Egossintonia e egodistonia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Na psicanálise, a egossintonia refere-se aos comportamentos, valores e sentimentos que estão em harmonia ou são plausíveis para suprir as necessidades do ego, respeitando o contexto da autoimagem. Por outro lado, a egodistonia, também chamada de ego alienígena,[1] refere-se aos pensamentos e comportamentos que estão em conflito psicológico ou em ação de dissonância, devido às necessidades do ego e ao duelo com a autoimagem.

Aplicabilidade[editar | editar código-fonte]

A psicologia anormal caracteriza diversos transtornos de personalidade como egossintônicos, dificultando o tratamento, pois os pacientes podem abster-se de percepções e comportamentos impróprios.[2] Como exemplo, uma pessoa com transtorno de personalidade narcisista tem a autoconsciência excessiva de rejeitar questões que desafiam seus pontos de vista. Tal comportamento corresponde, em termos psiquiátricos, a uma visão pobre da autoimagem. A anorexia nervosa, doença multiaxial do Eixo I do diagnóstico psiquiátrico, tem um tratamento difícil e caracteriza-se por uma imagem corporal distorcida e também pelo medo eminente de ganhar peso. A anorexia nervosa, portanto, é classificada como egossintônica, pois alguns pacientes que portam a doença, negam a sua existência.[3] Ademais, o jogo patológico é, no entanto, visto como egossintônico dependendo do envolvimento do paciente com o vício em jogos.[4][5]

Uma ilustração das diferenças entre um transtorno mental egodistônico e transtorno mental egossintônico é a comparação do transtorno obsessivo-compulsivo com o transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva. O TOC é considerado egodistônico, pois os pensamentos, ímpetos e compulsões não são consistentes com a autoimagem do indivíduo, ou seja, o paciente percebe que as obsessões são irracionais e angustiadas devido às compulsões. Em contrapartida, o transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo é classificado como egossintônico, uma vez que o paciente geralmente percebe sua obsessão alinhada com o exagero de ordem, perfeccionismo e controle.[6][7]

Herança freudiana[editar | editar código-fonte]

O termo "egossintônico" foi introduzido pela primeira vez em 1914, pelo psicanalista Sigmund Freud na obra On Narcissism (Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos, em tradução livre).[8][9] Para Freud, conflitos de ordem psíquica surgem de acordo com o atraso comportamental dos instintos, que acabam entrando em conflito com o ego..[10] Otto Fenichel, psicanalista austríaco da segunda geração, distinguiu a distonia e a sintonia do ego como impulsos mórbidos.[11]

Anna Freud, especialista em psicologia da personalidade, enfatizou que as expressões egossintônicas eram mais difíceis de serem expostas em comparação com as egodistônicas.[12] O psicólogo austríaco Heinz Hartmann utilizou os conceitos de egossintonia e egodistonia em suas obras.[8] De modo geral, psicanalistas abordam a egodistonia como uma evidência direta do comportamento, visto que a egossintonia é abordada como indireta.[13]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Howard Rosenthal, Human Services Dictionary (2003) p. 102
  2. D. Williams, The Jumbled Jigsaw (2005) p. 294
  3. E. Hollander, Obsessive-Compulsive Spectrum Disorders (2010) p. 44
  4. Jon Halliday/Peter Fuller eds., The Psychology of Gambling (London 1974) p. 236 and p. 31
  5. E. Hollander, Obsessive-Compulsive Spectrum Disorders (2010) p. 92
  6. Aardema, F. & O'Connor. (2007). The menace within: obsessions and the self. International Journal of Cognitive Therapy, 21, 182-197.
  7. Aardema, F. & O'Connor. (2003). Seeing white bears that are not there: Inference processes in obsessions. Journal of Cognitive Psychotherapy, 17, 23-37.
  8. a b J. Palombo et al, Guide to Psychoanalytic Developmental Theories (2009) p. 55
  9. Teresa Brennan, The Interpretation of the Flesh (1992) p. 82
  10. Sigmund Freud, Case Studies II (PFL 9) p. 206
  11. Otto Fenichel, The Psychoanalytic Theory of Neurosis (London 1946) p. 382 and p. 367=8
  12. Janet Malcolm, Psychoanalysis: The Impossible Profession (London 1988) p.36
  13. Daniel Rancour-Laferriere, Sign and Subject (1978) p. 52