Dolça Catalunya

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Dolça Catalunya
Slogan Seny de catalanes bajo el nacionalismo
(Sensatez de catalães sob o nacionalismo)
Tipo de sítio Blog
Fundador(es) Guillermo Elizalde Monroset
Gênero Opinião, Política, Cultura da Catalunha
Idioma(s) Língua catalã e castelhana
Lançamento 11 de outubro de 2013; há 10 anos
Endereço eletrônico https://www.dolcacatalunya.com/

Dolça Catalunya (em português: "Doce Catalunha") é um blog digital de opinião e de ensaio vinculado à extrema-direita espanhola, escrito emlinguas catalã e castelhana. Fou criado em outubro de 2013 por Guillermo Elizalde Monroset, entre outros.[1][2][3] Seus textos versam sobre atualidade, língua e a política dos Países Catalães; promovem a unidade de Espanha; defendem o secessionismo linguístico do catalão e fazem apologia de diversas discriminações sociais, como o anticatalanismo ou o racismo.[4][5]

Ainda que seu lema seja «Sensatez de catalães sob o nacionalismo» (Seny de catalanes bajo el nacionalismo) e descreve-se como um portal escrito por cidadãos anónimos, está dirigido e editado por pessoas dentro do âmbito editorial associado ao ultra-conservadorismo, à extrema-direita política espanhola, ao catolicismo integrista do Opus Dei e aos docentes da Universidade Abat Oliba.[3][4][5][6][7]

Discurso e alcance público[editar | editar código-fonte]

Os escritos de Dolça Catalunya, que alternam catalão e castelhano nas frases e parágrafos e nunca estão assinados, têm o objetivo de criar um discurso contra o crescente catalanismo a través do uso da demagogia e um amplo leque de conotações catalanofóbicas, anticiganas, islamófobas, racistas ou homofóbicas.[4][8][9][10][11] Também publicaram posicionamentos contra as liberdades sexuais e contra o aborto.[1] Trata-se de uma das publicações da extrema-direita com maior conteúdo anticatalanista dentre os que se analisaram na Espanha, caraterizado por sua crítica às políticas de normalização linguística do catalão mas sem se dirigir aos catalães como grupo cultural.[4]

O anonimato das suas peças usa uma linguagem que, ainda que pretendidamente satírica, abusa dos insultos explícitos, a humiliação e a ridicularização dos adversários políticos —uma estratégia habitual na expressão comunicativa da extrema-direita europeia.[3][12] Emite um discurso de revisionismo histórico conhecido como catalanismo hispânico, onde a identidade da Catalunha só existe dentro do contexto da Espanha.[13] A plataforma participou da internacionalização de campanhas de gerrymandering e pós-verdade, como foi a invenção da Tabarnia,[14][15][16] assim como da convocatória de manifestações nos âmbitos neofascistas.[17]

O portal cita referentes ideológicos deste catalanismo hispânico como o teólogo Francesc Canals Vidal, que ainda participara de um corrente católico contra o voto à Constituição Espanhola durante a Transição.[3] No âmbito da língua, o relato do secessionismo linguístico atacou, entre outros projetos, a Wikipédia em catalão e a sua comunidade de editores, etiquitando-os como «fanáticos», «propagandistas» e acusando-os de receber subsídios.[18]

Considera-se que Doce Catalunha é um portal caça-cliques com estrutura de blog e que não cumpre os critérios de ética jornalística.[19] O seu conteúdo enquadra-se no tom populista, sensacionalista e disseminador de notícias falsas a procura de distorcer os fatos de atualidade.[5][20] Uma das suas estratégias de posicionamento web, alem de um elevado seguimento em redes sociais, como agora Facebook ou Youtube, é o uso de autoreferências e de múltiplos enlaces cruzados com outros portais similares. Isto lhe facilita um elevado impacto e visibilidade na otimização para motores de procura (SEO) dos cercadors de Internet como o de Google.[4] [5][21]

Fundação e colaboradores[editar | editar código-fonte]

