João Fiadeiro

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João Fiadeiro
Nome completo José João Fiadeiro Nascimento
Nascimento 7 de junho de 1965 (58 anos)
Paris
Nacionalidade português
Ocupação Artista, coreógrafo, performer, professor e investigador

José João Fiadeiro Nascimento (Paris, 7 de Junho de 1965) é um artista, coreógrafo, performer, professor e investigador português, residente em Lisboa. Pertence à geração de coreógrafos que emergiu no final da década de 1980 e que, na sequência do movimento “pós-moderno” americano e dos movimentos da "Nouvelle Danse" francesa e belga, deu origem à "Nova Dança Portuguesa".[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

José João Fiadeiro Nascimento nasceu em Paris em 1965, lugar onde os seus pais estiveram exilados durante o período da ditadura fascista em Portugal protagonizada pelo chefe de estado António de Oliveira Salazar. Passou a sua infância na Argélia, El Salvador e no Brasil antes de regressar a Portugal em 1972.

Inicia o seu percurso em dança nos anos 80 enquanto aluno bolseiro na Escola de Dança Rui Horta (1982), e depois nos cursos de formação profissional do Ballet Gulbenkian (1983), onde investe numa formação em técnicas de dança clássica e moderna, continuada posteriormente em Nova Iorque no Peridance Center (84-85) e na Paul Taylor Dance School (86).

Foi bailarino na Companhia de Dança de Lisboa (1985-1986; 1988), fundada por Rui Horta e José Manuel Oliveira em 1984, no Peridance Ensemble[2] e Mark Haim & Friends (1986) em Nova Iorque.

Nos EUA, entra em contacto com o movimento pós-moderno Americano e continua a sua formação autónoma em ateliers de coreógrafos como Trisha Brown, Steve Paxton e David Gordon, “passando a concentrar-se nas técnicas de improvisação e composição surgidas com esse movimento"[3] e que viria a aprofundar em vários workshops.

Em 1988, é convidado a integrar o elenco do Ballet Gulbenkian (88-89), então dirigido por Jorge Salavisa, onde fica durante uma temporada. É neste período que João Fiadeiro desenvolve o seu primeiro trabalho coreográfico - Plano para identificar o centro (1989) - no contexto do XII Estúdio Coreográfico do Ballet Gulbenkian.

Em 1989, vai para Berlim e entra em contacto com as metodologias de composição do coreógrafo belga Wim Vanderkeybus e aprofunda a sua experiência nas práticas de contacto-improvisação com Dieter Heitkamp e Howard Sonnenkar. Nesse mesmo ano, funda, juntamente com Vera Mantero, Francisco Camacho, André Lepecki, Carlota Lagido e Paulo Abreu, a cooperativa Pós d'Arte, um fórum de discussão artística. Em 1990, viria ainda a colaborar enquanto bailarino/performer para Francisco Camacho.

Em 1990, funda a Companhia RE.AL (Resposta.ALternativa) que vai ao encontro de dar uma "continuidade" ao seu trabalho de autor com colaboradores regulares.[4] Ao mesmo tempo, foca-se na criação de diálogos construtivos com a comunidade artística, os públicos e os agentes culturais, através de projectos experimentais, co-produções, residências, festivais, workshops e edições. A RE.AL tornou-se assim numa estrutura fundamental no movimento chamado de ‘Nova Dança Portuguesa’ dos anos 90, e João Fiadeiro, no interior desse movimento, afirma-se através da criação das suas primeiras peças. Entre estas, destacam-se Retrato da Memória Enquanto Peso Morto (1990) e Solo para Dois Intérpretes (1991), apresentado no festival Klapstuck'91 no âmbito da Europalia 91 dedicada a Portugal, na Bélgica,[5] que viria a trazer reconhecimento e visibilidade internacional ao seu trabalho. Nessa altura, escreve André Lepecki a propósito do projeto: "estamos perante uma viragem na linguagem de João Fiadeiro".[5] Seguem-se O que Eu Penso que Ele Pensa que Eu Penso (1992), Branco Sujo (1993), Self(ish) Portrait (1995), I Am Sitting in a Room Different From the One You Are In Now (1997), O que Eu Sou Não Fui Sozinho (2000), Existência (2002) e I Am Here, a partir da obra de Helena Almeida (2003). Nesse ano, colaborou ainda com o cineasta Pedro Costa na concepção do filme-conferência The End of a Love Affair.    

Entre 1995 e 2000, colaborou regularmente com os Artistas Unidos enquanto responsável pelo movimento em cena das encenações de Jorge Silva Melo. Esta relação levou-o a encenar três peças produzidas por essa estrutura, entre as quais À Espera de Godôt de Samuel Beckett, no ano 2000.

A partir de 1995, dá inicio à sistematização do método de Composição em Tempo Real que suporta, sustenta e determina a sua actividade enquanto artista, formador e investigador "enquanto instrumento e plataforma teórico-prática para pensar a decisão, a representação e a colaboração."[6]

Em 2008, suspende a sua actividade enquanto coreógrafo e autor, desviando o seu foco de interesse para iniciativas onde o processo – em oposição ao produto – passa a ser o seu objecto central.[7] Entre 2011 e 2014, co-dirigiu, com a antropóloga Fernanda Eugénio, o centro de investigação AND_Lab em Lisboa, uma plataforma de formação e pesquisa na interface entre criatividade, sustentabilidade e quotidiano em os investigadores pretendem questionar e experimentar modalidades do “como viver juntos”.[8] Um dos resultados desta longa colaboração, foi a performance Secalharidade desenvolvida com Fernanda Eugénia em 2012, que marca um regresso ao trabalho autoral, depois continuado com a revisitação da peça dedicada ao trabalho de Helena Almeida em novo formato conferência - I am (not) here (2014) - e finalmente o trabalho de grupo O que fazer daqui para trás (2015).

