Crise de 2022 entre República Democrática do Congo e Ruanda

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Crise de 2022 entre República Democrática do Congo e Ruanda
Data Maio de 2022 – presente
Local Fronteira República Democrática do Congo-Ruanda
Situação em curso
Beligerantes
 República Democrática do Congo
Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda (alegado por Ruanda, negado pela RDC)
 Ruanda

Movimento 23 de Março (alegado pela RDC, negado por Ruanda) Apoiado por:

 Uganda (alegado por fontes de segurança, negado por Uganda)[1]
Comandantes
Félix Tshisekedi Paul Kagame
Francois Habitegeko[2][3]
Forças
500 forças especiais em Tshanzu (por RDC)
Baixas
  • *1 oficial morto
    • 2 civis mortos (por RDC)
    • Vários civis feridos
  • *2 oficiais feridos (por Ruanda)
    • Vários civis feridos

A crise congolesa-ruandesa de 2022 iniciou-se em maio-junho de 2022, marcada pela escalada militar e verbal entre a República Democrática do Congo e Ruanda, que levaram a eclosão de crescentes tensões e a vários supostos ataques das forças congolesas e ruandesas no território um do outro.[4]

A crise está relacionada com uma ofensiva dos membros do Movimento 23 de Março (M23), que as autoridades congolesas acusam Ruanda de apoiar.[5] Ruanda também acusou a República Democrática do Congo de apoiar o grupo paramilitar Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda (FDLR).[6] Ambos os países negam apoio a grupos armados, respectivamente.[5][7] A missão de paz da MONUSCO sustentou que não estava envolvida no conflito,[8] mas foi acusada por Ruanda de tomar partido.[9]

A crise congolesa-ruandesa originalmente remonta ao conflito entre os grupos hutus e tutsis. O presidente de Angola, João Lourenço, atua como mediador.[10]

Cronologia[editar | editar código-fonte]

Maio[editar | editar código-fonte]

As forças congolesas disseram ter capturado dois soldados ruandeses que foram enviados disfarçados ao Congo. Ambos foram libertados em 11 de junho.[11]

Em 23 de maio, as forças congolesas teriam bombardeado o distrito de Musanze, na Província do Norte de Ruanda, ferindo várias pessoas.[12]

Em 27 de maio a República Democrática do Congo ordenou a suspensão de todos os voos da RwandAir.[13] Ruanda condenou a ação[14] e a RwandAir decidiu retaliar cancelando voos para Quinxassa, Lubumbashi e Goma.[13]

Em 29 de maio, o presidente da União Africana e Presidente do Senegal Macky Sall disse que a União Africana estava apoiando uma "resolução pacífica" para as tensões.[15]

Junho[editar | editar código-fonte]

A partir de 2 de junho, Angola tentou mediar uma resolução entre os dois países.[16]

Em 8 de junho, Alexander De Croo, o primeiro-ministro da Bélgica, comparou o leste da República Democrática do Congo com a Ucrânia em uma visita a Quinxassa, adicionalmente fazendo comentários sugerindo que apoiava o Congo em sua crise de fronteira com Ruanda.[17]

No dia seguinte, a República Democrática do Congo disse ter descoberto que 500 forças especiais ruandesas foram enviadas para a região de Tshanzu no Quivu do Norte.[6][18]

Em 10 de junho, os congoleses acusaram Ruanda de disparar roquetes contra uma escola em Quivu do Norte, matar duas crianças e ferir gravemente outra pessoa de idade não especificada. Ruanda igualmente afirmou que o Congo havia disparado roquetes no oeste de Ruanda da direção de Bunagana.[19][20]

As Nações Unidas solicitariam, em 11 de junho, um cessar-fogo entre os dois países.[21]

Em 12 de junho, os congoleses acusaram Ruanda de pretender ocupar a cidade de Bunagana.[5]

Em 13 de junho, as forças do M23 capturaram a cidade congolesa de Bunagana, forçando cerca de 30.000 civis a fugir para Uganda. No entanto, a República Democrática do Congo afirmou que as forças ruandesas estavam ajudando a ocupar a cidade. Os rebeldes alegaram que tomar Bunagana não era seu objetivo, mas decidiram fazê-lo após repetidos ataques do exército congolês. Além disso, disseram que estavam abertos a fazer negociações diretas com o governo.[1] A República Democrática do Congo descreveu a queda de Bunagana como "nada menos que uma invasão" por Ruanda.[9] Duas fontes de segurança congolesas afirmaram que Uganda também estava ajudando o M23 em sua ofensiva.[1] Nesse mesmo dia, Ruanda acusou a missão da MONUSCO de tomar partido no conflito, que dizia permitir que o Congo realizasse ataques transfronteiriços em Ruanda.[9]

