Lei da irreversibilidade da evolução: diferenças entre revisões

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[[File:Dollo's law of irreversibility.svg|thumb|Uma vez que um organismo tenha evoluído de uma determinada maneira, ele não retornará exatamente a uma forma anterior. Isto é ilustrado aqui em duas dimensões; Na realidade, biomoléculas e organismos evoluem em muitas dimensões diferentes.|391x391px]]
[[File:Dollo's law of irreversibility.svg|thumb|Uma vez que um organismo tenha evoluído de uma determinada maneira, ele não retornará exatamente a uma forma anterior. Isto é ilustrado aqui em duas dimensões; Na realidade, biomoléculas e organismos evoluem em muitas dimensões diferentes.|391x391px]]
A '''Lei de Dollo''' (também conhecida como '''Lei da irreversibilidade da evolução''' e '''princípio de Dollo'''), proposto em 1893 <ref>DOLLO, Louis. [https://paleoglot.org/files/Dollo_93.pdf Les lois de l'évolution]. '''Bull. Soc. Belge Geol. Pal. Hydr'''. VII: 164–166. 1893.</ref> pelo paleontólogo francês [[Louis Dollo]] afirma que "um organismo vivo nunca retorna exatamente a um estado anterior, mesmo que se encontre inserido em condições de existência idênticas àquelas em que viveu anteriormente, sempre mantém algum traço dos estágios intermediários pelos quais passou." <ref>Gould, S. J. (1970). "Dollo on Dollo's law: irreversibility and the status of evolutionary laws". ''Journal of the History of Biology''. '''3''' (2): 189–212. doi:10.1007/bf00137351.</ref>
A '''Lei de Dollo''' (também conhecida como '''Lei da irreversibilidade da evolução''' e '''princípio de Dollo'''), proposto em 1893 <ref>DOLLO, Louis. [https://paleoglot.org/files/Dollo_93.pdf Les lois de l'évolution]. '''Bull. Soc. Belge Geol. Pal. Hydr'''. VII: 164–166. 1893.</ref> pelo paleontólogo francês [[Louis Dollo]] postula que não pode haver a reversão de uma trajetória [[Evolução|evolutiva]] para um mesmo curso. Isto é, nenhum [[Organismos vivos|organismo vivo]] pode <u>retornar por completo</u> ao plano corporal de sua forma antecessora, pois os seres evoluem em muitas dimensões diferentes e sempre irão preservar alguma característica dos estágios intermediários pelos quais passou em sua trajetória evolutiva, mesmo que as [[Ambiente ecológico|condições ambientais]] sejam idênticas às que viveu anteriormente. <ref name=":1">Gould, S. J. (1970). "Dollo on Dollo's law: irreversibility and the status of evolutionary laws". ''Journal of the History of Biology''. '''3''' (2): 189–212. doi:10.1007/bf00137351.</ref>


Para todos os fins, a definição dessa lei evolutiva<ref name=":1" />, de forma resumida, é a seguinte:
Essa lei é freqüentemente interpretada erroneamente como afirmando que a evolução não é reversível, ou que estruturas e órgãos perdidos não podem reaparecer da mesma forma por qualquer processo de [[Devolução (biologia)|devolução]] (ou evolução reversa).<ref>Goldberg, Emma E.; Boris Igić (2008). "On phylogenetic tests of irreversible evolution". ''Evolution''. '''62''' (11): 2727–2741. doi:10.1111/j.1558-5646.2008.00505.x. <nowiki>PMID 18764918</nowiki>.</ref><ref>Collin, Rachel; Maria Pia Miglietta (2008). "Reversing opinions on Dollo's Law". ''Trends in Ecology & Evolution''. '''23''' (11): 602–609. doi:10.1016/j.tree.2008.06.013. <nowiki>PMID 18814933</nowiki>.</ref> De acordo com [[Richard Dawkins]], o princípio de Dollo é apenas uma afirmação sobre a improbabilidade estatística de um organismo vivo seguir por completo para o mesmo estado evolutivo duas vezes ou para um estado de uma espécie antecessora por completo, em qualquer direção. Para [[Stephen Jay Gould]] a irreversibilidade exclui certos caminhos evolutivos, após formas amplas surgirem: Por exemplo, uma vez que você adote o plano corporal de uma simples espécie, diversas opções são fechadas para sempre pois as possibilidades futuras devem se desdobrar respeitando os limites do design herdado da espécie.<ref>GOULD, S. J. [https://link.springer.com/article/10.1007%2FBF00137351 Dollo on Dollo's law: irreversibility and the status of evolutionary laws]. '''Journal of the History of Biology'''. 3: 189–212. 1970. </ref>
{{quote1|Um organismo vivo nunca retorna exatamente a um estado anterior, mesmo que se encontre inserido em condições de existência idênticas àquelas em que viveu anteriormente, sempre mantém algum traço dos estágios intermediários pelos quais passou.}}


