Julia Kristeva

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Julia Kristeva
Julia Kristeva
Nascimento 24 de junho de 1941 (82 anos)
Sliven, Bulgária
Nacionalidade Bulgária Búlgara
Cidadania França, Bulgária
Cônjuge Philippe Sollers
Alma mater
Ocupação Filósofa, escritora, crítica literária, psicanalista e feminista
Prêmios
Empregador(a) Universidade Paris VII, Universidade Columbia
Obras destacadas História da linguagem
Movimento estético pós-estruturalismo
Página oficial
http://kristeva.fr

Julia Kristeva (em búlgaro: Юлия Кръстева; Sliven, 24 de junho de 1941) é uma filósofa, escritora, crítica literária, psicanalista, teórica feminista búlgaro-francesa.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Kristeva viveu na França desde meados dos anos 1960[1]. Ela tornou-se influente na análise crítica internacional cultural e em teoria feminista após publicar o seu primeiro livro, Sèméiotikè, em 1969. Sua enorme produção inclui livros e ensaios que abordam a intertextualidade e a semiótica, nas áreas da linguística, teoria e crítica literária, psicanálise, biografia e autobiografia, análise política e cultural, arte e história da arte. Juntamente com Barthes, Todorov, Genette, Lévi-Strauss, Lacan, Greimas, Foucault, e Althusser, ela permanece como uma das principais filósofas estruturalistas. Suas obras têm também um lugar importante no pensamento pós-estruturalista.[2]. No Brasil sua influência é notada nos campos da teoria literária, comunicação, semiótica e feminismo, tendo sido orientadora, por exemplo, de Leda Tenório da Motta nos anos 1980.

Kristeva e a irmã frequentaram uma escola francófona de padres dominicanos. Mais tarde, ela ingressou na Universidade de Sófia e como pós-graduada obteve uma bolsa que lhe permitiu imigrar para França em Dezembro de 1965, aos 24 anos de idade. Continuou a sua formação em diversas universidades Francesas[2].

História da Linguagem[editar | editar código-fonte]

Capa do livro

Esse artigo aborda uma parte do livro História da linguagem, escrito por Julia Kristeva [3].

Esta obra é para quem pretende se iniciar nos domínios da Semiótica e da Linguística. O livro traça a história das sociedades primitivas às contemporâneas, abordando as diversas concepções de linguagem até às modernas descobertas que permitiram à linguística se constituir como ciência.

Nele, é possível ver até que ponto esse sistema de signos convencionais a que chamamos língua, fala ou discurso, e que constitui a mais específica particularidade da espécie humana, é complexo nas suas origens e na sua função.

Origens da Linguagem[editar | editar código-fonte]

A linguística não tenta estabelecer como a linguagem apareceu, mas desde quando o homem fala. Os investigadores da pré-história da linguagem estão se dedicando ao estudo das mais antigas etapas de escrita conhecidas, a fim de que elas permitam hipóteses sobre estágios anteriores, dos quais ainda não tomamos conhecimento. A linguística comparada pode deduzir certas leis linguísticas que nos permitem reconstruir o passado longínquo da linguagem.

A partir de estudo dos escritos podemos fazer deduções referentes não apenas à vida linguística, mas à vida social dos povos. Os fenômenos sociais podem ser assimilados à linguagem, e a partir do funcionamento linguístico podemos ter acesso às leis do sistema social.

Os estudos da estrutura específica do sistema linguístico propiciaram a construção de uma teoria a respeito do relativismo linguístico.

Antropologia e Linguística[editar | editar código-fonte]

A antropologia e a linguística estudam as línguas e as teorias linguísticas nas sociedades primitivas, a fim de elaborar um quadro dos diferentes modos de representação que acompanharam a prática linguística. Franz Boas é o principal responsável pelas formulações mais significativas nesse domínio.

Nas sociedades primitivas a linguagem é uma substância e uma força material. O homem primitivo não consegue distinguir matéria de espírito, real de linguagem, e ainda menos significante de significado: para ele, todos estes participam igualmente de um mundo diferenciado. O homem primata compreende a rede da linguagem como uma matéria consistente de tal forma que as semelhanças fônicas são para ele o índice de semelhança dos significados, e por conseguinte dos referentes.

