Eugenia Osterberger

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Eugenia Osterberger
Eugenia Osterberger
Eugenia Osterberger dirixindo unha obra, nunha foto publicada na portada da partitura de Insinuante
Nascimento 20 de dezembro de 1852
Santiago de Compostela
Morte 8 de fevereiro de 1932 (79 anos)
Nice
Cidadania Espanha
Ocupação compositora, pianista
Instrumento piano

Prudencia Eugenia Juana Osterberger Luard, conhecida simplesmente como Eugenia Osterberger, nascida em Santiago de Compostela a 20 de dezembro de 1852 e falecida em Niza a 8 de fevereiro de 1932, foi uma compositora galega do romanticismo. Filha de uma corunhesa e de um gravador e litógrafo alsaciano, Eugenia Osterberger logo mostrou interesse pela música, aprendendo desde menina a tocar o piano. Anos depois do seu regresso, depois de formar-se em França, casou-se com o engenheiro francês Francisco Saunier e instalou-se na cidade da Corunha. Na cidade herculina Osterberger manteve relação não só com destacadas personalidades da música galega do seu tempo, mas também da literatura, como Emilia Pardo Bazán, integrando na sociedade El Folk-Lore Gallego, que era presidida pela própria Emilia. Pelas suas trabalho no campo da música foi nomeada membro correspondente da Real Academia Galega quando esta se fundou em 1906. Em 1908 transferiu-se com a sua família à cidade de Niza, onde residiu até a sua morte.

A sua obra, em boa parte desconhecida, foi publicada pela editora de Canuto Berea na Corunha (editando obras puramente instrumentais), F. Laurens em Paris e as editoras de Benito Zozaya e Casa Dotesio em Madrid. As poucas obras conhecidas da compositora compostela incluem obras para piano e canções de salão para voz e piano. Além de de destacar na sua produção musical, Eugenia Osterberger participou em diversas iniciativas de dignificação da cultura galega.[1]

Durante os anos em que residiu na Corunha salienta-se também a sua actividade pedagógica, contando-se entre as suas alunas Pilar Castillo, que logo seria uma pianista reconhecida internacionalmente e que possivelmente ocupou a cátedra de piano em Madrid.[2]

Eugenia Osterberger e a intelectualidade galega do seu tempo[editar | editar código-fonte]

Sofía Casanova, escritora e amiga de Osterberger.

Osterberger manteve relações não apenas com personalidades destacadas da música galega de sua época, mas também da literatura, como Emilia Pardo Bazán. Na Corunha, no final do século XIX, uma importante elite cultural estava preocupada com a salvaguarda da língua e da tradição galegas. Eugenia Osterberger não era estranha a esta inquietação, compondo obras inspiradas em poemas por personalidades que participaram dessa tendência e utilizando a língua galega.[3] Osterberger passaria a fazer parte da sociedade El Folk-Lore Gallego, presidida pela própria Bazán.[4] Suas contribuições no campo da música lhe garantiram uma nomeação como membro correspondente da Real Academia Galega quando a mesma foi fundada em 1906.[5][6]

Pode-se também salientar sua relação com a escritora e jornalista Sofía Casanova, a quem dedicou o poema Al fondear en la Coruña la Escuadra Francesa, e com quem teve correspondência. Ademais, Sofía Casanova possivelmente levou consigo as partituras das obras de Osterberger e outros músicos galegos a fim de divulgar seu trabalho na Polônia, tocadas por seu cunhado Josef Lutosławski, pai do que seria o famoso compositor e maestro polonês Witold Lutosławski. A relação de amizade entre a compositora e a escritora é demonstrada em uma carta publicada em La Voz de Galicia em 9 de setembro de 1898, na qual Casanova foi complacente se lamenta pela Guerra Hispano-Americana, e na qual seu carinho mútuo é apreciado.[7]

Possivelmente também estabeleceu relações com a escritora ourense Filomena Dato, já que esta era muito amiga de Sofía Casanova e residia nas proximidades da cidade. Ademais, Osterberger pode-se inspirar em um poema seu para sua melodia galega Neve.[8]

Por sua participação na Liga Gallega, grupo regionalista na Corunha, Osterberger também manteve contacto com figuras notáveis do Rexurdimento, como Manuel Murguía, Eduardo Pondal e Andrés Martínez Salazar, que assistiriam à despedida de Casanova celebrada na casa de Osterberger, na qual dedicaram à escritora e jornalista um pergaminho artístico.[9]

Obra[editar | editar código-fonte]

A obra de Eugenia Osterberger, em boa parte desconhecida, foi publicada pela editora de Canuto Berea Rodríguez na Corunha (editando obras puramente instrumentais), F. Laurens em Paris, e as de Benito Zozaya e Casa Dotesio en Madrid. As poucas obras conhecidas da compositora incluem obras para piano solo e canções de salão para voz e piano.[4][10] A obra de Eugenia Osterberger encontra-se distribuída em diversos arquivos e bibliotecas na Espanha e na França: o Fondo Cartelle da Biblioteca Municipal de Estudos Locais da Corunha, o Fondo Berea do Arquivo da Deputação da Corunha, na Real Academia Galega de Belas Artes, no Arquivo do Círculo das Artes de Lugo, na Biblioteca Carlos Martínez Barbeito da Fundação Barrié, no Real Conservatório Superior de Música de Madrid, na Biblioteca Nacional da Espanha, na Biblioteca de Castela e Leão, no Arquivo Histórico de União Musical Espanhola, e na Biblioteca Nacional da França.[11] Contudo, desconhece-se a dimensão real da súa obra, já que logo do estudo realizado por Beatriz López-Suevos e Rosario Martínez apenas se conheciam poucas dúzias de composições, uma das quais tinha o título de Opus 158.[12]

