Ibirania

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Ibirania
Intervalo temporal: Santoniano–Campaniano
Classificação científica e
Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Clado: Dinosauria
Clado: Saurischia
Clado: Sauropodomorpha
Clado: Sauropoda
Clado: Macronaria
Clado: Titanosauria
Clado: Lithostrotia
Família: Saltasauridae
Subfamília: Saltasaurinae
Gênero: Ibirania
Navarro et al.,2022
Espécie-tipo
Extinto Ibirania parva
Navarro et al., 2022

Ibirania é um gênero de dinossauro titanossauro saltassauríneo da Formação São José do Rio Preto, Cretáceo Superior (Santoniano ao Campaniano) da Bacia Bauru, sudeste do Brasil.[1]

A espécie-tipo é Ibirania parva, cujo nome significa "o pequeno peregrino de Ibirá".

Descoberta e batismo[editar | editar código-fonte]

O holótipo de Ibirania (LPP-PV-0200–0207), foi descoberto em camadas da Formação São José do Rio Preto na Fazenda dos Irmãos Garcia, em Vila Ventura, Município de Ibirá, noroeste do Estado de São Paulo. O holótipo consiste em uma vértebra dorsal posterior, vértebras caudais parciais, um rádio e ulna fragmentados, um metacarpo parcial e um metatarso quase completo. Espécimes adicionais foram coletados na mesma camada próximos do ponto onde saiu o holótipo, incluindo vértebras cervicais, dorsais e caudais parciais, fragmentos de uma fíbula e uma fíbula quase completa.[1]

O nome genérico "Ibirania" combina uma referência a Ibirá, município onde os espécimes foram descobertos, com " ania", uma forma modificada da palavra grega "plania" que significa "andarilho, peregrino". O nome específico, "parva", é o derivado feminino da palavra latina "parvus", que significa "pequeno", dado o nanismo visto no táxon. Visto que a palavra Ibirá é um derivado português da palavra tupi "ybyrá", que significa "árvore", o significado do nome desta espécie pode ser traduzido tanto como "pequeno andarilho de Ibirá" como "pequeno andarilho das árvores", em referência ao seu provável comportamento de forrageio.

Descrição[editar | editar código-fonte]

Ibirania foi descrito a partir de ao menos quatro indivíduos, sendo o holótipo o mais completo deles. Ambos espécimes referidos a esta espécie são representados por materiais axiais e apendiculares.

Com base nos materiais do holótipo, Ibirania parva é estimado em apenas 5.7 m (19 ft) de comprimento, tornando-o um dos menores saurópodes conhecidos até agora.[1] Seu esqueleto axial exibia uma pneumaticidade interna bastante acentuada, inclusive preservando resquícios de divertículos.[2]

Análises histológicas de um dos espécimes referidos a Ibirania revelaram que o indivíduo apresentava um grave caso de osteomielite, provavelmente causada por uma infecção parasítica sanguínea.[3]

Classificação[editar | editar código-fonte]

Ibirania era um membro derivado de Saltasaurinae, um clado conhecido por englobar alguns dos menores titanossauros conhecidos. Ibirania foi recuperado como táxon irmão do clado formado pelos saltassauríneos patagônicos Bonatitan e Rocasaurus, ambos da Formação Allen (Campaniano ao Maastrichtiano).

O cladograma abaixo mostra os resultados das análises filogenéticas realizadas por Navarro et al. (2022):[1]

Saltasauridae

Opisthocoelicaudiinae

Saltasaurinae

Alamosaurus

Baurutitan

Ibirania

Bonatitan

Rocasaurus

Saltasaurini

Neuquensaurus

MACN-PV-RN 233

Saltasaurus

Paleoambiente[editar | editar código-fonte]

Reconstituição de uma manada de Ibirania parva em seu paleoambiente.

Diferente de outros saurópodes anões que viviam nos antigos arquipélagos onde hoje é a Europa, como Magyarosaurus, Lirainosaurus ou Europasaurus, Ibirania vivia no interior do Brasil, em um ambiente semiárido a árido e com períodos chuvosos intercalados por secas intensas. Nesse ambiente hostil, com recursos limitados sazonalmente, animais menores podem ter se favorecido, já que estes necessitam de menos recursos quando comparados à animais de grande porte.

Ao invés de migrar, estes titanossauros provavelmente permaneciam na região durante as secas e se especializaram em um nicho ecológico distinto de outros titanossauros. Refúgios de vegetação temporários durante estes períodos de estiagem podem ter sustentado as populações até a estação de chuvas.

