Golpes de Estado na Turquia

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Golpes de Estado na Turquia pode referir-se a tomadas de poder militares ilegais ou constitucionais ou tentativas golpistas na Turquia. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, a Turquia tem sido palco de diversas tentativas de golpe de Estado, a última datada de julho de 2016 e que terminou em fracasso.

Contexto[editar | editar código-fonte]

Desde a fundação da República Turca até 2016, os militares turcos estiveram muito envolvidos na política turca. Os militares eram fortemente kemalistas e consideravam um dos seus papéis o guardião final das reformas de Atatürk, incluindo o secularismo, e da cooperação com o mundo ocidental em geral. As constituições turcas de 1924, 1961 e 1982 especificavam formalmente que o papel das forças armadas era proteger a Turquia contra ameaças internas e externas. Os militares eram populares e prestigiados como fiadores do Estado turco e da democracia multipartidária turca (após o seu estabelecimento efectivo após a Segunda Guerra Mundial).[1]

Cemal Gürsel, líder do golpe bem-sucedido de 1960

Os militares exerceram pela primeira vez o seu poder reservado no golpe de Estado de 1960. Houve estagnação econômica, uma aparente ascensão do Islã político e, em 1960, instabilidade e protestos contra o Partido Democrata, no poder. Alguns oficiais do Exército, dizendo temer mais agitação e o declínio do Kemalismo e da democracia, organizaram um golpe de Estado bem sucedido.[1] Os instigadores do golpe de Estado de 27 de maio de 1960 estabeleceram o General Cemal Gürsel, que não teve qualquer papel no golpe, como chefe de Estado, primeiro-ministro e Ministro da Defesa.[2] A junta militar devolveu o poder aos civis 17 meses depois, em outubro de 1961.

O golpe de Estado de 1971 foi organizado em 12 de março daquele ano por meio de um memorando. A década seguinte foi marcada por uma aguda instabilidade política que conduziria diretamente ao próximo golpe de Estado ocorrido em 12 de setembro de 1980, quando o exército turco, liderado pelo general Kenan Evren, orquestrou outro golpe e estabeleceu um regime militar que permaneceu até 1983.[2]

Em 28 de fevereiro de 1997 foi estabelecido o memorando militar turco através de decisões tomadas numa reunião do Conselho de Segurança Nacional Turco. Este memorando, imposto pela liderança das Forças Armadas da Turquia, com o apoio das forças seculares daquele país, lançou o processo que precipitou a demissão do primeiro-ministro islamista Necmettin Erbakan do Partido da Prosperidade e o fim do seu governo de coalizão. Como o governo de Necmettin Erbakan foi forçado a demitir-se, sem que houvesse dissolução do Parlamento ou suspensão da Constituição, o acontecimento foi por vezes descrito na Turquia como um golpe de Estado pós-moderno.[3]

Até o golpe fracassado de 2016, as forças armadas não estiveram efetivamente sob controle civil e, por vezes, governava diretamente a Turquia ou aparecia como uma ameaça para os governos civis que o faziam. Elementos das forças armadas encenaram ou tentaram diversas intervenções, quer golpes, quer ultimatos apoiados pela ameaça de um golpe, para forçar o Estado a agir mais de acordo com os desejos dos militares, ou da parte dos militares que encenaram a intervenção. Cada golpe ou ameaça foi apresentado como uma intervenção para restaurar a ordem democrática, a justiça e a unidade nacional. Se cada golpe ou ameaça, ou qualquer uma delas, foi justificado ou não, está sujeito a debate.[1]

Em 2002, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (Partido AK) chegou ao poder e o líder do partido, Recep Tayyip Erdoğan, tornou-se rapidamente o homem forte da Turquia. Além de ser muito autoritário, Erdoğan era mais pró-islâmico do que qualquer líder anterior da República. O primeiro enfrentamento ocorreu em 2007 com o E-memorandum, quando as forças armadas sugeriram outra intervenção na política civil, uma vez que o governo do AKP não estava a fazer o seu melhor para defender o republicanismo e o secularismo. Erdoğan e o AKP venceram a crise política e, numa aliança com o movimento Gülenista, expurgaram os militares dos oficiais secularistas.

Danos ao edifício do Parlamento Turco após o golpe fracassado de 2016

Em 2016, os militares tentaram derrubar o governo, embora significativamente os golpistas não tenham sido identificados como oficiais kemalistas (o governo turco afirma que elementos Gülenistas nas forças armadas foram os instigadores). Isto falhou, e Erdoğan conduziu outro expurgo das forças armadas, que já não são consideradas uma força independente na política turca ou uma ameaça ao governo, e voltaram a estar sob controle civil.[1][4]

Golpes de Estado[editar | editar código-fonte]

Tentativas e revoltas[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d Nil S. Satana (18 de outubro de 2022). «The New Civil-Military Relations in Turkey». Middle East Institute 
  2. a b «A Short History of Modern Turkey's Military Coups». TIME. 15 de julho de 2016. Cópia arquivada em 29 de abril de 2024 
  3. «Turkey's 'postmodern' coup, 23 years on» (em inglês). Anadolu Agency. 28 de fevereiro de 2020 
  4. Ahmed El Amraoui and Faisal Edroos (5 de junho de 2018). «Why Turkey's military is not what it used to be». Al Jazeera 
  5. a b c d «Coups and Plots in Turkey Over Past 50 Years» (em inglês). nbcnews.com. 15 de julho de 2016 
  6. a b c d «Timeline: A history of Turkish coups» (em inglês). aljazeera.com. 16 de julho de 2016 
  7. «Ex-Turkish army chief says "e-coup" justified». Reuters. 8 de maio de 2009