Forte do Pesqueiro dos Meninos (Vila de São Sebastião)

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Forte do Pesqueiro dos Meninos, Terceira.
Forte do Pesqueiro dos Meninos.
Forte do Pesqueiro dos Meninos (Damião Pego, Agosto de 1881).

O Forte do Pesqueiro dos Meninos localiza-se na freguesia da Vila de São Sebastião, concelho de Angra do Heroísmo, na costa sul da ilha Terceira, nos Açores.

Em posição dominante sobre este trecho do litoral, constituiu-se em uma fortificação destinada à defesa deste ancoradouro contra os ataques de piratas e corsários, outrora frequentes nesta região do oceano Atlântico. Cruzava fogos com o Forte do Bom Jesus (à sua direita) e com o antigo Forte do Porto Novo (ou de São Sebastião), desaparecido, para defesa da baía do Porto Novo.

História[editar | editar código-fonte]

Foi uma das fortificações erguidas na Terceira no contexto da crise de sucessão de 1580 pelo então corregedor dos Açores, Ciprião de Figueiredo e Vasconcelos, conforme o plano de defesa da ilha elaborado por Tommaso Benedetto em 1567, após o ataque do corsário francês Pierre Bertrand de Montluc ao Funchal (outubro de 1566), intentado e repelido em Angra no mesmo ano (1566):

"Não havia naquele tempo [Crise de sucessão de 1580] em toda a costa da ilha Terceira alguma fortaleza, excepto aquela de S. Sebastião, posto que em todas as cortinas do sul se tivessem feito alguns redutos e estâncias, nos lugares mais susceptíveis de desembarque inimigo, conforme a indicação e plano do engenheiro Tomás Benedito, que nesta diligência andou desde o ano de 1567, depois que, no antecedente de 1566, os franceses, comandados pelo terrível pirata Caldeira, barbaramente haviam saqueado a ilha da Madeira, e intentado fazer o mesmo nesta ilha, donde parece que foram repelidos à força das nossas armas." [1]

A seu respeito, DRUMMOND registou: "Mais adiante [do Forte do Bom Jesus], e na baía de Porto Novo, edificou-se o forte denominado Pesqueiro dos Meninos; (...)"[1]

Esteve guarnecido com tropas luso-francesas, na previsão da expedição de D. Álvaro de Bazán, aí intentar o desembarque (1583).

No contexto da Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1714) encontra-se referido como "O Reduto do Pesqueiro dos Meninos." na relação "Fortificações nos Açores existentes em 1710".[2]

Com a instalação da Capitania Geral dos Açores, o seu estado foi assim reportado em 1767:

"12º - Forte do Pesqueiro dos meninos. Foi reformado de novo; tem quatro canhoneiras e quatro peças de ferro boas com seus reparos capazes e para se guarnecer precisa quatro artilheiros e dezeseis auxiliares."[3]

Encontra-se referido como "11. Forte de Pesqueiro dos Meninos" no relatório "Revista aos fortes que defendem a costa da ilha Terceira", do Ajudante de Ordens Manoel Correa Branco (1776), que apenas assinala: "Tambem se acha redificado de novo, náo careçe de obra algua."[4]

No contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834) foi restaurado e guarnecido, sendo abandonado ao final do conflito.

A "Relação" do marechal de campo Barão de Bastos em 1862 informa que se encontra incapaz desde muitos anos.[5]

O tombo de 1881 encontrou-o abandonado e em ruínas.[6]

Em nossos dias subsistem troços das antigas muralhas nos lados oeste e sul. A cantaria de pedra da muralha encontra-se bastante erodida, com as argamassas à vista, embora em alguns locais estas já tenham desaparecido. São visíveis restos de argamassa nos lados sul e sueste consolidados na rocha de sustentação.

No lado este são visíveis ainda indícios do que terá sido uma represa de água.

Características[editar | editar código-fonte]

Mais propriamente um reduto flanqueado, do tipo abaluartado, apresentava planta triangular, adaptado ao terreno, ocupando 279,5 metros quadrados. Em cantaria de pedra, os seus muros eram rasgados por quatro canhoneiras (duas em cada face voltada para o mar). No prolongamento dessas faces, possuía parapeitos destinados a fuzilaria.[6]

No seu interior erguiam-se a casa de guarda e o Paiol, pelo lado de terra.

Referências

  1. a b Anais da Ilha Terceira, tomo I, cap. IV.
  2. "Fortificações nos Açores existentes em 1710" in Arquivo dos Açores, p. 178. Consultado em 8 dez 2011.
  3. JÚDICE, 1767.
  4. Revista aos Fortes que Defendem a costa da Ilha Terceira - 1776 Arquivado em 27 de dezembro de 2013, no Wayback Machine. in IHIT.pt. Consultado em 3 dez 2011.
  5. BASTOS, 1997:267.
  6. a b PEGO, 1881.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Anónimo. "Colecção de todos os fortes da jurisdição da Villa da Praia e da jurisdição da cidade na Ilha Terceira, com a indicação da importância da despesa das obras necessárias em cada um deles (Arquivo Histórico Ultramarino)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LI-LII, 1993-1994.
  • Anónimo. "Revista aos Fortes que Defendem a Costa da Ilha Terceira – 1776 (Arquivo Histórico Ultramarino)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LVI, 1998.
  • BASTOS, Barão de. "Relação dos fortes, Castellos e outros pontos fortificados que se achão ao prezente inteiramente abandonados, e que nenhuma utilidade tem para a defeza do Pais, com declaração d'aquelles que se podem desde ja desprezar." in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LV, 1997. p. 267-271.
  • CASTELO BRANCO, António do Couto de; FERRÃO, António de Novais. "Memorias militares, pertencentes ao serviço da guerra assim terrestre como maritima, em que se contém as obrigações dos officiaes de infantaria, cavallaria, artilharia e engenheiros; insignias que lhe tocam trazer; a fórma de compôr e conservar o campo; o modo de expugnar e defender as praças, etc.". Amesterdão, 1719. 358 p. (tomo I p. 300-306) in Arquivo dos Açores, vol. IV (ed. fac-similada de 1882). Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1981. p. 178-181.
  • DRUMMOND, Francisco Ferreira. Anais da Ilha Terceira (fac-simil. da ed. de 1859). Angra do Heroísmo (Açores): Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1981.
  • FARIA, Manuel Augusto. "Ilha Terceira – Fortaleza do Atlântico: Forte do Pesqueiro dos Meninos". in Diário Insular, 31 de janeiro e 1 de fevereiro de 1998.
  • JÚDICE, João António. "Revista dos Fortes da Terceira". in Arquivo dos Açores, vol. V (ed. fac-similada de 1883). Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1981. p. 359-363.
  • MARTINS, José Salgado, "Património Edificado da Ilha Terceira: o Passado e o Presente". Separata da revista Atlântida, vol. LII, 2007. p. 36.
  • MOTA, Valdemar. "Fortificação da Ilha Terceira". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LI-LII, 1993-1994.
  • NEVES, Carlos; CARVALHO, Filipe; MATOS, Arthur Teodoro de (coord.). "Documentação sobre as Fortificações dos Açores existentes nos Arquivos de Lisboa – Catálogo". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. L, 1992.
  • PEGO, Damião; ALMEIDA JR., António de. Tombos dos Fortes da Ilha Terceira (Direcção dos Serviços de Engenharia do Exército). in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LIV, 1996.
  • VIEIRA, Alberto. "Da poliorcética à fortificação nos Açores: introdução ao estudo do sistema defensivo nos Açores nos séculos XVI-XIX". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987.
  • Registo Predial, inscrição nº 95.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]