Indústria moveleira no Brasil

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A Indústria moveleira no Brasil é o ramo de produção voltado para a fabricação de mobiliário para diversos usos, notadamente doméstico e comercial, transformando a matéria-prima, composta principalmente de madeira e seus derivados, metais, plásticos, couro e tecidos, em móveis. O setor é composto por cerca de dezenove mil empresas, sendo que 80% delas estão nas regiões Sul e Sudeste, tendo São Paulo como o estado de maior produção, seguido do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. Produzindo aproximadamente 512 milhões de peças ao ano, o Brasil responde por 3,7% da produção mundial, fazendo o setor ser responsável por 1,9% da receita líquida da indústria nacional, com mais de 320 mil empregos no país.[1]

Histórico[editar | editar código-fonte]

Skara Brae, vestígios dos primeiros móveis da História

Quando o homem deixou de ser nômade e passou a ter habitação fixa, começou a desenvolver objetos para seu conforto, dentro de suas possibilidades técnicas e matérias-primas disponíveis. A estimativa é que os primeiros móveis surgiram no final do período neolítico, entre 3 100 e 2 500 a.C., na região do atual Reino Unido, em Skara Brae, uma povoação em pedra onde lajes foram utilizadas para a criação de prateleiras, camas e outros objetos que davam a ideia inicial de mobiliário.[2]

O Antigo Egito foi uma das primeiras sociedades organizadas a fazer uso de móveis. A arqueologia possibilitou a descoberta de vários desses objetos, nas tumbas de reis e rainhas. Trata-se de móveis domésticos, como bancos, cadeiras, camas e mesas, ou de uso cerimonial, como tronos.

Já na Grécia, o conforto era valorizado com a criação de móveis que se adaptavam ao corpo. O uso de cada tipo de peça era determinado pela ocasião, havendo aqueles para cerimônias ao ar livre e outros para o uso cotidiano, como também cadeiras voltadas para o público feminino.

O mobiliário grego influenciou a produção dos móveis romanos, mas estes aprimoraram o luxo com o uso de materiais nobres, como o bronze e o mármore. Em Roma, também havia a distinção de peças para o uso comum e o uso cerimonial. Eles criaram modelos próprios, como uma cadeira semi-circular e mesas pequenas com três pés. Destaca-se algumas características, como pés e pernas de mesas com formato de patas de leão ou de figuras mitológicas. Entre suas criações está a Cattedra, uma espécie de cadeira com encosto, voltada para mulheres e idosos. Tal modelo foi adotado pela Igreja Católica, na Idade Média, para espaços religiosos. Hoje a Cátedra é a cadeira destinada ao uso dos mais altos cargos do clero, geralmente bispos e arcebispos, o que originou o termo Catedral.[3]

No Brasil[editar | editar código-fonte]

Primórdios[editar | editar código-fonte]

Cena do Séc. XIX (Debret)

O início da fabricação de móveis no Brasil é de difícil classificação. No período colonial existia o móvel português trazido da Europa; o móvel feito em Portugal com madeira brasileira; o móvel feito no Brasil por artesãos portugueses; o móvel feito no Brasil por artífices locais, mas estes aprendizes de portugueses ou com modelos daquele país; o móvel rústico, produzido localmente, mas ainda com inspirações lusitanas; o móvel brasileiro, feito por locais ou não, porém com temas inspirados na fauna e flora nativas.[4]

Os primeiros estudos sobre a mobília brasileira ocorreram apenas no Século XX, porém na literatura é possível obter uma descrição detalhada das casas e objetos decorativos. A criação do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1937, abriu caminho para o advento da historiografia do mobiliário brasileiro, já na edição do primeiro número da "Revista IPHAN", no mesmo ano, com a publicação do texto "Mobiliário Nacional", sucedido por vários outros.