Desde a sua criação, Dolça Catalunya mantém um forte hermetismo com respeito ao seu comité editorial e aos seus redatores.[3] Contudo, sabe-se que o seu fundador foi o articulista Guillermo Elizalde Monroset e que o primeiro artigo publicou-se em 11 de outubro de 2013, na véspera do Dia da Hispanidade, feriado nacional na Espanha. O nome de Elizalde (presidente da Fundação Burke —considerada parte do integrismo católico espanhol)[22][23] foi revelado como fundador do blog em documentos internos sobre a criação de Sociedade Civil Catalã (SCC) em 2014.[2][6] [24] Outro dos principais editores da web pertence também à Fundação Burke e foi parte da criação de SCC; trata-se do economista Jorge Soley Climent, quem é conselheiro do clube de futebol RCD Espanyol é parte do órgão académico e de governo da Universidade Abat Oliba.[3][6] [25]

Jorge Buxadé Villalba, advogado-geral formado na Abat Oliba, cofundador de SCC e político dos partidos de extrema-direita Falange Española de las JONS e Vox, foi o primeiro seguidor da conta de Dolça Catalunya na rede social Twitter.[6] [26] O filósofo ultraconservador Javier Barraycoa Martínez, da Abat Oliva e SCC, alem de presidente da entidade unionista Somatemps, também foi relacionado como o site.[6][27]

Segundo as investigações, o gestor da loja on-line de Dolça Catalunya é o publicista Alejandro del Rosal Valls-Taberner, editor de Barraycoa, comunicador da Conferência Episcopal Espanhola, promotor de comunicação do RCDE Espanyol e colunista do diário liberal La Razón.[6][27] O empresário catalão Joan López Alegre, também professor da Universidade Abat Oliba, antigo deputado do Parlamento da Catalunha pelo Partido Popular, assessor de Ciutadans e vinculado a SCC, é o apresentador dos vídeos que o site publica no seu canal de YouTube, titulados L'Hora Dolça.[28][29][30] Miguel Martínez Velasco, ideólogo da plataforma de apoio a Tabarnia, atua com frequência como moderador nas tertúlias que o portal organiza.[31][32] Também apareceram como editores de artigos no site o escritor e dramaturgo Pau Guix, envolvido no livro publicado pelo portal em 2019 ou o jornalista ultracatólico Jaume Vives i Vives, participante da plataforma extremista Hazte Oír, editor sobre Tabàrnia e polémico pelas suas declarações públicas homofóbicas e islamófobas.[33][6][34]

Dentre as conexões mais estreitas de Dolça Catalunha, encontram-se múltiplas relações, menções e enlaces web do portal considerado como «neofascismo cristão» Germinans Germinabit, um dos portais do ultracatolicismo da Catalunha e que serve como grupo de pressão contra a Arquediocese de Barcelona, defende a «pureza dos valores cristãos» e é contra os direitos da mulher —rodeado em vários escândalos episcopais e judiciais ao longo da década de 2010.[27][35][36][37][38]

Obras publicadas[editar | editar código-fonte]

No ano 2019, duas das pessoas vinculadas como colaboradoras editoriais de Dolça Catalunya, Javier Barraycoa e Pau Guix, foram destaques da promoção nacional do livro sobre o portal. Foi editado sem autor explícito e pretende oferecer soluções contra o independentismo catalão.[33][39] Nestas apresentações assistiram políticos destacados e parlamentares dos grupos Cs, Vox e o PP, que elogiaram o conteúdo e o discurso ideológico como «necessário».[9]

  • Dolça Catalunya: seny de catalanes para superar el nacionalismo. Madrid: Libros libres. 2019. ISBN 978-84-15570-84-4 

