Joaquim Augusto Ribeiro de Sousa

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Joaquim Augusto
Joaquim Augusto Ribeiro de Sousa
Nome completo Joaquim Augusto Ribeiro de Sousa
Nascimento 6 de julho de 1825
Rio de Janeiro
Nacionalidade Império do Brasil brasileiro
Morte 17 de janeiro de 1873 (47 anos)
Rio de Janeiro
Ocupação Ator, ensaiador, empresário teatral
Cônjuge Maria Angélica de Sousa
Maria Velluti

Joaquim Augusto Ribeiro de Sousa (Rio de Janeiro, 6 de julho de 1825 - Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 1873) foi um ator dramático brasileiro, pioneiro do teatro realista no Brasil. Do casamento com Maria Angelica de Sousa teve dois filhos que também seguiram a carreira teatral: Joaquim Augusto Ribeiro de Sousa Filho e Carolina Augusta de Sousa. Com a morte da primeira esposa, casou-se com a atriz de origem portuguesa Maria Velluti.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Filho do alfaiate João Tiago de Sousa e de Marianna Joaquina de Jesus, começou a vida trabalhando como caixeiro. Em 1841, aos 16 anos, estreou no Teatro São Francisco, na Companhia de João Caetano, e pouco depois foi dispensado. Para se alimentar, passou a trabalhar como pintor e a fazer cópias e tirar papéis para os teatros. Mais tarde, o próprio João Caetano deu-lhe, no mesmo São Francisco, os encargos do contra-regra. Com a falência da empresa teatral, foi para o Theatro de Nitheroy, atual Teatro João Caetano, como corista e ator, tendo aí se apresentado no drama Arthur. Em 1845 seguiu com a companhia teatral de Francisco Fructuoso Dias para a província do Rio Grande do Sul e, em 1849, regressando ao Rio de Janeiro como primeiro artista, foi contratado no Teatro São Januário. No segundo semestre de 1849, fez uma breve turnê em Salvador (BA), de onde regressa ao Rio de Janeiro em meio à irrupção de uma epidemia de febre amarela. Com a chegada da epidemia ao Rio de Janeiro no início de 1850, Joaquim Augusto seguiu para o teatro de Campos de Goytacazes (RJ), onde permaneceu até o fim daquele ano. [1][2][3][4]

Em 1851, passou a fazer parte da companhia dramática de Florindo Joaquim no Teatro de São Francisco, onde desempenhou papéis em melodramas franceses. Após a tentativa fracassada de Florindo Joaquim de manter uma companhia dramática concorrente a de João Caetano, Joaquim Augusto retornou ao Teatro de São Pedro de Alcântara.[5]

O ator Joaquim Augusto Ribeiro de Sousa em imagem de Militão Augusto de Azevedo.

Em 22 de junho de 1851 atuou na comédia O Fantasma Branco, de Joaquim Manoel de Macedo, no Teatro São Pedro. [6] Em outubro do mesmo ano, atua ao lado de sua irmã, a atriz Rosina Augusta de Souza na comédia "O bahiano na corte" de Sá Noronha, na Companhia de São Januário, dirigida por João Caetano. [7]

Permaneceu no Teatro de São Pedro de Alcântara de 1852 a 1854, quando o francês Émile Doux ali desempenhava as tarefas de ensaiador. O ator foi despedido do teatro e, a partir de então, empreendeu uma trajetória artística e empresarial autônoma.[5]

Joaquim Augusto se instalou em São Paulo de meados de 1854 a 1855. Dirigiu uma companhia dramática e representou uma série de melodramas franceses, alguns do repertório de João Caetano, outros que havia encenado nos teatros do Rio de Janeiro. Em dezembro de 1855, partiu para o Rio Grande do Sul, onde permaneceu até 1858.[5]

Em 27 de junho de 1858, participa da inauguração do Theatro São Pedro, em Porto Alegre. Ao lado de sua filha Carolina Augusta de Souza e dos artistas Anna Monclar, Maria Amalia, Arruda e Brochado, Joaquim Augusto representa o drama “Recordações da Mocidade”, pela companhia que tinha como diretor João Ferreira Bastos e como “primeiro galã” Furtado Coelho.[8]

Em agosto de 1859 é contratado por Joaquim Heliodoro para atuar no Teatro Ginásio, no Rio de Janeiro. Estreia no dia 14 de agosto, no papel de Conde de S. Tiago, no drama Pedro. [9]

Foi no Teatro Ginásio que se consagrou como intérprete, trabalhando com os atores portugueses Furtado Coelho e Gabriela da Cunha. Ao lado de Furtado Coelho, contribuiu de maneira notável para a afirmação do realismo teatral em palcos brasileiros. Quando Furtado Coelho se ausentou do Rio de Janeiro, nos primeiros anos da década de 1860, Joaquim Augusto se tornou o principal artista do realismo teatral, rivalizando com João Caetano e assumindo inclusive as funções de ensaiador e empresário do Ginásio Dramático. Para Machado de Assis, depois que se transferiu para o Ginásio, Joaquim Augusto “veio mostrar-nos a transfiguração de uma vocação erradia outrora em um clima que lhe não convinha, e que forçosamente lhe nulificava a aptidão e a inteligência”. Machado de Assis gostava de seu trabalho como intérprete e elogiou-o em várias ocasiões, chegando a afirmar que no papel do cavalheiro de Maubreuil, da peça A Honra de uma Família, “tocou por vezes o sublime da arte” e no quarto ato “maravilhou a platéia”. [10]

