John Rockwell Smith

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John Rockwell Smith
Nome completo John Rockwell Smith
Nascimento 29 de dezembro de 1846
Lexington, Kentucky, Estados Unidos da América
Morte 9 de abril de 1918 (71 anos)
Campinas/SP, Brasil
Nacionalidade Estadunidense
Cônjuge Susan Carolina Porter (c. 1881-1918)
Alma mater Universidade de Kentucky (Doutorado, 1891)
Ocupação Pastor e missionário
Religião Igreja Presbiteriana do Brasil

John Rockwell Smith, (Lexington, 29 de dezembro de 1846Campinas, 9 de abril de 1918), foi um missionário estadunidense e pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, presidindo seu Supremo Concílio entre os anos 1915-1916 (na época Assembleia Geral).[1]

Missão e Ministério[editar | editar código-fonte]

Após a conclusão de sua graduação, o missionário foi enviado pela Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (hoje PCUS) ao Brasil, tendo chegado em 15 de janeiro de 1873, mais especificamente em Recife, no Pernambuco.[2][3] Segundo o relato do Rev. Cláudio Henrique Albuquerque, no sítio virtual da Primeira Igreja Presbiteriana de Recife, "no Recife, o Rev. Smith fixou residência na Rua Imperial, 31, no lº andar. Um mês após sua chegada, Smith escreveu uma carta à Missão dando relatório do seu trabalho." O texto da carta segue abaixo:[4]

A boa obra continua. Desde minha última carta, descobri um fato interessante. O trabalho aqui já se iniciara. Algumas semanas depois, uma carta do irmão Lane me informou de um colportor da Sociedade Bíblica Britânica nesta cidade [...]. É um senhor de idade; seu nome é Manoel José da Silva Viana. É um português que viveu no Rio de Janeiro durante quase 20 anos, e é Diácono, ali, na Igreja do Dr. Kalley. O Sr. Viana visitou esta cidade três vezes. A primeira, em 1869, quando ficou seis meses e não alcançou qualquer resultado. A segunda visita durou nove meses e, nessa ocasião, reuniu de 10 a 20 pessoas à sua volta. Voltou agora, pela terceira vez, chegando aqui em novembro último, e trouxe sua família consigo, pretendendo ficar. Reuniu um pequeno grupo de aproximadamente trinta pessoas...

Ressalte-se que o Sr. Manoel José da Silva Viana muito cooperou com o surgimento da Igreja Evangélica Congregacional Pernambucana. Porém o fato é que o Evangelho já tinha iniciado sua apresentação em território pernambucano.[5] Ocorre que Smith, poucos meses após sua chegada, ainda em 1873, em virtude da oposição católica (vaias, insultos e ameaças), encontrou-se com o presidente de Pernambuco no Palácio do Campo das Princesas, o Barão Henrique Pereira de Lucena, a fim de obter autorização para pregar.[4] Conseguiu a autorização, porém para pregar "em caráter particular, dentro de uma casa residencial e não em templo. Ele poderia ensinar inglês, vender ou distribuir Bíblias e livros religiosos segundo o regulamento do Conselho de Instrução Pública, observando as leis do Império."[4]

Sua primeira pregação foi em 10 de agosto de 1873, contando com a presença de 14 pessoas, sendo 10 adultos, 3 impúberes e o também missionário Rev. John Boyle. Ainda segundo o Rev. Cláudio H. Albuquerque, "o local da reunião foi uma casa situada no bairro de Santo Antônio, nas imediações da Rua Nova. Desde então, Smith passou a pregar nas manhãs dos domingos e fazia visitas durante a semana e aprendia português com um jovem professor. Em setembro, Smith passou a pregar também nas quintas-feiras já com um português melhor e mais compreensível."[4] À Missão que o enviara, Smith testemunhou:

Escreveu uma longa carta à Missão, dizendo: Pude pregar todas as manhãs de domingo e também me comprometi, [...] com outro culto nas noites de quinta-feira. Nestes cultos, leio uma passagem da Escritura e faço alguns comentários [...]. Estou lendo a Epístola aos Romanos, agora, com o intuito de chamar a atenção para dois fatos: o do pecado e o da justificação pela fé e pela graça, com suas consequências. O número de presentes não tem sido tão bom ultimamente como no início. A frequência é geralmente 12 ou 13 pessoas, homens na maioria vindos do rebanho do Sr. Viana. A maioria não vem com regularidade. Mas devido ao fato de alguns terem vindo muitas vezes, espero que se tornem ouvintes do Evangelho com disposição; e que sendo visitados em suas casas possam, pela bênção de Deus, ser induzidos a se tornarem frequentadores do culto. Dr. Kalley, do Rio de Janeiro, esteve na cidade durante o mês que passou. Batizou, no dia 19, 12 pessoas do pequeno rebanho recolhido pelo Sr. Viana.

