Irenismo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Irenismo na teologia Cristã refere-se à tentativas de unificar os sistemas apologéticos cristãos utilizando a razão como um atributo essencial. A palavra deriva do grego ειρήνη (eirene) significando paz. É um conceito relacionado à teologia natural, e oposto ao polemicismo da argumentação animosa, e tem suas raízes nos ideais do pacifismo. Aqueles que se afiliam ao irenismo identificam a importância da unidade na igreja Cristã, e declaram o laço comum entre todos os cristãos em Cristo.

Erasmo e sua influência[editar | editar código-fonte]

Desidério Erasmo (conhecido como Erasmo de Roterdão) foi um cristão humanista e reformador, no sentido de apontar abusos clericais, honrar a piedade interior, considerar a razão como significante na teologia e também de outras formas. Ele também promoveu a noção de que a Cristandade deve permanecer sob uma única igreja, tanto teologicamente quanto literalmente, sob o corpo da Igreja Católica. Desde seu tempo, o irenismo foi postulado removendo conflitos entre diferentes credos Cristãos através da mediação e da amalgamação das diferenças teológicas. Erasmo escreveu extensivamente sobre tópicos relacionados geralmente com a paz, e uma abordagem irênica é parte da textura de seu pensamento, tanto em teologia quanto em relação a política:

Apesar da frequência e severidade das polêmicas dirigidas contra ele, Erasmo continuou ... a praticar um tipo de discurso que é crítico e irônico, entretanto modesto e irênico.[1]

Certas contribuições irênicas importantes de Erasmo ajudaram a aprofundar a consideração humanista de temas sobre conciliação e paz religiosa; estes incluíram a Inquisitio de fide (1524), arguindo contra a opinião papal que Martin Luther foi um herege, e De sarcienda ecclesiae concordia (1533). Erasmo tinha associados próximos compartilhando sua visão (Julius von Pflug, Christoph von Stadion, e Jakob Ziegler), e foi seguido no lado Católico por George Cassander e Georg Witzel.[2][3][4]

A influência de Erasmo foi, contudo, limitada pela exclusão virtual de seus trabalhos de países como a França, desde 1525, até pelo menos à abertura, embora eles tenha aparecido em numerosas formas e traduções. James Hutton fala da "repetitiva maneira na qual a propaganda de paz de Erasmo alcançou o público Francês."[5]

Franciscus Junius publicou em 1593 Le paisible Chrestien arguindo sobre tolerância religiosa. Ele se referia a Felipe II da Espanha, usando argumentos tirados do estadista político Francês Michel de l´Hôpital e reformador Sebastian Castellion.[6]

Século XVII: Católicos e Protestantes[editar | editar código-fonte]

Movimentos irênicos foram influentes no século XVII, e o irenismo, por exemplo na forma dos esforços de Gottfried Leibniz para reunir os Católicos e Protestantes, é em algumas maneiras um precursor aos movimentos ecumênicos modernos.

O Examen pacifique de la doctrine des Huguenots de 1589, por Henry Constable provou-se influente, por exemplo em Christopher Potter e William Forbes. Richard Montagu admirou Cassander e Andreas Fricius.[7] O Syllabus aliquot synodorum de 1628 foi uma bibliografia de literatura de concordância religiosa, compilada por Jean Hotman, Marquis de Villers-St-Paul décadas antes, e foi impresso por Hugo Grotius usando o pseudônimo "Theodosius Irenaeus," com um prefácio por Matthias Bernegger.[8]

Era suficientemente típico, contudo, para moderados e até escritores irenistas no lado Católico acreditarem neste período que seus argumentos eram utilizados contra o próprio Catolicismo. O estilo de argumentação desenvolvido na Inglaterra por Thomas Bell e particularmente Thomas Morton. Ele levou a Thomas James mining Marcantonio de Dominis e Paolo Sarpi, e fez esforços para trazer Witzel para a tradição Protestante; aos argumentos do Galicanismo terem sido bem recebidos mas também tratados como particularmente insidiosos; e um irenista como Francis a Sancta Clara sendo atacado fortemente por Calvinistas firmes. Os escritores protestantes que eram convencidos em suas abordagens irênicas aos Católicos incluem William Covell e Thomas Dove.[9]

Século XVII: Divisões Protestantes[editar | editar código-fonte]

James I da Inglaterra acreditava que a tradução da Bíblia que ele encomendou poderia causar alguma reconciliação entre as facções religiosas Inglesas Protestantes, e provar um irenicon.[10] O termo grego ἐιρηνικόν (eirenikon) ou proposta de paz é também visto como irenicum em sua versão latina.

Uma literatura irenica se desenvolveu, relacionada a divisões dentro do protestantismo, particularmente nos vinte anos após a Paz de Vestfália. Exemplo, marcados por título, são:

  • David Pareus, Irenicum sive de unione et synodo Evangelicorum (1614)[11]
  • John Forbes, Irenicum Amatoribus Veritatis et Pacis in Ecclesia Scotiana (Aberdeen, 1629)[12]
  • Jeremiah Burroughs, Irenicum (1653)
  • John Dury, Irenicum: in quo casus conscientiæ inter ecclesias evangelicas pacis, breviter proponuntur & decidunter (1654)
  • Daniel Zwicker, Irenicum irenicorum (1658)
  • Edward Stillingfleet, Irenicum: A Weapon Salve for the Church's Wounds (1659 and 1661)
  • Matthew Newcomen. Irenicum; or, An essay towards a brotherly peace & union, between those of the congregational and presbyterian way (1659)
  • Moise Amyraut, Irenicum sive de ratione pacis in religionis negotio inter Evangelicos (1662)[13]
  • Samuel Mather, Irenicum: or an Essay for Union (1680)
  • Isaac Newton escreveu um Irenicum (manuscrito não publicado); ele dava suporte a uma posição latitudinária na teologia, derivada de uma revisão na história da Igreja.[14]

