Discussão:Vicente de Carvalho

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Texto publicado no Estado de S. Paulo em 1 de outubro de 1892[editar código-fonte]

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Às pessoas honestas do estado de S. Paulo e ao dr. Alfredo Maia

Sou forçado pela necessidade de responder a um artiguete publicado hoje pelo sr. dr. Alfredo Maia, a adiar para amanhã o esclarecimento da questão do terreno de Bento José Alves Pereira.

Trata-se, nessa question de honestidade pessoal, e desejo expo-la com toda a ordem, sem imiscuir com outras, evitando ao público que nos vai julgar, a mim e ao sr. dr. Maia, qualquer confissão que só a este aproveitará.

Por outro lado, o artigo do sr. dr. Maia obriga-me a uma resposta imediata.

A preferência que lhe dou origina-se, não na sua importância, mas na sua natureza. É uma referência ao desforço que ontem tomei, e, como tal deve ser liquidada já.

O sr. dr. Alfredo Maia começa estranhando que eu o agredisse no corredor da entrada no paço municipal, quando ele entrava em caráter oficial para assistir à cerimônia de posse da câmara. Atribui isso ao prazer de escândalo, da minha parte.

É um erro. O local e a ocasião foram deliberadamente, a sangue frio, escolhidos por mim, e essa escolha teve um móvel perfeitamente razoável.

Eu ia tomar desforço, não do indivíduo Alfredo Maia, mas do secretário do Estado da agricultura, que me insultara no exercício das suas funções, em ofício. No seu carácter oficial, o sr. dr. Alfredo Maia injuriou-me; esbofetei-o no seu caráter oficial.

Nem me podia pear a circunstância de, na ocasião, o dr. Alfredo Maia acompanhado do dr. presidente do Estado. Se houve desrespeito ao primeiro funcionário de S. Paulo, foi da parte do sr. dr. Maia, que o insultou no ofício em que injuriou vilmente o secretário do interior, a quem o s. exc. insistia em negar a demissão pedida --- e não da parte de quem, na desafronta de seus brios ofendidos, não podia atender a considerações políticas ou pessoais.

O sr. dr. presidente do Estado será o primeiro a compreender que o ato que fui forçado a cometer e de que não me arrependo, está longe de implicar quebra da consideração política e pessoal que sempre lhe tributei.

Se alguma dúvida pairou ainda no espírito do sr. dr. Bernardino de Campos, considere bem s. exc. que eu fui agredido, por uma calunia infame, no seio do governo de S. Paulo --- de que fazia parte --- naquilo que através oito anos de terríveis lutas esteve sempre acima de discussões --- a minha honestidade pessoal.

O dr. Maia diz que foi agredido de surpresa por um grupo de meliantes.

Há, nessa afirmação, duas inexactidões.

Em primeiro lugar, não houve surpresa; em segundo, não houve agressão de grupo.

Em seguida ao dr. Rubião Júnior, que me cumprimentou, e a quem correspondi com um aperto de mão, entrou o sr. Maia a quem me dirigi, e disse:

--- O sr. insultou-me em ofício; eis a resposta pública.

E esbofetei-o.

S. Paulo, 30 de setembro de 1892.

Vicente de Carvalho