Hugo Luciano Ronca

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Hugo Ronca.

Ugo Luciano Ronca, conhecido no Brasil como Hugo (Verona, c. 1860 — Verona, 1945) foi um farmacêutico, médico, político e empresário ítalo-brasileiro.

Foi o segundo farmacêutico da vila de Caxias do Sul, nomeado pela Comissão de Terras e Colonização em 1890.[1] Era considerado "hábil farmacêutico, gozando da geral estima e confiança da população".[2] Manteve uma farmácia até 1908, quando a transferiu para Francisco Guerra.Nesta época começa a ser chamado de clínico, médico e cirurgião, mas foi um prático, não tendo preparo formal em medicina.[3] Apesar disso, foi muito louvado na imprensa e recebeu vários agradecimentos públicos de pessoas que tratou na condição de médico, chamado de profissional "distinto", "digno", "humanitário", "inteligente" e "dedicado".[4][5][6][7][8] Em sua farmácia também se fazia a vacinação pública.[3] Na década de 1910 administrou o laboratório de análises da Seção de Higiene do governo municipal, encarregado principalmente da verificação da qualidade dos vinhos produzidos na região.[9]

Ainda em 1890 participou da fundação do diretório local do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), sendo aclamado membro da diretoria.[10] Em 20 de outubro de 1891 foi eleito para o primeiro Conselho Municipal, sendo empossado em 26 de setembro de 1892, e atuando até 1896. Neste período foi vice-presidente do Conselho. Foi reeleito em 1900, encerrando o exercício em 1904.[11] Foi membro de uma comissão para fiscalizar o governo de Alfredo Soares de Abreu.[12]

Baseado em documentos da época, diz Gustavo Valduga que Ronca foi vereador também em um terceiro mandato, embora este último não conste na lista compilada por Geni Onzi para o Centro de Memória da Câmara Municipal. Teria sido então um forte opositor do intendente Serafim Terra, e a ele atribui influência na reprovação do projeto de lei do orçamento em 1906, o que colaborou para a posterior renúncia do intendente. Na década de 1920 fez parte de uma dissidência do PRR e suas manobras políticas foram um elemento importante para o fraco sucesso do partido das eleições de 1926.[13]

Foi sub-delegado de polícia,[14] major da Guarda Nacional, secretário da comissão de seleção de representantes caxienses para a grande Exposição de St. Louis nos Estados Unidos em 1903,[15] lutou com sucesso para a criação de uma escola na Linha Marcolina Moro,[16] e tornou-se importante produtor e comerciante de vinhos.[9]

Foi um dos fundadores em 1901 da Associação dos Comerciantes, a mais influente sociedade civil da vila, membro da primeira diretoria como vice-presidente,[17] reeleito em 1902 e 1903,[18][19] em 1904 foi eleito presidente e reeleito em 1905.[20] Renunciou à presidência em 1906, mas a corporação não aceitou. No entanto, sobreveio uma crise interna e as atividades da Associação foram suspensas em 1907, sendo retomadas apenas em 1911.[12] Participou de uma comissão especial da Associação para a construção da Ponte do Korff, que facilitou o comércio com os Campos de Cima da Serra.[12][21] Também representando sua classe foi um forte advogado da ligação de Caxias com a rede ferroviária estadual, fazendo muitas viagens à capital do estado para pleiteá-la.[22]

Voltou à Itália antes de 1941, lá falecendo em 1945 com 85 anos.[23][24] Hoje seu nome batiza uma rua em Caxias. Foi casado com Ermelinda Castagna, falecida em 1934, e com ela teve os filhos Hugo, Vasco, Olga, Nair e Rosita.[25] Seu filho Hugo fez carreira no Exército italiano e chegou ao posto de general, falecendo em 1977.[26]

Referências

  1. Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. F 63 - Fotografia - Álbum Recordação das Colônias Conde D’Eu, Dona Isabel, Alfredo Chaves, Antonio Prado e Caxias
  2. Adami, João Spadari. "As vítimas polonesas do Barracão". Pioneiro, 18/10/1981
  3. a b Almeida, Edlaine Cristina Rodrigues de. História da Escola de Enfermagem Madre Justina Inês: uma instituição de ensino superior formando enfermeiras em Caxias do Sul/RS (1957-1967). Dissertação de Mestrado. UCS, 2012, pp. 47-48
  4. "Agradecimento". O Cosmopolita, 22/11/1903
  5. "Desastre". O Cosmopolita, 29/11/1903
  6. "Para a capital do Estado". O Cosmopolita, 10/01/1904
  7. "Aggressão e ferimentos". O Cosmopolita, 31/101/1904
  8. "Agradecimento". O Cosmopolita, 31/07/1904
  9. a b Cavagnolli, Annelise. Os parceiros do vinho: a vitivinicultura em Caxias do Sul (1911-1936). Dissertação de Mestrado. UFPR, 1989, pp. 59; 101
  10. "Caxias" A Federação, 09/06/1890
  11. Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul [Onzi, Geni Salete (org.)]. Palavra e Poder: 120 anos do Poder Legislativo em Caxias do Sul. Ed. São Miguel, 2012, pp. 21; 117
  12. a b c Biavaschi, Márcio Alex Cordeiro. Relações de poder coronelistas na Região Colonial Italiana do Rio Grande do Sul durante o período borgista (1903-1928). Tese de Doutorado. PUCRS, 2011, p. 242-253
  13. Valduga, Gustavo. Para além do coronelismo: italianos e descendentes na administração dos poderes executivos da Região Colonial Italiana do Rio Grande do Sul (1924-1945). Tese de Doutorado. PUCRS, 2012, pp. 100-103
  14. "Foram nomeados". O Cosmopolita, 12/10/1902
  15. "Exposição de S. Luiz". O Cosmopolita, 25/10/1903
  16. "Secção Livre". O Cosmopolita, 03/08/1903
  17. Giron, Loraine Slomp & Bergamaschi, Heloísa Eberle. Casas de Negócio: 125 de imigração italiana e comércio regional. EdUCS, 2001, p. 86
  18. "Secção Livre". A Federação, 15/08/1902
  19. Gardelin, Mário. "Para a História da CIC VII". Pioneiro, 09/02/1977
  20. Gardelin, Mário. "Para a História da CIC X". Pioneiro, 10/02/1977
  21. Gardelin, Mário. Para a História da CIC. EST, p. 9
  22. Giron, Loraine Slomp & Nascimento, Roberto R. F. do. "Caxias e a disputa pela infraestrutura (1898-1941)". In: Métis: história & cultura, 2009; 8 (15):33-47
  23. "Associação Comercial de Caxias". O Momento, 14/07/1941
  24. "Dr. Hugo Luciano Ronca". O Momento, 08/97/1945
  25. "Necrologia". O Momento, 27/09/1934
  26. "Gal. Hugo Ronca". Pioneiro, 24/09/1977