Osterberger contribuiu para a criação de uma música acadêmica galega de raíz popular, com uma obra composta principalmente para piano solista e canções ou melodias galegas para voz e piano.[12] Segundo Rosario Martínez, a obra de Osterberger "está à mesma altura que a dos compositores varões de seu tempo, como Baldomir ou Chané",[13], situando-a mesmo em um nível superior à música do próprio Chané ou à de Xoán Montes, já que, nas próprias palavras de Rosario Martínez, "fez música de outros estilos mais europeus que eles não fizeram".[14] A formulação da produção de Osterberger, da mesma maneira que a deles, tem como ponto de partida a reivindicação e recuperação da cultura própria em diálogo com as correntes europeias de seu tempo. Nas palavras de Martínez: "Recuperam o autóctone, o nosso, mais numa cultura que emana do Romanticismo".[13] A música de Osterberger é muito inspirada pelos estilos que em seu momento eram tendência na Europa, mas, não obstante, a compositora buscou nas letras de suas composições vocais a raiz popular e tradicional de sua Galiza natal.[12]

Eugenia Osterberger e a intelectualidade galega do seu tempo[editar | editar código-fonte]

Osterberger manteve uma relação não apenas com destacadas personalidades da música galega de sua época, mas também com literatura, como Emilia Pardo Bazán. Na Corunha, no final do século XIX, havia uma importante elite cultural preocupada em proteger a própria língua e tradição da Galiza. Eugenia Osterberger não estava alheia a essa preocupação, compondo obras inspiradas em poemas de personalidades que participavam dessa corrente e que usavam a língua galega.[3] Osterberger se tornaria parte da sociedade El Folk-Lore Gallego, presidida por Emilia Pardo Bazán.[4] Por suas contribuições no campo da música, ela foi nomeada membro correspondente da Royal Galician Academy quando foi fundada em 1906.[15][16]

Referências

  1. «Eugenia Osterberger». Xunta de Galicia (em galego) 
  2. Nanina (2007). «Pilar Castillo Sánchez. Pianista de sona nos comezos do século XX.». Álbum de mulleres (em galego) 
  3. a b López-Suevos Hernández & Martínez Martínez 2017, p. 38.
  4. a b c Andrade Malde, Julio (24 de abril de 2014). «Eugenia Osterberger: recuperar la memoria histórica» (em espanhol). mundoclasico.com. Consultado em 2 de janeiro de 2018 
  5. Real Academia Galega (ed.). «'Ausencia. Melodía gallega', de Eugenia Osterberger». Consultado em 2 de janeiro de 2018 
  6. «La Real Academia Gallega». Galicia: revista quincenal ilustrada (em espanhol) (15). Madrid. 1 de março de 1907. 12 páginas. Consultado em 16 de março 2018 
  7. López-Suevos Hernández & Martínez Martínez 2017, p. 42.
  8. López-Suevos Hernández & Martínez Martínez 2017, p. 43-44.
  9. López-Suevos Hernández & Martínez Martínez 2017, p. 39.
  10. Balado, Ramón (17 de junho de 2014). «Eugenia Osterberger». El Ideal Gallego (em espanhol). Consultado em 2 de janeiro de 2018 
  11. López-Suevos Hernández & Martínez Martínez 2017, p. 55.
  12. a b c Pérez Pena, Marcos (6 de junho de 2017). «Unha muller non podía tocar música. Só un pouquiño para adornar o seu currículo e casar ben». Praza Pública (em galego). Consultado em 19 de fevereiro de 2018 
  13. a b Fraga, Xesús (12 de junho de 2014). «Galicia redescubre a su olvidada gran compositora del siglo XIX». La Voz de Galicia (em espanhol). Consultado em 13 de fevereiro de 2018 
  14. «"Eugenia Osterberger ten moita importancia para a historia da música galega"» (em galego). Sermos Galiza. 6 de março de 2017. Consultado em 14 de fevereiro de 2018 
  15. Real Academia Gallega (ed.). «"Ausencia. Melodía gallega", de Eugenia Osterberger». Consultado em 2 de janeiro de 2018 
  16. «La Real Academia Gallega». Madrid. Galicia : revista quincenal ilustrada: (15). 12 páginas. 1 de março de 1907. Consultado em 1 de março de 2018 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • López-Suevos Hernández, Beatriz; Martínez Martínez, María del Rosario (2013), «Eugenia Osterberger (Mme. Saunier). Una aportación femenina a la creación musical gallega», Asociación Cultural de Estudios Históricos de Galicia, Nalgures, ISSN 1885-6349 (em espanhol), no. 9, pp. 151-232 
  • López-Suevos Hernández, Beatriz; Martínez Martínez, María del Rosario (2017), Eugenia Osterberger. A compositora galega da Belle Époque (1852-1932), ISBN 978-84-944008-6-5 (em galego), Ourense: Ouvirmos 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]