Everardo de Friuli

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Everardo de Friuli
Everardo de Friuli
Nascimento 810
Desconhecido
Morte 16 de dezembro de 866
Reino Lombardo
Sepultamento Cysoing
Cidadania República de Veneza
Progenitores
Cônjuge Gisela
Filho(a)(s) Berengário I, Unruoch III of Friuli, Ingeltrud, Heilwise of Friuli, Adelardo, Hatwige von Friaul, Judith von Friaul
Irmão(ã)(s) Berengário de Tolosa
Ocupação feudatário
Título duke of the March of Friulia
Religião Igreja Católica

Everardo I de Friuli (c. 820 - Itália, 16 de dezembro de 866), também conhecido como Eberardo, Eberhard ou Evrad, ostentou o título de duque de Friuli a partir de 846. Foi uma importante figura política, militar e cultural do Sacro Império Romano Germânico, amigo de Sedúlio Escoto, Rábano Mauro, Anastacio Bibliotecário, Incmaro de Reims e mecenas de Godescalco de Orbais.[1][2] Casou-se com Gisela, filha de Luís, o Pío.

Família[editar | editar código-fonte]

Everardo herdou o título de duque do Friuli de seu pai Unruque II de Friuli, um membro de uma ilustre família franca ou alemã e alto servidor público da corte de Carlos Magno, que se retirou a um mosteiro na última etapa da sua vida. A sua mãe foi Engeltruda de Paris, filha de Begão, conde de Tolosa e de Paris, e de Alpaida. O seu irmão foi Berengário de Tolosa.

Everardo foi admitido na corte de Luís, o Piedoso e educado na Escola Palatina fundada por Carlos Magno e dirigida por Alcuino de Iorque, seguindo o sistema de Trivium e Quadrivium, período no qual desenvolveu o seu talento para a ciência bem como o seu sentido de piedade. Ademais, iniciou a construção de uma grande biblioteca cujos livros listou detalhadamente em seu testamento.


Guerras e mediações[editar | editar código-fonte]

Quando cresceu, Everardo de Friuli iniciou a sua participação em numerosas expedições militares. Com os títulos de duque de Friuli e conde de Treviso, defendeu a sua terra contra as invasões dos búlgaros e, após 825, conseguiu expulsá-los definitivamente da península itálica. Everardo consegue desfrutar de um longo período de estabilidade e crescimento cultural num território que cedo se eleva a marca, somente a crise do império trouxe um período de instabilidade com a invasão intermitente dos húngaros que fizeram várias incursões sem ânimo de se estabelecer se não roubar, matar e incendiar.[3]

Foi fiel ao imperador, inclusive quando teve que enfrentar a rebelião de seu próprio filho entre 830 e 839. Usou a sua influência com Lotario I, filho mais velho de Luís, o Piedoso, para conseguir uma reconciliação entre pai e filho conseguindo que Lotário se deslocasse a Worms para implorar o perdão a seu pai. Graças a suas habilidades diplomáticas era sem dúvida o mais adequado para o difícil papel de mediador e essa confiança renovou-se quando foi partidário de Lotario I à morte do imperador Luís, o Piedoso em 840 recebendo em contrapartida as possessões de Vêneto. Em 842, Lotário I reclama-o de novo para transladar a sua disposição de chegar a um acordo com seus irmãos Luis, o Germânico e Carlos, o Calvo, no ano de 856 obtém em Mantua uma confirmação sobre suas possessões venecianas e novamente em 860 é um das testemunhas da paz temporária que assinam os monarcas em Coblença.[4]

Casal e vida em Cysoing[editar | editar código-fonte]

Como compensação pelos seus serviços, Luís, o Piedoso concedeu a Everardo de Friuli a mão de sua filha, a princesa Gisela, que teve com sua segunda mulher, Judite da Baviera. Everardo e Gisela tiveram os seguintes filhos:

  • Everardo (c. 837- após 20 de junho de 840);[5]
  • Ingeltruda (837/840 - 870), possível esposa de Henrique de Franconia;
  • Unruque III de Friuli (c. 840 - 13 de julho de 874);
  • Berengário de Friuli (c. 840-924), rei de Itália e imperador do Sacro Império Romano Germânico;
  • Adelardo (f. após 1 de julho de 874), abade de Cysoing;
  • Raul († 1 de maio de 892), abade laico da abadia de Cysoing e da abadia de Saint-Vaast d'Arras. Em 883, o rei Carlomano II doa-lhe o Artois e o Ternois;
  • Alpaida, morreu jovem e foi enterrada na Abadia Cysoing;
  • Hedvige (f. 895), que se casou por volta de 874 Hucaldo de Ostrevant (850 - 890), em seguida, talvez Roger I de Laon (v. 867 - † 926) conde de Laon;
  • Gisela († após 863), freira na abadia de Saint-Sauveur em Brescia;
  • Judite, esposa de Arnulfo I de Baviera.

