Jornal de Serra Verde

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Jornal de Serra Verde
Autor(es) Waldemar Versiani dos Anjos
Idioma português
País Brasil Brasil
Editora Instituto Nacional do Livro; Editora Itatiaia
Lançamento 1972
Páginas 200

Jornal de Serra Verde é um romance de memórias escrito por Waldemar Versiani dos Anjos, publicado em 1972.

D.O.U. de 10/3/1932

O nome do autor consta da "Relação dos diplomas registrados durante os meses de janeiro e fevereiro de 1932" da Inspetoria de Fiscalização do Exercício da Medicina do Departamento Nacional de Saúde Pública. Daí - como informa o autor ter sido designado para o posto de médico em Serra Verde logo após formado infere-se que os fatos narrados no livro ocorreram na década de 30 do século XX[1]

Sinopse[editar | editar código-fonte]

O livro trata dos anos em que o autor atuou como médico na cidade fictícia de Serra Verde (em verdade, o município mineiro de São João Evangelista), na primeira metade do século XX, e é composto por diversas crônicas, que entre si apenas mantém o liame dos personagens, repetidos com maior ou menor frequência.

Embora utilize local e personagens fictícios, todos as pessoas mencionadas realmente existiram. A inteligente construção dos nomes, paralelamente às histórias narradas, torna possível a identificação das pessoas às quais se referem (por exemplo: o personagem Policarpo Rosa, farmacêutico da cidade, é, em verdade, o sr. Francisco Carpóforo da Rocha).

Destaca-se o lirismo com que o autor narra o modo de viver e pensar dos habitantes de Serra Verde e a análise que faz dos jogos de poder que envolvem os clãs da cidade. Os acontecimentos são descritos ora com disfarçada repulsão, ora com declarada compaixão, o que talvez se explique com os dilemas existenciais do próprio autor: nascido em Montes Claros, muda-se para a capital do estado - Belo Horizonte - para estudar Medicina e, recém-formado, é alçado de volta à realidade provinciana que, de certa forma, é sua origem - apenas com interlocutores diferentes.

Assim, a suave narrativa não chega a esconder a inquietação juvenil do médico já exposto ao mundo vasto, mas circunstancialmente confinado a uma realidade menor. O texto permite entrever como o protagonista, gradativamente, assimila essa inquietação e é cativado por aquela realidade.

Personagens[editar | editar código-fonte]

  • Dr. Sebastião de Matos Queiroz e Melo: protagonista, narra os acontecimentos em primeira pessoa. Trata-se do próprio Waldemar Versiani dos Anjos
  • Antônio de Paula Melo (Coronel Totônio): "[...] chefe político, homem brando, 75 anos e vasta prole. Respeitado pelos opositores, dá-se com todo mundo. A brandura não lhe é qualidade segunda, ajuste de conveniência, vê-se que escorre naturalmente de pessoa bondosa. Ao lado disso, o velho maneja os temperos do mineirão e político nato, movendo-se com sagacidade. Mas nunca foi forte nos negócios, e vai ficando patente sua deterioração financeira, pelo sacrifício ou gravame de teres e haveres em parcela apreciável. Embora guarde ainda os galões do comando, tradição de muitos anos, a chefia real já lhe escapa e está nos bastidores, em mãos de mais sólida fôrça territorial" (páginas 38-39).
  • Gamaliel Siqueira: "Moreno queimado, perfil israelita - será condição ou conseqüência do nome? Financista discretíssimo, anula-se a ponto de quase desaparecer na vida da cidade: difícil saber se por esquivança natural, mero instinto de animal predador ou ato calculado. Talvez um pouco de cada coisa. Cresceu e acrescentou-se, e é hoje uma potência nestas terras, onde detém alqueires fartos. No mais, é sujeito ameno, com as limitações de seu retraimento. Correligionário e silencioso credor do Coronel Totônio" (página 39).
  • Zezé Tavares: "Presidente da Câmara Municipal, 38 anos, modesto de nascimento. A princípio floresceu no comércio e entrou, pelo casamento, em uma das famílias principais do lugar, precisamente aquela que invoca mais antigos brasões e mantém a oposição local. Não obstante, é adepto de Totônio e seu preposto na administração do município. Gosta de sua terra e acha maravilhoso haver chegado a dirigi-la. O entusiasmo é salutar ao administrador, mas não lhe alimenta e veste os oito filhos. Mantém-se atuante na Câmara Municipal e mais ainda em conversas legislativas e executivas à porta de sua loja, nas tardes longas que é preciso encher, mas a loja mesmo vem definhando e anda bem murcha e vazia de negócios: é território essencialmente político, pôsto de comando, em holocausto à coisa pública. E Zezé Tavares continua entusiasta e angélico, enquanto seu débito vai subindo em promissórias para Gamaliel e outros terra-tenentes. Tornou-se tributário dêstes, por via de hipotecas e mais documentos de sólida garantia, tal qual o Coronel Totônio" (página 39).
  • Policarpo Rosa: "Farmacêutico que aportou jovem a Serra Verde, casou, prosperou e ramificou-se. Homem realmente fino e cultivado, parece distante porque não se envolve em mexericos, mas está bem perto e tem antenas longas e prudentíssimas. Viceja em terras e bens, a família está bem posta, mas êle próprio conserva um certo ascetismo. Pessoa um tanto complicada, na opinião corrente. É possível que em igual juízo me tenham, se aqui fique e floresça como o Policarpo Rosa, estrangeiro sempre e contudo próspero. O fato é que Siô Policarpo é pessoa de cabedais e pesa nos conselhos da cidade" (página 39). Na vida real, era o farmacêutico Francisco Carpóforo da Rocha.
  • Dona Florentina Serpa: "Sogra de Policarpo e viúva octogenária do antigo chefe local, senhora de cafezais e canaviais sem conta. Raramente vista, está presente em qualquer deliberação de vulto, através de uma compacta milícia de filhos, genros e sobrinhos. Seu clã se acha em paz armada com o grupo do Coronel Totônio: alguns casamentos entre as duas hostes enfraqueceram animosidades. Mas Dona Florentina Serpa está ainda rija, no mais o bom amanho e a prosperidade de suas terras conformam o duro tom opinativo da família, em decisões políticas de alcance" (página 39). A personagem era, na vida real, Josefina Pimenta (Josefina Carvalho de Souza, quando solteira), viúva do "coronel" Cornélio Pimenta da Rocha (1853-1918). Era sogra de Policarpo (Francisco Carpóforo) em decorrência do casamento deste com sua filha Apolíria Pimenta.
  • Dona Florentina Serpa: "Sogra de Policarpo e viúva octogenária do antigo chefe local, senhora de cafezais e canaviais sem conta. Raramente vista, está presente em qualquer deliberação de vulto, através de uma compacta milícia de filhos, genros e sobrinhos. Seu clã se acha em paz armada com o grupo do Coronel Totônio: alguns casamentos entre as duas hostes enfraqueceram animosidades. Mas Dona Florentina Serpa está ainda rija, no mais o bom amanho e a prosperidade de suas terras conformam o duro tom opinativo da família, em decisões políticas de alcance" (página 39). A personagem era, na vida real, Josefina Pimenta (Josefina Carvalho de Souza, quando solteira), viúva do "coronel" Cornélio Pimenta da Rocha (1853-1918). Era sogra de Policarpo (Francisco Carpóforo) em decorrência do casamento deste com sua filha Apolíria Pimenta.

Referências

  1. Diário Oficial da União do dia 10 de março de 1932, Seção 1, página 11 .
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