Em 11 de abril de 1878, o Governo de Pernambuco o reconhece como ministro evangélico:[6]

EDITAL

4ª Secção – Secretaria da Presidência de Pernambuco, 6 de abril de 1878.

Por esta Secretaria, se faz público, de conformidade com o Aviso do Ministério dos Negócios do Império, de 10 de fevereiro de 1864, que, nos termos dos Artigos 52 e 58 do Decreto nº 3.068, de 17 de abril e Aviso Circular nº 483, de 10 de outubro de 1863, foi registrado hoje nesta Repartição o título de Ministro da Religião Evangélica, conferido ao Reverendo John Rockwell Smith.

O Secretário Interino

Francisco Amynthas de Carvalho Moura.


Primeira Igreja Presbiteriana de Recife[editar | editar código-fonte]

Smith tornou-se um respeitado professor de inglês, no entanto, tanto ele, quanto o rebanho que com ele congregava, não cessavam de receber insultos e ameaças, tais quais: "Vamos apedrejá-los!, vamos jogá-los no rio para irem nadando até o Palácio e se queixarem ao Presidente da Província. Esse americano barbudo precisa aprender a respeitar!" Somente após cinco anos de peleja, com 12 convertidos, Smith organiza a Primeira Igreja Presbiteriana de Recife, aos 11 de agosto de 1878, que contou com a presença do Rev. Alexander Latimer Blackford.[7] Na ocasião, foram os membros fundadores:

  1. Francisco Joaquim Pereira Pinto;
  2. Joaquim da Costa Wanderley;
  3. José Inácio de Araújo Pereira;
  4. Emile Fiaux;
  5. Belmiro de Araújo César (que, posteriormente, veio a ser pastor);
  6. João Batista de Lima (que, posteriormente, veio a ser pastor);
  7. Christiano Eugênio Peixoto;
  8. José Francisco Primênio da Silva (que, posteriormente, veio a ser pastor);
  9. Amélia Rufino da Silva Pontes;
  10. Francisca Alves de Albuquerque;
  11. Domerinda Pereira de Araújo; e
  12. Irinéia Maria dos Prazeres.

No momento da organização, o Rev. Smith assim discursou:[4]

Meus irmãos, a assembléia aqui reunida acaba de aprovar a fundação, por unanimidade, da IGREJA PRESBITERIANA DE PERNAMBUCO, sob a bênção de Deus, nosso Pai e Criador. Esta data será lembrada através dos anos que virão, pois esta igreja que agora nasce, nesse clima de tensão e de restrições à divulgação da Palavra, tem uma missão a cumprir na história do evangelismo deste país. Olhando para o futuro, vejo que daqui sairão os homens que, pela Graça de Deus, levarão o Evangelho aos confins deste Estado e do País e até a outras partes do mundo! Declaro fundada a IGREJA PRESBITERIANA DE PERNAMBUCO.

Belmiro de Araújo César, por sua vez, disse:[4]

Meus irmãos! Um com Deus é a maioria. E nós somos 13! O Senhor há de nos guiar, de nos proteger, de nos guardar. Proponho que elejamos por aclamação nosso primeiro Pastor, o Rev. JOHN ROCKWELL SMITH, que há cinco anos vem realizando este extraordinário trabalho em nossa cidade.

Ali, foram eleitos o Pastor Titular (Smith), dois presbíteros e dois diáconos, além de um plano de disseminação do Evangelho, que seria pregado em três pontos: na Travessa do Príncipe, na Rua Imperial e em Areias.

