Chá de folhas de nespereira

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.



O chá ou tisana de folhas de nespereira é uma decocção de folhas de nespereira (Eriobotrya japonica Thunb.) de consumo antigo na China, Coreia e Japão.

A riqueza destas folhas em antioxidantes motivou numerosas publicações e pesquisas, principalmente nestes três países, bem como levou a uma difusão comercial no ocidente. As folhas de algumas espécies selvagens do género Eriobotrya também se estão incluídas nos campos de pesquisa atuais.[1]

Chá de folhas de nespereira

Denominação[editar | editar código-fonte]

Na China, é denominado de 枇杷叶茶, sendo que 枇杷 (pípa) significa “nespereira”, 叶 (yè) significa “folha” e 茶 (chá) significa “chá”. Em japonês, é chamado de びわ茶, correspondendo びわ (biwa) à palavra “nespereira” e 茶 (chá) a “chá”. A enciclopédia chinesa online Baidu Baike consagra uma página à folha da nespereira e aos seus usos.[2]

Modo de preparação[editar | editar código-fonte]

As folhas maiores (as folhas menores contêm saponinas)[3] são lavadas, a face inferior é esfregada para remover os pêlos castanhos, macios e cotonados, são secas e, em seguida, cortadas em tiras de 1,5 cm, sendo, então, secas uma vez mais. Até aos dias de hoje, nenhum estudo foi capaz de indicar o período ideal de colheita destas folhas. O chá é obtido através de uma decocção de 15 minutos que é, depois, deixada em repouso durante, pelo menos, igual quantidade de tempo. Obtém-se uma bebida de uma bela cor âmbar, com gosto de maçã, possível de ser consumida sem açúcar, quente ou fria.[4] Este método de extração de compostos fenólicos e triterpenos foi comparado favoravelmente com a extração com recurso a água supercrítica.[5]

Utilização[editar | editar código-fonte]

Indicações nas medicinas tradicionais chinesa e japonesa[editar | editar código-fonte]

O chá de folhas de nespereira japonesa é tradicionalmente utilizado na China, Coreia e Japão para combater a tosse e asma, entre outras doenças. Em 1874, Philibert Dabry de Thiersant escreveu em La matière médicale chez les Chinois: “a sua folha amarga atenua inflamações, pára a tosse e sede, alivia a melancolia e fortalece o estômago”.[6]

O chá de folha de nespereira é comercializado como um suplemento alimentar, com uma grande quantidade de indicações raramente demonstradas em humanos.[7] O extrato de folha de nespereira japonesa foi analisado por investigadores da Ásia que conseguiram demonstrar a presença de antioxidantes: fenóis, flavonóides, triterpenos (incluindo ácido ursólico[8]) e polissacarídeos. Publicações são regulares e detalhadas.[1] Os novos potenciais terapêuticos que ainda merecem ser explorados[9] foram descobertos no século XXI.

  • Em 2010, uma equipa coreana confirmou experimentalmente o efeito anti-inflamatório e analgésico[10] deste extrato. Além disso, uma esquipa chinesa classificou em segundo lugar a nespereira japonesa entre 56 plantas diferentes utilizadas na medicina tradicional pelo seu conteúdo de antioxidantes.[11] As plantas selvagens possuem um potencial antioxidante superior às cultivadas.[12]
  • O efeito anti-inflamatório foi particularmente confirmado no tratamento de bronquite crónica em testes com animais[13][14] sobre tosse e asma em testes praticados em ratos e cobaias.[15] O mecanismo de ação foi descrito em 2015, em ratos.[16]
  • Um efeito antidiabético foi demonstrado em ratos,[17] devido a um flavonolignano.[18][19]

Indicações descobertas pela pesquisa contemporânea[editar | editar código-fonte]

  • Osteoporose: Após estudos sobre a atividade estrogénica de plantas da medicina tradicional chinesa,[20] uma equipa japonesa demonstrou que a folha de nespereira previne a deterioração da densidade óssea em ratos ovariectomizados.[21] Sob a direção do mesmo investigador, Hui Tan, o mecanismo de ação do ácido ursólico[22] foi descrito em 2015,[23] seguido de um estudo sobre a atividade anti-osteoporose da folha de nespereira.[24]
  • TK Lim (2012)[25] acrescenta às atividades antioxidantes, anti-inflamatórias, anti-hiperglicémicas e antialérgicas, as atividades anticancerígenas descritas depois do ano 2000 (cancro da boca, das glândulas salivares, leucemia e do pâncreas[26]), hepato-protetoras (2002), renoprotetoras (2004) e gastroprotetoras (2008).
  • As atividades antioxidantes[25] são ainda manifestadas por um efeito neuro-protetor (capacidade cognitiva em ratos[27] e adolescentes[28]).

