Comunidade Remanescente de Quilombo Invernada dos Negros
Comunidade Remanescente de Quilombo Invernada dos Negros | |
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Tipo | quilombo |
Geografia | |
Localização | Santa Catarina - Brasil |
A Comunidade Remanescente de Quilombo Invernada dos Negros, ou apenas Invernada dos Negros, é uma comunidade quilombola reconhecida pelo Incra em 2008. Está localizada na localidade de Corredeira e Manoel Candido entre os municípios Campos Novos e Abdon Batista em Santa Catarina.
A comunidade enfrenta disputas de território com madeireiras que operam dentro de seu território.
História[editar | editar código-fonte]
Registros escritos sobre a constituição da comunidade quilombola remetem ao ano de 1876. Em 12 de abril de 1876, cinco escravizados e três ex escravizadas, a saber, Margarida, Damazia e Joaquim recebem a terça parte das terras do proprietário de terras Matheus José de Souza e Oliveira. O montante da herança aproximava-se de 8 000 hectares. Em 1928, descendentes dos herdeiros demandaram a divisão do imóvel na comarca de Campos Novos sob a solicitação do advogado Henrique Rupp Júnior, a partir do argumento de usucapião. Em 1940, a área foi dividida entre 32 filhos e netos dos primeiros herdeiros e uma outra parte ao advogado. Cada quinhão de terra dividido entre as famílias contava com 124,8 hectares e ao advogado Henrique coube a parcela de 3 993,6 hectares, 50% do total da herança original em razão dos honorários e despesas do processo.[1]
A comunidade Invernada dos Negros teve a outorga do título a partir da publicação no Diário Oficial da União, conforme a redação no dia 14 de maio de 2004:
IX.COMUNIDADE DOS HERDEIROS DA INVERNADA DOS NEGROS, terras da antiga Fazenda São João, localidades de Corredeira e Manoel Candido no Município de Campos Novos no Estado de Santa Catarina, registro n. 009, f. 10;
No ano de 2008, o INCRA reconhece o território quilombola. A localidade conta com casas, uma capela dedicada Nossa Senhora Aparecida, o cemitério local na qual estão enterrados os ancestrais dos atuais moradores locais.[1] Havia também o prédio que abrigava a Escola de Ensino Básico José Faria Neto que foi destruída em 1 de abril de 2021.[3]
Entre os dias 17 e 18 de setembro de 2014 estabeleceu-se a Mesa de Acompanhamento da Política de Regularização dos Territórios Quilombolas Catarinenses na qual são entregues os primeiros títulos de posse fundiárias. Nesse espaço fica definido que o território da comunidade possui 7 950 hectares.[4]
Disputas pela posse da terra[editar | editar código-fonte]
Em 8 de fevereiro de 2019 a liderança da comunidade busca a procuradoria federal no município de Caçador em busca de informações sobre uma ordem judicial estadual em favor da reintegração de posse para as empresas Iguaçu Celulose Papel e Imaribo Industrial e Comércio, o juiz estadual determinou o cumprimento imediato da ordem ao Comando Geral da Polícia Militar. Porém como havia a intervenção da Fundação Cultural Palmares a decisão judicial repassava a responsabilidade para Justiça Federal no município de Joaçaba. O Ministério Público peticionou pela suspensão da ordem ao que foi atendido pelo juizado federal, isto é, a ordem judicial estadual foi suspensa por decisão do juizado federal.[5]
Em 10 de maio de 2019, uma audiência pública é realizada para discutir a situação de disputa no entorno de área de terra. Participaram por videoconferência representantes do INCRA, da Fundação Cultural Palmares, representantes da comunidade e de advogados.[6]
Uma perícia para averiguação de possíveis irregularidades na divisão do território foi marcada para agosto de 2019 pelo juizado federal.[7]
Destruição do prédio da escola quilombola[editar | editar código-fonte]
