Conclave de 1378

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Conclave de 1378
Conclave de 1378
O Papa Urbano VI
Data e localização
Pessoas-chave
Decano Angelic de Grimoard
Vice-Decano Pietro Corsini
Camerlengo Guillaume d'Aigrefeuille, iuniore[1][2]
Protodiácono Hugues de Saint-Martial[2][3]
Eleição
Eleito Papa Urbano VI
(Bartolomeo Prignano)
Participantes 16
Ausentes 6
Escrutínios 3
Cronologia
Conclave de 1370
Conclave de 1389
Brasão papal de Sua Santidade o Papa Urbano VI

O conclave papal ocorrido entre 7 a 9 de abril de 1378 resultou na eleição do Papa Urbano VI depois da morte do Papa Gregório XI.[3] Foi o primeiro conclave após o Papado de Avinhão. Este conclave foi uma das causas imediatas do posterior Cisma do Ocidente, que dividiria a Igreja Católica por cerca de 40 anos. Urbano VI foi o sexto e último Papa eleito que não pertencia ao Colégio dos cardeais.[3]

Este conclave foi um dos mais curtos na história da Igreja Católica,[4] além de ser um dos primeiros realizados na Basílica de São Pedro,[5] já que anterior ao Papado de Avinhão, as eleições e conclaves em Roma ocorriam na Basílica de São João de Latrão, pelo menos desde 1159.[6]

Contexto[editar | editar código-fonte]

O Papa Gregório XI morreu em 26 de março de 1378 em Roma, depois de ter regressado de Avinhão perseguindo interesses territoriais sobre os Estados Pontifícios, produto da Guerra dos Oito Santos. Ainda que os cardeais franceses constituíssem a maioria do Colégio dos cardeais devido ao anterior papado de Avinhão, eles sucumbiram à vontade do povo romano, que exigia a eleição de um pontífice italiano.

Antipapa João XXIIIAntipapa João XXIIIAntipapa Alexandre VPapa Gregório XIIPapa Inocêncio VIIPapa Inocêncio VIIPapa Bonifácio IXPapa Urbano VIAntipapa Bento XIIIAntipapa Clemente VIIMartinho VGregório XI

Lista de participantes[editar | editar código-fonte]

Criado por Cardeais Por Cento
Papa Inocêncio VI (IVI) 04 17,39 %
Papa Urbano V (UV) 04 17,39 %
Papa Gregório XI (GXI) 015 65,22 %
Total 23 100 %

Somente 16 do total de 23 cardeais participaram do conclave. Dois possíveis cardeais (Piero Tornaquinci e Pietro Tartaro) não tiveram permissão de entrar. Dos ausentes, 6 permaneceram em Avinhão e Jean de la Grange ausentou-se.[3]

Ausentes[editar | editar código-fonte]

A eleição[editar | editar código-fonte]

Antes de morrer, o Papa Gregório XI afrouxou substancialmente as regras do conclave, dando instruções específicas aos cardeais para começar o processo imediatamente após a sua morte, no lugar de esperar os nove dias prescritos para os funerais, evitando assim a formação de partidos dentro do Colégio. Além disso, deu permissão aos cardeais para celebrar, se fosse necessário, o conclave fora de Roma e mudar de lugar tantas vezes quanto necessário. Finalmente, suspendeu o requisito dos dois terços para ser eleito, substituindo pelo de a maioria (no original, uma declaração ambígua).[7]

Antiga Basílica de São Pedro, segundo ilustração da Enciclopédia Católica de 1911.

