Conjunto diofantino

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Na matemática, uma Equação diofantina é uma equação da forma P(x1, ..., xj, y1, ..., yk)=0 (usualmente abreviada para P(x,y)=0 ) onde P(x,y) é um polinômio com coeficientes inteiros. Um conjunto Diofantino é um subconjunto S de  onde, para alguma Equação diofantina P(x,y)=0,

Isto é, um valor de parâmetro está no conjunto diofantino se e somente se a equação diofantina associada é satisfatível sob esse valor. Note que o uso de números naturais em S e a quantificação existencial reflete meramente a aplicação usual na computabilidade e na teoria do modelo. Podemos igualmente falar sobre conjuntos diofantinos de inteiros e substituir livremente a quantificação por números naturais com quantificação sobre os inteiros. Ainda é suficiente assumir que P é um polinômio sobre e multiplicar P pelos determinadores apropriados para produzir coeficientes inteiros. Entretanto, se a quantificação sobre racionais também pode ser substituída pela quantificação sobre inteiros ainda é um problema notoriamente difícil.

O teorema MRDP afirma que um conjunto de inteiros é diofantino se e somente se ele for computavelmente enumerável. Um conjunto de inteiros S é computavelmente enumerável se e somente se existe um algoritmo que, quando dado um inteiro, para se aquele inteiro é membro de S e prossegue infinitamente caso contrário. Isso significa que o conceito de conjunto diofantino geral, aparentemente pertencente à Teoria dos números, pode ser tomado preferencialmente em termos lógicos ou recursão-teóricos. Isso está longe de ser óbvio e representou  a culminação de algumas décadas de estudo.

A realização do teorema MRDP por Matiyasevich estabeleceu  o Décimo problema de Hilbert. Esse problema envolvia descobrir um algoritmo geral que conseguiria decidir se uma dada equação diofantina possui solução dentre os inteiros. Enquanto o Décimo problema de Hilbert não é uma afirmação matemática formal, a aceitação quase universal da identificação (filosófica) de um algoritmo de decisão com um predicado computável total nos permite o uso do teorema MRDP para concluir que o décimo problema é insolúvel.

Exemplos[editar | editar código-fonte]

A conhecida Equação de Pell

É um exemplo de uma equação diofantina com um parâmetro. Como é há muito conhecido, a equação tem uma solução nas variáveis  precisamente quando o parâmetro  é 0 ou não é um Quadrado perfeito. No contexto presente, diz-se que essa equação fornece a definição Diofantina do conjunto

{0,2,3,5,6,7,8,10,...}

que consiste do 0 e dos números naturais que não são quadrados perfeitos. Aqui estão outros exemplos de definição diofantina:

  • A equação  somente possui solução nos  quando não é uma potência de 2.
  • A equação somente possui solução nos quando é maior que 1 e não é um Número primo.
  • A equação  define o conjunto de pares  tal que 

Teorema de Matiyasevich[editar | editar código-fonte]

O teorema de Matiyasevich diz que:

Qualquer conjunto computavelmente enumerável é Diofantino.

Um conjunto S de inteiros é computavelmente enumerável se existe um algoritmo tal que: Para cada inteiro de entrada n, se n pertence a S, então o algoritmo parará eventualmente; caso contrário, continuará infinitamente. Isso é equivalente a dizer que existe um algoritmo que funciona infinitamente e lista os elementos de S. Um conjunto S é Diofantino precisamente se existe algum polinômio com coeficientes inteiros f(n, x1, ..., xk) tal que um inteiro n está em S se e somente se existem alguns inteiros x1, ..., xk tais que f(n, x1, ..., xk) = 0.

Não é difícil perceber que qualquer conjunto diofantino é enumerável: considere uma equação diofantina f(n, x1, ..., xk) = 0. Agora fazemos um algoritmo que simplesmente tenta todos os valores possíveis para n,x1, ..., xk, na ordem crescente da soma de seus valores absolutos e imprime n sempre que f(n, x1, ..., xk) = 0. Esse algoritmo irá obviamente rodar infinitamente e listará exatamente os n em que f(n, x1, ..., xk) = 0 possui uma solução em x1, ..., xk.

Técnica de prova[editar | editar código-fonte]

Yuri Matiyasevich utilizou um método envolvendo os números de FIbonacci para mostrar que as soluções para equações diofantinas podem crescer exponencialmente. Um estudo anterior realizado por Julia RobinsonMartin Davis e Hillary Putnam havia mostrado que isso é o bastante para mostrar que qualquer conjunto computavelmente enumerável é Diofantino.

Aplicações para o Décimo problema de Hilbert[editar | editar código-fonte]

O Décimo problema de Hilbert procura um algoritmo geral que decide se uma equação diofantina é solúvel ou não. A conjunção do teorema de Matiyasevich com resultados anteriores conhecidos coletivamente como o teorema MRDP implica que a solução para o décimo problema de Hilbert é impossível.

Refinamentos[editar | editar código-fonte]

Estudos posteriores mostraram que a questão da solubilidade de uma equação diofantina não é possível ser decidida mesmo se a equação contém apenas 9 variáveis de números naturais (Matiyasevich, 1977) ou 11 variáveis inteiras (Zhi Wei Sun,1992).

Mais aplicações[editar | editar código-fonte]

O teorema de Matiyasevich foi usado para provar que muitos problemas de cálculo e equações diferenciais são insolúveis.

É possível derivar a seguinte forma mais forte do primeiro dos Teoremas da incompletude de Gödel do resultado de Matiyasevich:

Correspondendo a qualquer axiomatização consistente da teoria dos números, é possível construir explicitamente a equação diofantina que não possui soluções, mas da forma que esse fato não pode ser provado dado uma determinada axiomatização.

De acordo com os teoremas da incompletude, uma teoria consistente é incompleta, significando que a verdade de algumas proposições não pode ser estabelecida. A afirmação acima diz que a incompletude precisa incluir a solubilidade de uma equação diofantina, assumindo que a teoria em questão é a teoria dos números.

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. ^Planet Math [1]
  2. ^As duas equações são equivalentes, isso pode ser provado utilizando-se o Teorema de Fermat-Lagrange.
  3. O teorema foi estabelecido em 1970 por Matiyaseviche por isso também é conhecido como teorema de Matiyasevich. Porém a prova dada por Matiyasevich se apoiava extensivamente em estudos prévios sobre o problema e por isso a comunidade matemática passou a chamar o resultado da equivalência de teorema MRDP ou teorema de Matiyasevich-Robinson-Davis-Putnam, um nome que dá crédito a todos os matemáticos que deram contribuições significativas para esse teorema.
  4. ^David Hilbert pôs esse problema em sua célebre lista de 1900 no Congresso Internacional de Matemáticos.
  5. ^Mais precisamente dada uma fórmula  Σ representando o conjunto de números de Gödel numbers de sentenças que axiomatizam recursivamente o teorema consistente da aritmética de Robinson.

Referências[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]