Os intensos combates também fizeram com que cerca de 137 soldados congoleses e 37 policiais fugissem para Uganda, onde se renderam às forças ugandenses.[22][23]

No dia 15 de junho, milhares de manifestantes organizaram um protesto contra as ações ruandesas em Goma. O protesto rapidamente se transformou em tumultos anti-Ruanda quando uma multidão enfurecida saqueou e atacou lojas de propriedade de ruandeses, apreendendo veículos para verificar se os ruandeses estavam lá dentro. A tropa de choque congolesa disparou gás lacrimogêneo contra os manifestantes depois que alguns tentaram entrar em um posto de controle na fronteira com Ruanda.[24] Vários ruandeses em Goma responderam fugindo do país.[25]

No mesmo dia, os congoleses suspenderam todos os "memorandos de entendimento, acordos e convenções celebrados com Ruanda", exigindo a retirada de todos os supostos militares ruandeses dentro das fronteiras do país.[26]

Em 17 de junho, apenas algumas horas depois que as autoridades de segurança congolesas pediram que a República Democrática do Congo cortasse todos os laços com Ruanda, um soldado congolês atravessou o distrito de Rubavu carregando um AK-47[27] e foi morto a tiros por um oficial da Polícia Nacional de Ruanda. A Força de Defesa de Ruanda disse que o soldado foi morto depois que ele começou a atirar em civis e forças de segurança, e feriu dois oficiais.[28][29] O Congo fechou a fronteira dos dois países em resposta à morte do oficial, acrescentando que abriria uma investigação sobre os eventos.[30]

Quando um veículo trouxe o corpo do oficial para Goma, uma multidão composta de centenas de pessoas seguiu o veículo gritando "herói, herói" e retratando o presidente de Ruanda Paul Kagame como um assassino.[31][32] Alguns membros da multidão foram documentados gritando slogans de ódio contra os tutsis.[32]

Julho[editar | editar código-fonte]