No dia 1 de abril de 2021, o prédio antigo que abrigava a Escola de Ensino Básico José Faria Neto[8] foi demolido, ocasionando reclamações dos moradores locais, registro de boletim de ocorrência, nota informativa da Secretaria Estadual de Educação e da deputada estadual Luciane Carminatti.[9][10] A escola abriga 3 turmas no ensino fundamental I e II e ensino médio, totalizando um atendimento em torno de 100 estudantes incluindo alguns idosos.[3]
Segundo a Secretaria Estadual de Educação, em nota no dia 05 de abril de 2021:
A Secretaria de Estado da Educação (SED) esclarece que não autorizou a demolição da estrutura física antiga da EEB José Faria Neto, em Campos Novos, ocorrida na última quinta-feira. A SED está apurando as informações e documentos a respeito da demolição e, caso necessário, tomará as medidas cabíveis— Secretaria Estadual de Educação de Santa Catarina
Não houve aviso sobre a destruição do prédio, os relatos dizem que uma máquina chegou no território e destruiu a construção. Os materiais utilizados na educação quilombola haviam sumido.[12]
I Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras[editar | editar código-fonte]
Um projeto realizado na comunidade ganhou a primeira edição do Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras, o projeto contou com a elaboração de um acervo de fotografias em preto e branco e a produção de um documentário com o mesmo nome da comunidade.[13] Após a exibição no sul do país a exposição seguiu para o Museu da Abolição em Recife.[14]
Referências
- ↑ a b «Comunidade Invernada dos Negros - Portal Municipal de Turismo de Campos Novos». turismo.camposnovos.sc.gov.br. Consultado em 7 de abril de 2021. Cópia arquivada em 29 de julho de 2022
- ↑ Fundação Cultural Palmares (4 de junho de 2004), «PORTARIA N° 19, DE 14 DE MAIO DE 2004» (PDF), Diário Oficial da União, ISSN 1676-2339, Wikidata Q106400424
- ↑ a b «Mais uma violência contra a população negra de SC». Nação Z. 3 de abril de 2021. Consultado em 6 de abril de 2021. Cópia arquivada em 4 de abril de 2021
- ↑ «Posse da terra vira realidade para quilombolas | ND». ndmais.com.br. 18 de setembro de 2014. Consultado em 6 de abril de 2021. Cópia arquivada em 21 de janeiro de 2021
- ↑ http://www.mpf.mp.br, Ministério Publico Federal-. «A pedido do MPF, Justiça Federal ordena suspensão de ação de reintegração de posse na terra quilombola Invernada dos Negros». MPF. Consultado em 6 de abril de 2021. Cópia arquivada em 13 de fevereiro de 2019
- ↑ «Audiência discute destino amanhã (10) da área ocupada por famílias quilombolas em Ibicuí». Rádio Cultura 93,9 FM. 5 de setembro de 2019. Consultado em 6 de abril de 2021. Cópia arquivada em 29 de julho de 2022
- ↑ «Juiz Federal marca perícia sobre área ocupada pelos quilombolas em Ibicuí». Rádio Cultura 93,9 FM. 25 de julho de 2019. Consultado em 6 de abril de 2021. Cópia arquivada em 29 de julho de 2022
- ↑ Redação (5 de abril de 2021). «Jornal 'O Celeiro' visitou local da demolição da Escola José Faria Neto». Jornal O Celeiro. Consultado em 8 de abril de 2021. Cópia arquivada em 29 de julho de 2022
- ↑ «Demolição da antiga Escola José Faria Neto em Ibicuí vira caso de polícia. Boletim de Ocorrência foi registrado na polícia». Rádio Cultura 93,9 FM. 4 de junho de 2021. Consultado em 7 de abril de 2021. Cópia arquivada em 29 de julho de 2022
- ↑ «Escola estadual em comunidade quilombola de SC é demolida sem autorização e Secretaria investiga». G1. Consultado em 8 de abril de 2021. Cópia arquivada em 5 de abril de 2021
- ↑ «Escola quilombola é demolida sem autorização do Estado». Portal Catarinas. Consultado em 8 de abril de 2021. Cópia arquivada em 16 de abril de 2021
- ↑ «Destruição de escola quilombola em Santa Catarina está ligada à luta pela terra». Brasil de Fato - Rio Grande do Sul. Consultado em 8 de abril de 2021. Cópia arquivada em 7 de abril de 2021
- ↑ «FCC - Fundação Catarinense de Cultura - Invernada dos negros: Floripa na foto». www.cultura.sc.gov.br. Consultado em 7 de abril de 2021
- ↑ «Museu da Abolição (PE) recebe a exposição Invernada dos Negros – Instituto Brasileiro de Museus – Ibram». Consultado em 6 de abril de 2021. Cópia arquivada em 8 de agosto de 2020