Grupo 63

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O Gruppo 63 foi um manifesto literário proclamado de neoavanguardia fundado depois de um evento dedicado ao festival de música contemporânea intitulado "Settimana Internazionale di Nuova Musica", organizado por Francesco Agnelo e sediado no Hotel Zagarella, na cidade de Palermo, nos dias 3 a 8 de outubro.[1] Tomaram parte no grupo escritores, críticos e músicos, entre os quais Nanni Balestrini, Edoardo Sanguineti, Alberto Arbasino, Renato Barilli e Umberto Eco.[1]

Origem[editar | editar código-fonte]

Sua origem remonta ao círculo intelectual da revista Il Verri, projeto de Luciano Anceschi que remonta a seu primeiro número em 1956. Esta revista abriu espaço para jovens escritores que buscavam uma revisita de leitura dos textos seminais do renascimento e barroco, e uma nova filosofia estética independente da "escola crociana". Do ponto de vista estilístico e narratológico, antagonizavam com maneirismo e com a poesia comprimida a representação da "paixão humana". Configurava a cena precedente ao movimento experimentalista, conglomerado em torno da revista Il Verri, as revistas literárias Il Menabò, Il Molino e Il Politecnico. Entretanto, a experiência literária mais sintetizadora dos anseios de manifestar renovação da linguagem poética se deu com a antologia literária I Novissimi, livro este que condensa os 5 anos do grupo de escritores reunidos em torno da revista de Luciano Anceschi.[2] A antologia dos Novissimi, contando com textos de Nanni Balestrini, Edoardo Sanguineti, Elio Pagliarani, Alfredo Giuliani, e Antonio Porta, antepõe o manifesto vanguardista de 1963 em Palermo que daria origem ao Gruppo 63. A publicação se deu em 1961 pelos editores milaneses Rusconi e Paolazzi (este último era pai de Antonio Porta).

O novo movimento literário Gruppo 63 não nascia de uma corrente de ideologia constituinte que trouxesse homogeneidade a ela, estando sob a condição de ecletismo ao ter lado a lado as correntes marxistas, fenomenológicas e hermenêuticas. Os integrantes do Gruppo 63 segundo Umberto Eco eram críticos e escritores coligados pelo empenho com experimentalismo narrativo e estético, e o vigor enquanto debatedores que incorporam a dinamica do grupo o lugar da divergência e da opinião franca.[2] Dentre a diversidade dos escritores experimentalistas da neoavanguardia, de modo geral, o que os emprestava um fundamento era promover a ruptura com o paradigma artístico do neorealismo, utilizando-se, para isso, de uma linguagem experimental tanto na música quanto na poesia e nas artes plásticas. Ao contraporem a tradição literária italiana em sua grande amplitude, o que reunia o Gruppo 63 era a vontade de transformar no nível da forma os gêneros da literatura.

Entre 1963 e 1967, o Gruppo 63 reuniu em cinco ocasiões aproximadamente meia centena de escritores, configurando manifestos no decorrer deste período por via da publicação revistas literárias, dentre elas: Malebolge (1964-1967), Grammatica (1964-1976) e Quindici (1967-1969). Destaca-se desta vanguarda o manifesto teórico de Edoardo Sanguineti, “Ideologia e Linguagem[3]”, em que defende a abertura da literatura italiana para a alternativa literária ao cânone do novecento através das experiências literárias de desconstrução da relação sujeito-linguagem-obra e desestruturação das formas comunicativas e expressivas.[3] Em Fano, em 1967, o Gruppo 63 reuniu-se pela última vez.

Ideologia na cena do Gruppo 63[editar | editar código-fonte]

Segundo Umberto Eco, os escritores do Gruppo 63 tinham em comum a descrença em gestos revolucionários. Para eles, a revolução na linguagem não poderia ser defendida com temáticas politizadas e o empenho estilístico pela arte engajada, “L’eversione artistica non poteva più assimilarsi all'eversione politica”. A subversão política não poderia naturalmente mais ser tomada como modelo de subversão da linguagem.[1]

Por outro lado, para os autores que buscaram expressar um desagravo em relação às críticas na neoavanguardia sobre a linguagem e a estética formal na literatura italiana, a batalha linguística experimentalista era sentida como movimento literário que acossava o discurso lírico. Dentre os críticos da neoavanguardia do gruppo 63, Pier Paolo Pasolini fez oposição pública a vertente experimentalista da literatura italiana, acusando-a de promover na poesia um tipo de formalismo cerebral ao mesmo tempo em que ela, segundo ele, bradava estar desta forma confrontando o establishment da arte burguesa, que, por ironia, segundo Pasolini, viria a precipitar em uma posição existencial (do ser na vida) amiúde burguesa.[4]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c ECO, Umberto (8 de maio de 2003). «Prolusione tenuta a Bologna per il Quarantennale del Gruppo 63» (PDF). Consultado em 7 de fevereiro de 2023 
  2. a b ECO, Umberto (8 de maio de 2003). «Il Gruppo 63, quarant'anni dopo» (PDF). http://www.umbertoeco.it/. Consultado em 7 de fevereiro de 2023 
  3. a b SANGUINETI., Edoardo (1972). Ideologia e Linguagem: a Vanguarda, a Literatura de Crueldade, a Novíssima Poesia Italiana, o Futurismo. Porto: Ed. Portucalense 
  4. AMOROSO, Maria Betânia (1997). A Paixão pelo Real: Pasolini e a crítica literária. São Paulo: EDUSP. p. 103. ISBN 978-8531403880