Henri Grégoire

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Henri Grégoire
Henri Grégoire
Portrait de l'abbé Grégoire par Pierre Joseph Célestin François (1800), musée Lorrain, Nancy. (French)
Nascimento Henri Jean-Baptiste Grégoire
4 de dezembro de 1750
Vého
Morte 28 de maio de 1831 (80 anos)
Paris
Sepultamento Panteão
Cidadania França
Alma mater
  • University of Pont-à-Mousson
  • Université de Nancy
Ocupação político, padre, escritor
Prêmios
  • Comandante da Legião de Honra
Título conde
Religião Igreja Católica
Assinatura

Henri Grégoire, também conhecido como Abade Grégoire (em francês: Abbé Grégoire) (Vého, 4 de dezembro de 175020 de maio de 1831), foi um padre católico francês e líder revolucionário. Abolicionista fervoroso e defensor do sufrágio universal masculino, foi membro fundador do Bureau des longitudes, do Institut de France e do Conservatoire national des arts et métiers.

Carreira[editar | editar código-fonte]

Era bispo de Blois no início da Revolução Francesa, membro do Senado e, além disso, fazia parte do Institut de France — do qual fora excluído durante a Restauração Monárquica, devido às suas ideias. Grégoire, diferentemente de outros líderes eclesiásticos, não comandava ordens religiosas nem chefiava mosteiros, sendo mais recluso a títulos da intelectualidade.[1]

Foi um dos primeiros a exigir a abolição da escravatura à Assembleia, no que diz respeito não só aos direitos dos negros, como também de judeus, mulatos e dos habitantes das colônias.[1] Nesse sentido, é importante notar o teor de suas obras, como por exemplo De la Littérature Des Nègres, em que procura debater que a “incapacidade” dos negros se daria pelas condições a eles impostas, e não necessariamente por um “ativismo racial”. Isto é, uma obra que, em plena ebulição de revoluções iluministas, discursa sobre condições externas ao indivíduo que o afetam.[2]

As atividades intelectuais do Abade não param por aí. Ele também é conhecido por ter participado do debate sobre o projeto do plano nacional de educação de Le Peletier, em julho de 1794. Nesse debate, sua posição foi contrária ao projeto de educação, tendo como argumento central que o sistema educacional não deve visar à simples reprodução de um passado, sem considerar o presente e suas diferenças particulares.[3]

Influência e Relação com o Haiti[editar | editar código-fonte]

No sentido de estabelecer a relação do Abade Grégoire com o Haiti, se faz necessário falar mais um pouco da sua obra, Littérature Des Nègres, na qual Grégoire enxerga o modelo haitiano — a partir de sua Revolução — como um “exemplo” para a libertação de escravos no restante das Américas.[2] E a libertação dos escravos, tanto haitianos como os que estavam em solos americanos, segundo Grégoire, abria espaço para o “fator que parecia irreversível para o caminho do progresso da humanidade em geral e do continente americano em particular, acenando ao mesmo tempo com o fim da dominação colonial e da escravidão". À vista disso, no tempo em que Toussaint Louverture chefiava São Domingos, o Abade manteve contato com ele, no sentido de colaborar com algumas demandas da Ilha caribenha. Desde alguma ajuda quanto à reorganização da Igreja — que fora dizimada no processo de insurreição escrava — até o envio de livros e escritos do próprio Abade aos ex-escravizados. Em outras palavras, o Abade Grégoire não se mostrava só como um intelectual em apoio à Revolução Haitiana, como também participou concretamente do início da República de negros.[2]

E essa atuação de apoio do Abade não era uma via de mão única; além da sua relação com Toussaint Louverture, outros dirigentes haitianos também reconheceram a atuação de Grégoire, como Henri Cristophe — este que distribuiu pelo país mais de 200 exemplares de Littérature Des Nègres e divulgou trechos impressos dessa obra pelos quatro cantos da Ilha — e Jean-Pierre Boyer — este, que por sua vez, convidou o Abade para ser bispo e veio a ter um quadro do mesmo em sua sala, comparando-o a Frei Bartolomeu de Las Casas.[2]

Influência e relação com o Brasil[editar | editar código-fonte]

