Conflito (narrativa)

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O conflito na narrativa vem em muitas formas. "Homem contra homem", tal como é representado aqui na batalha entre o Rei Arthur e Mordred, é particularmente comum na literatura tradicional, contos de fadas e mitos[1]

Nas obras de narrativa literária, o conflito é o desafio que os personagens principais precisam resolver para atingir seus objetivos.

Tradicionalmente, o conflito é um elemento literário importante da estrutura narrativa ou dramática que cria desafios em uma história, adicionando incerteza a se a meta será alcançada. Uma narrativa não se limita a um único conflito. Embora os conflitos nem sempre possam ser resolvidos na narrativa, a resolução de um conflito cria conclusão ou realização, o que pode ou não ocorrer no final da história.

Natureza básica[editar | editar código-fonte]

Conflito na literatura refere-se as diferentes motivações dos personagens ou forças envolvidas. O conflito pode ser interno ou externo — isto é, pode ocorrer dentro da mente de um personagem ou entre um personagem e forças externas. O conflito é mais visível entre dois ou mais personagens, geralmente um protagonista e um antagonista/inimigo/vilão, mas pode ocorrer de muitas formas diferentes. Um personagem pode facilmente se encontrar em conflito com uma força natural, como um animal ou um evento climático. O propósito literário do conflito é criar tensão na narração, deixando os leitores mais interessados, deixando-os incertos sobre quais dos personagens ou forças prevalecerão.[2]

Pode haver múltiplos pontos de conflito em uma única história, pois os personagens podem ter mais de um desejo ou podem lutar contra mais de uma força oponente.[3] Quando um conflito é resolvido e o leitor descobre qual força ou personagem tem êxito, isso cria uma sensação de fechamento.[4] Conflitos podem ter resolução em qualquer ponto de uma narrativa, particularmente onde existe mais de um conflito, porém histórias nem sempre resolvem todos os conflitos. Se uma história termina sem resolver o conflito maior ou principal, diz-se que tem um final "aberto".[5] Os finais abertos, que podem servir para o leitor considerar o conflito mais pessoalmente, podem não satisfazê-los, mas a conclusão óbvia de conflitos também pode deixar os leitores desapontados na história.[5][6]

Classificação[editar | editar código-fonte]

Os tipos básicos de conflito na ficção têm sido comumente codificados como "personagem contra personagem", "personagem contra a natureza" e "personagem contra si".[7][8] Embora frequentemente citados, esses três tipos de conflito não são universalmente aceitos. Ayn Rand, por exemplo, argumentou que "personagem contra a natureza" não é um conflito porque a natureza não tem livre-arbítrio e, portanto, não pode fazer escolhas.[9] Às vezes, "personagem contra sociedade" é um quarto conflito descrito.[10][11] Alguns dos outros tipos de conflito referenciados incluem "personagem contra tecnologia" (O Exterminador do Futuro, Admirável Mundo Novo), "personagem contra o destino" (Matadouro 5), "personagem contra o sobrenatural" (O Iluminado ) e "personagem contra Deus" (Um cântico para Leibowitz ).[12][13]

Personagem contra personagem[editar | editar código-fonte]

O conflito "personagem contra personagem" envolve histórias em que os personagens são uns contra os outros.[8][10] Este é um conflito externo. O conflito pode ser a oposição direta, como em um tiroteio ou uma luta, ou pode ser um conflito mais sutil entre os desejos de dois ou mais personagens, como em um romance ou épico de família. Este tipo de conflito é muito comum na literatura tradicional, contos de fadas e mitos.[1]

Personagem contra a natureza[editar | editar código-fonte]

O conflito "Personagem contra natureza" é uma oposição externa posicionando o personagem contra um animal ou fenômeno natural, tal como uma tempestade ou tornado.[8][10]

Personagem contra si[editar | editar código-fonte]

O conflito "Personagem contra si" é uma luta interna.[8][10] O personagem deve superar sua própria natureza ou fazer uma escolha entre dois ou mais caminhos — como decidir entre o bem e o mal, ou a lógica e a emoção.