No dia 6 de Julho os dois países, Ruanda e RDC, entraram em um acordo para a desescalada de tensões após um dia de diálogo entre os presidente dos respectivos países, com a mediação do presidente angolano João Lourenço. O acordo inclui a retomada da Comissão Ruanda-Congo, que voltará à funcionar no dia 12, na capital Luanda, como também um chamado à retomada de relações diplomáticas entre os países, ao fim das hostilidades e à retirada 'imediata e incondicional' do grupo M23 de suas posições no leste da RDC. [33]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c Sabiti, Djaffar; Bujakera, Stanis (13 de junho de 2022). «Congo rebels seize eastern border town, army blames Rwanda». Reuters (em inglês). Consultado em 14 de junho de 2022 
  2. «DRC should protect Rwandans in Goma – Governor Habitegeko». The New Times | Rwanda (em inglês). 15 de junho de 2022. Consultado em 16 de junho de 2022 
  3. «Governor Habitegeko assures Rubavu border community of tight security». The New Times | Rwanda (em inglês). 12 de junho de 2022. Consultado em 16 de junho de 2022 
  4. «Nova escalada de tensões entre Ruanda e RDC». lejournaldelafrique.com. 30 de maio de 2022 
  5. a b c Reuters (13 de junho de 2022). «Congo says Rwandan forces supported latest rebel attacks as thousands flee». Reuters (em inglês). Consultado em 13 de junho de 2022 
  6. a b Reuters (9 de junho de 2022). «Congo accuses Rwanda of sending disguised troops across border». Reuters (em inglês). Consultado em 13 de junho de 2022 
  7. «DR Congo President Felix Tshisekedi accuses Rwanda of backing rebels». France 24 (em inglês). 5 de junho de 2022. Consultado em 13 de junho de 2022 
  8. Anna, Cara (16 de junho de 2022). «EXPLAINER: Why Rwanda and Congo are sliding toward war again». National Post (em inglês). Consultado em 16 de junho de 2022 
  9. a b c «M23 rebels seize key DRC town, Congolese military blames Rwanda». www.aljazeera.com (em inglês). Consultado em 16 de junho de 2022 
  10. «RDC: Forças Armadas congolesas mantêm pressão sobre guerrilheiros do M23 depois de intensos combates no Kivu-Norte durante o fim-de-semana». Novo Jornal. 13 de Junho 2022 
  11. Reuters (11 de junho de 2022). «Rwanda says two soldiers detained in Congo have been released». Reuters (em inglês). Consultado em 13 de junho de 2022 
  12. Reuters (23 de maio de 2022). «Rwanda says its territory shelled by Congo, requests probe». Reuters (em inglês). Consultado em 13 de junho de 2022 
  13. a b «DR Congo halts RwandAir over alleged support for rebel group». RFI (em inglês). 28 de maio de 2022. Consultado em 18 de junho de 2022 
  14. AfricaNews (31 de maio de 2022). «Rwandan Foreign Minister claims 'right to respond' amid tensions with DR Congo». Africanews (em inglês). Consultado em 18 de junho de 2022 
  15. Welle (www.dw.com), Deutsche. «Why do tensions between DR Congo and Rwanda persist? | DW | 31.05.2022». DW.COM (em inglês). Consultado em 16 de junho de 2022 
  16. AfricaNews (2 de junho de 2022). «DRC: Hundreds protest over Rwanda's alleged rebel backing». Africanews (em inglês). Consultado em 16 de junho de 2022 
  17. «The next hole in UK's Rwanda asylum plan: Conflict in Congo». POLITICO (em inglês). 15 de junho de 2022. Consultado em 16 de junho de 2022 
  18. «DRC accuses Rwanda of sending disguised soldiers across border». www.aljazeera.com (em inglês). Consultado em 13 de junho de 2022 
  19. Reuters (11 de junho de 2022). «Congo, Rwanda accuse each other of fresh cross-border rocket strikes». Reuters (em inglês). Consultado em 13 de junho de 2022 
  20. AfricaNews (11 de junho de 2022). «Rwanda says DRC launched two rockets into its soil». Africanews (em inglês). Consultado em 13 de junho de 2022 
  21. «UN urges 'immediate' halt to cross-border clashes in eastern DRC». www.aljazeera.com (em inglês). Consultado em 13 de junho de 2022 
  22. Welle (www.dw.com), Deutsche. «DR Congo accuses Rwanda of 'invasion' as rebels attack town | DW | 14.06.2022». DW.COM (em inglês). Consultado em 14 de junho de 2022 
  23. «DR Congo accuses Rwanda of 'invasion' as rebels seize town». news.yahoo.com (em inglês). Consultado em 14 de junho de 2022 
  24. News, A. B. C. «Congo official: Rwanda will have war if it wants war». ABC News (em inglês). Consultado em 16 de junho de 2022 
  25. «Anti-Rwanda tensions boil over in eastern DR Congo city of Goma». France 24 (em inglês). 15 de junho de 2022. Consultado em 16 de junho de 2022 
  26. Tasamba, James (15 de junho de 2022), DRC defense council orders gov't to suspend pacts with Rwanda, Anadolu Agency, consultado em 19 de junho de 2022 
  27. Sabiti, Djaffar; Bujakera, Stanis (17 de junho de 2022). «Congo soldier shot dead in Rwanda, rebels make gains in east». National Post (em inglês). Consultado em 17 de junho de 2022 
  28. «Congo Defense Council Calls for Halt to Agreements With Rwanda». Bloomberg.com (em inglês). 16 de junho de 2022. Consultado em 17 de junho de 2022 
  29. «Rwanda says Congolese soldier crossed border and opened fire». AP NEWS (em inglês). 17 de junho de 2022. Consultado em 17 de junho de 2022 
  30. «DRC closes Rwanda border after soldier is shot dead during attack». www.aljazeera.com (em inglês). Consultado em 18 de junho de 2022 
  31. «Congo's president says Rwandans waging 'economic war'». AP NEWS (em inglês). 17 de junho de 2022. Consultado em 18 de junho de 2022 
  32. a b Sabiti, Djaffar; Bujakera, Stanis (17 de junho de 2022). «Congolese soldier killed in Rwanda, fighting with rebels picks up». Reuters (em inglês). Consultado em 18 de junho de 2022 
  33. «DR Congo and Rwanda agree to reduce tensions over M23 rebels». Aljazeera (em inglês). 6 de julho de 2022. Consultado em 7 de julho de 2022