Fawzia Koofi

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Fawzia Koofi
Fawzia Koofi
Fawzia Koofi em 2011
Membro da Assembleia Nacional
Período 2005 - presente
Vice-presidente Assembleia Nacional do Afeganistão
Membro da Wolesi Jirga (Casa do Povo) da Província de Badakhshan
Período 2005
Dados pessoais
Nome completo فوزیه کوفی
Nascimento 1975 (49 anos)
Província de Badakhshan
Nacionalidade afegãa
Alma mater Universidade de Cabul

Fawzia Koofi (em persa: فوزیه کوفی; Província de Badakhshan, 1975) é uma política e feminista afegã. Ela foi a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente do Parlamento do Afeganistão.

Fawzia foi membro da delegação afegã que negociou um tratado de paz com o grupo Talibã, em Doha, no Qatar, além de ter sido membro do Parlamento em Kabul e vice-presidente da Assembleia Nacional do país.[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Fawzia nasceu no distrito de Kuf Ab, na Província de Badakhshan, em 1975. Nascida em uma família polígama, Fawzia foi rejeitada por seus pais por causa de seu gênero. Seu pai era membro do parlamento e tinha se casado com uma mulher bem mais jovem e sua mãe queria manter a afeição do marido. Assim, no dia em que nasceu, Fawzia foi deixada embaixo do sol para morrer, mas Fawzia resistiu. Sua mãe disse anos mais tarde que não queria ter outra menina para que sua filha não sofresse o mesmo que ela sofrera.[3]

Durante a Guerra Civil no Afeganistão, durante os anos 1990, as ruas eram perigosas, mas sua mãe garantiu que ela fosse à escola. Apesar de ter medo de enviar uma menina para estudar fora de casa, sua mãe a enviava todos os dias e pedia que ela não fosse eleita representante de classe, pois queria a filha viva. Ela foi a única menina da família a frequentar a escola e depois a faculdade. Quando o Talibã tomou o poder do país nos anos 1990, todas as meninas, jovens e mulheres adultas foram proibidas de estudar. Fawzia é fluente em dari, pashto, inglês e urdu.[3]

Seu pai foi membro do parlamento por 25 anos, mas morreu em 1989, já perto do fim da Guerra do Afeganistão (1979–1989), assassinado por um mujahidin.[1] Fawzia tem bacharelado em Direito e Ciências políticas pela Universidade de Kabul, com mestrado em Relações Internacionais e Direitos humanos pela Faculdade de Diplomacia e Relações Internacionais de Genebra[4], mas originalmente Fawzia queria ser médica. Ela acabou escolhendo estudar administração e ciêncais políticas para se tornar membro da UNICEF, onde trabalhou com refugiados, mulheres e crianças marginalizadas e atuou como agente de proteção infantil para a organização entre 2002 e 2004.[5]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Secretária de Estado Condoleezza Rice com membros do Parlamento Afegão, Fawzia Koofi e Sayed Hamed Gailani, em 2006.

Sua carreira política começou em 2001, logo após a queda do regime do Talibã. Ela foi a líder da campanha "De volta à escola", que promovia a educação de meninas pelo país. De 2002 a 2004, Fawzia trabalhou na UNICEF, como agente de proteção infantil, que visava proteger crianças de violência, exploração e abuso.[5]

Nas eleições de 2005, ela foi eleita membro do Wolesi Jirga, a Casa do Povo, uma câmara baixa pertencente à Assembleia Nacional do Afeganistão, pelo distrito de Badakhshan. Fawzia foi a primeira mulher a ser vice-presidente da câmara baixa, cujo presidente também carrega o título de vice-presidente da Assembleia Nacional. Ela foi reeleita em 2010, sendo uma das 69 mulheres da assembleia.[1]

No Parlamento, ela se concentrou principalmente nos direitos das mulheres, mas também legislou sobre a construção de estradas para conectar vilas remotas a instalações educacionais e de saúde. Em 2009, Fawzia elaborou a legislação para Eliminação da Violência Contra as Mulheres (EVAW) no país. Assinado como decreto, o projeto precisava ser votado para se tornar um documento oficial da constituição afegã. Ele foi apresentado ao Parlamento em 2013 e foi bloqueado pelos membros conservadores que alegaram que alguns artigos da lei eram contra o Islã. No entanto, a lei está sendo implementada em todas as 34 províncias do Afeganistão e os processos judiciais estão sendo decididos com base na lei.[1][5]

Fawzia foi vítima de várias tentativas de assassinato, incluindo uma em 8 de março de 2010, perto da cidade de Tora Bora.[6] Fawzia pretendia concorrer à presidência do Afeganistão nas eleições presidenciais de 2014 com uma plataforma baseada em direitos iguais para as mulheres, promovendo a educação universal e a oposição à corrupção política, mas em julho de 2014, ela declarou que a comissão eleitoral mudou a data de registro para outubro 2013 e, como resultado, ela não se qualificou para o requisito de idade mínima de 40 anos.[7]

