Escola Secundária Gil Vicente

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Escola Secundária Gil Vicente
AEGV
Informação
Localização Lisboa, Portugal
Tipo de instituição Ensino Básico e Secundário
Fundação 1915
Lema É Gil, É Gil, É Gil Vicente
Diretor(a) Adriana Guerreiro
Número de estudantes Cerca de 1200
Página oficial
https://aegv.edu.pt

A Escola Secundária Gil Vicente, anteriormente conhecida como Liceu Gil Vicente, é a principal instituição do Agrupamento de Escolas Gil Vicente. A escola acolhe aproximadamente 1200 estudantes, dos quais cerca de 30% são alunos oriundos de outros países.[1]

Fundada em 20 de novembro de 1914 como a secção de São Vicente no Liceu Central de Passos Manuel, transformou-se em 1915 no Liceu Central denominado Gil Vicente. Desde 1949, a escola está localizada na Rua da Verónica, no bairro da Graça, entre Alfama e o Castelo.

Atualmente sob a direção da professora Adriana Guerreiro, o agrupamento escolar inclui a Escola EB23/ES Gil Vicente, a Escola Básica e o Jardim de Infância de Santa Clara, bem como a Escola Básica e o Jardim de Infância do Castelo.[2]

História[editar | editar código-fonte]

A origem remonta à Secção de São Vicente do Liceu Central de Passos Manuel, criada para atender ao excesso de alunos nas escolas da capital. Em 1914, o governo português estabeleceu a capacidade máxima dos liceus centrais de Lisboa em 2400 estudantes. Para acomodar os alunos que excediam esse número, e após realizadas reformas no antigo paço patriarcal, as aulas começaram em 20 de novembro de 1914 com 241 estudantes distribuídos por três turmas.[2]

O Liceu Gil Vicente[editar | editar código-fonte]

Em 1915, foi estabelecido um Liceu Central chamado Gil Vicente, inicialmente exclusivo para alunos do sexo masculino. No entanto, já no ano letivo seguinte, ocorreram as primeiras matrículas de alunas do sexo feminino.

O liceu adotou, em 1917, uma abordagem pedagógica que enfatizava a prática no ensino. Mais tarde, em 1926, o número de anos de estudo foi reduzido de sete para seis. Os primeiros cinco anos foram designados como Curso Geral, e os Cursos de Letras e de Ciências, cada um com duração de um ano, passaram a ser cursos preparatórios para o Ensino Superior, sem necessidade de exame final.[2]

Durante o ano letivo de 1929/1930, o Governo português implementou a separação de sexos nas escolas, ordenando que os registos das alunas fossem transferidos para o Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho. Ao mesmo tempo, estabeleceram-se as zonas de influência pedagógica, com o Gil Vicente responsável por toda a zona oriental de Lisboa.

Ao longo dos tempos, a escola consolidou-se como um dos estabelecimentos de ensino mais prestigiados de Lisboa, com a sua reputação a ser construída através da atuação dos reitores e do corpo docente. No final da década de 1930, já durante o Estado Novo, a Educação Moral e Cívica foi introduzida como disciplina obrigatória.[3]

O ano letivo de 1949/1950 começou nas novas instalações localizadas na Rua da Verónica, no bairro da Graça, num terreno que fazia parte do Mosteiro de São Vicente de Fora e incluía uma seção das antigas muralhas Fernandinas de Lisboa.[4] O projeto das instalações foi idealizado pelo arquiteto José Costa e Silva, com a inauguração a ocorrer em janeiro de 1949.[2]

No dia 14 de fevereiro de 1958, panfletos de propaganda monárquica foram descobertos numa das casas de banho da escola. A reitoria do liceu encaminhou esse material para o Ministro da Educação Nacional, que posteriormente o arquivou no Arquivo Salazar da Biblioteca Nacional. [5]

O aumento na população escolar a partir do ano letivo de 1959/1960, em grande parte devido ao começo da desertificação do interior do país, levou à conversão de espaços originalmente destinados para outras funções em salas de aula.[6] Além disso, o curso noturno foi reintroduzido dez anos mais tarde, no ano letivo de 1970/1971, no âmbito da Reforma Veiga Simão.

