Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina

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Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina
Secretária de Estado da Saúde de Santa Catarina
Localização Avenida Engelberto Koerich, 333, Colônia Santana, São José, SC, Brasil
Fundação 10 de novembro de 1941 (82 anos)
Tipo Público
Rede hospitalar SUS
Leitos 160
Especialidades Psiquiatria
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O Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina (IPQ) é um hospital público brasileiro, localizado na cidade catarinense de São José. Aberto em 1996, é referência para psiquiatria em Santa Catarina, atendendo para emergências e internação nesta área, além de também ter especialidades em neurologia e clínica geral.

O IPQ é o sucessor do Hospital Colônia Santana, um dos hospitais mais antigos do estado, que existiu entre 1941 e 1995, criando em seu entorno uma comunidade que originou o bairro Colônia Santana. Este hospital foi criado durante o período das políticas higienistas, sendo um local de destino para pessoas com transtornos mentais serem afastadas do convívio social, ficando longe dos principais núcleos urbanos da Região Metropolitana de Florianópolis. Com as novas políticas de saúde mental, o Hospital foi extinto e sua estrutura foi convertida no Instituto de Psiquiatria e no Centro de Convivência Santana, voltado aos internos que não retornaram as suas famílias.

História[editar | editar código-fonte]

Hospital Colônia Santana[editar | editar código-fonte]

O higienismo lançou tendências para a organização das cidades nos séculos XIX e XX. Uma delas consistia em afastar pessoas consideradas na época inadequadas para o convívio com a sociedade, como prisioneiros, prostitutas e portadores de doenças diversas, criando locais distantes dos centros urbanos para envia-los. Em Florianópolis, essa política levou ao surgimento da Penitenciária da Pedra Grande em 1930 e do Hospital Nereu Ramos, voltado inicialmente a tuberculosos, em 1943, ambos no atual bairro Agrônomica, que na época era considerado longe do Centro.[1][2] Já em São José, além da Vila Palmira, em Barreiros, para onde foram enviadas nos anos 1960 as casas de prostituição para manter a "moral e os bons costumes" do Centro[3], dois hospitais foram construídos no interior do município: o Hospital Santa Tereza, de 1940, voltado a portadores de hanseníase, que hoje fica em São Pedro de Alcântara, e o Hospital Colônia Santana, alguns quilômetros ao leste do Santa Tereza.[4]

Construído no então Salto do Maruim, o Hospital Colônia Santana foi aberto pelo presidente Getúlio Vargas e pelo governador Nereu Ramos no dia 10 de novembro de 1941 com 311 pacientes - o local foi construído para trezentas pessoas, e em 1947 já tinha 428. O nome Santana veio da santa de devoção dos donos do terreno onde foi construído o Hospital, e com a chegada dos construtores em 1939, e depois das pessoas que trabalhavam lá, uma comunidade começa a se formar em torno do local. Foi a origem do atual bairro Colônia Santana. Até hoje, Colônia Santana é usada popularmente como metonímia para se referir ao Instituto de Psiquiatria.[4]

Os pacientes do Hospital Colônia Santana não eram, necessariamente, pessoas com transtornos mentais, apesar do hospital ter esse objetivo. A Colônia Santana também foi o local para envio daqueles que precisavam - ou foram obrigados a - se retirar do convívio social, o que incluía, por exemplo, pessoas que foram afastados por seus familiares, como pais ou cônjuges, pelos mais diversos motivos, não apenas de saúde - por exemplo, maridos que queriam ficar livres de suas esposas. Antes de 1971, quando o governo catarinense assume a gestão do hospital, não havia qualquer triagem que definisse quem de fato precisasse de tratamento, levando a superlotação, e os trabalhadores do hospital eram escolhidos por indicação e não por concurso. O local chegou a ter 2,7 mil internos, mais que nove vezes o previsto inicialmente, e os funcionários não eram tão numerosos para atender efetivamente a todos.[4][5][6]

O hospital usava técnicas que mais tarde foram revisadas com as novas diretrizes de saúde mental, como o eletrochoque, usado até 1984 como castigo, quando foi proibido - hoje é usado apenas em casos específicos de procedimentos cirúrgicos. Psicotrópicos só passaram a ser usados nos anos 1970, e tratamentos com insulina foram largamente usados.[4][5][6]

Instituto de Psiquiatria[editar | editar código-fonte]

Em 1995, o Hospital Colônia Santana foi descredenciado e fechado, e sua estrutura foi reaberta em 1996 como uma nova instituição, o Instituto de Psiquiatria. O IPQ tem, na atualidade, 160 leitos, e é voltado para pacientes de curta permanência - diretrizes estabelecidas pela Lei da Reforma Psiquiátrica.[7] Ao fechar, o Hospital tinha mil internos, e muitos foram transferidos ou enviados a suas famílias, mas alguns não tinham para onde ir, e parte da estrutura do antigo Hospital Colônia Santana se tornou o Centro de Convivência Santana, onde ficaram seiscentos internos. No início de 2020, ainda haviam pouco mais de cem internos.[4][5]

Estrutura[editar | editar código-fonte]

