Cneu Cornélio Lêntulo Clodiano

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 Nota: Para outros significados, veja Cneu Cornélio Lêntulo.
Cneu Cornélio Lêntulo Clodiano
Cônsul da República Romana
Consulado 72 a.C.
Nascimento 114 a.C.[1]

Cneu Cornélio Lêntulo Clodiano (n 114 a.C.; em latim: Cneus Cornelius Lentulus Clodianus) foi um político da família dos Lêntulos da gente Cornélia da República Romana eleito cônsul em 72 a.C. com Lúcio Gélio Publícola. Intimamente ligado à família de Pompeu,[2] é lembrado por ser um dos generais consulares que lideraram as legiões romanas contra o exército de escravos de Espártaco na Terceira Guerra Servil.

Família[editar | editar código-fonte]

Denário da série de Lêntulo Clodiano
Cabeça da Marte. Vitória em sua biga. Inscrição CN•LENTVL.
Æ Denário de prata (3.83 g)

Embora nascido num ramo plebeu da família dos Marcelos da gente Cláudia, Clodiano foi adotado pela família patrícia dos Lêntulos da gente Cornélia,[3] possivelmente como filho adotivo da Cneu Cornélio Lêntulo, cônsul em 97 a.C..[4][5]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Clodiano foi eleito pretor por volta de 75 a.C.[6] e suas ligações com Pompeu asseguraram sua eleição para o consulado em 72 a.C.[7] Imediatamente Clodiano começou a proteger os interesses de seu protetor, apresentando uma lei para validar as concessões de cidadania romana feitas por Pompeu[a] durante sua campanha na Hispânia. Ele e seu colega, Lúcio Gélio Publícola, também asseguraram que nenhum cidadão romano nas províncias poderia ser julgado in absentia por uma pena capital — uma tentativa de proteger Estênio de Termas das maquinações de Caio Verres na Sicília.[9][10] Finalmente, Clodiano propôs ainda uma lei, repelida pelo ditador Sula, para exigir o pagamento dos que haviam comprado propriedades confiscadas dos que sofreram durante as proscrições sulanas.[11][12]

Derrotas consulares na Terceira Guerra Servil (72 a.C.)

Porém, o grande evento de seu consulado foi a revolta de Espártaco e a irrupção da Terceira Guerra Servil. Depois de conseguir diversas vitórias sobre algumas forças romanas mal-preparadas, o Senado finalmente reconheceu Espártaco como uma ameaça série e enviou os dois cônsules para enfrentar o exército de escravos com quatro legiões.[13] Publícola marchou para o norte perseguindo as forças de Espártaco[14] e Clodiano moveu-se para interceptá-lo, com o objetivo de tentar aprisionar Espártaco entre os dois exércitos. O exército de escravos de Espártaco destruiu as duas legiões de Clodiano nos Apeninos (perto da moderna Pistoia), num vale chamado Lêntula.[15] Espártaco então se virou e derrotou as outras duas legiões de Publícola.[16] Reunindo o que restou de suas respectivas forças, os dois cônsules foram novamente derrotados perto de Piceno.[17][14]

Humilhados por estas derrotas, logo depois, no início do outono, Publícola e Clodiano foram sacados do comando pelo Senado Romano e a direção da guerra foi entregue a Crasso.[18][19] Este revés na carreira de Clodiano foi, porém, temporário. Com o apoio de Pompeu, os dois foram nomeados censores em 70 a.C.[20] e deram início a um expurgo sistemático do Senado Romano, removendo cerca de 64 senadores, entre eles diversos ligados ao julgamento de Opiânico, além de outras importantes figuras da política romana na época, como Caio Antônio Híbrida e Públio Cornélio Lêntulo Sura[21] (a maioria deles foi depois inocentados pela corte e reassumiram suas funções).[22][23] Eles identificaram 910 000 cidadãos[b] e possivelmente nomearam Mamerco Emílio Lépido Liviano como príncipe do senado.[25]

Anos finais[editar | editar código-fonte]