Essa lei é frequentemente interpretada erroneamente como afirmando que a evolução de uma estrutura ou órgão seja irreversível, ou que estruturas e órgãos perdidos não possam reaparecer<ref>Galastri, Luciana. [https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Biologia/noticia/2015/01/anatomia-de-passaros-revela-que-evolucao-pode-voltar-atras.html Anatomia de pássaros revela que a evolução pode 'voltar atrás']. Revista Galileu. 2015.</ref> da mesma forma por qualquer processo de [[Devolução (biologia)|devolução,]][[Atavismo|atavismo táxico]] ou evolução reversa.<ref>Goldberg, Emma E.; Boris Igić (2008). "On phylogenetic tests of irreversible evolution". ''Evolution''. '''62''' (11): 2727–2741. doi:10.1111/j.1558-5646.2008.00505.x. <nowiki>PMID 18764918</nowiki>.</ref><ref>Collin, Rachel; Maria Pia Miglietta (2008). "Reversing opinions on Dollo's Law". ''Trends in Ecology & Evolution''. '''23''' (11): 602–609. doi:10.1016/j.tree.2008.06.013. <nowiki>PMID 18814933</nowiki>.</ref> De acordo com [[Richard Dawkins]], o princípio de Dollo é apenas uma afirmação sobre a improbabilidade estatística de um organismo vivo seguir por completo para o mesmo estado evolutivo duas vezes ou para um estado de uma espécie antecessora por completo, em qualquer direção. Para [[Stephen Jay Gould]] a irreversibilidade exclui certos caminhos evolutivos, após formas amplas surgirem: por exemplo, uma vez que você adote o plano corporal de uma simples espécie diversas opções são fechadas para sempre, pois as possibilidades futuras devem se desdobrar respeitando os limites do design herdado da espécie.<ref>GOULD, S. J. [https://link.springer.com/article/10.1007%2FBF00137351 Dollo on Dollo's law: irreversibility and the status of evolutionary laws]. '''Journal of the History of Biology'''. 3: 189–212. 1970. </ref>
Este princípio é classicamente aplicado à morfologia , particularmente de fósseis , mas também pode ser usado para descrever eventos moleculares , como mutações individuais ou perdas genéticas.

Este princípio é classicamente aplicado à morfologia, particularmente de fósseis, mas também pode ser usado para descrever eventos moleculares, como mutações individuais ou perdas genéticas.


== Exemplos que atendem o princípio de Dollo ==
== Exemplos que atendem o princípio de Dollo ==

Revisão das 16h31min de 6 de março de 2021

Uma vez que um organismo tenha evoluído de uma determinada maneira, ele não retornará exatamente a uma forma anterior. Isto é ilustrado aqui em duas dimensões; Na realidade, biomoléculas e organismos evoluem em muitas dimensões diferentes.

A Lei de Dollo (também conhecida como Lei da irreversibilidade da evolução e princípio de Dollo), proposto em 1893 [1] pelo paleontólogo francês Louis Dollo postula que não pode haver a reversão de uma trajetória evolutiva para um mesmo curso. Isto é, nenhum organismo vivo pode retornar por completo ao plano corporal de sua forma antecessora, pois os seres evoluem em muitas dimensões diferentes e sempre irão preservar alguma característica dos estágios intermediários pelos quais passou em sua trajetória evolutiva, mesmo que as condições ambientais sejam idênticas às que viveu anteriormente. [2]

Para todos os fins, a definição dessa lei evolutiva[2], de forma resumida, é a seguinte:

Essa lei é frequentemente interpretada erroneamente como afirmando que a evolução de uma estrutura ou órgão seja irreversível, ou que estruturas e órgãos perdidos não possam reaparecer[3] da mesma forma por qualquer processo de devolução,atavismo táxico ou evolução reversa.[4][5] De acordo com Richard Dawkins, o princípio de Dollo é apenas uma afirmação sobre a improbabilidade estatística de um organismo vivo seguir por completo para o mesmo estado evolutivo duas vezes ou para um estado de uma espécie antecessora por completo, em qualquer direção. Para Stephen Jay Gould a irreversibilidade exclui certos caminhos evolutivos, após formas amplas surgirem: por exemplo, uma vez que você adote o plano corporal de uma simples espécie diversas opções são fechadas para sempre, pois as possibilidades futuras devem se desdobrar respeitando os limites do design herdado da espécie.[6]

Este princípio é classicamente aplicado à morfologia, particularmente de fósseis, mas também pode ser usado para descrever eventos moleculares, como mutações individuais ou perdas genéticas.

Exemplos que atendem o princípio de Dollo

Modelo evolutivo que atende a Lei de Dollo. Se um organismo A(aquático) evolui gerando um organismo A(terrestre) e este origina um organismo B(terrestre), caso haja retorno evolutivo de B(terrestre) para o ambiente aquático, ele formará um B(aquático) e não mais A(aquático).