O Instituto de Psiquiatria é mantido pela Secretaria do Estado da Saúde de Santa Catarina, e seus gastos mensais ficam em cerca de 2,6 milhões de reais mensais. As especialidades clínicas do IPQ são Psiquiatria, Neurologia e Clínica Geral, também contando com outros serviços de apoio a diagnose e terapia para Farmácia, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia, Serviço Social e Radiologia. O Instituto conta também com Terapeuta Ocupacional e Educador Físico. São mais de 35 profissionais no corpo clínico e mais de trezentos funcionários. Como outras unidades de saúde, problemas de financiamento e estrutura existem no IPQ. Em 2019, 7836 pacientes foram atendidos na emergência.[8][9]

Outras estruturas relacionadas ao IPQ são o Centro de Documentação e Pesquisa (Cedope), que guarda a história do local, a Residência Terapêutica e o Centro de Convivência Santana, voltado aos internos que não retornaram as suas famílias após as mudanças de 1995-1996.[10][5]

Pacientes notórios[editar | editar código-fonte]

Gilberto Gil[editar | editar código-fonte]

Enquanto passava por Florianópolis em julho de 1976, durante turnê dos Doces Bárbaros, Gilberto Gil e o baterista Chiquinho Azevedo foram presos por porte de maconha, fato que gerou repercussão nacional na época.[11] Instruído pelos advogados a se declarar viciado - pelas leis da época, isso garantiria uma pena mais branda, visto que, não fosse isso, Gil seria declarado equivalente a um traficante e seria preso e multado - o cantor foi condenado a um ano de prisão, que foi convertido em internação em um hospital psiquiátrico. Assim, Gilberto Gil foi levado ao Hospital Colônia Santana, onde permaneceu entre os dias 15 e 20 de julho de 1976, quando foi transferido para uma clínica psiquiátrica no Rio de Janeiro. Um mês depois, ele acabou liberado da internação. Esses eventos foram registrados no documentário Os Doces Bárbaros, lançado no mesmo ano.[12][13]

Os acontecimentos de julho de 1976 levaram Gil a compor ao menos três músicas: A Gaivota, Sandra e Não Chore Mais, lançadas nos álbuns O Viramundo (1976), Refavela (1977) e Realce (1979), respectivamente. Enquanto A Gaivota referencia mais a capital catarinense, Não Chore Mais, que usa a melodia e parte da letra de No Woman No Cry de Bob Marley, teria sido inspirada numa interna do Hospital Colônia Santana que tinha fortes crises depressivas, apesar se referir principalmente ao período da então ditadura militar brasileira. Já em Sandra, Gil cita várias mulheres que interagiram com ele naquele período, incluindo diversas enfermeiras e moradoras da Colônia Santana, que também é referida na música como o "hospício".[13][14][15][16]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «A penitenciária de Florianópolis e sua evolução no tempo». Âmbito Jurídico. 1 de outubro de 2010. Consultado em 29 de dezembro de 2020 
  2. «Referência em doenças pulmonares, Hospital Nereu Ramos atende 22 mil pacientes por ano». Nd+. 4 de julho de 2019. Consultado em 29 de dezembro de 2020 
  3. «Uma vila chamada Palmira, onde a perdição era a regra». Notícias do Dia. 29 de dezembro de 2020. Consultado em 25 de novembro de 2017 
  4. a b c d e Marcela, Ximenes (18 de janeiro de 2020). «Colônia Santana: o hospital que deu origem ao bairro em São José». ND+. Consultado em 29 de dezembro de 2020 
  5. a b c d Caldas, Mariella (10 de novembro de 2011). «Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina comemora 70 anos». Notícias do Dia. Consultado em 29 de dezembro de 2020 
  6. a b Borges, Viviane Trindade. «Um "depósito de gente": as marcas do sofrimento e as transformações no antigo Hospital Colônia Sant'Ana e na assistência psiquiátrica em Santa Catarina, 1970-1996» (PDF). Consultado em 29 de dezembro de 2020 
  7. «LEI No 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001.». Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Presidência da República. 6 de abril de 2001. Consultado em 29 de dezembro de 2020 
  8. «Instituto de Psiquiatria». Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina. 20 de Agosto de 2018. Consultado em 22 de Dezembro de 2020 
  9. «Servidores do Instituto de Psiquiatria, de São José, ficam sem refeições pela 2ª vez em menos de um mês». Hora de Santa Catarina. 9 de outubro de 2019. Consultado em 29 de dezembro de 2020 
  10. «IPQ: um hospital chamado de casa». Notícias do Dia. 20 de setembro de 2011. Consultado em 29 de dezembro de 2020 
  11. «A prisão de Gilberto Gil em Florianópolis (1976)». ND+. 5 de abril de 2014. Consultado em 29 de dezembro de 2020 
  12. «Fotos Históricas: o julgamento de Gilberto Gil». Estado de S.Paulo. 13 de agosto de 2015. Consultado em 29 de dezembro de 2020 
  13. a b «James Martins fala sobre a música ʹSandraʹ, de Gilberto Gil: ʹInspirada no internamento compulsório"». Metro1. 16 de outubro de 2017. Consultado em 29 de dezembro de 2020 
  14. «Prisão de Gilberto Gil por porte de maconha em Florianópolis completa 40 anos». Maryjuana. 29 de julho de 2016. Consultado em 29 de dezembro de 2020 
  15. «Uma canção é inspirada no mar do Centro – Três sucessos de Gilberto Gil têm relação direta com Florianópolis». Floripa Centro. 8 de dezembro de 2020. Consultado em 29 de dezembro de 2020 
  16. «O hospício». CartaCapital. 24 de setembro de 2015. Consultado em 29 de dezembro de 2020