Apesar dos desejos de Gregório, os cardeais se encontravam divididos em três facções: a primeira que englobava aos quatro cardeais italianos (dois romanos, um florentino e um milanês), a segunda constituída pelos sete cardeais de Limoges e, finalmente, a terceira formada pelos cinco cardeais franceses restantes.[4] O conclave não pode começar sem um dia de atraso, fruto de uma forte tempestade que atingiu Roma e posteriormente pelo desejo dos cardeais de Limoges de sair da cidade, tal como tinha permitido o falecido Papa, mas foram persuadidos pelo resto do Colégio sob as palavras de que tal ato poria em perigo a todos eles.[5] Loggo após a meia-noite do segundo dia os encarregados do conclave expulsaram todas as pessoas que não estavam autorizadas a estar durante o processo.[5]

Segundo a Enciclopédia Católica, inclusive Roberto de Genebra (futuro Antipapa Clemente VII) e Pedro Martínez de Luna y Gotor (futuro Antipapa Bento XIII) se encontravam entre os que votaram por Prignano.[4] Prignano tinha vivido na França, feito que podia ser chave para ganhar a simpatia dos eleitores franceses.[8] Ele era arcebispo de Bari. A eleição foi supostamente unânime, com a exceção de Giacomo Orsini, que afirmou que não era o suficientemente "livre" para votar.[4]

Prignano foi acompanhado por outros vários prelados (para ocultar a identidade do selecionado) ao Vaticano para aceitar sua eleição.[4] Entretanto começou a reinar a confusão logo que o cardeal Orsini anunciara o Habemus Papam sem identificar a Prignano.[4] Depois da celebração das eleições, o povo romano entrou na Basílica, sob a impressão de que o velho cardeal romano Tebaldeschi (que estava de posse da insígnia papal[4]) tinha sido eleito, impressão de qual os cardeais não se retrataram, enquanto fugiam para suas celas.[9] Os cardeais que ficaram informaram logo à multidão da eleição de Prignano que estava escondido na "habitação mais secreta possível" até que sua eleição pudesse ser anunciada.[10]

Sequelas[editar | editar código-fonte]

Papa de Avinhão Clemente VII, eleito pelos dissidentes do Papado de Roma.
Ver artigo principal: Cisma do Ocidente
Ver artigo principal: Conclave de setembro de 1378

Em setembro que seguiu à eleição, os cardeais franceses se reuniram em Avinhão e em Fondi, e elegeram a seu próprio Papa: Clemente VII, que ganhou o apoio de 13 dos 22 integrantes do Colegio Cardinalício (nessa época, o cardeal Tebaldeschi tinha falecido).[3]

Fontes[editar | editar código-fonte]

O inquisidor Nicolás Aymerich presenciou o conclave e foi um dos primeiros a escrever um tratado contra Urbano VI: Tractatus de potestate papali de 1383, onde argumenta a favor da legitimidade da linhagem avinhonesa de sucessão papal.[11] Muitos outros testemunharam o canto da multidão chamando como um Pontífice Romano, ou pelo menos um italiano (em italiano: Romano lo volemo, o al manco Italiano).[9] Os documentos da Cúria da época atestam uma atmosfera geral de confusão, medo e pânico.[10] Por exemplo, o canônicoo Gilles Bellemère relata como sua vestimenta clerical ficou escondida por medo da máfia e do constante som de sinos.[10]

Fontes favoráveis a Urbano, tais como Alfonso de Jaén (confessor de Brígida da Suécia, sua filha Catarina e Dietrich de Nieheim), falam sobre uma situação em Roma menos agitada.[10] A discrepância acentuada entre as fontes favoráveis e contrárias a Urbano pode ser explicada pelo fato de que a suposta coerção da multidão tornou-se o principal argumento para a legitimidade das queixas avinhonesas.[10]

Referências

  1. «Lista de Camerlengos da Santa Igreja Católica» (em inglês) 
  2. a b «GCatholic» (em inglês) 
  3. a b c d e «The Cardinals of the Holy Roman Church» (em inglês) 
  4. a b c d e f g Enciclopédia Católica, Papa Urbano VI. (1913)
  5. a b c Baumgartner, 2005, p. 56.
  6. Miller, William. 1902. Roma Medieval, desde Hildebrand até Clemente VIII, 1073-1600. G. P. Putnam's sons. p. 150.
  7. Baumgartner, 2005, p. 55.
  8. Williams, Henry Smith. 1904. A História do Mundo dos Historiadores. Outlook Company. p. 249.
  9. a b Blumenfeld-Kosinski, 2006, p. 3.
  10. a b c d e Blumenfeld-Kosinski, 2006, p. 4.
  11. Blumenfeld-Kosinski, 2006, p. 57.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]