Casamento e Atuação no Nordeste[editar | editar código-fonte]

Após anos de intenso labor, muitas vezes solitário, Smith retirou-se, em 1881, ao Sul do Brasil, a fim de uma visita, tendo seu trabalho sido confiado aos missionários estadunidenses Rev. De Lacey Wardlaw e sua esposa, a Sra. Mary Hoge Wardlaw. Durante aquela visita, Smith conheceu aquela que, não muito tempo depois, veio a ser sua esposa, a Sra. Susan Carolina Porter (posteriormente Susan Carolina Porter Smith),[8][9] filha de James D. Porter e Susan Meggs Porter, com a qual retorna a Recife. Os Wardlaw, em 1882, foram transferidos para Fortaleza, de modo que o Rev. Smith atuou sozinho até a vinda do Rev. George William Butler em 1883, oportunidade em que pôde tirar suas primeiras férias em 11 anos de árduo trabalho, nos Estados Unidos. Quando de lá retornou Smith e sua família, trouxa consigo o Rev. Joseph Henry Gauss, juntamente com a esposa deste. Em 1884, seu cunhado, William Calvin Porter, que viria a ajudá-lo no trabalho.

Em 19 de julho de 1887, juntamente com sua esposa e filhos, desembarca em Maceió, Alagoas, para partir ao município de Pão de Açúcar. Aos 18 de agosto do mesmo ano, procedeu com a organização da Igreja, tendo Smith pregado em Mateus, capítulo 28, versículo 18. Juntamente com o Rev. José Francisco Primênio da Silva, que também fazia parte da comissão, batizou 16 adultos e 13 menores, além de 3 adultos e 3 menores na noite seguinte. Assim fora organizada a Igreja Presbiteriana de Pão de Açúcar, com 35 membros.[6][10] Smith permaneceu em Recife até 1892, mas deixando um valioso legado na região: cinco igrejas no Nordeste, o jornal "Salvação de Graça" e o Presbitério de Pernambuco (que fora organizado aos 17 de agosto de 1888).

Atuação no Sudeste Brasileiro e últimos dias[editar | editar código-fonte]

O Seminário Presbiteriano do Sul fora fundado em 8 de setembro de 1888 (na organização do Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil, em setembro de 1888, Smith fora relator da comissão que sugeriu a criação do referido seminário, apoiado por um dos poucos missionários da Igreja do Norte, o Rev. John Merrill Kyle) e estava localizado em Nova Friburgo (deveria ser instalado em Campinas, mas, por conta do surto de febre amarela, precisou ficar em Nova Friburgo).[11] Para tanto, Smith e Blackford foram eleitos para serem professores do Seminário, mas Blackford veio a falecer em 1890. Smith concluiu seu Doutorado em Divindade em 1891 e mudou-se para o Sudeste, mais especificamente em Nova Friburgo, em 1892. O Seminário passou a funcionar somente em 15 de novembro de 1892, do qual foi o primeiro reitor.[7] Foram também professores, além de Smith, o já citado rev. Kyle e João Gaspar Meyer, ministro luterano. Alguns dos que compunham sua diretoria, também compunham a diretoria do Colégio Protestante de São Paulo, "como Chamberlain e Carvalhosa."[11]

Smith era membro da Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos (hoje Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos), enquanto Blackford pertencia à Presbiteriana do Norte dos Estados Unidos (hoje Igreja Presbiteriana (EUA)). Boa parte dos missionários da Igreja do Sul (PCUS) fixaram-se nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil, enquanto que, de semelhante modo, uma boa parte dos missionários da Igreja do Norte (PCUSA) fixaram-se nas Regiões Sudeste e Sul do Brasil.

O Seminário finalmente foi transferido para Campinas em 1895, o que fez com que o Rev. Smith mudasse novamente. Smith passou, então, a colaborar com a Igreja Presbiteriana de Campinas. Em 1897, no Sínodo, Smith apresenta o que ficou conhecido como "Moção Smith", ipsis literis:[11][12]

Considerando a grande necessidade de evangelização em todo o território do nosso Sínodo e os muitos campos abertos que não podemos suprir com os meios de graça;

Considerando as quantias avultadas despendidas nos grandes colégios, internatos etc., como meios de propaganda;

Considerando o quase completo malogro de tais instituições, entre nós, quer como meio de propagação da fé, quer como preparação de um ministério evangélico;

Considerando as contendas e amarguras que têm sempre resultado de tais institutos, tirando-nos às vezes o franco apoio e simpatia dos nossos irmãos na América do Norte;

Nós, do Sínodo do Brasil, respeitosamente, recomendamos e rogamos às Assembleias das nossas Igrejas-Mães que o auxílio que quiserem prestar-nos seja no sentido de ajudar-nos no grande trabalho de evangelização pelos métodos mais diretos, incluindo o trabalho da educação e preparação de um ministério conforme os planos do Sínodo, e no sustento de escolas paroquiais para os filhos dos crentes.