Ao longo da década de 1960, sob a liderança de Maurício do Vale e do Padre José Alcobia, estudantes e professores do liceu organizaram seis tradicionais garraiadas, completas com um grupo de forcados amadores. O destaque dessas festividades foi a garraiada de 27 de fevereiro de 1966, realizada na Praça de Touros do Campo Pequeno.

Entre os professores notáveis que lecionaram na escola, destacam-se Leonardo Coimbra, Francisco Newton de Macedo, Urbano Canuto Soares, Delfim Santos, José Hermano Saraiva ou Mário Soares - que mais tarde, em 1991, visita a escola enquanto Presidente da República Portuguesa[7] -, entre muitos outros.

Nos últimos anos do regime político ditatorial, autoritário, autocrata e corporativista do Estado Novo, os pátios do Liceu Gil Vicente foram locais de reuniões clandestinas. "Nessas reuniões podíamos ouvir música dos Pink Floyd, da Janis Joplin, do Zeca Afonso, do Paco Ibañez", relembrou Jaime Pinho, um resistente antifascista, em declarações ao Esquerda.net.[8]

A Escola Secundária Gil Vicente[editar | editar código-fonte]

Após a Revolução do 25 de Abril, a escola voltou a aceitar estudantes de ambos os sexos. No ano letivo de 1976/1977, dois anos depois do golpe de Estado, aproximadamente 410 alunas foram matriculadas.[2]

Nos últimos anos, os cursos noturnos foram encerrados, mas houve um aumento no compromisso da comunidade educativa em manter e revitalizar as atividades escolares, tanto curriculares quanto extracurriculares, com uma abordagem aberta à comunidade. As instalações da escola passaram por uma remodelação em 2007/2008, realizada no âmbito do programa Parque Escolar, sob a administração do governo do Partido Socialista, liderado por José Sócrates. O projeto de reforma e expansão foi conduzido pela CCG Arquitectos.[9]

Em 2013, Eliz Beckett e António Jorge Dias de Oliveira lançaram o livro "Na Rua da Verónica - Memórias do Liceu Gil Vicente em Lisboa", publicado pela Chiado Editora e registado com o ISBN 978-98951-009-8-9.[10]

Desde 2021, a atriz portuguesa Sofia Duarte Silva ministra cursos e oficinas de teatro nas instalações da escola.

Em parceria com o projeto Renovar a Mouraria, a escola iniciou em 2023 um projeto de plantação de 400 árvores num terreno baldio de aproximadamente um hectare dentro das suas instalações.[11]

No início do ano letivo de 2023/2024, após uma discussão democrática com participação dos pais e da comunidade escolar, a direção da Escola Gil Vicente decidiu proibir o uso de telemóveis em todas as áreas da escola.[12]

Em março de 2024, o artista urbano português OzeArv criou o mural "A Alegria de um Caos Constante" numa das paredes externas da escola. Esta obra visa transmitir uma mensagem de empoderamento tanto individual quanto coletivo.[13]

Patrono[editar | editar código-fonte]

Gil Vicente (c. 1465 – c. 1536) é reconhecido como o primeiro grande dramaturgo português e também um poeta renomado. Multifacetado no mundo do teatro, atuou não só como escritor, mas também como músico, ator e encenador. Considerado o pai do teatro português e, de certa forma, do teatro ibérico, Gil Vicente escreveu obras tanto em português quanto em castelhano, sendo também uma figura seminal na dramaturgia espanhola, ao lado de Juan del Encina.[14]

Antigos alunos[editar | editar código-fonte]

Passaram pelas carteiras da Gil Vicente diversos nomes da sociedade civil, política e da cultura portuguesa de onde se destacam:

