Charles Robert Maturin

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Charles Robert Maturin
Charles Robert Maturin
Gravura de 1819
Nascimento 25 de setembro de 1782
Dublin, Leinster
 Irlanda
Morte 30 de outubro de 1824 (42 anos)
Dublin, Leinster
 Irlanda
Ocupação Escritor, clérigo
Principais trabalhos Melmoth the Wanderer

Charles Robert Maturin (Dublin, 25 de setembro de 1782idem, 30 de outubro de 1824) foi um clérigo protestante, dramaturgo e romancista irlandês. Sua obra mais famosa é o romance gótico Melmoth the Wanderer, originalmente publicado em 1820.[1]

Biografia e obras[editar | editar código-fonte]

Maturin descendia de huguenotes que se refugiaram na Irlanda, um dos quais foi Gabriel Jacques Maturin, que tornou-se deão da Catedral de São Patrício em Dublin sucedendo Jonathan Swift em 1745. Charles Robert Maturin nasceu em Dublin e estudou no Trinity College. Pouco após ser ordenado cura de Loughrea, no Condado de Galway, em 1803, mudou-se de volta para Dublin como cura da Igreja de São Pedro. Viveu na York Street com seu pai William, um oficial do correio, e com sua mãe, Fedelia Watson, e casou-se em 7 de outubro de 1804 com a aclamada cantora Henrietta Kingsbury.

Suas primeiras três obras foram romances góticos publicados sob o pseudônimo Dennis Jasper Murphy, e foram fracassos de crítica e de vendas. Elas, porém, chamaram a atenção de Sir Walter Scott, que recomendou a obra de Maturin a Lord Byron. Com a ajuda deles, a peça de Maturin Bertram foi encenada em 1816 no Teatro Drury Lane por 22 noites, com Edmund Kean no papel principal.[2] O sucesso financeiro, porém, escapou de Maturin, já que a temporada da peça coincidiu com o desemprego de seu pai e a falência de um outro parente, ambos assistidos pelo escritor em ascensão. Para piorar as coisas, Samuel Taylor Coleridge publicamente denunciou a peça como sendo tediosa e desprezível, e uma "melancólica prova da depravação da mente pública",[3] indo inclusive a ponto de criticá-la de ateia.

Notícias destas e de outras críticas anteriores chegaram aos ouvidos da Igreja da Irlanda, e ao descobrirem a verdadeira identidade do autor de Bertram (Maturin havia abandonado seu pseudônimo para recolher os lucros da peça), subsequentemente barraram quaisquer tentativas de avanço na carreira clerical de Maturin. Obrigado a sustentar sua esposa e quatro filhos pela escrita (seu salário como cura era de £80-90 ao ano, comparadas às £1000 que ganhou com Bertram), trocou de dramaturgo para romancista após a recepção negativa de uma série de peças suas. Escreveu vários outros romances depois de Melmoth the Wanderer, incluindo alguns sobre temas irlandeses e The Albigenses, uma romance histórico com lobisomens.[1] Vários poemas também foram dubiamente atribuídos a Maturin, tendo sido aparentemente escritos por outros. O premiado "Lines on the Battle of Waterloo" foi publicado em 1816 sob o nome do universitário John Shee. "The Universe" apareceu com o nome de Maturin em seu frontispício em 1821, mas atualmente crê-se que foi escrito por James Wills.[4]

Os efeitos exagerados das pregações de Maturin podem ser extraídos de duas séries de sermões que ele publicou. Seguindo a morte da Princesa Carlota de Gales, ele declarou: "A vida é cheia de morte; os passos dos vivos não podem comprimir o solo sem perturbar as cinzas dos mortos – caminhamos sobre nossos ancestrais – o globo não passa de um vasto cemitério". Um relato contemporâneo afirma que raramente via-se tal multidão na Igreja de São Pedro. "Apesar do mau tempo, pessoas de todo tipo seguiam à igreja para escutar, encantadas, a este príncipe dos pregadores. Seu obituário dizia que, 'se não tivesse deixado qualquer monumento para atestar-lhe a fama, apenas estes sermões seriam suficientes'".[5]