Da Igreja do Norte do EUA, somente o Rev. Kyle apoiou a Moção, que contou com grande apoio de ministros nacionais e da Igreja do Sul do EUA.

Em 1903, a Igreja Presbiteriana do Brasil viu-se diante da sua maior crise. Em razão da posição presbiteriana acerca da Maçonaria (a IPB só passou a não aceitar membros que estivessem envolvidos com a Maçonaria em 2010)[13] e de não-interferência de missionários estadunidenses, surge a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Desta forma, Smith passou a congregar na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo naquele mesmo ano, na qual sua esposa foi presidente da Sociedade Auxiliadora Feminina local entre 1903 e 1905 (ano em que comprou-se o terreno na Rua Helvétia, onde localiza-se o atual templo). Smith foi Presidente Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil (Assembleia Geral, à época) entre os anos 1915-1916.

O Rev. Smith morreu em 9 de abril de 1918, tendo formado mais de cinquenta ministros, dos quais, dentre seus últimos alunos, estava Guilherme Kerr. Seu túmulo encontra-se no Cemitério da Saudade, em Campinas, com os dizeres Pelejaram a boa peleja, guardaram a fé. Quem nos separará do amor de Cristo?. No mesmo túmulo, em 17 de novembro de 1921, também passou a repousar sua esposa, data do falecimento desta. Rev. John e D. Susan Smith tiveram 4 filhos e 2 filhas. Dentre estes, tornaram-se pastores James Porter, Robert Benjamin e William Kyle e tornou-se médico Rockwell Emerson. Seis de seus netos seguiram o caminho do Ministério da Palavra.[1]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «A Vida do Rev. John Rockwell Smith». Agreste Presbiteriano. 3 de abril de 2018. Consultado em 23 de outubro de 2020 
  2. «XXVIII Simpósino Nacional de História: História do Presbiterianismo no Nordeste» (PDF). Consultado em 27 de março de 2018 
  3. «Missionários Presbiterianos no Nordeste» (PDF). Consultado em 27 de março de 2018. Arquivado do original (PDF) em 25 de novembro de 2016 
  4. a b c d e f «Primeira Igreja Presbiteriana do Recife | História». primeiraigreja.org.br. Consultado em 23 de outubro de 2020 
  5. «Congregacionais». Observatório Transdisciplinar das Religiões no Recife. 11 de abril de 2011. Consultado em 23 de outubro de 2020 
  6. a b «Origens do protestantismo em Pão de Açúcar». História de Alagoas. 8 de outubro de 2015. Consultado em 23 de outubro de 2020 
  7. a b «Missionários da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América ou Igreja do Norte – PCUSA (1859-1900)» (PDF). Igreja Presbiteriana Ebenézer de São Paulo. 2015. Consultado em 23 de outubro de 2020 
  8. MATOS, Alderi Souza (1998). «"Para Memória Sua": A Participação da Mulher nos Primórdios do Presbiterianismo no Brasil» (PDF). Fides Reformata 3/2. Consultado em 23 de outubro de 2020 
  9. PRADO, Ana Maria (2020). «Dia da Mulher Presbiteriana» (PDF). Confederação Nacional da Sociedade Auxiliadora Feminina da Igreja Presbiteriana do Brasil. Consultado em 23 de outubro de 2020 
  10. “Nova igreja. Na cidade de Pão de Assúcar, Província das Alagoas, acaba de ser inaugurada, pelos rvds. Smith e José Primênio, uma igreja evangélica com 35 membros, sendo 18 adultos e 17 menores.”. São Paulo: A Imprensa Evangélica. 22 de outubro de 1887 
  11. a b c MATOS, Alderi Souza (1999). «O Colégio Protestante de São Paulo» (PDF). Fides Reformata 4/2. Consultado em 23 de outubro de 2020 
  12. FERREIRA, Julio Andrade (1960). História da Igreja Presbiteriana do Brasil. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana. p. 420 
  13. «Decisões Importantes: Maçonaria» (PDF). Igreja Presbiteriana do Brasil. 2010. Consultado em 23 de outubro de 2020 

Precedido por
Rev. Roberto Frederico Lenington
Presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil

1915 - 1916
Sucedido por
Rev. Horace Selden Allyn