José Joaquim Geminiano de Morais Navarro

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José Joaquim Geminiano de Morais Navarro
Nascimento 19 de janeiro de 1799
Natal
Morte 24 de agosto de 1858 (59 anos)
Cidadania Brasil
Ocupação político

José Joaquim Geminiano de Morais Navarro (Natal, 19 de janeiro de 179924 de agosto de 1858) foi o primeiro rio-norte-grandense formado em Direito pela Faculdade de Direito de Olinda, integrando a primeira turma daquela universidade (1827-1832). Notabilizou-se como político, ainda jovem envolvendo-se em acontecimentos vinculados à causa da independência e à Confederação do Equador.

Foi presidente da Província da Paraíba em 1833 e da Província de Sergipe, de 29 de outubro de 1833 a 13 de fevereiro de 1835, nomeado por Carta Imperial.

Foi advogado, Juiz de Direito em Pernambuco, Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo, Diretor da Instrução pública e Secretário de governo no Amazonas.

Filho de Antônio Caetano do Rego Barros e de Inácia Francisca de Moraes Navarro, José Joaquim Geminiano é descendente de espanhóis e portugueses e recebeu este nome em homenagem a seu tio e padrinho Joaquim José do Rego Barros. Neto materno de Manuel Alves de Morais Navarro e de Francisca Antônia Xavier. Neto paterno de Francisco Machado de Oliveira Barros e de Antônia Maria Soares de Melo.

Sua ascendência portuguesa é proveniente, principalmente, da família Moraes de Antas. Quanto a sua ascendência espanhola, Geminiano é descendente da família Azpilicueta y Aznaréz, de Navarra, comunidade autônoma da Espanha. Possui parentesco com João de Azpilicueta Navarro, Martin de Azpilicueta Navarro e Francisco de Xavier, este último nascido no importante Castelo de Xavier.

Casou-se com Joanna Francisca Xavier Sève, de ascendência portuguesa e francesa, com quem teve 7 filhos: José Joaquim de Moraes Navarro, João Maria de Morais Navarro, Antônio Caetano Sève Navarro, Maria Izabel de Morais Navarro, Leonila Carolina de Morais Navarro, Francisco Navarro e Aristides de Moraes Navarro.

Faleceu em 24 de agosto de 1858, de apoplexia fulminante.

Texto escrito por José Joaquim Geminiano de Morais Navarro[editar | editar código-fonte]

Extraído do jornal Estrella de Amazonas de 21 de junho de 1862, sob o título "Ligeiras reflexões sobre o christianismo".

"De tempos em tempos o sopro de Satanaz pretende contaminar a pureza do depozito da fé, corromper a palavra de Deos, de que a Igreja é depozitaria, zombando assim da promessa eficaz de Christo: das portas do enfermo não prevalecerem contra ella. Cada erro que se levante, cada sophisma que appareça é um meio de realce à Igreja, pois que ella refutando e confundindo os adversarios, cada vez mais se enraiza nos corações dos fieis e mais prozelitos adquire. Não ha sombra por densa que seja que ella não tenha dissipado com seu espirito vivificador, fazendo succeder uma crença inabalavel à momentos de incerteza. O influxo do Espirito Santo, que assiste aos destinos da Igreja até a consummação dos seculos, a palavra de Deos, que não morre como o verbo humano apenas sahido dos labios, atravessa o tempo e se consubstancia com a eternidade, acompanhando a instituição divina, que nasceu com o mundo e sobrevivera à elle.

O protestantismo servindo-se unicamente da razão individual para explicar e dezenvolver o que esta a acima da comprehenção humana e encontrando um abismo, recua desesperado e phantazia à seu modo os mysterios e os dogmas, que a sua intelligencia não ha podido penetrar. Não respeitando as raias que lhe forão traçadas para a justa acquizição das ideias, sem norte e sem guia aventura-se na região de sobrenatural e amolda por uma ousadia desmarcada os arcanos divinos ao circulo de suas noções.

