Guerras de Moba

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Guerras de Moba
Data 13 de novembro de 1984 - 1987
Local Moba, Zaire
Desfecho Vitória zairiana
Beligerantes
 Zaire

Apoio:

 França
República Democrática do Congo Partido da Revolução do Povo
Comandantes
República Democrática do Congo Laurent-Désiré Kabila
República Democrática do Congo Adrien Kanambe
República Democrática do Congo Calixte Majaliwa  Rendição (militar)
Forças
Zaire duas brigadas República Democrática do Congo desconhecido
Baixas
desconhecido  
100 a 1000 mortes no total

As Guerras de Moba (em francês: Guerres de Moba), também conhecidas como Moba I e Moba II, foram conflitos ocorridos na região de Moba, no então Zaire. Dois ataques foram perpetrados em 1984 e 1985 pelo Partido da Revolução do Povo (Parti de la révolution du peuple, PRP) de Laurent-Désiré Kabila, em 13 de novembro de 1984 e em junho de 1985. Foram seguidos por severa repressão pelas Forças Armadas Zairenses (FAZ), terminando somente após dissensões internas do PRP em 1987.

Situação[editar | editar código-fonte]

Após o fracasso da Rebelião Simba lumumbista, Laurent-Désiré Kabila partiu em outubro de 1967 para fundar um movimento de resistência (maquis) nas margens do Lago Tanganica. Ele criou um proto-estado marxista, denominado « zone rouge » (“zona vermelha”), no território de Baraka-Fizi.[1] Kabila era o seu presidente e o Partido da Revolução do Povo era o partido único.[2] A partir da década de 1970, o território do PRP foi gradativamente reduzido, principalmente com a saída de muitos quadros locais.

As atividades do PRP são por vezes favorecidas pelas boas relações dos rebeldes com certos oficiais das FAZ, que lhes vendem armas ou mesmo fornecem os detalhes das operações que serão realizadas pelos soldados zairenses. Os oficiais das FAZ, enriquecidos pelas operações militares, não buscavam, portanto, eliminar os maquis, sua principal fonte de renda.[3] Contudo, como resultado da perda de terreno e do aumento das demandas materiais por parte dos oficiais corruptos, os dirigentes militares do PRP são obrigados a se reabastecer no território ocupado pelos mobutistas, a « zone blanche » (“zona branca”). Eles lançam seus ataques sem o consentimento de Kabila, que se opõe a que a guerra seja levada para sua região natal.[4] Os dois ataques visam perturbar a administração mobutista.[5]

Moba I[editar | editar código-fonte]

O primeiro ataque foi realizado sob a supervisão de Adrien Kanambe em 13 de novembro de 1984.[6] A guarnição local se uniu aos rebeldes.[7]

Em 15 de novembro, foi decidido lançar os paraquedistas do 311.º batalhão da 31.ª brigada de paraquedas zairiana, baseada em Camina. A brigada é comandada por instrutores franceses, que não participam dos combates ainda que gerenciem as operações. Dois Hercules C-130 foram fornecidos para transportá-los, bem como uma aeronave leve Cessna 310 para controlar as operações e duas aeronaves de ataque Aermacchi MB-326. Duas colunas motorizadas de Kamina e Lubumbashi viriam ao seu encontro. Comandados pelo Major Ebamba, os paraquedistas retomaram o aeroporto no dia 16, custando um morto e dez feridos. Os combates na cidade continuariam até o dia 17,[7] a maioria dos rebeldes se dispersou.[8] As colunas motorizadas só chegarão no final do mês por causa da estação das chuvas.[7]. Para conduzir as operações de contra-insurgência, o 311.º Batalhão se junta ao 312.º Batalhão - o outro batalhão da brigada, baseado em Quinxassa - e à 13.ª Brigada Naval[9] de Kalemie.[10] Em uma semana de combates, menos de 150 pessoas foram mortas.[11] A operação destaca a baixa qualidade e a corrupção das unidades locais das FAZ, mas o desempenho da 31.ª brigada é considerado muito bom.[12]

O governo mobutista implica a Tanzânia e o Burundi, acusando-os de hospedar campos de rebeldes. A Tanzânia reconhece a existência de um campo de refugiados congolês, mas indica que eles não participaram do ataque.[8] As operações realizadas pelos zairianos nos meses que se seguiram mostraram-se ineficazes.[9] As FAZ distinguem-se sobretudo pela violência da repressão contra a população, acusada de ter apoiado os rebeldes. As FAZ realizam prisões arbitrárias, atos de tortura e execuções sem julgamento.[13] Assim, um professor testemunhará à Anistia Internacional sobre os abusos sofridos desde sua prisão em maio de 1985 até sua fuga, dois meses depois.[14]

Moba II[editar | editar código-fonte]

No dia 29 de junho, véspera da celebração dos 25 anos da independência do país, o PRP volta a atacar Moba.[15] Os cerca de cinquenta atacantes[16] foram rapidamente repelidos.[17]

Em agosto de 1985, Calixte Majaliwa, Chefe do Estado-Maior Político do PRP, em desacordo com Kabila,[18] mudou de lado e juntou-se às fileiras zairenses; sendo inclusive nomeado gerente de operações das FAZ.[4] A 31.ª brigada de paraquedas zairiana deixou a região e o service d'actions et de renseignements militaires foi rapidamente enviado para apoiar a 13.ª Brigada.[9]

No entanto, os maquis continuariam sendo uma fonte de enriquecimento para os dirigentes do PRP, em particular Kabila, que saqueava os recursos naturais da região,[19] porém em 1987 os guerrilheiros somavam apenas 80 homens encurralados entre as FAZ e o Lago Tanganica.[4] O número de vítimas durante a guerra situa-se bem abaixo de 1.000 mortos.[11]

Referências

  1. Willame 1999, p. 23.
  2. Willame 1999, p. 25.
  3. Cosma 1997, p. 109.
  4. a b c Willame 1999, p. 28.
  5. Kisangani & Bobb 2010, p. 269.
  6. Cosma 1997, p. 75.
  7. a b c Jackie Neau (2004). «Zaïre : opération aéroportée Moba I». fncv.com 
  8. a b Kisangani & Bobb 2010, p. 363.
  9. a b c Cooper 2013, p. 19.
  10. Cooper 2013, p. 16.
  11. a b Kisangani & Bobb 2010, p. 83.
  12. Zaire : Prospects for the Mobutu Regime (PDF) (em inglês). [S.l.]: Central Intelligence Agency. 1986. p. 14-15 
  13. Schatzberg 1988, p. 58.
  14. Schatzberg 1988, p. 1-2.
  15. Kisangani & Bobb 2010, p. xxxix.
  16. Kisangani & Bobb 2010, p. 350.
  17. Kisangani & Bobb 2010, p. 420.
  18. Cosma 1997, p. 97.
  19. Cosma 1997, p. 110.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]


  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em francês cujo título é «Guerres de Moba».