Domingos Ferrão

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Domingos Gonçalo Ferrão
Presbítero da Igreja Católica
Diocesano
Info/Prelado da Igreja Católica
Atividade eclesiástica
Diocese Diocese de Tete
Ordenação e nomeação
Ordenação presbiteral 29 de junho de 1964
Tete
Dados pessoais
Nascimento Tete
30 de maio de 1937 (86 anos)
Morte Lisboa
08 de fevereiro de 2001 (63 anos)
Categoria:Igreja Católica
Categoria:Hierarquia católica
Projeto Catolicismo

Domingos Gonçalo Ferrão nasceu em Tete, Moçambique, em 30 de maio de 1937, e faleceu em 8 de fevereiro de 2001, em Lisboa, Portugal. Sacerdote católico, destacou-se como o primeiro diocesano (Secular) da diocese de Tete, além de atuar como ativista anticolonial e nacionalista. Ele também foi o autor do Relatório sobre o massacre de Wiriyamu, ocorrido em 16 de dezembro de 1972, em Tete.[1][2][3]

Início de vida e carreira[editar | editar código-fonte]

Três irmãos da família Ferrão chegaram a Moçambique nas campanhas de pacificação portuguesa do Vale do Zambeze, vindos de Goa (Índia) em 1767. Eram eles Assis, Henriques e António Ferrão.[1]

Ferrão teve uma infância como a de outros meninos da altura.[2] Foi baptizado e crismado na Paróquia de São Tiago Maior de Tete. Fez os estudos primários na Escola Rudimentar, N° 16 do Bairro Fumbe de Tete entre os anos 1946 a 1948 recebendo o respetivo diploma de 3ª Classe.[3]

Em 1949, ingressa na Missão de São José de Boroma em Tete tendo concluído a 4ª Classe. Em 1950 entra na Escola Normal de Formação de Professores na Missão de São José de Boroma em Tete tendo terminado o curso em 1951. Em 1952 trabalha como professor na Escola Primária do Seminário Menor de São João de Brito no Zóbuè e, em 1953, após uma entrevista com o Bispo da Beira, Dom Sebastião Soares de Resende, entrou no Seminário de São João de Brito do Zóbuè. Concluiu o Seminário Médio em 1956 com distinção. Teve toda uma formação sacerdotal que respondia e correspondia, às exigências da Igreja do Concílio Vaticano I tendo sido ordenado no período em que decorria o Concílio Vaticano II (1962-1965).[3]

Massacre de Wiriamu[editar | editar código-fonte]

O massacre nas aldeias de Wiriamu, Chaora e Juwau, mais conhecido por Massacre de Wiriamu, ocorreu a 16 de dezembro de 1972.[4][5][6]

O Padre Domingos Ferrão decidiu fazer um relatório do sucedido, para contestar, pois, era horrível aquilo ter acontecido a uns vinte ou vinte e cinco quilómetros da cidade e depois toda a gente ignorar.[4][7] Uma vez que o Padre Ferrão estava em vigilância cerrada pela PIDE/DGS e para evitar que fosse de novo preso, os Padres Burgos assumiram a autoria do relatório.Para além de ter escrito o relatório, o Padre Ferrão forneceu dados precisos a Jorge Jardim que fez uma denúncia do ocorrido às autoridades civis e militares de Moçambique e a Marcelo Caetano.[8] O relatório do massacre de Wiriamu, que vitimou cerca de 400 civis, ocorrido num só dia, teve um impacto mediático de repercussão internacional.[4] A exposição complexa de Portugal às guerras de libertação africanas em particular na Guiné, levaram muitos oficiais a questionar a razão de Portugal estar em África. As revelações da cumplicidade da Igreja Católica em Portugal na violência colonial em massa em Moçambique agravaram este descontentamento, e em particular o massacre de Wiriamu, abalaram a credibilidade do silêncio global cuidadosamente arquitectado por Caetano sobre o abuso dos Direitos Humanos em África.[5] Esta situação originou a Revolução do Cravos e a independência de Moçambique.[6]

Morte[editar | editar código-fonte]

Em 1997, o Padre Ferrão começou a ter alguns problemas de saúde: era um cancro maligno, por sinal, em fase bastante adiantado. Foi fazendo os devidos tratamentos e controlo médico, mas acabou por sucumbir na madrugada de 8 de fevereiro de 2001, num hospital de Lisboa.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Cruz, João (Novembro de 2008). «O Enigma de uma colónia virtual - África Oriental Portuguesa (vulgo Moçambique)». Revista militar 
  2. Ferrão, joao; Laissone, Elton (março 2003). Monsenhor Domingos Ferrão 1.ª ed. [S.l.: s.n.] Consultado em 17 de fevereiro 2023 
  3. a b Ferrao, Joao (fevereiro de 2023). «Homenagem a Monsenhor Domingos Ferrao pelos 50 anos do Massacre de Wiriamu, 2023.». Consultado em 29 de março de 2023 
  4. a b c Almeida, João (13 de dezembro de 2022). O massacre de Wiriamu: silêncio e denúncia na Igreja Católica. [S.l.: s.n.] Consultado em 17 de fevereiro 2023 
  5. a b dhada, M. (13 de dezembro de 2022). 1 (PDF). Lisboa: Tinta da china, Lda. Consultado em 17 de fevereiro 2023 
  6. a b «O massacre português de Wiriamu: escrever para não esquecer.». Consultado em 18 de abril de 2023 
  7. {citar web |url=https://www.portugalresident.com/the-massacre-at-wiriamu/ |titulo=The Massacre at Wiriamu|acessodata=22 de maio de 2023}
  8. Jardim, Jorge (2000). Livro de exemplo 1.ª ed. [S.l.: s.n.] Consultado em 17 de fevereiro 2023