Referências

  1. a b Borràs i Abelló 2015, p. 79.
  2. a b Rius Sant 2022, p. 84.
  3. a b c d e f «'Dolça Catalunya': de la sátira al nacionalismo a la "agitación política radical"». Metrópoli Abierta (em espanhol). 8 de setembro de 2019. Consultado em 25 de julho de 2022 
  4. a b c d e Canela, Joan; Zaballa, Bel; Carrera, Mar; Rovira, Elisenda; Laborda, Elisenda (20 de março de 2017). «El prejudici fet notícia. Estudi Observatori del discurs d'odi als mitjans de comunicació 2016-2017» (PDF). Barcelona: Grup de Periodistes Ramon Barnils (em catalão). Consultado em 27 de julho de 2022 
  5. a b c d Suárez Villegas & Marín Conejo 2020, pp. 70-75.
  6. a b c d e f g Salvador, Xavier (8 de setembro de 2019). «Los nombres clave de 'Dolça Catalunya'» (em espanhol). Crónica Global. Consultado em 25 de julho de 2022 
  7. Borràs i Abelló 2015, pp. 79-84.
  8. Sesé, Gerard (25 de março de 2019). «El mitjà ultraunionista Dolça Catalunya es converteix en un cau d'homofòbia contra un Mosso independentista» (em catalão). La República. Consultado em 25 de julho de 2022 
  9. a b Rexach Fumanya, Josep (7 de fevereiro de 2020). «La desesperació de la dolça Catalunya» (em catalão). Vilaweb. Consultado em 25 de julho de 2022 
  10. «Contar sin odio, odio sin contar. Visibilidad y contra-narrativas del discurso del odio en los medios para futuros periodistas» (Youtube). Red de Investigación en Comunicación Comunitaria, Alternativa y Participativa. Red de Investigación en Comunicación Comunitaria, Alternativa y Participativa (em espanhol). Novembro de 2017. Consultado em 27 de julho de 2022. Resumo divulgativo 
  11. Ramos 2021, p. 379.
  12. Fielitz, Maik; Ahmed, Reem (2021). «It's not funny anymore. Far-right extremists' use of humour» (PDF). Luxemburg: Publications Office of the European Union (em inglês). Consultado em 27 de julho de 2022 
  13. Borràs i Abelló 2015, p. 30.
  14. Kubiaczyk, Filip (15 de dezembro de 2020). «Satire in the service of history. On the phenomenon of Tabarnia in Catalonia». Studia Europaea Gnesnensia (22): 89–112. ISSN 2082-5951. doi:10.14746/seg.2020.22.5. Consultado em 28 de julho de 2022 
  15. Husar-Poliszuk, Wioletta (25 de novembro de 2021). «Una broma muy seria: Katalońska koncepcja Tabarni». Studia Iberystyczne: 35–56. ISSN 2391-7636. doi:10.12797/SI.20.2021.20.02. Consultado em 28 de julho de 2022 
  16. Salvador, Xavier (8 de setembro de 2019). «¿El Ku Klux Klan catalán?» (em espanhol). Crónica Global. Consultado em 26 de julho de 2022 
  17. «Agressions i amenaces a periodistes i vianants en una marxa ultradretana contra el referèndum a Barcelona» (em catalão). La Directa. 20 de setembro de 2017. Consultado em 25 de julho de 2022 
  18. «Solo el 3% de las visitas son a la Wikipedia en catalán». Dolça Catalunya. 13 de julho de 2022. Consultado em 26 de julho de 2022 
  19. Canovaca de la Fuente 2020, p. 30.
  20. Ros, Joandomènec (31 de maio de 2020). «Traduir ciència». Quaderns. Revista de traducció: 161–167. ISSN 2014-9735. doi:10.5565/rev/quaderns.13. Consultado em 28 de julho de 2022 
  21. Hernández Conde, Macarena; Fernández García, Manuel (22 de março de 2019). «Partidos emergentes de la ultraderecha: ¿fake news, fake outsiders? Vox y la web Caso Aislado en las elecciones andaluzas de 2018». Teknokultura (1): 33–53. ISSN 1549-2230. doi:10.5209/TEKN.63113. Consultado em 28 de julho de 2022 
