Colher de pau

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Uma típica colher de pau

Colher de pau[nota 1] (também conhecido por Colher de madeira) é um instrumento culinário, espécie de colher usada para mexer alimentos que se cozem, temperos, bebidas, sopas etc.

Histórico[editar | editar código-fonte]

Segundo o sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, a colher de pau era um dos objetos utilizados na culinária dos povos indígenas que eram desconhecidos pelos europeus, assim como as panelas de barro, os pilões, cuias e outros.[2]

Para Curt Nimuendajú, num artigo de 1929, os índios ticunas haviam incorporado a colher de pau justamente por influência europeia, assim como as roupas, armas e outros objetos, para os quais não possuíam uma palavra própria para designá-los.[3][nota 2] Contudo, o mito da gênese dos Uaianas revela que a colher de pau estava presente desde o início.[4]

Usos e formatos[editar | editar código-fonte]

Diversos tipos de colheres de pau

Para as doceiras tradicionais de São Paulo, o uso da colher de pau não apenas dá maior duração aos doces, como ainda realça o sabor das frutas.[5]

Para se coar o café num coador de pano, o mesmo deve ser mexido com uma colher de pau de uso exclusivo para tal fim (não reutilizar em comidas, temperos, etc.).[6]

É um dos instrumentos utilizados na pesca artesanal de mariscos na Bahia.[7]

A partir de 1945 houve uma progressiva utilização do plástico em substituição aos utensílios feitos originalmente com matéria-prima natural, embora muitos chefes tenham oferecido certa resistência em substituir a colher de pau.[8]

Cuidados[editar | editar código-fonte]

Estudos microbiológicos dão conta de que utensílios de madeira na cozinha, como a colher de pau ou tábuas de carne, favorecem a instalação de bactérias e sua higienização é bastante difícil, uma vez que a madeira conserva umidade, tornando-se assim um ambiente propício para sua proliferação, recomendando sua substituição por similares feitos em plástico.[9]

Contudo, há de se observar que a colher de pau contaminada resiste à fervura - o que nem sempre ocorre com os materiais plásticos, que podem amolecer e, até, derreter.[8]

Cultura[editar | editar código-fonte]

"(...)Florência, a doceira famosa da casa. Incumbida de um tacho de cocada que fervia na cozinha, ela assomara à porta da copa, com a colher de pau em uma mão..."
— José de Alencar, O Tronco do Ipê[10]

A colher de pau, na sinalagmática acadêmica lusa, simboliza o estudante.[11]

"A Colher de Pau" é, também em Portugal, o título de livro de culinária bastante famoso, de autoria de Maria de Lourdes Modesto.[12]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas e referências

Notas

  1. Constitui o vocábulo uma perífrase, em que os léxicos têm uma ligação forçada: colher feita de pau.[1]
  2. O Dicionário do Folclore Brasileiro de Câmara Cascudo é omisso; ali não se encontra um verbete para "colher" ou para "colher de pau", o que parece referendar essa hipótese da influência europeia de Nimuendajú, ao menos quanto ao formato e nomes.

Referências

  1. Mário Vilela (1982). «A formação de palavras: componente independente ou apenas subcomponente?» (PDF). Consultado em 19 de novembro de 2013 
  2. Letícia Monteiro Cavalcanti (2005). «A Formação da Culinária Brasileira» (PDF). Anais do Seminário Gastronomia em Gilberto Freyre. Consultado em 21 de novembro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 24 de dezembro de 2010 
  3. Peter Schröder. «Primeira viagem aos Ticuna: um artigo pouco conhecido de Curt Nimuendajú». maio–agosto 2013. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, vol.8 no.2 Belém. Consultado em 21 de novembro de 2013 
  4. Lúcia Hussak van Velthem (Abr. 2009). «Mulheres de cera, argila e arumã: princípios criativos e fabricação material entre os Wayana». Mana vol.15 no.1 Rio de Janeiro. Consultado em 21 de novembro de 2013 
  5. Cláudio Donizete Querido (2012). «Bolo de Arroz». Inventário da cultura material do Vale do Paraíba. Consultado em 21 de novembro de 2013 
  6. Associação Brasileira da Indústria de Café. «Dicas de preparação de café». ABIC - institucional. Consultado em 19 de novembro de 2013. Arquivado do original em 13 de julho de 2014 
  7. PGL Pena, MCS Freitas, A Cardim (2008). «Trabalho artesanal, cadências infernais e lesões por esforços repetitivos: estudo de caso em uma comunidade de mariscadeiras na Ilha de Maré, Bahia» (PDF). Rev Ci Saúde Col - SciELO Public Health. Consultado em 9 de novembro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 10 de junho de 2015 
  8. a b Tom Fisher: Plásticos - a cultura através da atitudes em relação aos materiais artificiais, in: Lívia Barbosa, Colin Campbell (colab) (2006). Cultura, consumo e identidade. [S.l.]: FGV Editora. p. 91 e seg. ISBN 8522505705 
  9. Jussara Dutra Izac (maio de 2007). «Saiba como manter as bactérias longe da cozinha». Conversa Pessoal, Ano VII - Número 78. Consultado em 19 de novembro de 2013. Arquivado do original em 18 de julho de 2013 
  10. citado in: Marlene Milan Acayaba (org.) Ernani Silva Bruno (colab.) (2000). Equipamentos, usos e costumes da casa brasileira - vol. 4: Objetos. [S.l.]: EdUSP. p. 178. ISBN 8586297062 
  11. Copitraje (institucional) (2012). «O que deves usar no traje». Copitraje. Consultado em 19 de novembro de 2013. Arquivado do original em 15 de julho de 2014 
  12. Maria de Lourdes Modesto (1966). A Colher de Pau. [S.l.]: Verbo. ISBN 9789722230100 
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