Hiper-religiosidade

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Hiper-religiosidade
Especialidade Psiquiatria
Classificação e recursos externos
A Wikipédia não é um consultório médico. Leia o aviso médico 

A hiper-religiosidade é um distúrbio psiquiátrico no qual uma pessoa experimenta intensas crenças religiosas ou episódios que interferem no funcionamento normal da vida da pessoa. A hiper-religiosidade geralmente inclui crenças anormais e um foco em conteúdos religiosos - ou até mesmo em ateístas -[1] que interferem no trabalho e no funcionamento social. A hiper-religiosidade pode ocorrer numa variedade de transtornos, incluindo a epilepsia,[2][3] transtornos psicóticos e degeneração lobar frontotemporal.[4] A hiper-religiosidade é um sintoma da síndrome de Geschwind, que está associada à epilepsia do lobo temporal. Também pode apresentar-se como uma tendência comportamental generalizada ou modalidade do pensamento, causada por ou atribuída a comportamentos aprendidos e distorções em processos mentais ligados ao abuso do culto. Também pode referir-se ao resultado de forte doutrinação sectária, que pode influenciar a cognição e/ou causar distorções do pensamento, muitas vezes marcadas com raciocínio irracional ou flagrante. 

Sinais e sintomas[editar | editar código-fonte]

A hiper-religiosidade é caracterizada por uma tendência aumentada de relatar experiências sobrenaturais ou místicas, delírios espirituais, pensamentos legalistas rígidos, e expressão extravagante de piedade.[5][6] A hiper-religiosidade também pode incluir alucinações religiosas ou expressar-se como crenças ateístas intensas.[1]

Fisiopatologia e causas[editar | editar código-fonte]

A hiper-religiosidade pode estar associada à epilepsia - em particular epilepsia do lobo temporal envolvendo crises parciais complexasmania,[7] degeneração lobar frontotemporal, encefalite anti-receptor NMDA,[8] psicose relacionada a alucinógenos[9] e transtornos psicóticos. Em pessoas com epilepsia, a hiper-religiosidade episódica pode ocorrer durante convulsões[10] ou pós-ictalmente, mas geralmente é uma característica crónica da personalidade que ocorre interictalmente.[3] A hiper-religiosidade foi associada num pequeno estudo com a diminuição do volume do hipocampo direito.[5] O aumento da atividade nas regiões temporais esquerdas tem sido associado à hiper-religiosidade em transtornos psicóticos.[11] Evidências farmacológicas apontam para disfunção na via dopaminérgica ventral.[12]

Tratamento[editar | editar código-fonte]

Casos relacionados à epilepsia podem responder bem a antiepilépticos.[13]

Referências

  1. a b Heilman, Kenneth M.; Valenstein, Edward (13 de outubro de 2011). Clinical Neuropsychology (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780195384871. Studies that claim to show no difference in emotional makeup between temporal lobe and other epileptic patients (Guerrant et. al., 1962; Stevens, 1966) have been reinterpreted (Blumer, 1975) to indicate that there is, in fact, a difference: those with temporal lobe epilepsy are more likely to have more serious forms of emotional disturbance. This "typical personality" of temporal lobe epileptic patient has been described in roughly similar terms over many years (Blumer & Benson, 1975; Geschwind, 1975, 1977; Blumer, 1999; Devinsky & Schachter, 2009). These patients are said to have a deepening of emotions; they ascribe great significance to commonplace events. This can be manifested as a tendency to take a cosmic view; hyperreligiosity (or intensely professed atheism) is said to be common. 
  2. Tucker, D. M.; Novelly, R. A.; Walker, P. J. (1 de março de 1987). «Hyperreligiosity in temporal lobe epilepsy: redefining the relationship». The Journal of Nervous and Mental Disease. 175: 181–184. ISSN 0022-3018. PMID 3819715. doi:10.1097/00005053-198703000-00010 
  3. a b Ogata, Akira; Miyakawa, Taihei (1 de maio de 1998). «Religious experiences in epileptic patients with a focus on ictus-related episodes». Psychiatry and Clinical Neurosciences (em inglês). 52: 321–325. ISSN 1440-1819. PMID 9681585. doi:10.1046/j.1440-1819.1998.00397.x 
  4. Chan, Dennis; Anderson, Valerie; Pijnenburg, Yolande; Whitwell, Jennifer; Barnes, Jo; Scahill, Rachael; Stevens, John M.; Barkhof, Frederik; Scheltens, Philip (1 de maio de 2009). «The clinical profile of right temporal lobe atrophy». Brain. 132: 1287–1298. ISSN 1460-2156. PMID 19297506. doi:10.1093/brain/awp037 
  5. a b Wuerfel, J.; Krishnamoorthy, E. S.; Brown, R. J.; Lemieux, L.; Koepp, M.; Elst, L. Tebartz van; Trimble, M. R. (1 de abril de 2004). «Religiosity is associated with hippocampal but not amygdala volumes in patients with refractory epilepsy» (PDF). Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry (em inglês). 75: 640–642. ISSN 1468-330X. doi:10.1136/jnnp.2003.06973 
  6. LaPlante, Eve (22 de março de 2016). Seized: Temporal Lobe Epilepsy as a Medical, Historical, and Artistic Phenomenon (em inglês). [S.l.]: Open Road Distribution. ISBN 9781504032773 
  7. Brewerton, Timothy D. (1994). «Hyperreligiosity in Psychotic Disorders». The Journal of Nervous and Mental Disease (em inglês). 182: 302–304. PMID 10678313. doi:10.1097/00005053-199405000-00009 
  8. Kuppuswamy, PS; Takala, CR; Sola, CL (2014). «Management of psychiatric symptoms in anti-NMDAR encephalitis: a case series, literature review and future directions.». General Hospital Psychiatry. 36: 388–91. PMID 24731834. doi:10.1016/j.genhosppsych.2014.02.010 
  9. Virginia, Sadock; Benjamin, Sadock; Pedro, Ruiz (2017). Kaplan and Sadock's Comprehensive Textbook of Psychiatry 10th ed. [S.l.: s.n.] ISBN 978-1451100471. Clinically, they are said to have more mood swings, euphoria, grandiosity, hyperreligiosity, and multimodal hallucinations, and more prominent positive than negative symptoms. 
  10. Garcia-Santibanez, Rocio; Sarva, Harini (1 de janeiro de 2015). «Isolated Hyperreligiosity in a Patient with Temporal Lobe Epilepsy». Case Reports in Neurological Medicine. 2015. 235856 páginas. ISSN 2090-6668. PMC 4550801Acessível livremente. PMID 26351599. doi:10.1155/2015/235856 
  11. Bouman, Daniëlle. «The neurobiological basis of hyper-religiosit» 
  12. Previc, FH (setembro de 2006). «The role of the extrapersonal brain systems in religious activity.». Consciousness and Cognition. 15: 500–39. PMID 16439158. doi:10.1016/j.concog.2005.09.009 
  13. Anand, KE; Sadanandan, KS (1995). «Carbamazepine in interictal hyper religiosity: three Case Reports». Indian Journal of Psychiatry. 37: 136–138. PMC 2971497Acessível livremente. PMID 21743734