Centopeia (filme)

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Centopeia
 Brasil
2005 •  cor •  84 min 
Género ficção científica, drama
Direção Daniell Abrew
Produção Daniell Abrew, Camile Queiroz, J. Melo
Produção executiva Ascânio Queiroz, Jonas Luis da Silva, de Icapuí
Roteiro Daniell Abrew, Camile Queiroz
Elenco Camilo Vidal, Jeanne Feijão, Bruno de Castro, Camile Queiroz, Daniell Abrew, Wanessa Araújo e Ruam Rios
Companhia(s) produtora(s) JLS Comunicação e Editora LTDA.
Lançamento 15 de Janeiro de 2010
Idioma português

Centopeia é um filme brasileiro dos gêneros ficção científica e drama lançado no Cine São Luiz em Fortaleza, Ceará.[1]

Gravado em digital, sem recursos de lei de incentivo, edital ou patrocínio, Centopeia foi possível através de parcerias e da colaboração de diversos técnicos, mesmo com recursos limitados de 300 reais.[2]

Sinopse[editar | editar código-fonte]

A trama do filme é narrada pelo ponto de vista de um fazendeiro no interior do Ceará que luta para sobreviver, se deparando com um espiral de situações que subvertem a realidade conhecida.[3]

Elenco[editar | editar código-fonte]

Ator/Atriz Personagem
Camilo Vidal Joel
Jeanne Feijão Suzana
Bruno de Castro Homo-Fóton
Camile Queiroz Taciana
Daniell Abrew Ribeiro
Wanessa Araújo Rita
Ruam Rios João Ângelo

Inspiração e Roteiro[editar | editar código-fonte]

Centopeia é o primeiro filme de uma quintologia de enredo apocalíptico intitulada “Projeto Unicórnio”, que tem início com a saga do fazendeiro Joel e finaliza com as aventuras espaciais de seu filho João Ângelo. A ideia de criar o projeto surgiu em 2003 quando Daniell Abrew, caminhando pela propriedade rural de seu avô, encontrou uma centopeia morta de forma helicoidal, a qual lembrava a estrutura de uma galáxia espiral.

O desenvolvimento do argumento e do roteiro não seguiram o padrão convencional de uma produção cinematográfica. Abrew pretendia construir uma obra experimental, e optou por escrever o guião em apenas uma folha de papel com sugestões de diálogos. A única cena escrita do filme foi a conversa telepática entre Joel e a cosmonauta Suzana Matoso Fraga.

Filmagens[editar | editar código-fonte]

As gravações tiveram início em Novembro de 2005 nos estúdios da Faculdade Grande Fortaleza com a atriz Jeanne Feijão para a produção de um curta-metragem. A equipe dispôs de uma câmera Sony PD-150 Mini-DvCam/3 CCDs e um estúdio para chroma key. Foi necessário apenas 1 dia para realizar todas as cenas de Jeanne e do ator Bruno de Castro.

Em Fevereiro de 2007, após um intervalo de 1 ano e 2 dois meses, o diretor decide estender a obra para um longa-metragem. Abrew reuniu os atores Camilo Vidal e Camile Queiroz e, com uma câmera handycam Panasonic NV-GS180 MiniDV-Camcorder/3 CCDs, 2 refletores Mini-Set Light 500W e a verba limitada de 300 reais, viajou à fazenda de seu avô em Quixeramobim, município centro-geográfico do estado do Ceará, para fechar a produção em 4 dias de gravações.

Efeitos Especiais e Montagem[editar | editar código-fonte]

Os primeiros esboços da nave Vitória II e da sonda marciana foram criados pelo artista plástico Beto Gaudêncio. Ele construiu miniaturas de 35 centímetros a partir de peças de ferro que serviram como referência para o técnico de animação J. Melo desenvolver a modelagem em 3D. Já os efeitos em 2D, partículas, cenários virtuais e elementos de composição ficaram a cargo de Daniell Abrew.

A produção enfrentou uma série de precariedades durante as gravações, principalmente com a ausência de um equipamento para captar o som. O problema foi solucionado pelo técnico Lúcio Júnior, que desenvolveu um processo de dublagem no qual o ator interpretava a sua linha ao tempo que escutava sua própria voz.

No dia 20 de maio de 2007, a montagem é interrompida com a morte trágica de Tiago Diogo, irmão de Abrew, provocada por um acidente automobilístico na estrada CE-060, sofrendo uma pausa dramática de quase um ano. Foi necessária a colaboração da produtora Camile Queiroz e da maior parte da equipe para conter o transtorno depressivo que impedia que Abrew prosseguisse com a finalização do filme.

Coincidentemente, a montagem foi concluída no dia 20 de maio de 2008, exato 1 ano após a morte de Tiago e apenas dois meses antes da data de estreia.