Mobília do Palacete Palmeira

Gilberto Freyre descrevia que alguns móveis ajudavam a compreender a cultura brasileira, como os bancos de varanda, que faziam referências à "cordialidade e hospitalidade da casa-grande, ao mesmo tempo garantidores do conservadorismo e da preservação da intimidade da família, ao passo em que compunham o espaço de transição entre o público e o privado" (FREYRE, 1987, p. 41-89). A rede também é demonstrada em Casa Grande & Senzala como a “cama brasileira”.[4]

Modernização[editar | editar código-fonte]

Até a década de 1940, o mobiliário brasileiro era composto basicamente de peças importadas. Foi na década seguinte que a industrialização nacional ganhou força, notadamente após a Segunda Guerra Mundial, evento que paralisou as importações.

Nos anos 1950 e 1960 ocorreu uma ruptura no design tradicional de origem europeia, nascendo a indústria nacional, com estilo e desenhos próprios, fomentando a atividade profissional moveleira, voltadas a atender uma sociedade que crescia e se urbanizava.[5]

Houve a partir da nacionalização uma preocupação com a produção de móveis com características brasileiras, adaptando-se às limitações, condições climáticas e materiais locais, especialmente madeiras e tecidos.

Foi nesse contexto que se destacou a Fábrica de Móveis CIMO, fundada em 1913, em Santa Catarina, e que mais tarde seria a pioneira da produção de mobiliário desmontável e seriada. Com essa produção em escala, os preços caíram, o que popularizou os produtos nacionais e consagrou o design brasileiro.[5]

A partir da década de 1960, o uso da madeira maciça passa a dividir espaço com o compensado, assim como o couro cedeu lugar ao tecido, em razão dos custos e facilidade de manuseio.

Posteriormente, com o esgotamento das matas nativas e a necessidade de se acelerar e baratear a produção, os materiais utilizados passaram a ser placas de MDF e aglomerado. O plástico e o metal, pelos mesmos motivos, ganharam importância.

Atualidade[editar | editar código-fonte]

Atualmente no Brasil existem mais de 15 mil indústrias do ramo moveleiros, que geram cerca de 320 mil empregos e produzem 512 milhões de peças a cada ano. Isso representa aproximadamente 32 bilhões de reais em vendas e 770 milhões de dólares em exportações.[6]

Como os outros ramos da indústria, o setor de produção de móveis tem sofrido processo constante de modernização, com a implantação da chamada manufatura avançada, que consiste no uso da automação e de novos materiais que trazem economia de tempo e melhora na qualidade da cadeia produtiva e do produto final.[7][8]

Hoje o design brasileiro de móveis é um dos mais consagrados do mundo, com diversos nomes reconhecidos pela criatividade, detentores de prêmios internacionais, como Joaquim Tenreiro, criador da "Cadeira de Três Pés", Paulo Mendes da Rocha e sua "Cadeira Paulistano", Sérgio Rodrigues e a "Poltrona Mole", Irmãos Campana, Zanini de Zanine, entre outros.[9]

Referências

  1. «A Indústria Moveleira». Eucatex. Consultado em 15 de maio de 2021 
  2. Prado, Eder. «A história dos móveis». Consultado em 15 de maio de 2021 
  3. «O que distingue igrejas, catedrais e basílicas? | Sobre Palavras». VEJA. Consultado em 15 de maio de 2021 
  4. a b Brandão, Ângela (2010). Anotações para uma história do mobiliário brasileiro do século XVIII. São Paulo: Revista CPC, São Paulo. p. 50 
  5. a b Yasmin Carolini Thomeo, Rafaela Nunes Mendonça, Lucas Farinelli Pantaleão, Juliano Aparecido Pereira (2019). Design de mobiliário brasileiro, moderno e contemporâneo: um diálogo formal. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlandia. p. 59 
  6. eMobile. «Dados do setor de móveis são divulgados pela Abimóvel». eMóbile. Consultado em 15 de maio de 2021 
  7. eMobile. «Indústria 4.0 no setor moveleiro: 8 reportagens sobre o conceito». eMóbile. Consultado em 15 de maio de 2021 
  8. «Indústria 4.0 no setor moveleiro». WEG - Blog Tomadas & Interruptores. 17 de outubro de 2018. Consultado em 15 de maio de 2021 
  9. «Grandes designers brasileiros premiados». Italian Leather. 3 de setembro de 2018. Consultado em 15 de maio de 2021