Em 24 de março de 1860, o Ginásio Dramático montava a peça Mãe, de José de Alencar, drama a expor tristezas do cativeiro negro, no Brasil. José de Alencar confiou a Joaquim Augusto o desempenho do papel de um médico, o dr. Lima. [11]

Com a morte de Joaquim Heliodoro em agosto de 1860, abriu-se um novo período na história do Ginásio, que passou a abrigar uma nova companhia formada por antigos atores do Ginásio e da recém-extinta companhia de Furtado Coelho. Dessa fusão formou-se a Sociedade Dramática Nacional, sob a direção de Joaquim Augusto, Eduardo Graça e Antônio Moutinho de Souza. [12]

O Cabrião, periódico satírico de Ângelo Agostini, presta homenagem ao ator Joaquim Augusto. Novembro de 1866.

Entre setembro de 1860 a fevereiro de 1862, quando o Ginásio esteve sob a direção de Joaquim Augusto, uma leva de autores dramáticos brasileiros foi encenada, superando os franceses e fazendo deste o único momento da dramaturgia escrita por brasileiros no século XIX. Por um momento, Machado de Assis e José de Alencar viveram a concretização de suas expectativas sobre o teatro brasileiro. [13]

Foi nomeado membro da comissão responsável por formular os novos estatutos do Conservatório Dramático Nacional, em janeiro de 1862. [12]

Sob o título de Companhia Dramática Nacional, Joaquim Augusto organizou empresa teatral da qual fizeram parte os atores Maria Velluti, Joaquim Augusto Ribeiro de Sousa Filho, João Luiz de Paiva, João Eloy, José Victorino, Vasques, Julia Azevedo, Magdalena, Militão Augusto de Azevedo, entre outros. Em 29 de novembro de 1862, apresentaram em São Paulo a comédia "Luxo e Vaidade", de Joaquim Manuel de Macedo. [14]

Ainda em 1862, Joaquim Augusto, ao solicitar subvenção para sua companhia à Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo, assim justificou seu pedido: "São Paulo, ao passo que cresce em população e comércio, cresce nas dificuldades da vida, e é já quase fabuloso o preço por que se pode obter uma habitação regular, e o necessário para a subsistência. É pois mister que o artista tenha um tal ordenado que faça ao menos face a estas duas indeclináveis necessidades." E continuou: "Em todos os países civilizados do globo, o Teatro foi sempre olhado como uma fonte de moral, como um passatempo honesto, enfim, como uma verdadeira necessidade do povo." [15]

Em 1863, o Governo da Província de São Paulo concedeu a Joaquim Augusto, empresário e diretor da Companhia Dramática da Capital, a subvenção anual de três contos de réis, paga em prestações mensais, e cessando logo que o artista deixasse de dirigir a Companhia e de com ela representar. [16]

Joaquim Augusto em litografia publicada no periódico o Guarany, de 1871.

Joaquim Augusto se afasta da Companhia paulistana em meados de 1864, quando segue viagem a Portugal, na intenção de contratar artistas para a companhia do Teatro São Pedro, principal palco da Corte, cuja programação se encontrava em declínio desde a morte de João Caetano dos Santos, ocorrida em agosto do ano anterior. Sem êxito nos seus planos de assumir a direção do Teatro São Pedro, Joaquim Augusto retorna a São Paulo no final de 1864, passando a integrar em janeiro de 1865 a companhia do Teatro São José, espaço teatral recém-aberto. No ano seguinte, assume a direção da companhia dramática em sociedade com Antonio Bernardo Quartim, empresário responsável pelas obras do novo edifício teatral. Esse período é marcado por intensa disputa entre Joaquim Augusto e Quartim na condução dos negócios da empresa, e pela tomada de partido da imprensa local nos negócios do teatro, que leva à saída de Joaquim Augusto da companhia teatral e, consequentemente, à perda da subvenção estatal, apesar das tentativas do empresário Quartim para reverter a decisão do governo.[17]

De São Paulo, Joaquim Augusto, acompanhado de Maria Velluti, seguiu para o Nordeste, contratado por empresários teatrais locais. Em 1867, Vicente Pontes de Oliveira trouxe Velluti e Joaquim Augusto para a companhia do Teatro São Luiz, em São Luiz, Maranhão, com o ator assumindo também o cargo de diretor artístico da companhia. Em 1868, Joaquim Augusto e Maria Velluti são contratados por José Duarte Coimbra, empresário do Teatro Santa Isabel, no Recife, Pernambuco, onde Joaquim Augusto também assumiu a direção de cena.[13]