  22. Barbería, José Luis (2 de janeiro de 2011). «Los secretos del Tea Party español». Madrid: El País (em espanhol). ISSN 1134-6582. Consultado em 28 de julho de 2022 
  23. Ramos 2021, p. 314.
  24. Borràs i Abelló 2015, p. 80.
  25. Borràs i Abelló 2015, p. 88.
  26. Borràs i Abelló 2015, pp. 80-81.
  27. a b c Chaika, Cris (5 de novembro de 2017). «La trama ultracatòlica i els seus mitjans afins contra la República catalana». El Temps (em catalão). Consultado em 26 de julho de 2022 
  28. «Escozor en 'Dolça Catalunya'». Crónica Global (em espanhol). 19 de setembro de 2019. Consultado em 26 de julho de 2022 
  29. Borràs i Abelló 2015, p. 81.
  30. Gerbolés Pérez, David (19 de março de 2022). «Joan López Alegre pone nombre y apellidos a los contactos entre el Govern separatista y Vladimir Putin». El Catalán (em espanhol). Consultado em 26 de julho de 2022 
  31. «Miguel Martínez, miembro de 'Barcelona is not Catalonia': "Hay 14 comarcas que reivindican ser de Tabarnia"» (em espanhol). La Sexta. 28 de dezembro de 2017. Consultado em 27 de julho de 2022 
  32. Pita, Elena (31 de dezembro de 2017). «Encontramos a los creadores de Tabarnia: "Si los 'indepes' siguen con la matraca, tendremos referéndum tabarnés"» (em espanhol). El Mundo. Consultado em 27 de julho de 2022 
  33. a b Castro, Gonzalo (13 de fevereiro de 2020). «Pau Guix: «Si vas en contra del nacionalismo catalán corres el riesgo de caer en muerte civil»» (em espanhol). ABC. Consultado em 26 de julho de 2022 
  34. «Jaume Vives, el portavoz de Tabarnia con tintes homófobos, islamófobos y machistas» (em espanhol). Público. 17 de janeiro de 2018. Consultado em 26 de julho de 2022 
  35. Reina, Carmen (27 de fevereiro de 2022). «Juan José Tamayo: "La jerarquía eclesiástica ha renunciado a los valores auténticos del cristianismo"» (em espanhol). El Diario. Consultado em 26 de julho de 2022 
  36. A., D (8 de fevereiro de 2015). «Teólogos e intelectuales claman contra el cardenal Sistach, "rehén de la extrema derecha católica en Cataluña"». El Plural (em espanhol). Consultado em 26 de julho de 2022 
  37. Borràs i Abelló 2015, p. 82.
  38. Guío Cerezo 2021.
  39. «Pau Guix: "Al nacionalismo hay que convatirlo desde la cultura"». COPE (em espanhol). 24 de novembro de 2019. Consultado em 26 de julho de 2022 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Borràs i Abelló, Jordi (2015). Desmuntant Societat Civil Catalana (em catalão). [S.l.]: Edicions Saldonar. ISBN 9788494675355 
  • Canovaca de la Fuente, Enrique (2020). El periodisme digital amb valor: Claus per a la sostenibilitat de la premsa. Col: Aldea Global; 40 (em catalão). Bellaterra; Castelló de la Plana; Barcelona; València: Servei de Publicacions de la Universitat Autònoma de Barcelona. ISBN 978-84-9134-562-6 
  • Guío Cerezo, Yolanda (2021). Ideologías excluyentes: pasiones y razones ocultas de la intolerancia al otro (em espanhol). [S.l.]: Catarata. ISBN 978-84-8319-692-2 
  • Ramos, Miquel (2021). De los neocon a los neonazis: la derecha radical en el Estado español (em espanhol). Madrid: Rosa Luxemburg Stiftung 
  • Rius Sant, Xavier (2022). Els ultres són aquí (em catalão). [S.l.]: Editorial Pòrtic. ISBN 9788498095104 
  • Suárez Villegas, Juan Carlos; Marín Conejo, Sergio (2020). Etica, comunicación y género: debates actuales (em espanhol). Madrid: Dykinson. ISBN 84-1324-746-2