Ditadura militar no Panamá

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Omar Torrijos com pecuaristas panamenhos.

A ditadura militar panamenha foi um período de 21 anos em que o Panamá esteve sob uma ditadura militar. Foi iniciada a partir do golpe de Estado de 11 de outubro de 1968 contra o presidente Arnulfo Arias Madrid liderado pelos coronéis Boris Martínez, José H. Ramos Bustamante e o general Omar Torrijos Herrera. No entanto, em comparação com muitas ditaduras latino-americanas, não foi anticomunista, mas um "processo revolucionário" para acabar com a burocracia e a má gestão que o país enfrentava. Os meios de comunicação foram controlados, porém novas leis e uma Constituição foram criadas, todas sob a administração de Torrijos. Na época de Manuel Antonio Noriega, a corrupção apoderou-se do governo e uma onda de oposição política foi desencadeada e as más relações com os Estados Unidos levaram a uma invasão que trouxe o fim do governo militar. Cabe destacar que durante a ditadura ocorreram avanços tecnológicos e políticos, como a televisão em cores, os computadores, a maior representação do Panamá na política mundial, os Tratados Torrijos-Carter que levaram à reversão do Canal do Panamá ao istmo e alguma melhoria do sistema de saúde, econômico, educacional e social.[1]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

O golpe de Estado de 1931, que derrubou o presidente Florencio Harmodio Arosemena, foi um acontecimento que colocou a jovem república em crise. Os governos de José Antonio Remón (o único presidente panamenho assassinado no cargo) e Marco Aurelio Robles marcaram o Panamá como uma nação débil. O presidente Arnulfo Arias Madrid havia sido deposto duas vezes: em 1941, em seu primeiro governo, onde foi substituído por Ricardo Adolfo de la Guardia, e em 1951, em seu segundo governo, no qual foi substituído por Alcibíades Arosemena.[1]

Nas eleições gerais de 1968 haviam três candidatos: o engenheiro David Samudio Ávila, apoiado pela coligação Alianza del Pueblo liderada pelo Partido Liberal, Arnulfo Arias Madrid, apoiado pela coligação Unión Nacional liderada pelo Partido Panamenho e o Dr. Antonio González Revilla, candidato do Partido Democrata Cristão. Após acusações de corrupção e compra de votos, o Arias Madrid sai vitorioso com 41.545 votos.

Tomada de poder pelos militares[editar | editar código-fonte]

Na noite de 11 de outubro de 1968, os militares se mobilizaram e prenderam muitos apoiadores do presidente Arnulfo Arias enquanto ele estava em um cinema local. Mais tarde, tomaram as rádios do país e emitiram uma declaração na voz de Omar Torrijos. Em 12 de outubro, Boris Martínez estabeleceu uma Junta Militar para assumir o controle da nação. Arias imediatamente refugia-se na Zona do Canal do Panamá e posteriormente parte para um autoexílio em Miami.[2]

Posteriormente, Martínez e Torrijos lutaram pelo poder no Panamá, mas Torrijos sairia vitorioso ao forçar o exilio de Boris Martínez em 1969.[3] Assim Torrijos acabou consolidando seu poder no país e proclamou-se Líder Máximo de La Revolución Panameña.[4]

O governo militar usou seu poder para neutralizar a oposição inicial das lideranças comunitárias, do movimento estudantil e dos apoiadores de Arnulfo Arias que formavam a Frente Cívica. A repressão às manifestações massivas se intensificou. Os militares chegaram a ocupar e fechar a Universidade do Panamá e o Instituto Nacional do Panamá. Isso produziu ainda mais encarceramentos e provocou mortes em circunstâncias estranhas e confrontos armados.[2][5]

Governo e política[editar | editar código-fonte]

O poder estava centrado nas forças armadas. Naquela época, o Presidente da República não passava de um fantoche do chefe de governo, que era ao mesmo tempo chefe da Guarda Nacional.

O governo militar era o poder completo do Estado e o órgão legislativo era baseado na Assembleia Nacional dos Representantes dos Corregimentos e no Conselho Nacional de Legislação. Com a assinatura dos Tratados Torrijos-Carter, a primeira reforma da Constituição foi feita em 1978, na qual permitia o multipartidarismo, mas o Partido Revolucionário Democrático (PRD), inscrito em 11 de outubro de 1978, teria a papel de partido dominante. Em 1983 a Assembleia Nacional regressa com o nome de Assembleia Legislativa, que existiu de 1983 a 1989 (ano em que Noriega restabeleceu a Assembleia de Representantes).[6]

O órgão judicial era uma dependência do governo militar, de modo que muitas vezes não havia julgamentos justos.

Fim da ditadura[editar | editar código-fonte]

Em 31 de julho de 1981, o general Torrijos morreu em um acidente de avião ocorrido em Cerro Marta, província de Coclé.

Após sua morte, quando o governo foi desestabilizado, a Guarda Nacional nomeou Rubén Darío Paredes como chefe de governo e a Assembleia de Representantes elegeu Arístides Royo como presidente da República. Quando Noriega assumiu o poder, a economia e a política panamenhas sofreram com as declarações antiamericanas do ditador. Isso significou tempos de pobreza, corrupção e ataques à população, como o Massacre de Albrook.[7]

A invasão[editar | editar código-fonte]

Dois dias antes do ataque, um soldado estadunidense foi morto ao cruzar um posto de controle em frente ao quartel-general da Guarda Nacional, o que considerado o estopim do conflito.[8] A invasão começou na manhã de 20 de dezembro de 1989 com o bombardeio de múltiplas instalações políticas e militares. O objetivo do ataque era anular qualquer resposta do exército panamenho. O bombardeio destruiria aeroportos e bases militares do país.

Apesar das declarações de Noriega perante a Assembleia Legislativa dias antes da operação militar estadunidense, não houve declaração de guerra formal e a ação foi condenada pela Assembleia Geral da ONU e pela Organização dos Estados Americanos. A operação durou poucos dias devido à superioridade do exército ocupante e à pouca resistência encontrada. Noriega conseguiu escapar e buscou asilo na Nunciatura Apostólica. Em 31 de janeiro de 1990, ele se renderia às forças de ocupação e seria preso após a Operação Nifty Package.

Guillermo Endara foi nomeado presidente do país em uma base militar dos Estados Unidos durante a operação. Nos dias que se seguiram à intervenção, devido à ausência da polícia e à passividade das tropas estadunidenses, ocorreram saques e atos de vandalismo em várias cidades, aumentando as perdas materiais.[9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Tapia H., Luis H. (2011). Historia Panameña (em espanhol). [S.l.]: Susaeta Ediciones Panamá 
  2. a b El golpe de estado del 11 de octubre de 1968. panamaviejaescuela.com
  3. Mónica Guardia (11 de outubro de 2018). «La cruzada moral de Boris Martínez». La Estrella de Panamá  
  4. «Panamá, un rostro popular para una dictadura encubierta». El País. 11 de maio de 1978 
  5. La Estrella de Panamá (8 de junho de 2014). «Dictadura militar» 
  6. La Estrella de Panamá (16 de julho de 2011). «Omar Torrijos, líder de revolución» 
  7. Biblioteca Nacional do Panamá. «Dictadura militar» 
  8. Sánchez, Carlos Christian (20 de dezembro de 2004). «Panamá a 15 años de la invasión». BBC Mundo.com 
  9. La Prensa (Panamá) (20 de dezembro de 2014). «1989: Final y ruptura» 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]