No sermão que frei Francisco do Monte Alverne pregou aos membros da irmandade de Santo Elesbão e Santa Ifigênia é possível observar ideias muito próximas às de Grégoire. O franciscano estimula os cativos a quebrar suas algemas e defender sua causa, ainda que seja no campo da justiça divina. Alinhando seu discurso ao Iluminismo ele valoriza o progresso e a civilização, contrapondo a barbárie e escravidão, nota-se aqui uma alusão a uma corrente inovadora da Igreja, especialmente do ponto de vista social e político. Por causa do enraizamento cultural da escravidão e do ambiente político do Rio de Janeiro, as referências diretas a autores e posições republicanas ou abolicionistas eram suprimidas.[2]

Entretanto, essa relação também foi estabelecida por meio de críticas. Na obra Analyse sur la justice du commerce du rachat des esclave de la côte d’Afrique, publicada em Londres em 1798. O bispo José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho recebe críticas por sua defesa do tráfico e da escravidão.[4] Grégoire também estabeleceu amizades, seu vínculo com Pedro Machado Miranda Malheiro, integrante do clero luso-brasileiro é notável, pois trocaram cartas por duas décadas. Ainda assim, os dois tinham diferenças políticas, mas eram deixadas de lado por conta da defesa do progresso e da civilização cristã, associada à fé cristã.[4]

Preservação do patrimônio histórico e cultural[editar | editar código-fonte]

A proteção dos bens culturais pelo Estado, tal como se realiza nos dias atuais, surgiu graças às convicções de Grégoire, dentre outros autores. O abade posicionou-se contra o Decreto de 12 de maio de 1792, decretado durante o “Período do Terror”, na França. O decreto ordenava a eliminação de todas as marcas do feudalismo e do despotismo. Posteriormente, em 14 de agosto do mesmo ano, foi proclamada uma lei que dizia que os princípios da liberdade e igualdade não toleravam a existência de monumentos erguidos para a ostentação e tirania — em referência ao Antigo Regime —, pois isso ofendia os olhos do povo. Na Assembleia Nacional Francesa, o abade realizou inúmeros discursos contra a destruição do passado francês, utilizando-se dos ideais de liberdade da Revolução Francesa. Além disso, foi Grégoire que usou pela primeira vez a palavra “vandalismo” como um ato de destruição dos bens culturais.[5]

Além disso, em 1794, para reforçar sua preocupação com o patrimônio histórico, o Abade fez uma declaração que nos permite observar a sua intenção quanto a quem serve a preservação das lembranças: “Inscrevamos — diz ele — em todos os monumentos e gravemos nos corações esta sentença: os bárbaros e os escravos detestam as ciências e destroem os monumentos de artes; os homens livres os amam e os conservam”.[6]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b MOREL, Marco (2005). «O abade Grégoire, o Haiti e o Brasil: repercussões no raiar do século XIX.». ALMANACK BRAZILIENSE - PORTAL DE REVISTAS DA USP 
  2. a b c d e MOREL, Marco (2005). «O abade Grégoire, o Haiti e o Brasil: repercussões no raiar do século XIX». ALMANACK BRAZILIENSE - PORTAL DE REVISTAS DA USP 
  3. TRABULSI, José Antonio Dabdab (1998). «Cidadania, liberdade e participação na Grécia: uma crítica da leitura liberal» (PDF). Niterói: Revista Tempo 
  4. a b MOREL, MARCO (2005). «O abade Grégoire, o Haiti e o Brasil: repercussões no raiar do século XIX». ALMANACK BRAZILIENSE - PORTAL DE REVISTAS DA USP 
  5. TOMASEVICIUS, Eduardo Filho (2004). «O tombamento no direito administrativo e internacional». Revista de informação legislativa, Brasília 
  6. CHAGAS, Mário (2002). «MEMÓRIA E PODER: dois movimentos». Cadernos de Sociomuseologia 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Morel, Marco. O abade Grégoire, o Haiti e o Brasil: repercussões no raiar do século XIX, Revistas USP - Almanack Braziliense, 2005.
  • Tomasevicius Filho, Eduardo. Revista de informação legislativa, Brasília, v. 41, n. 163, p. 231-247, jul/set. 2004.
  • Trabulsi, José Antonio Dabdab. Cidadania, liberdade e participação na Grécia: uma crítica da leitura liberal. Revista Tempo, Niterói - Rio de Janeiro, 1998.
  • Chagas, Mário. MEMÓRIA E PODER: dois movimentos, 2002. Cadernos de Sociomuseologia. [1]