Avaliação do início do irenismo moderno[editar | editar código-fonte]

Anthony Milton Escreveu:

[Historiadores Ecumenicos] tenderam a assumir a existência de um 'essencialismo' irenico no qual a associação da unidade Cristã com a paz, tolerância e ecumenismo é pressuposta. [...] De fato, a maioria dos pensadores deste período aceitara que a unidade religiosa era uma boa ideia, da mesma forma que acreditavam que o pecado era uma má ideia. O problema era que, claro, pessoas diferentes queriam o irenismo em termos diferentes. [...] Diferentes interpretações do irenismo poderia ter implicações políticas diretas, fazendo a retórica da unidade Cristã uma ferramenta importante nos conflitos políticos do período.[15]

É sob esta luz que ele comenta sobre a sucessão dos irenistas: Erasmo, Cassander, Jacob Acontius, Grotius, e depois John Dury, o qual gastou muito tempo em uma proposta reconciliação entre luteranos e calvinistas.

Uso moderno[editar | editar código-fonte]

Irenista se tornou um adjetivo comumente utilizado para designar uma concepção idealista e pacifista, tal como a teoria da paz democrática.

Falso irenismo é uma expressão utilizada em certos documentos da Igreja Católica do século XX para criticar tentativas de ecumenismo que permitiriam a distorção ou nublagem da doutrina Católica. Documentos utilizando o termo incluem a encíclica Humani Generis, promulgada pelo Papa Pio XII em 1950, e o decreto Unitatis Redintegratio, 1964 do Concílio Vaticano II.

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Terence J. Martin, Living Words: Studies in Dialogues about Religion (1998), p. 278.
  2. Peter G. Bietenholz, Thomas Brian Deutscher, Contemporaries of Erasmus: A Biographical Register of the Renaissance and Reformation (2003), p. 78, p. 275 e p. 475.
  3. http://www.science.uva.nl/~seop/archives/win2008/entries/erasmus/
  4. Nick Thompson, The Long Reach of Reformation Irenicism: the Considerationes Modestae et Pacificae of William Forbes (1585-1634). pp. 124-147 em Reforming the Reformation (2004); PDF (na p. 2 e p. 8).
  5. James Hutton, Themes of Peace in Renaissance Poetry (1984), p. 146.
  6. Martin van Gelderen, The Political Thought of the Dutch Revolt 1555-1590 (2002), p. 83; Google Books.
  7. Anthony Milton, Catholic and Reformed: The Roman and Protestant Churches in English Protestant Thought, 1600-1640 (2002), pp. 248–9; Google Books.
  8. W. B. Patterson, King James VI and I and the Reunion of Christendom (2000), p. 149; Google Books.
  9. Antony Milton, Catholic and Reformed: The Roman and Protestant Churches in English Protestant Thought, 1600-1640 (2002), pp. 233-9.
  10. Nicolson, Adam (2003). God's Secretaries. [S.l.: s.n.] p. 66 
  11. http://www.ccel.org/s/schaff/encyc/encyc11/htm/old/0238=218.htm
  12. http://www.ccel.org/s/schaff/encyc/encyc04/htm/0356=340.htm
  13. http://www.ccel.org/ccel/schaff/creeds1.ix.ii.xi.html
  14. James E. Force, Richard Henry Popkin, Newton and Religion: Context, Nature, and Influence (1999), p. 146 e p. 175.
  15. Anthony Milton, ’The Unchanged Peacemaker’? John Dury and the politics of Irenicism in England, 1628-1643, p. 96 em Mark Greengrass (editor), Samuel Hartlib and Universal Reformation: Studies in Intellectual Communication (2002).

Outras Leituras[editar | editar código-fonte]

  • Howard Louthan (1997), The Quest for Compromise: Peacemakers in Counter-Reformation Vienna
  • Joris van Eijnatten (1998), Mutua Christianorum Tolerantia: Irenicism and Toleration in the Netherlands: The Stinstra Affair, 1740-1745
  • Samuel J. T. Miller, Molanus, Lutheran Irenicist (1633–1722) Church History, Vol. 22, No. 3 (Sep., 1953), pp. 197–218
  • Bodo Nischan, John Bergius: Irenicism and the Beginnings of Official Religious Toleration in Brandenburg-Prussia, Church History, vol. 51 (1982), pp. 389–404
  • Michael B. Lukens, Witzel and Erasmian Irenicism in the 1530s, The Journal of Theological Studies 1988 39(1):134-136
  • Graeme Murdock,The Boundaries of Reformed Irenicism: Hungary and Transylvania in Howard Louthan, Randall Zachman (eds), From Conciliarism to Confessional Church, 1400-1618 (South Bend: Notre Dame Press, 2004).
  • Daphne M. Wedgbury, Protestant Irenicism and the Millennium: Mede and the Hartlib Circle, in Jeffrey K. Jue (editor), Heaven Upon Earth: Joseph Mede (1586–1638) and the Legacy of Millenarianism (2006)