De agri cultura

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
De agri cultura (séc. XV, Biblioteca Medicea Laurenziana, plúteo 51.2)

De agri cultura (pronúncia em latim[deː ˈaɡriː kʊlˈtuːraː]; Sobre Cultivo ou Sobre Agricultura[1]), escrito por Catão, o Velho é a mais antiga obra sobrevivente da prosa latina. Alexander Hugh McDonald, em seu artigo para o Oxford Classical Dictionary, datou a composição deste ensaio em cerca de 160 a.C. e notou que "por toda a sua falta de forma, seus detalhes de velhos costumes e superstições, e seu tom arcaico, era uma atualização direcionada de seus próprios conhecimentos e experiências para a nova agricultura capitalista".[2] Catão foi reverenciado por muitos autores posteriores por suas atitudes práticas, seu estoicismo natural e sua prosa firme e lúcida. Ele é muito citado por Plínio, o Velho, por exemplo, em sua Naturalis Historia.

Estilo[editar | editar código-fonte]

A obra de Catão é muitas vezes caracterizada como um "caderno do agricultor" escrito de "moda aleatória"; é difícil pensar nisso como literatura. O livro parece não ser mais do que um manual de manejo destinado para amigos e vizinhos. Seu estilo direto, entretanto, foi notado por outros autores antigos como Aulo Gélio como "contundente e vigoroso", em um contexto de extrema simplicidade. Talvez a principal conquista de De agri cultura seja a representação da vida rural durante a República Romana.[3]

Defesa da agricultura[editar | editar código-fonte]

A introdução de Catão compara a agricultura com outras atividades comuns da época, especificamente o comércio e a usura. Ele critica ambos, o primeiro com base nos perigos e incertezas que carrega, o segundo porque, de acordo com as Doze Tábuas, o usurário é julgado pior criminoso do que ladrão.[4] Catão faz um forte contraste com a agricultura, que ele elogia como fonte de bons cidadãos e soldados, tanto de riqueza quanto de altos valores morais.[5]

De agri cultura contém muitas informações sobre a criação e cuidado dos vinhedos, incluindo informações sobre os escravos que ajudaram a mantê-los. Depois que vários proprietários de terras em Roma leram a prosa de Catão durante esse período, Roma começou a produzir vinho em grande escala. Muitos dos novos vinhedos tinham sessenta acres e, devido ao seu grande tamanho, ainda mais escravos eram necessários para manter a produção de vinho funcionando sem problemas.[6]

Receitas de cultivo[editar | editar código-fonte]

Uma seção consiste de receitas para produtos de cultivo. Estes incluem:

Rituais[editar | editar código-fonte]

Há uma pequena seção de rituais religiosos a serem realizados pelos agricultores. A linguagem destes é claramente tradicional, um pouco mais arcaica do que a do restante do texto, e foi estudada por Calvert Watkins.

Manuscritos[editar | editar código-fonte]

Todos os manuscritos do tratado de Catão também incluem uma cópia do ensaio de Varrão com o mesmo nome. J.G. Schneider e Heinrich Keil mostraram que os manuscritos existentes descendem direta ou indiretamente de um manuscrito há muito perdido chamado Marciano, que já esteve na Biblioteca Marciana em Veneza e descrito por Petrus Victorinus como liber antiquissimus et fidelissimus ("um livro mais antigo e fiel"). O manuscrito mais antigo existente é o Codex Parisinus 6842, escrito na Itália em algum momento antes do final do século XII. A editio princeps foi impressa em Veneza em 1472; a comparação de Angelo Poliziano do Marciano contra sua cópia desta primeira impressão é considerada uma testemunha importante para o texto.[8]

Textos e traduções[editar | editar código-fonte]

  • Brehaut, E. 1933. Cato the Censor, on Farming. New York: Columbia University Press.
  • Dalby, Andrew (1998), Cato: On Farming, ISBN 0-907325-80-7, Totnes: Prospect Books 
  • Goujard, R. (1975), Caton: De l'agriculture, Paris: Collection Budé, Les Belles Lettres 
  • William Davis Hooper, translator. Marcus Porcius Cato, "On Agriculture"; Marcus Terentius Varro, "On Agriculture". Harvard: Loeb Classical Library, 1934.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. em latim: dē agrī cultūrā, literalmente "relacionado ao cultivo do campo"
  2. "Cato (1)", Oxford Classical Dictionary, second edition. (Oxford: Clarendon Press, 1970), p. 215.
  3. Hooper, William Davis & Ash, Harrison Boyd: Marcus Porcius Cato, On agriculture; Marcus Terentius Varro, On agriculture Volume 283 of Loeb classical library. Loeb classical library. Latin authors. Harvard University Press, 1934. page xiii.
  4. Est interdum praestare mercaturis rem quaerere, nisi tam periculosum sit, et item foenerari, si tam honestum. Maiores nostri sic habuerunt et ita in legibus posiverunt: furem dupli condemnari, foeneratorem quadrupli. Quanto peiorem civem existimarint foeneratorem quam furem, hinc licet existimare. (...) Mercatorem autem strenuum studiosumque rei quaerendae existimo, verum, ut supra dixi, periculosum et calamitosum. Hooper & Ash, page 2
  5. Et virum bonum quom laudabant, ita laudabant: bonum agricolam bonumque colonum; amplissime laudari existimabatur qui ita laudabatur. (...) At ex agricolis et viri fortissimi et milites strenuissimi gignuntur, maximeque pius quaestus stabilissimusque consequitur minimeque invidiosus, minimeque male cogitantes sunt qui in eo studio occupati sunt. Hooper & Ash, page 2
  6. Gately, Iain (2009). Drink: A Cultural History of Alcohol. New York: Gotham Books. p. 30. ISBN 978-1-592-40464-3 
  7. «Cato's 'De Agricultura': Recipes» 
  8. M.D. Reeve discusses the descent of both Cato's and Varro's essays in Texts and Transmission: A Survey of the Latin Classics, edited by L.D. Reynolds (Oxford: Clarendon Press, 1983), pp. 40–42.

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]