Obras[editar | editar código-fonte]

  • 1989 - Plano para identificar o centro - para o XII Estúdio Coreográfico do Ballet Gulbenkian
  • 1989 - Act of Cumplicity - para os alunos finalistas da Escola de Dança do Conservatório de Lisboa
  • 1990 - Do Medo, da Ilusão e da Queda
  • 1990 - Retrato da Memória Enquanto Peso Morto
  • 1991 - Solo para Dois Intérpretes – estreia no Klapstuk’91
  • 1992 - Solos
  • 1992 - O que Eu Penso que Ele Pensa que Eu Penso – estreia no Encontros Acarte 92
  • 1992 - Estudos - para os alunos finalistas da Escola de Dança do Conservatório de Lisboa
  • 1992 - Sem Título - para a Companhia CêDêCê de Setúbal
  • 1993 - Branco Sujo
  • 1994 - Recentes Desejos Mutilados
  • 1995 - Amor ou Sexo - para os alunos finalistas do Centre National de Danse Contemporaine de Angers (França)
  • 1995 - Self(ish) Portrait
  • 1995 - O Desejo Ardente Deve Ser Acompanhado por Uma Vontade Firme
  • 1996 - Bonjour Tristesse - para o Ballet Gulbenkian
  • 1997 - Vidas Silenciosas
  • 1997 - I Am Sitting in a Room Different From the One You Are In Now
  • 1998 - Mindfield
  • 1998 - … E Inversamente
  • 2000 - O que Eu Sou Não Fui Sozinho
  • 2001 - Aicnêtsixe
  • 2002 - Existência
  • 2003 - I Am Here, a partir da obra de Helena Almeida
  • 2003 - The end of a love affair - conferência performance em colaboração com Pedro Costa
  • 2007 - Para onde vai a luz quando se apaga
  • 2008 - Este corpo que me ocupa
  • 2012 - Secalharidade – em colaboração com Fernanda Eugénio
  • 2014 - I am (not) here
  • 2015 - O que fazer daqui para trás - estreia no Teatro Maria Matos

Com os Artistas Unidos:

  • 1995 - António um rapaz de Lisboa - de Jorge Silva Melo, encenação de Jorge Silva Melo (Gulbenlkian/Tivoli).
  • 1996 - O fim ou tende misericórdia de nós - de Jorge Silva Melo, encenação de Jorge Silva Melo (Culturgest/Litografia).
  • 1997 - Prometeu agrilhoado/libertado - de Jorge Silva Melo, encenação de Jorge Silva Melo (Teatro da Trindade).
  • 1998 - A Tragédia de Coriolando - de William Shakespeare, encenação de Jorge Silva Melo (Teatro Rivoli).
  • 1998 - A queda do egoísta Johann Fatzer - de Bertolt Brecht, encenação de Jorge Silva Melo (Teatro Variedades).
  • 1999 - Torquato Tasso - de Goethe, encenação de Jorge Silva Melo (Acarte).
  • 2000 - À espera de Godot - de Samuel Beckett, encenação de João Fiadeiro (Espaço A Capital).
  • 2001 - 4.48 PSICOSE - de Sarah Kane, encenação de João Fiadeiro (Espaço A Capital).
  • 2004 - A noite canta os seus cantos - de Jon Fosse, encenação de João Fiadeiro (Teatro Taborda)

Com o Teatro Griot:

  • 2016 - O lugar por onde a vaca passou - a partir de Prometeu (Teatro do Bairro).

Referências

  1. «O Núcleo de Experimentação Coreográfica no Porto apresenta "Para onde vai a luz quando se apaga?" de João Fiadeiro». Gazeta dos Artistas. Consultado em 24 de fevereiro de 2016 
  2. Dunning, Jennifer (25 de abril de 1986). «DANCE: PERRY ENSEMBLE». The New York Times. ISSN 0362-4331 
  3. «biografia» (PDF). Consultado em 24 de fevereiro de 2016 
  4. «SARMA: JOÃO FIADEIRO: CAIR NA RE.AL». sarma.be. Consultado em 27 de fevereiro de 2016 
  5. a b «SARMA: KLAPSTUK'91 TERCEIRA PARTE: FIM DE FESTA». sarma.be. Consultado em 25 de fevereiro de 2016 
  6. «biografia». joaofiadeirobiografia.blogspot.pt. Consultado em 27 de fevereiro de 2016 
  7. «O Núcleo de Experimentação Coreográfica no Porto apresenta "Para onde vai a luz quando se apaga?" de João Fiadeiro». Gazeta dos Artistas. Consultado em 27 de fevereiro de 2016 
  8. «Culturgest, uma casa do mundo». www.culturgest.pt. Consultado em 27 de fevereiro de 2016. Arquivado do original em 5 de março de 2016