Referências

  1. «"Uma escola na comunidade"». festivaltodos.com. 24 de abril de 2024 
  2. a b c d e «História da Escola Secundária Gil Vicente». aegv.edu.pt. 24 de abril de 2024 
  3. «Liceu Gil Vicente». asap-ehc.tecnico.ulisboa.pt. 24 de abril de 2024 
  4. «A muralha Fernandina de Lisboa: troço existente na Escola Gil Vicente, Largo da Graça». catalogo.biblioteca.oasrs.org. 24 de abril de 2024 
  5. «Propaganda monárquica - Panfletos encontrados no Liceu Gil Vicente». digitarq.arquivos.pt. 24 de abril de 2024 
  6. «Abertura do Ano Lectivo no Liceu Gil Vicente». arquivos.rtp.pt. 24 de abril de 2024 
  7. «Visita de Mário Soares à escola Gil Vicente». arquivos.rtp.pt. 17 de junho de 1991 
  8. «Entre esconderijos e zonas libertadas». esquerda.net. 22 de maio de 2020 
  9. «Escola Secundária Gil Vicente remodelada pela Parque Escolar». construcaopublica.gov.pt. 24 de abril de 2024 
  10. «Na Rua da Verónica - memórias do Liceu Gil Vicente em Lisboa». tvi.iol.pt. 17 de junho de 2013 
  11. «Escola Gil Vicente vai ganhar 400 árvores graças a projeto com alunos». dn.pt. 16 de novembro de 2023 
  12. «Escola pública em Lisboa interdita telemóveis para alunos até ao 9º ano». sabado.pt. 13 de setembro de 2023 
  13. «Há um novo e colorido mural de arte urbana para ver em Lisboa». nit.pt. 10 de março de 2024 
  14. «Homenagem a Gil Vicente no Liceu Gil Vicente, em Lisboa». arquivos.rtp.pt. 24 de abril de 2024 
  15. «Cronologia: A vida de José Saramago». expresso.pt. 18 de junho de 2010 
  16. «António José Saraiva». fabricadesites.fcsh.unl.pt. 8 de maio de 2019 
  17. «Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011)- A pensar e a querer agir, uma vida exemplar». bnportugal.gov.pt. 26 de abril de 2024 
  18. «Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto». sigarra.up.pt. 26 de abril de 2024 
  19. «Morreu José-Augusto França, o historiador que "nunca se cansou de escrever e de viver"». observador.pt. 18 de setembro de 2021 
  20. «Morreu Gustavo Soromenho». publico.pt. 22 de setembro de 2001 
  21. «"Ainda tenho alguns amigos de infância"». omirante.pt. 15 de novembro de 2007 
  22. «José Pinto Peixoto». act.fct.pt. 26 de abril de 2024 
  23. «Humberto Sotto Mayor». wook.pt. 6 de maio de 2024 
  24. «Arquivos de Manuel Mendes na Casa Comum». casacomum.org. 26 de abril de 2024 
  25. «Mário Cesariny - Um homem aceso como um barco». dn.pt. 8 de agosto de 2023 
  26. «Padre Alcobia e não só». cmjornal.pt. 20 de fevereiro de 2016 
  27. «Manuel Augusto Fernandez de los Mozos». cinemaportuguesmemoriale.pt. 26 de abril de 2024 
  28. «Óscar de Sousa Lemos». cinemaportuguesmemoriale.pt. 26 de abril de 2024 
  29. «Carlos Baptista Mendes». goodreads.com/. 6 de maio de 2024 
  30. «Maria Rueff: "Nunca fui deslumbrada mas comecei com os melhores. Nunca pude falhar"». dn.pt. 21 de agosto de 2016 
  31. «Sérgio Sousa Pinto: "Eu era um betinho de Lisboa, foi a JS que me obrigou a conhecer Portugal"». observador.pt. 11 de junho de 2017 
  32. «About». goncalolobopinheiro.com. 26 de abril de 2024 
  33. «"Fazer de mãe tem pouco a ver comigo"». cmjornal.pt. 12 de fevereiro de 2010 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]