Em 67 a.C., Publícola estava servindo como legado com imperium pretorial sob Pompeu, que havia recebido um comando extraordinário para livrar o Mediterrâneo de piratas. Clodiano recebeu o comando das forças na costa leste da Itália, com a missão de patrulhar o mar Adriático.[26] No ano seguinte, já estava de volta em Roma para apoiar a aprovação da Lex Manilia, que concedeu a Pompeu o comando da Terceira Guerra Mitridática contra o rei do Ponto Mitrídates VI.[27][28]

Legado[editar | editar código-fonte]

Embora Clodiano tenha sido um notável orador, dizia-se que ele escondia sua falta de talento com sua teatralidade e sua boa voz.[27][29] Teve um filho, de mesmo nome, foi enviado com Quinto Cecílio Metelo Crético e Lúcio Flaco ao território dos helvécios.[30]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Cônsul da República Romana
Precedido por:
Caio Cássio Longino

com Marco Terêncio Varrão Lúculo

Cneu Cornélio Lêntulo Clodiano
72 a.C.

com Lúcio Gélio Publícola

Sucedido por:
Públio Cornélio Lêntulo Sura

com Cneu Aufídio Orestes


Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Pompeu concedeu a cidadania a Cneu Cornélio Balbo e seus parentes por seus méritos durante a Guerra Sertoriana.[8]
  2. Apesar do número de Broughton, as fontes clássicas indicam uma população de cerca de 450 000 cidadãos.[24]

Referências

  1. Cícero, Brutus 230
  2. Syme, pg. 44
  3. Anthon & Smith, pg. 429; Syme, pg. 44
  4. Broughton, T., The Magistrates of the Roman Republic, Vol III, pg. 61
  5. Cícero, Epistulae ad Atticum I 19 § 2; Aulo Gélio, Noites Áticas XVIII 4.
  6. Broughton, pg. 96
  7. Syme, pg. 66
  8. Cícero, Pro Balbus 8, 14.
  9. Broughton, pg. 115
  10. Cícero, In Verrem II 34, 39, & c.
  11. Broughton, pg. 115; Holmes, pg. 155
  12. Salústio ap. Gell. XVIII 4.
  13. Holmes, pgs. 157-158
  14. a b J. Herrera Dávila Leciones de História Romana
  15. Strauss, Barry S., The Spartacus War, Simon & Schuster, 2009, pg. 101
  16. Holmes, pg. 158
  17. Holmes, pgs. 386-387; Broughton, pg. 115
  18. Holmes, pg. 159; Broughton, pg. 115
  19. Lívio, Ab Urbe Condita Epit. 96; Plutarco Vidas Paralelas Crasso 9, & c.
  20. Anthon & Smith, pg. 724
  21. Broughton, pg. 125; Syme, pg. 66
  22. Anthon & Smith, pgs 429-430
  23. Cícero, Pro Cluentio 42; in Verrem V 7, pro Flacco 19; Aulo Gélio, Noites Áticas V 6; Valério Máximo, Nove Livros de Feitos e Dizeres Memoráveis V 9 § 1.
  24. Lívio, Ab Urbe Condita Epit. 98; Ascônio, Ad Verr. Act. I 18; Plutarco Vidas Paralelas, Pompeu 22
  25. Broughton, pg. 125
  26. Broughton, pg. 147; Anthon & Smith, pg. 724
  27. a b Anthon & Smith, pg. 430
  28. Apiano, Bellum Mitrhidaticum 95; Cícero, Pro Lege Manilia 23
  29. Cícero, Brutus 66.
  30. Cícero, Ad Att. I 19, 20.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Broughton, T. Robert S. (1952). The Magistrates of the Roman Republic. Volume II, 99 B.C. - 31 B.C. (em inglês). Nova Iorque: The American Philological Association. 578 páginas 
  • Holmes, T. Rice, The Roman Republic and the Founder of the Empire, Vol. I (1923)
  • Syme, Ronald, The Roman Revolution, Clarendon Press, Oxford, 1939.
  • Anthon, Charles & Smith, William, A New Classical Dictionary of Greek and Roman Biography, Mythology and Geography (1860).