Uma revisão detalhada das atividades dos extratos de nespereira japonesa foi publicado em 2016, a qual também cobre os extratos de fruta e flor.[9]

Toxicidade[editar | editar código-fonte]

Shengli Li et al. administraram extratos de folha de nespereira em ratos durante 28 dias consecutivos, em doses de 10g/kg, e não constatou qualquer efeito tóxico nos ratos de ambos os sexos.[29]

Referências

  1. a b Yanping, Hong; Biaosheng, Lin; Hongyun, Cao; Yongshun, Gao (1 de janeiro de 2017). «Analysis of major triterpene acids and total polysaccharides in the leaves of 11 species of Eriobotrya». BIO Web of Conferences (em inglês). 8. ISSN 2117-4458. doi:10.1051/bioconf/20170803012. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  2. «枇杷叶». baidu.com (em chinês) 
  3. Suzanna Lyle (2007). «Eriobatrya japonica». In: De Vecchi. Encyclopédie mondiale des fruits et des fruits secs (em francês). Paris: [s.n.] 479 páginas. ISBN 978-2-7328-8828-6 
  4. «Japanese Loquat Leaves Tea». wawaza.Com (em inglês). 2017 
  5. Erasto, Mlyuka; Shuang, Zhang; Zongping, Zheng; Jie, Chen (1 de janeiro de 2016). «Subcritical water extraction of bioactive compounds from dry loquat ( Eriobotrya japonica ) leaves and characterization of triterpenes in the extracts». African Journal of Biotechnology. 15 (22): 1041–1049. ISSN 1684-5315. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  6. Philibert Dabry de, Thiersant (1 de janeiro de 1874). G. Masson, ed. La matière médicale chez les Chinois (em francês). [S.l.: s.n.] Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  7. «Eriobotrya japonica - Scientific Review on Usage, Dosage, Side Effects | Examine.com». examine.com. Consultado em 5 de fevereiro de 2017 
  8. Dharambir, Kashyap; Hardeep Singh, Tuli; Anil K., Sharma (1 de fevereiro de 2016). «Ursolic acid (UA): A metabolite with promising therapeutic potential». Life Sciences. 146: 201–213. doi:10.1016/j.lfs.2016.01.017. Consultado em 5 de fevereiro de 2017 
  9. a b Yilong, Liu; Wenna, Zhang; Changjie, Xu; Xian, Li (6 de dezembro de 2016). «Biological Activities of Extracts from Loquat (Eriobotrya japonica Lindl.): A Review». International Journal of Molecular Sciences. 17 (12). ISSN 1422-0067. PMID 27929430. doi:10.3390/ijms17121983. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  10. Dong Seok, Cha; Jae Soon, Eun; Hoon, Jeon (24 de março de 2011). «Anti-inflammatory and antinociceptive properties of the leaves of Eriobotrya japonica». Journal of Ethnopharmacology. 134 (2): 305–312. doi:10.1016/j.jep.2010.12.017. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  11. Feng-Lin, Song; Ren-You, Gan; Yuan, Zhang; Qin, Xiao (1 de junho de 2010). «Total Phenolic Contents and Antioxidant Capacities of Selected Chinese Medicinal Plants». International Journal of Molecular Sciences (em inglês). 11 (6): 2362–2372. PMC 2904921Acessível livremente. PMID 20640157. doi:10.3390/ijms11062362. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  12. Yanping, Hong; Shunquan, Lin; Yueming, Jiang; Muhammad, Ashraf (26 de agosto de 2008). «Variation in Contents of Total Phenolics and Flavonoids and Antioxidant Activities in the Leaves of 11 Eriobotrya Species». Plant Foods for Human Nutrition (em inglês). 63 (4). 200 páginas. ISSN 0921-9668. doi:10.1007/s11130-008-0088-6. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  13. Yan, Huang; Jun, Li; Qi, Cao; Shi-Chun, Yu (1 de maio de 2006). «Anti-oxidative effect of triterpene acids of Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl. leaf in chronic bronchitis rats». Life Sciences. 78 (23): 2749–2757. doi:10.1016/j.lfs.2005.10.040. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  14. Jin-Fang, Ge; Ting-Yu, Wang; Bin, Zhao; Xiong-Wen, Lv (1 de janeiro de 2009). «Anti-inflammatory Effect of Triterpenoic Acids of Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl. Leaf on Rat Model of Chronic Bronchitis». The American Journal of Chinese Medicine. 37 (02): 309–321. ISSN 0192-415X. doi:10.1142/S0192415X09006862. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  15. «The antitussive,expectorant and anti-asthmatic activities of triterpene acids of loquat leaves in mice and guinea-pigs--《Acta Universitatis Medicinalis Anhui》2006年04期». en.cnki.com.cn. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  16. Jin, Tao; Yuanyuan, Hou; Xiaoyao, Ma; Dan, Liu (1 de janeiro de 2016). «An integrated global chemomics and system biology approach to analyze the mechanisms of the traditional Chinese medicinal preparation Eriobotrya japonica – Fritillaria usuriensis dropping pills for pulmonary diseases». BMC Complementary and Alternative Medicine. 16. 4 páginas. ISSN 1472-6882. PMC 4705596Acessível livremente. PMID 26742634. doi:10.1186/s12906-015-0983-y. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  17. W.L. Li; et al. (2004). «Natural medicines used in the traditional Chinese medical system for therapy of diabetes mellitu» (PDF). Journal of Ethnopharmacology 92 (2004) 1–21 (em inglês). 11 páginas 