Entre o rico dote que trazia Gisela, o conde recebeu também o controle do fisco de Cysoing; naquela época um fisco era uma propriedade rural separada do domínio real; Nas possessões viviam camponeses, entre os quais alguns eram colonos, isto é, independentes, enquanto os outros, os servos, dependiam administrativamente do abade.[6] O fisco real de Cysoing, situado no centro do condado de Pévèle, era um dos mais belos da região.[7]

Acordo de Verdún[editar | editar código-fonte]

Lotario I e Luis, o Germânico na batalha de Fontenoy. Miniatura das Grandes crónicas de de França, s XV

A actividade de Everardo de Friuli não se limitava somente a controlar o fisco de Cysoing, também tinha outras ocupações em diferentes territórios do império. Depois da morte do imperador Luís, o Piedoso em 840, desencadeou-se uma guerra entre Lotário I e seus dois irmãos, Luis o Germânico e Carlos, o calvo. Everardo opôs-se firmemente a esta guerra fraticida e pôs todo sua empenho para que chegasse o seu fim. Após a sangrenta batalha de Fontenoy-em-Puisaye (25 de junho de 841) organizou um encontro entre Lotário e seus irmãos para negociar a paz. A reunião preparatória iniciou-se em 842 em Milin, perto de Châlons-em-Champagne. Decidiu-se dividir o império entre os três irmãos. Os negociadores, entre os quais encontrava-se Everardo, tentaram acordar uma partilha equitativa do território. Em agosto de 843 puderam apresentar uma resolução aos três reis em Verdún.

Guerra contra os sarracenos[editar | editar código-fonte]

Depois do acordo, Everardo de Friuli, chamado por Radelquis I de Benevento, regressou com urgência a Itália para fazer frente à ameaça dos sarracenos, que se tinham convertido numa ameaça para os estados da península e tinham saqueado Roma várias vezes. Everardo, em sua condição de duque do Friuli, foi nomeado capitão e guia da resistência, que se prolongou até finais de 851.

O abade Bataille assinalou que «Everardo tinha uma reputação de soldado valoroso com uma hábil condução nesta batalha. Na tradição de Carlos Magno, Everardo obriga aos vencidos a converter-se ao cristianismo, ensinando-lhes o evangelho».[carece de fontes?]

Testamento e morte[editar | editar código-fonte]

De volta a seus domínios em 858, foi um dos embaixadores que o imperador Luis II, o Jovem enviou a Ulm, à corte de seu tio Luis, o Germânico. A partir desta data não se sabe bem mais de Everardo aparte dos eventos narrados em seu Testimonanza. A Testimonanza foi redigida no castelo de Musiestro, no condado de Treviso, em 867; Everardo e Gisela não só deixaram depoimento de suas terras e propriedades através de um testamento, se não que graças a este documento ficou também recolhida a identidade de diferentes membros de sua família e da realeza. Com o consenso de sua esposa, Everardo subdividi-o seus bens entre seus sete filhos. O mais velho, Unruque III de Friuli, recebeu as propriedades na Lombardía e Alemanha; o segundo, Berengario de Friuli, obteve Annappes com todas as dependências, à excepção de Gruson e outras propriedades no Hesbaye e Condrost; Adelardo, o terceiro, as terras de Cysoing, Camphin-em-Pévèle, Gruson e Somain, com a promessa de respeitar as posses da abadia de Cysoing nesta região; o quarto filho, Rodolfo, recebeu finalmente Vitry-em-Artois e Mestucha, mas a igreja de Vitry foi doada à abadia de Cysoing.

As três filhas de Everardo, Ingeltruda, Judite e Hedviges, obtiveram vários domínios: Ermen, Marshen, Balghingham, Heliwsheim, Hostrenheim, Luisinga, Wendussa e Engerresteim. A cópia incluía a outra filha, Gisela, mas esta morreu no momento da redacção do documento, no que também se repartiram equitativamente as jóias do duque e demais objetos preciosos de seu capela, bem como livros de uma extensa biblioteca que constava de cinquenta volumes teológicos, colecções de leis, livros da arte da guerra e diferentes tratados geográficos, históricos, de medicina e de ciência. O testamento está datado em 866, mesmo ano em que morreria Everardo de Friuli, no dia 16 de dezembro.

Referências

  1. Garver (2009), p. 94
  2. Kershaw (2007), p.102
  3. «Título ainda não informado (favor adicionar)». web.archive.org 
  4. «Eberardo, marchese del Friuli». Dizionario Biografico degli Italiani. Volume 42 
  5. La Rocca y Provero (2000), p. 243
  6. Verdon (2006), p. 116
  7. Les sires de Cysoing par Thierry Leuridan, p. 11