Estefânia Macieira

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Estefânia Macieira (Rio de Janeiro, Brasil, 15 de setembro de 1880 - Lisboa, Portugal, 1957), também referida pelo nome Estefânia de Macedo Dias Macieira, foi uma ativista feminista, sufragista e benemérita portuguesa, reconhecida por ter desempenhado o cargo de secretária-geral no movimento de beneficência e de apoio aos militares portugueses, a Cruzada das Mulheres Portuguesas, durante a Primeira Guerra Mundial.[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascimento e Família[editar | editar código-fonte]

Nascida em 1880, sob o nome de baptismo de Estefânia de Macedo Dias, no Rio de Janeiro, Brasil, era filha de José Joaquim Dias, empresário da alta burguesia e emigrante português, responsável pela primeira fábrica mecânica de sapatos na localidade, e de Matilde Flora de Macedo, de nacionalidade brasileira.[3] Era ainda irmã de Elvira de Macedo Dias (1884-1965), que posteriormente se casou com o neurocirurgião português e vencedor do Prémio Nobel de Medicina António Egas Moniz (1874-1955), e prima da atriz, radialista, encenadora e declamadora de poesia Germana Tânger (1920-2018).[4] Muito jovem, ficou órfã de ambos os seus pais, partindo pouco depois com a sua irmã para Lisboa, onde foi criada e educada pelos seus tios.

Casamento[editar | editar código-fonte]

Casou-se com António Caetano Macieira Júnior (1875-1918), advogado, director do diário O Tempo, militante do Partido Republicano Português, deputado na Assembleia Constituinte de 1911, Ministro da Justiça e Ministro dos Negócios Estrangeiros, passando a viver após o matrimónio com o seu marido numa casa com fachada no estilo art noveau, desenhada pelo arquiteto Ernesto Koorodi e distinguida com o Prémio Valmor em 1910, localizada na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa.[5]

Do seu matrimónio teve duas filhas, Maria Elvira de Macedo Dias Macieira Magalhães Diogo (1905-1978) e Maria Matilde de Macedo Dias Macieira e Araújo Coelho (1902-1995), que anos mais tarde se casou com o cardiologista e professor universitário Eduardo Carneiro de Araújo Coelho (1896-1974).[6][7]

Após enviuvar em 1918, Estefânia Macieira passou a residir num prédio de rendimento que a família possuía, localizado no nº 5 da Rua Viriato, em Lisboa, sendo o edifício também da autoria de Ernesto Koorodi e galardoado com o Prémio Valmor em 1917, e a partir de 1928 numa residência que mandou construir, da autoria de António Rodrigues Silva Júnior, localizada na Rua de São Sebastião da Pedreira.[8][9]

Ativismo[editar | editar código-fonte]

De ideais republicanos e defensora dos direitos da mulher, durante a Primeira República Portuguesa, Estefânia Macieira travou amizade e correspondência com várias figuras da esfera política portuguesa e internacional, como Afonso Costa, Augusto de Vasconcelos, Bernardino Machado,[10] Elzira Dantas Machado, João de Melo Barreto,[11] Ana de Castro Osório, General Norton de Matos, Ester Norton de Matos,[12] António Maria da Silva,[13] Ana Augusta de Castilho, Maria Veleda, Amélia Trancoso Leote do Rego, Eugène Boris[14] ou ainda o senador italiano Angelo Pavia,[15] tendo acompanhado o seu marido nas várias viagens que este realizou com a comitiva republicana portuguesa a Paris, Madrid e Roma.[16]

Posteriormente, decidida a prestar apoio moral e material aos militares que haviam sido mobilizados pelo Corpo Expedicionário Português, durante a Primeira Guerra Mundial, e às suas famílias que haviam aderido ao esforço de guerra e/ou necessitavam de ajuda, não tendo à época direitos que garantissem a sua independência financeira, o livre acesso à educação ou a uma profissão da sua escolha, Estefânia Macieira aderiu à Cruzada das Mulheres Portuguesas (CMP), assumindo, ao lado de Palmira Pádua, o cargo de secretária geral do movimento de beneficência exclusivamente feminino.[17][1] Nos anos seguintes, tornou-se responsável pela criação do núcleo do movimento em Angola e na correspondência com vários movimentos e associações femininos e feministas de França.[2]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Esteves, João (1998). As origens do sufragismo português: a primeira organização sufragista portuguesa, a Associação de Propaganda Feminista (1911-1918). [S.l.]: Editorial Bizâncio 
  2. Revista portuguesa de história. [S.l.: s.n.] 2006 
  3. Fiolhais, Carlos; Simões, Carlota; Martins, Décio (1 de maio de 2013). História da ciência luso-brasileira: Coimbra entre Portugal e o Brasil. [S.l.]: Imprensa da Universidade de Coimbra / Coimbra University Press 
  4. «Origens Familiares: Maria Germana Dias da Silva Moreira Tânger Correia». Fundação António Quadros 
  5. Paiva, Pedro (6 de janeiro de 2019). «Prémio Valmor de 1910 – Casa de António Macieira -Demolido (1961)». Histórias de Bolso 
  6. «Passaporte diplomático de António Macieira e sua esposa Estefânia Macieira». Arquivo Histórico Parlamentar. 1917 
  7. «Diário da Câmara de Deputados, Sessão Nº19, p. 1 (1919-07-04)». Debates Parlamentares. 1919 
  8. Marques, António Henrique R. de Oliveira (1982). História de Portugal, desde os tempos mais antigos até à presidência do Sr. General Eanes: manual para uso de estudantes e outros curiosos de assuntos do passado pátrio. [S.l.]: Palas Editores 
  9. «António Silva Júnior: Alçados e plantas de habitação para Estefânia Macieira». Arquivo Digital da Câmara Municipal de Cascais. 1928 
  10. «Carta de Bernardino Machado a Estefânia Macieira 1925-01-01». Arquivo Histórico Parlamentar. 1925 
  11. «Carta de João Melo Barreto a Estefânia Macieira 1921-05-19». Arquivo Histórico Parlamentar. 1921 
  12. «Ofício de Ester Norton de Matos a Estefânia Macieira». Arquivo Municipal de Ponte de Lima. 1916 
  13. «Carta de António Maria da Silva a Estefânia Macieira 1921-11-13». Arquivo Histórico Parlamentar. 1921 
  14. «Carta de Eugène Boris a Estefânia Macieira 1921-05-31». Arquivo Histórico Parlamentar. 1921 
  15. «Carta de Angelo Pavia a Estefânia Macieira 1921-06-01». Arquivo Histórico Parlamentar. 1921 
  16. «Passaporte diplomático de António Macieira e Estefânia Macieira». Arquivo Histórico Parlamentar. 1917 
  17. «Correspondência e relação das quotas de adesão à Cruzada das Mulheres Portuguesas». Arquivo Municipal de Ponte de Lima. 1916