  18. Fadi Qa’dana, Eugen. J. Verspohl; et al. (2009). «Cinchonain Ib isolated from Eriobotrya japonica induces insulin secretion in vitro and in vivo» (PDF). Journal of Ethnopharmacology 124 (2009) 224–2 (em inglês) 
  19. J., Chen; W. L., Li; J. L., Wu; B. R., Ren (25 de janeiro de 2008). «Hypoglycemic effects of a sesquiterpene glycoside isolated from leaves of loquat (Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl.)». Phytomedicine. 15 (1–2): 98–102. doi:10.1016/j.phymed.2006.12.014. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  20. In Gyu, Kim; Se Chan, Kang; Kug Chan, Kim; Eui Su, Choung (1 de janeiro de 2008). «Screening of estrogenic and antiestrogenic activities from medicinal plants». Environmental Toxicology and Pharmacology. 25 (1): 75–82. doi:10.1016/j.etap.2007.09.002. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  21. Hui, Tan; Syoko, Furuta; Toshiro, Nagata; Koichiro, Ohnuki (29 de janeiro de 2014). «Inhibitory Effects of the Leaves of Loquat (Eriobotrya japonica) on Bone Mineral Density Loss in Ovariectomized Mice and Osteoclast Differentiation». Journal of Agricultural and Food Chemistry. 62 (4): 836–841. ISSN 0021-8561. doi:10.1021/jf402735u. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  22. Łukasz, Woźniak; Sylwia, Skąpska; Krystian, Marszałek (19 de novembro de 2015). «Ursolic Acid—A Pentacyclic Triterpenoid with a Wide Spectrum of Pharmacological Activities». Molecules (em inglês). 20 (11): 20614–20641. doi:10.3390/molecules201119721. Consultado em 5 de fevereiro de 2017 
  23. Hui, Tan; Ahmed, Ashour; Yoshinori, Katakura; Kuniyoshi, Shimizu (15 de abril de 2015). «A structure–activity relationship study on antiosteoclastogenesis effect of triterpenoids from the leaves of loquat (Eriobotrya japonica)». Phytomedicine. 22 (4): 498–503. doi:10.1016/j.phymed.2015.03.002. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  24. Hui Tan (2015). «Antiosteoporosis activity of the leaves of Eriobotrya japonica» (PDF). Kyushu University (em inglês). 113 páginas. Consultado em 5 de setembro de 2017. Arquivado do original (PDF) em 4 de fevereiro de 2017 
  25. a b T. K., Lim (11 de junho de 2012). Springer Science & Business Media, ed. Edible Medicinal And Non-Medicinal Plants: Volume 4, Fruits (em inglês). [S.l.: s.n.] ISBN 9789400740532. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  26. Qing-Yi, Lu; Xuemei, Zhang; Jieping, Yang; Vay-Liang W., Go (1 de abril de 2017). «Triterpenoid-rich loquat leaf extract induces growth inhibition and apoptosis of pancreatic cancer cells through altering key flux ratios of glucose metabolism». Metabolomics (em inglês). 13 (4). 39 páginas. ISSN 1573-3882. doi:10.1007/s11306-017-1176-0. Consultado em 25 de março de 2017 
  27. Mi-Jeong, Kim; Jeongmin, Lee; Ah-Reum, Seong; Yoo-Hyun, Lee (1 de abril de 2011). «Neuroprotective effects of Eriobotrya japonica against β-amyloid-induced oxidative stress and memory impairment». Food and Chemical Toxicology: An International Journal Published for the British Industrial Biological Research Association. 49 (4): 780–784. ISSN 1873-6351. PMID 21168467. doi:10.1016/j.fct.2010.11.043. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  28. Soo-Wan, Chae; Eun-Kyung, Choi; Myoung-Hwan, Ko; Soo-Hyun, Park. «Eriobotrya japonica Improves Cognitive Function in Healthy Adolescents: A 12-week, Randomized Double-blind, Placebo-controlled Clinical Trial». International Journal of Pharmacology. 12 (4): 370–378. doi:10.3923/ijp.2016.370.378. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
  29. Shengli, Li; Yingshu, Zou; Kun, Jiao; Xin, Qiao (1 de janeiro de 2011). «Repeated-dose (28 days) oral toxicity study in rats of an antiacne formula (BC-AF) derived from plants». Drug and Chemical Toxicology. 34 (1): 77–84. ISSN 0148-0545. PMID 20954811. doi:10.3109/01480541003777450. Consultado em 3 de fevereiro de 2017