal ser caracterizado "pelo brotar dos mausoléus das rochas, de características similares a 'locas e tocas', habitação dos garimpeiros que na região se instalaram".[1][nota 4]

Corroborando a ideia de arquitetura vernacular, a pesquisadora Maria Elizia Borges assim o descreveu: "os jazigos estão sobre o terreno rochoso da encosta da Serra do Sincorá, alinhados horizontalmente, numerados sequencialmente, voltados para a frente do cemitério, acompanhando a topografia da Serra. Estes patamares estão entremeados por valas repletas de vegetação nativa da região (flores do cerrado como mandacarus, as sempre-vivas, os olhos-de-sogra, as samambaias)" e arremata - "Dentro desta visualidade espacial atípica - impacto do branco ente o verde e o cinza - evidenciam-se as distinções sociais daqueles que ali repousam em ambas as partes do cemitério".[1]

Impacto cultural e local[editar | editar código-fonte]

O cemitério ganhou projeção nacional quando, em 1992, serviu de cenário para a novela Pedra sobre Pedra, da rede Globo, no qual ali ocorria um sepultamento na cidade fictícia de Esplendor. A rápida aparição ali deu visibilidade ao monumento, e a gravação da cena foi um acontecimento marcante na pequena cidade interiorana.[1]

O cemitério com o Morro do Cruzeiro ao fundo

Na segunda década do século XXI criou-se o problema da não intervenção no cemitério, com a consequente proibição de novos sepultamentos no local. Estabeleceu-se a construção de novos sepulcros, em forma de gavetas para a guarda de restos mortais, mas a seguir ficou determinado que a prefeitura local deveria construir um novo cemitério, impedindo assim que os moradores venham a ocupar os jazigos familiares, onde estão inumados seus ancestrais.[1]

Morro do Cruzeiro[editar | editar código-fonte]

O Morro do Cruzeiro possui uma altitude de 1208 metros, situado logo atrás do cemitério, de onde se tem um mirante que possibilita avistar os vales em torno, até o limite da Serra do Sincorá e o planalto dos Gerais (duas das principais formações geológicas e geomorfológicas da Chapada), com uma percepção ampla do relevo, razão pela qual se tornou um dos pontos turísticos da cidade.[2]

O acesso se dá por trilha de cerca de 600 metros numa subida de 200 metros. Geologicamente é caracterizado como composto por arenito da chamada Formação Tombador.[2]

Imagens[editar | editar código-fonte]

Registros do Cemitério Bizantino:

Notas e referências

Notas

  1. Na cidade essa parte da Serra do Sincorá recebe o nome de "Serra do Cruzeiro", como consta de folhetos de divulgação turística.[1]
  2. Segundo lembra Carolino M. de S. Brito, "a arte bizantina era uma arte viva e colorida, sobre esta arte novos edifícios foram construídos, as igrejas coroadas de cúpulas possuía uma decoração magnífica e suntuosa, com uma grande riqueza em mosaicos e afrescos", e estavam adstritas ao território do próprio Império.[1]
  3. vide Arquitetura vernacular do sertão nordestino.
  4. Neste particular, entretanto, nota-se que tanto o autor do estudo, quanto o próprio IPHAN confundiram a "arquitetura (e arte) bizantina" com a "arquitetura tumular bizantina" - que são bastante distintas, já que se trata de uma especifidade. Neste sentido, é interessante observar exemplos como o cemitério anexo da Igreja de Santa Maria da Fonte e outros do período, em que existe tal semelhança com os túmulos do Santa Isabel.

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n Carolino Marcelo de Sousa Brito (março de 2013). «Ruínas sobre a Serra do Sincorá: a patrimonialização de Mucugê e do Cemitério Santa Isabel (Bahia, 1970-2012)» (PDF). Natal. Consultado em 15 de janeiro de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 15 de janeiro de 2023 
  2. a b Ricardo Galeno Fraga de Araújo Pereira; Antônio José Dourado Rocha; Augusto J. Pedreira; Carlos Etchevarne; Marjorie Nolasco (2017). «Geoparque Serra do Sincorá (BA) Proposta». CPRM. Consultado em 11 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 11 de janeiro de 2023