Ictiossauros e o ambiente aquático

Os Ictiossauros são um grupo de répteis que retornaram ao ambiente aquático. Logicamente, uma respiração sistêmica branquial seria a melhor forma de se obter o oxigênio dissolvido na água. Entretanto, os répteis surgiram no ambiente terrestre de ancestrais que já possuíam pulmões e patas possuindo ancestralidade comum com todos tetrápodes. Uma vez que esses ancestrais possuíam pulmões, a seleção natural atuou de outras formas na adaptação desses organismos devido ao retorno para o ambiente aquático. A anatomia hidrodinâmica, as nadadeiras e várias outras adaptações ao meio aquático voltaram através da modificação de estruturas que os ancestrais terrestres (e não aquáticos) possuíam. A respiração continuou sendo pulmonar e não retornou para a branquial pois esta é uma característica ancestral. O mecanismo de reprodução ovovivípara onde o embrião se desenvolve dentro de um ovo alojado dentro do corpo da mãe, manteve-se como os alguns répteis terrestres que são ovovivíparos.

Cetáceos e o ambiente aquático

Os cetáceos são um grupo de mamíferos que retornaram ao ambiente aquático. Logicamente, uma respiração sistêmica branquial seria a melhor forma de se obter o oxigênio dissolvido na água. Entretanto, os mamíferos surgiram no ambiente terrestre de ancestrais que já possuíam pulmões e os cetáceos de um ancestral em comum com ungulados. Uma vez que esses ancestrais possuíam pulmões, a seleção natural atuou de outras formas na adaptação desses organismos devido ao retorno para o ambiente aquático. A anatomia hidrodinâmica, as nadadeiras e várias outras adaptações ao meio aquático voltaram através da modificação de estruturas que os ancestrais terrestres (e não aquáticos) possuíam. A respiração continuou sendo pulmonar e não retornou para a branquial pois esta é uma característica ancestral. O comportamento da coluna vertebral durante a locomoção também manteve-se como os dos ungulados, pois segundo Richard Dawkins, baleias "galopam" (movimento vertical da coluna vertebral) nos oceanos.

Cactáceas e o ambiente úmido

A maioria dos cactos se especializou em sobreviver em ambientes quentes e secos (ou seja, são xerófitos), desenvolvendo algumas adaptações para promover o uso eficiente da água. Uma vez que a questão chave na retenção de água é a relação entre a área da superfície e o volume, a perda de água é proporcional à área de superfície das folhas e a seleção natural atuou na redução do tamanho das folhas ou da duração (algumas sendo produzidas apenas durante o período vegetativo).

Acontece que um pequeno número de espécies de cactos se adaptaram de volta à vida em ambientes tropicais bastante úmidos, onde a conservação da água é menos importante. Logicamente, a obtenção da folhagem perdida seria a melhor forma de se lidar com a fotossíntese. Entretanto, como esses cactos surgiram de ancestrais xerófitos do ambiente árido que possuíam corpo com caules grossos, suculentos, oblongos ou espatulados chamados de cladódios, a fotossíntese continuou sendo pelos cladódios convertidos em estruturas que se assemelham à folhas, como no gênero Brasiliopuntia, mas não retornou para a folhagem verdadeira.

Exemplos de reversão de características

Atavismo táxico[7]

Leitura complementar

  • Dremer, C.J. A revision of atavisms in vertebrates. Neotropical Biology and Conservation: v.1(2), p. 72-83,006.
  • Plage, M.L. "Atavismo ou não?". Galileu: Edição 189 - Abril de 2007. Disponível online em: [1]. Acesso em 24 de setembro de 2009.

Referências bibliográficas

  1. DOLLO, Louis. Les lois de l'évolution. Bull. Soc. Belge Geol. Pal. Hydr. VII: 164–166. 1893.
  2. a b Gould, S. J. (1970). "Dollo on Dollo's law: irreversibility and the status of evolutionary laws". Journal of the History of Biology. 3 (2): 189–212. doi:10.1007/bf00137351.
  3. Galastri, Luciana. Anatomia de pássaros revela que a evolução pode 'voltar atrás'. Revista Galileu. 2015.
  4. Goldberg, Emma E.; Boris Igić (2008). "On phylogenetic tests of irreversible evolution". Evolution. 62 (11): 2727–2741. doi:10.1111/j.1558-5646.2008.00505.x. PMID 18764918.
  5. Collin, Rachel; Maria Pia Miglietta (2008). "Reversing opinions on Dollo's Law". Trends in Ecology & Evolution. 23 (11): 602–609. doi:10.1016/j.tree.2008.06.013. PMID 18814933.
  6. GOULD, S. J. Dollo on Dollo's law: irreversibility and the status of evolutionary laws. Journal of the History of Biology. 3: 189–212. 1970.
  7. a b DOMES, Katja; Roy A. (2007). «Reevolution of sexuality breaks Dollo's law». Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. 104 (17): 7139–7144. ISSN 0027-8424. PMID 17438282. doi:10.1073/pnas.0700034104 
  8. NORTON, R. Proceedings of the National Academy of Sciences, April 24, cited in Science News, vol. 171, p. 302. 2007.