Assim como o olho physico para conhecer as formas da matéria necessita da luz material, que com suas modificações nos revelão aquellas da mesma sorte a razão, o olho espiritual, para alcançar o mundo do absoluto e do necessario depende da luz sobrenatural, que esclarecendo a fé, lhe patenteia os prestigiou da autoridade divina. Sem uma fé ou confiança illimitada nos phenominos communs, que à nesta vista se operão, o scepticismo dominaria em tudo, e a alma longe de tranquilizar-se, lutaria com as ancas da incerteza. Mas será mister, para que a fé preste seu apoio, que a razão se antecipe em explorar a natureza, relações, accidentes e circunstancias das couzas? O que há de mais fundamental e que constituem a vida e é a condição da existencia de qualquer ser, é a substancia ou princípio intrinseco e occulto, que sustenta em uma so unidade a coexistência de varias phénomenos e attributos, sem a qual a realidade seria um phantasma. A razão concede necessariamente e sente-se forçada à isso, mas quando tenta prescrutar a intimidade de sua formação, vacilla e perde-se em conjecturas arriscadas; afinal vem a julgar, que este não é mundo de sua alçada, que cumpre submetter-se à fé. Esta adhere firme e inabalavelmente às concepções da razão, porem caminha alem e vai afirmar e dar realidade à aquilo que apenas motivara uma suspeita racional.

A philosophia protestante rezume a fé na razão, e como àquella se acha adstricta ao circulo desta, nunca poderá transpor a esphera contingente e mesquinha dos conhecimentos, e a fé será sempre o que a razão quizer que ella seja. Hum ente superior falla ao espirito no meio da ordem e harmonia do Universo, mas a curiozidade da investigação não se sacia com esta inspiração natural, promovida por uma causa occasional, deduz o que não vê pelo que vê e inventa uma intuição, que nao passa de expectro ideal de emaginação prismatica em delírio, para, negando a assistencia da revelação, indagar por si as verdades profundas do Infinito.

Assim como a palavra ensina a palavra, da mesma sorte a ideia lembra a _deia, nem a linguagem e o saber são innatos ao homem, é necessario admittir que as germens destes dous factos fossem semeados por ensino na intelligencia para então o raciocino deduzir o resto. O finito não comprehendendo o infinito, era mister que este se manifestasse à razão humilde do homem: de feito este se deo, mas as sombras do mysterio não desampararão os pensamentos de Deus, porque so elle se conhece à si mesmo. So a fé com todo respeito pode nos domínios de sua confiança ampliar-se com os raios da luz eterna. Toda submissão desta importa uma elevação d'alma, uma veneração da razão à origem santa, donde foi emanada. A affirmação da fé protestante é a degradação da verdadeira fé, o culto que della parte se entende com o ídolo do orgulho tão variável e inconsistente como as areias do deserto e tendo por diviza sempre o exame, nunca se repouza, indo à descoberta de um ideial, que lhe fulgura ao longe, sem jamais se avezinhar. O bom senso desrespeitado e atacado em seus profundos sentimentos nega-lhe sua adhezão, abandonando-a como partilha de certas intelligencias privilegiadas, desvairadas pelo hálito da vaidade, que ensinou-lhe a omnipotencia da razão - Com a incoherencia de suas doutrinas, e a inconsequencia de seus principios, pretende avassalar o ceo à terra, o divino ao humano, o espirito ao barro, sem medira destancia invencivel, que os separa; por isso a sua queda é mais horrível do que a que nasce do indifferentismo calculado.

Um menino catholico com o cathecismo na mão, sabe mais que estes aventureiros da verdade e seu coração se deleita na tranquilidade da paz, entretanto que aqueles enchergão o inferno em sua alma; e porque? Porque o menino ja possue o sublime da crença com a unção da santidade e seu coração se expande em um dôce amor, e o protestante vai peregrinando em busca da terra promettida nos áridos desertos da duvida sem uma estrella, que illumine seus passos, com a legenda de Ashuaverus escripta na fronte - caminha, caminha.

A maior argumentação, que se pode opor à estes pseudo-racionalistas, é as contradicções que se encontrão em suas próprias doutrinas; ora prescrevem obediencia à Bíblia, ora adulterão-na com interpretações particulares, variando conforme o senso individual de cada um, ora suprimem livros, que a constituem, ora alterão as suas próprias letras, para satisfazendo os seus caprichos reservados, acobertal-os dest arte com o manto da Igreja. A serpe que se esconde debaixo das hervas não é tão traiçoeira e venenosa como este meio insidioso de propaganda, onde so respira a má fé e a mentira. Este meio não se apresenta so e descarnado em frente dos povos, para dizer-lhes -- eis os meus dogmas à que presto assentimento e as credenciaes, que justificão minha autoridade --; muito pelo contrario, intitula-se catholico, proclama a excellencia da Bíblia, exige o ardor da fé e depois de conquistar os corações, lhes inocula o elemento deleterio do livre exame, falla-lhes de liberdade ampla e absluta e acaba por decantar a soberania da razão em matéria de doutrina evangélica. Este expediente ridículo implica nada menos, que o reconhecimento de sua fraquesa, o protesto de seu nada.