Personagem contra sociedade[editar | editar código-fonte]

O conflito "Personagem contra sociedade" é uma oposição externa onde o homem vai contra algo instituído pela sociedade (tal como escravidão ou bullying).[10] Nas narrativas utilizando este conflito, os personagens são forçados a fazer uma escolha moral (submeter-se ou rebelar-se) em relação a sua própria visão contra as regras sociais.

História[editar | editar código-fonte]

Tal como acontece com outros termos literários, estes surgiram gradualmente como descrições de estruturas narrativas comuns. O conflito foi descrito pela primeira vez na literatura grega como o agon, ou competição central na tragédia.[3] Segundo Aristóteles, para manter o interesse, o herói deve ter um único conflito. O agon, ou ato de conflito, envolve o protagonista (o "primeiro lutador") e o antagonista (um termo mais recente), correspondendo ao herói e ao vilão. O resultado da disputa não pode ser conhecido de antemão, e de acordo com críticos posteriores como Plutarco, a luta do herói deveria ser enobrecedora.

Até em literature moderna não-dramática, críticos observaram que o agon é a unidade central do enredo. O mais fácil que for para o protagonista triunfar, mais o drama é desvalorizado. Tanto quanto conflito interno e externo, o antagonista deve agir contra o protagonista e dar a impressão de o superar.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b Nikolajeva, Maria (12 de Maio de 2005). Aesthetic Approaches to Children's Literature: An Introduction. [S.l.]: Scarecrow Press. ISBN 978-0-8108-5426-0 
  2. Roberts, Edgar V.; Henry E. Jacobs (1986). Literature: An Introduction to Reading and Writing. [S.l.]: Prentice-Hall. 103 páginas. ISBN 013537572X 
  3. a b Abbott, H. Porter (2008). The Cambridge Introduction to Narrative. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-71515-7 
  4. Abbott (2008), 55-56.
  5. a b Toscan, Richard, Playwriting Seminars 2.0, Virginia Commonwealth University 
  6. «Some conclusions about endings». The Guardian 
  7. Simpson, Judith (1 de Agosto de 2001). Foundations of Fiction. [S.l.]: iUniverse. p. 46. ISBN 978-0-595-19791-0 
  8. a b c d Simpson, Judith (1 de Agosto de 2001). Foundations of Fiction. [S.l.]: iUniverse. p. 46. ISBN 978-0-595-19791-0 
  9. Rand, Ayn (1 de Janeiro de 2000). The Art of Fiction: A Guide for Writers and Readers. [S.l.]: Penguin. p. 27. ISBN 978-0-452-28154-7 
  10. a b c d e Lamb, Nancy (17 de Novembro de 2008). The Art And Craft Of Storytelling: A Comprehensive Guide To Classic Writing Techniques. [S.l.]: F+W Media, Inc. p. 80–81. ISBN 978-1-59963-444-9 
  11. Lamb, Nancy (17 de Novembro de 2008). The Art And Craft Of Storytelling: A Comprehensive Guide To Classic Writing Techniques. [S.l.]: F+W Media, Inc. p. 80–81. ISBN 978-1-59963-444-9 
  12. Morrell, Jessica Page (2009). Thanks, But This Isn't for Us: A (Sort Of) Compassionate Guide to Why Your Writing Is Being Rejected. [S.l.]: Penguin. p. 99–101. ISBN 978-1-58542-721-5. Consultado em 18 de Setembro de 2012  Texto "páginas" ignorado (ajuda)
  13. Caldwell, Stacy; Catherine Littleton (Março de 2011). The Crucible: Study Guide and Student Workbook (Enhanced Ebook). [S.l.]: BMI Educational Services. p. 24. ISBN 978-1-60933-893-0. Consultado em 18 de Setembro de 2012  Texto "páginas" ignorado (ajuda)