Em 25 de outubro de 1868, na primeira apresentação de Gonzaga no Theatro São José, em São Paulo, Castro Alves, ao fim do primeiro ato, recita sua ode ao protagonista de sua peça, o ator Joaquim Augusto, então maior ator brasileiro. O público acompanhou “silencioso e extático” – adjetivos de Bueno de Andrade que, menino, estava presente. A performance é também confirmada por Martim Francisco, na obra de Pedro Calmon.[18][19] O poema "ao ator Joaquim Augusto" integra o livro Espumas Flutuantes, publicado 1870.[20]

Joaquim Augusto voltou à antiga corte e teve logo uma época brilhante no Teatro Ginásio, onde fez, ao mesmo tempo que João Caetano no Teatro São Pedro, O Pelotiqueiro, sendo muito louvada a sua interpretação. Foi diretor geral da Sociedade Dramática Nacional. Suas peças de maior successo por essa occasião foram: Penélope Normanda, Pelotiqueiro e Homens Sérios. Esteve em Lisboa, representando no Theatro do Gymnasio a cena dramática Cerração no Mar. Foi o discípulo favorito de Emile Doux, responsável por uma completa reforma do teatro brasileiro. [1][2]

Referências

  1. a b Sousa Bastos, Antonio de. Carteira do Artista. Lisboa, 1898.https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=90120
  2. a b SOUSA, J. Galante de. O teatro no Brasil. Rio de Janeiro: MEC, 1960. tomo II.
  3. BIANCHINI, J.A.S.S. A companhia teatral de Francisco Fructuoso Dias na província de São Pedro do Rio Grande do Sul (1845-1847). Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, v.102, p.209, 2022.https://seer.ufrgs.br/index.php/revistaihgrgs/article/view/111464/85479
  4. BIANCHINI, J.A.S.S. «Teatro e epidemia – a trajetória de um artista dramático em meio à epidemia de febre amarela no Brasil do século XIX» (PDF) 
  5. a b c RONDINELLI.Bruna Grasiela da Silva.Lágrimas e Mitos: traduações e apropriações do melodrama francês no Brasil (1830-1910). Campinas: Unicamp, 2017. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/325664
  6. Macedo, Joaquim Manoel de. Anno biographico brazileiro. Rio de Janeiro : Typ. e Lithographia do Imperial Instituto Artistico, 1876.p75-79 http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/179448
  7. Periodico dos Pobres. Rio de Janeiro, 1851. Disponível em: http://memoria.bn.br/pdf/709697/per709697_1851_00121.pdf
  8. Correio do Povo. Porto Alegre, 27 de março de 2013. Disponível em: http://portallw.correiodopovo.com.br/ArteAgenda/?Noticia=501827
  9. Zambrano, Gustavo.A trajetória artística de Furtado Coelho nos palcos brasileiros (1856-1867). São José do Rio Preto: Unesp, 2018. https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/152956/zambrano_g_me_sjrp.pdf?sequence=3
  10. Faria, J. (2008). Machado de Assis e os estilos de interpretação teatral de seu tempo . Revista USP, (77), 135-148. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i77p135-148
  11. Cousas não ditas. Revista da Semana. Rio de Janeiro, n.17, 1944. http://memoria.bn.br/pdf/025909/per025909_1944_00017.pdf
  12. a b SILVA, Silvia Cristina Martins de Souza e. As noites do ginasio: teatro e tensões culturais na corte (1832-1868). 2000. 315p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciencias Humanas, Campinas, SP. Disponível em: http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/280978
  13. a b Stark, Andrea Carvalho. A mulher ausente: a presença de Maria Velluti (1827-1891) no teatro brasileiro. Urdimento. v. 1, n. 34 (2019). Disponível em: http://dx.doi.org/10.5965/1414573101342019280
  14. Correio Paulistano. Ano IX, n. 1972. São Paulo, 2 de dezembro de 1862. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=090972_02&pagfis=8348&url=http://memoria.bn.br/docreader#
  15. O Legislativo Paulista e o Teatro no Século XIX. https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=284135
  16. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1863/lei-16-21.04.1863.html
  17. BIANCHINI, J.A.S.S.Bastidores da Cena: A crise no teatro de São Paulo na correspondência de Ferreira de Menezes a Machado de Assis. História e Cultura. v. 12, n.1, 2023. https://doi.org/10.18223/hiscult.v12i1.3748
  18. Passos, Edvard. Castro Alves, teatro e teatralidade. Salvador: UFBA, 2016. http://repositorio.ufba.br:8080/ri/bitstream/ri/19704/1/PASSOS%20Edvard.%20Castro%20Alves%20Teatro%20e%20Teatralidade.pdf
  19. https://pt.wikisource.org/wiki/Um_dia_Pigmali%C3%A3o_%E2%80%94_o_estatu%C3%A1rio
  20. ALVES, Castro. Espumas flutuantes. in Poesias Completas. São Paulo : Ediouro, s.d. (Prestígio).Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000067.pdf