Compulsando-se as paginas da historia e revolvendo-se os annaes do seculo 18, sem querer-se remontar as eras nebulosas do obscurantismo pagão, vê-se as consequencias desastrosas, à que chega a razão, abandonada a si mesma, reduzida à seus proprios recursos, quando procura negar-se à submissão da Igreja. A impiedade philosophica de Voltaire 'o jovem Arouet' o qual em tenra idade ja recitava de cor o terrível poema Moïzade, onde lhe ensinava a lêr o abbade de Chateauneuf, ergueu altiva o colo em França e derramou com excessiva influencia os fructos amargos da incredulidade.

Da razão fez-se uma divindade, ella explicava e resolvia as maiores dificuldades em todos os ramos dos reconhecimentos humanos e ainda daquelles que dependem grandemente do auxílio de uma longa experiencia. Symbolizada na figura de uma mulher, tinha por sacerdotisas as meretrizes arrancadas do antro da prostituição e da mizeria. Todos os seus dictames e sabedoria estavão resumidos na Encyclopedia, considerada como a obra de maior erudição e talento, que o genio tem podido produzir. Folgava-se nos banquetes lascivos, onde as cabeças pendião sob o peso da crápula, no meio dos artezoes dourados e do brilho dos cristais, de assacar improperios o cobrir de blasfêmias o Moizes e os prophetas; e nesta orgia concorrida das celebridades de então, tomavão parte Lenclos, Dudeffant e Tencin, que entravão com a maledicência de envolta com o cynismo. Desta sorte endeosada e do dêver e cresceo a immoralide e tomou proporções taes de modo a entrar e invadir o lar domestico, e o trono e à percorrer sucessivamente todas as camadas do povo. D'ahi à anarchia, à conflagração dos elementos sociaes e à revolução houve um caminho directo e seguro. Queimão-se as bibliotecas, fechão-se os templos, ridicularisão-se as vestes sacerdotaes, despedação-se as imagens, arma-se a guilhotina, desfallece o braço do executor ao trabalho constante do morticínio, o apostolo deste é coroado de flores pelas tricoteuses e o crime recebe culto na praça de Gréve.

Concentremos agora nossas considerações sobre uma outra especie de factos que bastante concorre para o fim à que temos em vista, e que talvez --- prima facie pareça uma desconnexão com o que havemos expendido, no entanto que com elle tem próxima relação. Apreciemos o valôr das religiões entre si, em referencia ao catholicismo, tomando por base seus fundadores.

Por um exame comparativo entre os que se apresentão enviados do Eterno sem o serem, falsos prosphetas, e Jezus Christo, vê-se a diferença imensa que os separa deste, não so modo de pregação, nos exemplos que mostrão, na moral, que observão, como especialmente pelos precedentes ou que os resolve à esta missão, ou que justificão a naturesa de seus actos. Jezus Christo pelo seu nascimento, pelos milagres que se operarão durante sua infancia e depois della, pelos preceitos puros e cheios de um fundo de verdades ineffaveis e concebidos em linguagem so vinda do Céo, pelos exemplos mais edificantes de virtude e pelas provas - de uma resignação para soffrer immensamente, - de abnegação para desistir da vida por amor dos homens - e de bondade, para perdoar seus proprios inimigos, e por uma serie de actos misteriosos e sobrehumanos, Jezus Christo, digo, demonstra luminosamente à todos os povos, que nao são tocados da cegueira voluntaria do espirito, que elle é o verdadeiro filho de Deos, que veio ao mundo trazer a boa nova.

Alem disto, o edificio infallivel da Igreja fundado em uma pedra - cephas - com todas as presumpçoes de perpetuidade e gozando conseguintemente do dom da suprema certeza, é uma razão bastante eloquente para se crer, que a palavra do Divino Mestre traduzio-se em realidade e teve sua efficacia no tempo e que a pessoa donde partio a palavra é seguramente divina, - era a incarnaçao do Verbo; d'outra sorte, teria de ha muito sucumbido a Igreja com os golpes repetidos de seus adversarios.

O Martir do Golgota abrindo os braços as Nações e pronunciando o - consomatum est - consumou a obra da redempçao e regenerou a humanidade na triplice face da ordem civil, moral e politica. Deste então os olhos volverão-se para o Sião Santa, firmados na esperança, o coração se abrio aos effluvios da graça e a terra conciliou-se com o Céo para dar testemunho aos homens da omnipotência divina. (Continua.)

José Joaquim de Moraes Navarro."

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Precedido por
José Pinto de Carvalho
Presidente da província de Sergipe
1833 — 1835
Sucedido por
Manuel Ribeiro da Silva Lisboa


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