Ibirania coexistiu ao lado de outros dinossauros, como o terópode abelissaurídeo Thanos simonattoi[4], prováveis unenlagiíneos[5] e um megaraptorideo[6] ainda sem nome. A fauna da região ainda contava com representantes de tartarugas podocnemidoideas, como Amabilis uchoensis[7], além de pequenos crocodiliformes notossúquios indeterminados.[8]

Referências

  1. a b c d Navarro, Bruno A.; Ghilardi, Aline M.; Aureliano, Tito; Díaz, Verónica Díez; Bandeira, Kamila L. N.; Cattaruzzi, André G. S.; Iori, Fabiano V.; Martine, Ariel M.; Carvalho, Alberto B. (15 de setembro de 2022). «A new nanoid titanosaur (Dinosauria: Sauropoda) from the Upper Cretaceous of Brazil» (em inglês). 59 (5): 317–354. ISSN 1851-8044. doi:10.5710/AMGH.25.08.2022.3477 
  2. Aureliano, Tito; Ghilardi, Aline M.; Navarro, Bruno A.; Fernandes, Marcelo A.; Ricardi-Branco, Fresia; Wedel, Mathew J. (17 de dezembro de 2021). «Exquisite air sac histological traces in a hyperpneumatized nanoid sauropod dinosaur from South America». Scientific Reports (em inglês) (1). 24207 páginas. ISSN 2045-2322. doi:10.1038/s41598-021-03689-8. Consultado em 18 de setembro de 2022 
  3. Aureliano, Tito; Nascimento, Carolina S. I.; Fernandes, Marcelo A.; Ricardi-Branco, Fresia; Ghilardi, Aline M. (1 de fevereiro de 2021). «Blood parasites and acute osteomyelitis in a non-avian dinosaur (Sauropoda, Titanosauria) from the Upper Cretaceous Adamantina Formation, Bauru Basin, Southeast Brazil». Cretaceous Research (em inglês). 104672 páginas. ISSN 0195-6671. doi:10.1016/j.cretres.2020.104672. Consultado em 18 de setembro de 2022 
  4. Delcourt, Rafael; Vidoi Iori, Fabiano (2020). «A new Abelisauridae (Dinosauria: Theropoda) from São José do Rio Preto Formation, Upper Cretaceous of Brazil and comments on the Bauru Group fauna». Historical Biology. 32 (7): 917–924. doi:10.1080/08912963.2018.1546700 
  5. Ghilardi, Aline M.; Fernandes, Marcelo A. (2011). «Dentes de Theropoda da Formação Adamantina (Cretáceo Superior, Bacia Bauru) da região do Município de Ibirá, São Paulo, Brasil». In: Calvo, Jorge O.; Porfiri, Juan; González Riga, Bernardo J.; Dos Santos, Domenica. Paleontología y dinosaurios desde América Latina 1. ed ed. Mendoza: EDIUNC. pp. 115–125. ISBN 978-950-39-0265-3. OCLC 761749402 
  6. Méndez, Ariel H.; Novas, Fernando E.; Iori, Fabiano V. (maio de 2012). «First record of Megaraptora (Theropoda, Neovenatoridae) from Brazil». Comptes Rendus Palevol (em inglês) (4): 251–256. doi:10.1016/j.crpv.2011.12.007. Consultado em 21 de setembro de 2022 
  7. Hermanson, Guilherme; Iori, Fabiano V.; Evers, Serjoscha W.; Langer, Max C.; Ferreira, Gabriel S. (maio de 2020). Ruta, Marcello, ed. «A small podocnemidoid (Pleurodira, Pelomedusoides) from the Late Cretaceous of Brazil, and the innervation and carotid circulation of side‐necked turtles». Papers in Palaeontology (em inglês) (2): 329–347. ISSN 2056-2802. doi:10.1002/spp2.1300. Consultado em 21 de setembro de 2022 
  8. Montefeltro, Felipe Chinaglia; Laurini, Carolina Rettondini; Langer, Max Cardoso (outubro de 2009). «Multicusped crocodyliform teeth from the Upper Cretaceous (São José do Rio Preto Formation, Bauru Group) of São Paulo, Brazil». Cretaceous Research (em inglês) (5): 1279–1286. doi:10.1016/j.cretres.2009.07.003. Consultado em 21 de setembro de 2022