Ela foi reeleita membro do Parlamento em 2014, mas não atua mais como vice-presidente. Atualmente ela é presidente da Comissão de Mulheres, Sociedade Civil e Direitos Humanos do Afeganistão.[8] Em 2020, Fawzia passou a integrar a equipe de 21 membros que deveria representar o governo do Afeganistão nas negociações de paz com o Talibã. Em 14 de agosto de 2020, ela foi baleada no braço por homens armados que tentaram assassiná-la perto de Cabul, quando ela voltava de uma visita à província de Parwan, no norte, com sua irmã, Maryam Koofi.[9][10]

Em meio ao rápido avanço do Talibã durante o verão de 2021 pelo país, quando questionada em uma entrevista sobre seus pensamentos sobre a retirada das tropas dos Estados Unidos do Afeganistão, Fawzia disse que os EUA haviam abandonado as mulheres do Afeganistão e que está muito decepcionada com o que está acontecendo.[11][12]

Em 30 de agosto de 2021, Fawzia fugiu do Afeganistão em um dos últimos voos norte-americanos a deixar o país com refugiados. Ela estava sob prisão domiciliar a mando do Talibã, mas conseguiu fugir da vigilância do grupo radical e desembarcou no Qatar, onde se juntou às duas filhas.[13]

Vida pessoal[editar | editar código-fonte]

Fawzia foi casada com um engenheiro e professor de química, chamado Hamid. Apesar de seu casamento ter sido arranjado pela família, ela não desaprovou a união. Apenas dez dias depois do casamento, soldados do Talibã prenderam seu marido na rua e o encarceraram. Uma vez, ao tentar visitá-lo, um soldado do Talibã tentou apedrejá-la por ela ainda usar o esmalte de sua festa de casamento.[3] Na cadeia, Hamid acabou contraindo tuberculose e morreu pouco depois de sua soltura, em 2003.[1]

Reconhecimento[editar | editar código-fonte]

Em dezembro de 2013, foi eleita uma das 100 mulheres mais influentes do mundo pela BBC.[14]

Referências

  1. a b c d e Georges Malbrunot, ed. (25 de fevereiro de 2011). «Fawzia, un défi aux talibans». Le Figaro. Consultado em 9 de setembro de 2021 
  2. BBC (17 de janeiro de 2012). «Parlamentar afegã desafia preconceito e quer disputar presidência». G1. Consultado em 17 de janeiro de 2012 
  3. a b c d «A 'Favored Daughter' Fights For The Women Of Afghanistan». NPR. 22 de fevereiro de 2012. Consultado em 9 de setembro de 2021 
  4. «Biography Of Fawzia Koofi, Member Of The Negotiating Team Of The Islamic Republic Of Afghanistan». Ministério da Paz do Afeganistão. Consultado em 9 de setembro de 2021 
  5. a b c «Guests of First Lady Laura Bush». ABC News. 31 de janeiro de 2006. Consultado em 9 de setembro de 2021 
  6. Bryony Gordon, ed. (23 de fevereiro de 2012). «'The Taliban want to kill me. But I am fighting for my daughters' freedom' Fawzia Koofi hopes to be Afghanistan's first woman president. The Taliban are determined to stop her». The Daily Telegraph. Consultado em 9 de setembro de 2021 
  7. «Fawzia Koofi, the female politician who wants to lead Afghanistan». New Statesman. 18 de dezembro de 2013. Consultado em 9 de setembro de 2021 
  8. «Fawzia Koofi on Afghanistan Women's Rights Under Ashraf Ghani». Fawzia Koofi Site Oficial. Consultado em 9 de setembro de 2021 
  9. «Female Afghan peace negotiator wounded in assassination bid». The Guardian. Consultado em 9 de setembro de 2021 
  10. Susan Sachs, ed. (21 de janeiro de 2011). «Fawzi Koofi: The face of what Afghanistan could be». The Globe and Mail. Consultado em 9 de setembro de 2021 
  11. «She risked everything for women's rights in Afghanistan. Now she could lose it all». CBC Network. Consultado em 9 de setembro de 2021 
  12. Christiane Amanpour (ed.). «Fmr. Afghan lawmaker: My heart 'broken into pieces». CNN. Consultado em 9 de setembro de 2021 
  13. a b Ellen Francis, ed. (31 de agosto de 2021). «An Afghan politician spent her life working for women's rights. She barely made it out of the country». The Washington Post. Consultado em 9 de setembro de 2021 
  14. «100 Women: Who took part?». BBC News (em inglês). 20 de outubro de 2013. Consultado em 18 de dezembro de 2022 

Veja também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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