Insurreição Haitiana de 1984-1986

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Insurreição Haitiana de 1984-1986

Michèle Bennett e Jean-Claude Duvalier a caminho do aeroporto para fugir do país, 7 de fevereiro de 1986
Data 23 de maio de 1984 - 7 de fevereiro de 1986
Local Haiti
Desfecho
  • Queda do governo de Jean-Claude Duvalier.
  • Fim da dinastia Duvalier.
  • Início de uma turbulenta transição democrática no país.
Beligerantes
Governo haitiano Oposição haitiana
Comandantes
Jean-Claude Duvalier

A Insurreição Haitiana de 1984-1986 foi um movimento de insurreição popular no Haiti[1] que conduziu à deposição do presidente Jean-Claude Duvalier (forçado ao exílio) e do regime da dinastia Duvalier.[2][3]

A cidade de Gonaïves foi palco das primeiras manifestações de rua e armazéns de distribuição de alimentos foram assaltados. De outubro de 1985 a janeiro de 1986, a revolta se espalhou para outras seis cidades, incluindo Cap-Haïtien. Até o final do mês, os haitianos do sul se sublevam. As revoltas mais importantes aconteceram em Les Cayes.[4]

Em 7 de fevereiro de 1986, Duvalier fugiu para a França em um avião fornecido pelos Estados Unidos; no entanto, antes de sair, criou o Conselho Nacional de Governo, composto por seis membros e liderado pelo comandante do exército Henri Namphy, para governar o país após seu exílio.[5] O novo governo dissolveu as milícias leais a Duvalier em 15 de fevereiro, e restaurou a bandeira e o brasão originais do Haiti dois dias depois. Os Duvaliers se estabeleceram na França e, embora vivessem confortavelmente, as autoridades francesas negaram seu pedido de asilo político.

Contexto[editar | editar código-fonte]

François Duvalier foi eleito presidente nas eleições gerais de 1957 e se declarou "presidente vitalício" após o referendo constitucional de 1964. No rescaldo da tentativa de golpe de Estado de julho de 1958, para manter a população subserviente, Duvaller criou uma força paramilitar chamada Tonton Macoutes, notória por seu uso de violência e intimidação.[6] Em 1970, a força foi renomeada para Milícia de Voluntários de Segurança Nacional (em francês: Milice de Volontaires de la Sécurité Nationale). Quando Duvalier morreu em 1971, seu filho Jean-Claude Duvalier assumiu [7][8] (confirmado pelo referendo constitucional de 1971) e a força prosseguiu durante todo o seu regime e manteve a mesma presença violenta. Problemas generalizados de fome e desemprego logo cresceram de forma desenfreada.[9]

Queda do regime[editar | editar código-fonte]

Em janeiro de 1986, o governo Reagan começou a pressionar Duvalier a renunciar ao poder e deixar o Haiti. Representantes oficiais recomendados pelo primeiro-ministro jamaicano atuam como intermediários nas negociações. Naquele momento, muitos duvalieristas e importantes empresários reúnem-se com o casal Duvalier e os incitam a partir. Os Estados Unidos rejeitam asilo político para Duvalier, mas se oferecem para ajudá-los a sair do país. Inicialmente, Duvalier aceitou em 30 de janeiro de 1986, e o presidente Ronald Reagan anunciou sua partida, com base em um relatório do chefe da estação da CIA em serviço no Haiti, que viu o carro principal do comboio partir para o aeroporto.[10] No caminho, há uma troca de tiros e a escolta de Duvalier regressa para o palácio presidencial.[11]

Em 7 de fevereiro de 1986, ele entregou o poder aos militares e deixou a ilha a bordo de um avião da Força Aérea dos Estados Unidos;[12] aterrissa em Grenoble, na França. Enquanto isso, no Haiti, as casas dos partidários de Jean-Claude Duvalier são saqueadas.[13]

Em 8 de fevereiro de 1986, o novo governo libertou os presos políticos e instituiu um toque de recolher.[14] A multidão ataca o mausoléu de "Papa Doc", que é destruído com pedras e punhos; o caixão é retirado, a multidão dança sobre ele e o despedaça; depois apoderam-se do corpo do ditador para derrota-lo ritualmente. Durante este dia, houve cerca de uma centena de vítimas, principalmente Tontons macoutes.[14][15]

Referências

  1. «Le 7 février 1986. Les Haïtiens se libèrent de la dictature, pas encore de la dépendance.». L’Humanité. 7 de fevereiro de 2016 
  2. Brooke, James, ed. (12 de fevereiro de 1986). «Thousands Celebrate Ruler's Fall in Haitian City». The New York Times 
  3. Long, William, ed. (16 de fevereiro de 1986). «Youth Group Network Had Key Role in Duvalier's Fall». LA Times 
  4. (em inglês) Metz, Helen Chapin, « Dominican Republic and Haiti »: Country Studies, Federal Research Division, Library of Congress, Washington, D.C., dezembro de 1989, ISBN 0-8444-1044-6.
  5. Treaster, Joseph B. (8 de fevereiro de 1986). «Duvalier Flees Haiti to End Family's 28 Years in Power: General Leads New Regime; 20 Reported Dead». The New York Times 
  6. Greene, Anne (2001). «Haiti: Historical Setting § François Duvalier, 1957–71». In: Metz, Helen Chapin. Research completed December 1999. Dominican Republic and Haiti. ISBN 978-0-8444-1044-9 3rd ed. Washington, D.C.: Federal Research Division, Library of Congress. ISSN 1057-5294. Country Studies. pp. 288–289. LCCN 2001023524. OCLC 46321054 
  7. «Duvalier, 64, Dies in Haiti; Son, 19, Is New President». The New York Times. 23 de abril de 1971 
  8. «At 19, President for Life Jean‐Claude Duvalier». The New York Times. 26 de abril de 1971 
  9. «Real-Life Baron Samedi: Francois 'Papa Doc' Duvalier». Life. Cópia arquivada em 27 de junho de 2009 
  10. (em inglês) Robert Winslow, « Haiti », dans 'A Comparative Criminology Tour of the World', San Diego State University, USA.
  11. (em inglês) Allan Ebert, « Porkbarreling Pigs in Haiti: North American 'Swine Aid' an Economic Disaster for Haitian Peasants », The Multinational Monitor, vol 6, nº 18, dezembro de 1985.
  12. William Blum, Les Guerres scélérates, L'Aventurine / Parangon, 2004, p. 380, ISBN 978-2-8419-0116-6.
  13. (video) « La fuite de Jean-Claude Duvalier », Archives INA (2 min), le 7 de fevereiro de 1986.
  14. a b (vídeo) « Événements Haïti », Archives INA (2 min), 8 de fevereiro de 1986.
  15. (vídeo) « Profanation du tombeau de François Duvalier », Archives INA (2 min), 9 de fevereiro de 1986.