Recepção[editar | editar código-fonte]

Embora seja considerado o primeiro longa-metragem do gênero ficção-científica produzido no estado do Ceará, o filme não foi bem recebido pela crítica. Segundo o jornalista e crítico de cinema Vinícius Lima:

Daniell Abrew é um cineasta de coragem e merece respeito. Longe de ser um desastre, o longa merece algum crédito. Mais pela ousadia que pelo resultado final. Centopeia, como disse o próprio Daniell Abrew na apresentação de estréia, dia 26 de julho, não se propõe a ser um filme revolucionário. De cara as referências a Stanley Kubrick, embora parcas, são notáveis. A despeito disso, o filme peca, não por ser kubrickiano, mas por outras frentes, pois não oferece elementos para compreendê-la (o horário em um relógio ser uma associação a capítulos da Bíblia sem nenhuma referência prévia) – e subestima o espectador, exacerbando na didática quando não deve, faltando quando necessário. Propõe-se a um debate clichê, com apropriação de elementos já largamente usados. Duas coisas marcaram: seres superiores do futuro e a figura messiânica do homem que reconstruirá a humanidade para a ascensão à luz. Claro, a discussão de vida e morte e renascimento parece ter força alicerce ligada a sentimentos pessoais do diretor. Entretanto, o produto da discussão vida/morte entre o ser do futuro (representado por um hominídeo feito de luz, chamado Homo-Fóton) e o protagonista se mostra mais como aula de auto-ajuda ‘new age’ (reparem nas pirâmides em meio a lindos gramados representando o que seria o mundo do futuro) que uma explicação da proposta de roteiro, por assim dizer, filosófico.”

Curiosidades[editar | editar código-fonte]

  • Quatro anos antes de Dilma Rousseff ser escolhida pelo PT para se candidatar à eleição presidencial, a avó materna de Daniell Abrew, Teresa Reine, assumia a personagem de presidenta do Brasil. O cabelo curto e alourado, e o figurino, foram decisivos para que as cenas de Teresa fossem consideradas quase que proféticas.
  • O diretor se baseou na numerologia para construir a maioria das mensagens subliminares. O número 13 é constantemente visto nas tomadas em que aparecem datas - exceto 2013, a soma dos números dos anos 2029, 2047 e 2056 é igual a 13.
  • Os capítulos e versículos do livro do Apocalipse são apresentados em forma de horários, e se referem a eventos da Bíblia semelhantes aos que ocorrem no filme:

4 horas e 7 minutos (4:7) – E o primeiro animal era semelhante a um leão, e o segundo semelhante a um novilho, e o terceiro animal tinha o aspecto como de homem, e o quarto animal era semelhante a uma águia voando. (Cena em que Joel a cavalo observa diversos novilhos mortos e cercados por abutres.)

6 horas e 15 minutos (6:15) – E os reis da terra, e os príncipes, e os tribunos, e os ricos, e os poderosos, e todo o servo e livre se esconderam nas cavernas e entre os penhascos dos montes. (Cena em que Joel entra no casulo para se proteger do impacto que destruirá o planeta Terra.)

9 horas e 1 minuto (9:1) – E o quinto anjo tocou a trombeta: e vi que uma estrela caiu do céu na terra, e lhe foi dada a chave do poço do abismo. (Cena em que Joel testemunha a cápsula esférica atingir o planeta.)

  • A cápsula esférica foi inspirada na Estrela da Morte, a base bélica criada pelo Império Galáctico da série cinematográfica de ficção científica Star Wars.
  • O nome da cosmonauta Suzana Matoso Fraga foi inspirado em um antigo caso de amor do diretor, o qual se chamava Suzana Cardoso Braga. A atriz Jeanne Feijão foi submetida a um corte de cabelo semelhante ao de Suzana.
  • Por falta de verba de produção, o traje espacial da cosmonauta Suzana foi confeccionado a partir de um colchão inflável.
  • Um dos grandes problemas que ocorreram durante o filme foi a maquiagem pós-apocalíptica de Joel. Camilo Vidal enfrentou diversas tentativas para manter o aspecto deteriorado pela radiação. As gravações de todas as cenas de Joel na fase intermediária da evolução do homem teriam de ser resolvidas em apenas 2 horas porque a maquiagem final não permitia que Camilo respirasse com facilidade.
  • O nome do personagem Joel foi idealizado a partir da mescla de João e Daniel. Foi uma homenagem a seu avô paterno, João Batista Diogo de Siqueira, que também era fazendeiro e vivenciou diversos eventos místicos em torno de sua propriedade.
  • Numa matéria jornalística percebe-se uma referência ao ator estadunidense Haley Joel Osment como presidente reeleito dos Estados Unidos. A escolha do diretor em citar Osment baseou-se em duas premissas: o sobrenome Joel e a semelhança com seu irmão caçula Davi Abreu.
  • Durante a sessão de estreia no dia 26 de Julho de 2008, cerca de 5% dos 800 espectadores deixaram o Cine São Luiz no início da cena da conversa telepática entre Joel e o Homo-Fóton. O motivo foi a dúvida que se desenvolveu sobre a existência de Deus. Segundo Daniell: ”Centopeia não afirma que inexiste um Deus, mas que, apesar de 5 milhões de anos de tecnologia, ainda é impossível provar Sua existência. É por isso que estou trabalhando numa continuação, para explicar este mal entendido.”

Referências