Maturin morreu em Dublin em 30 de outubro de 1824. Um escritor da University Magazine mais tarde resumiu seu caráter como "excêntrico quase à insanidade e repleto de opostos – um insaciável leitor de romances; um elegante orador; um incessante dançarino; um gabola em modos e gestos".[6]

Reputação internacional[editar | editar código-fonte]

Em 1821 a bem-sucedida peça de Maturin foi adaptada para o francês como Bertram, ou le Pirate por Charles Nodier e Isidore Justin Séverin Taylor, e foi encenada por 53 noites no ano seguinte. Esta versão foi a fonte da ainda mais bem-sucedida ópera Il pirata, com o libreto de Felice Romani e música de Vincenzo Bellini, que estreou no La Scala em Milão em 1827. Victor Hugo admirava a peça, e Alexandre Dumas baseou seu Antony no herói dela em 1831. A peça também foi impressa e frequentemente encenada nos Estados Unidos.

O romance Melmoth the Wanderer foi traduzido para o francês em 1821 e foi muito influente para os escritores da França. Em 1835, Honoré de Balzac escreveu uma paródia, Melmoth Reconcilié, na qual o herói de Maturin viaja a Paris, onde encontra em seu mundo financeiro um ethos que "substituiu o princípio da honra pelo do dinheiro" e facilmente encontra alguém que aceita a danação em seu lugar. Na opinião de Balzac, "este romance baseia-se na mesma ideia do Fausto e que da qual desde então Byron retirou o Manfredo". Charles Baudelaire também foi um admirador do romance de Maturin, comparando-o às poesias de Byron e de Edgar Allan Poe.[7]

Conexões familiares[editar | editar código-fonte]

Uma irmã da esposa de Maturin casou-se com Charles Elgee, cuja filha, Jane Francesca, tornou-se mãe de Oscar Wilde. Portanto, Charles Maturin foi tio-avô de Oscar Wilde por parte de casamento.[8] Wilde abandonou seu nome e adotou o do herói de Maturin, Melmoth, durante seu exílio na França.[9]

O filho mais velho de Maturin, William Basil Kingsbury Maturin, o sucedeu no ministério, tal como vários de seus netos. Um deles, Basil W. Maturin, morreu no naufrágio do RMS Lusitania em 1915. O segundo filho foi Edward Maturin, que mudou-se para os Estados Unidos e tornou-se romancista e poeta lá.

Obras conhecidas[editar | editar código-fonte]

Romances[editar | editar código-fonte]

Peças[editar | editar código-fonte]

Sermões[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b Chris Morgan, "Maturin, Charles R(obert)." in St. James Guide to Horror, Gothic, and Ghost Writers, ed. David Pringle. Detroit and New York: St. James Press, 1998. (396–97) ISBN 1558622063
  2. Encyclopædia Britannica, vol. 17, Cambridge 1911, p. 903
  3. Maturin, Melmoth the Wanderer (1820) from the course The Gothic Subject by David S. Miall, Department of English, University of Alberta, Autumn 2000
  4. The Cambridge Bibliography of English Literature: 1800–1900, 1999, p.957
  5. Maturin family history online Arquivado em 2013-12-02 no Wayback Machine
  6. "A Compendium of Irish Biography", Dublin 1878, the article on Charles Robert Maturin
  7. See the introduction to the Penguin edition of the novel, 2000
  8. Dawidziak, Mark (2008). The bedside, bathtub, and armchair companion to Dracula. Continuum, p. 29.ISBN 0826417949
  9. Lovecraft, Howard Phillips (2010). Supernatural Horror in Literature, The Modern Library, p. 119. ISBN 0-8129-7441-7