A escrita irá marcar a formação das palavras e das coisas, em um processo de diferenciação e de classificação. Essa participação da linguagem no mundo e a sua complexa sistematização constituem o traço fundamental da concepção da linguagem em sociedades primitivas.

Os egípcios: a sua escrita[editar | editar código-fonte]

Escrita hierática: a primeira cursiva

A decifração dos signos egípcios só foi possível com Champollion, que estudou a Pedra de Roseta e comparou o alfabeto grego aos hieróglifos, utilizando como eixo de correspondência os nomes Ptolemeu e Cleópatra.

Os tipos de escrita (segundo Champollion)[editar | editar código-fonte]

  1. Hieroglífica: signos estilizados, pictóricos
  2. Hierática: abreviação dos hieróglifos.
  3. Demótica: mais popular, para assuntos cotidianos, como a administração.

A utilização dos signos[editar | editar código-fonte]

  1. "signo-palavra" ou logograma: união significante-significado.
  2. fonograma: só representa sons e serve para escrever consoantes. Exemplo: péri significa "casa", mas como fonograma é utilizado para escrever palavras que contenham p e r. A noção de sílaba é ausente.
  3. determinativo: evoca uma noção e não é pronunciável. Evita confusão de palavras com as mesmas consoantes relacionando-as a classes diferentes. Isso demonstra uma sistematização lógica da linguagem.

O desaparecimento da escrita[editar | editar código-fonte]

O cristianismo, substituindo a religião egípcia, é uma hipótese para o declínio dos escribas-sacerdotes e sua escrita hieroglífica. Além disso, a escrita egípcia era muito diferente da fala, ou seja, estava distante das relações sociais. Quando os egípcios passaram a realizar trocas com os gregos (a sociedade comercial), essa escrita revelou-se ineficaz.

A civilização mesopotâmica: sumérios e acádios[editar | editar código-fonte]

Sumérios e acádios: localização
Escrita cuneiforme de 3000 a.C

Escrita cuneiforme[editar | editar código-fonte]

A civilização mesopotâmica elaborou a escrita cuneiforme, representada por grupos de cunhas gravados em argila, que tem suas origens no pictograma.

Houve uma profunda evolução desse sistema linguístico, que o fez passar da ideografia ao alfabetismo.

Evolução fonética[editar | editar código-fonte]

O sumério, língua viva desde o 4 a.C até 2 mil a.C, já era de certa forma fonográfico. E sua utilização pelos acádios, que teve por consequência o bilinguismo sumério-acádio intensificou a evolução fonética do sistema, e a formação da consciência de uma alfabetização da linguagem.

Com a apropriação de determinados sons dos Sumérios pelos Acádios, ocorre a separação entre o significante e o significado, o que explicaria a mudança fonética dessa escrita; que, no entanto, nunca se tornou uma escrita alfabética.

A China: a escrita como ciência[editar | editar código-fonte]

Não há propriamente uma linguística chinesa. O conhecimento da linguagem é o estudo dos emblemas gráficos.

A polivalência chinesa[editar | editar código-fonte]

No sistema fonético chinês, cada sílaba pode ser pronunciada em 4 tons que modificam o seu valor. Além disso, a língua é monossilábica e há muitos homófonos. Essa polivalência estende-se ao campo morfológico e sintático. É o contexto, ou seja, o discurso, que define o valor preciso da palavra.

A relação coisa-som-sentido[editar | editar código-fonte]

Essa múltipla funcionalidade da palavra chinesa é muito assustadora, pois o homem busca, desde que nasce, relações fixas entre o nome (significante) e o que é nomeado (referente), formando em sua mente uma imagem também fixa (o significado) para essa associação. No chinês, a relação referente-significante-significado não aparece hierarquizada. Os três elementos confundem-se no ideograma. Mais do que um signo, a palavra torna-se um emblema (reprodução pictórica de algo abstrato). A palavra, ao representar a coisa, não a perde, apenas situa-a num plano em que artifícios gramaticais e sintáticos tornam sua compreensão possível. A palavra chinesa, então singularizada, aproxima-se da coisa que ela evoca, formando "língua" e "real" um só elemento.

Estágios dos emblemas[editar | editar código-fonte]

A evolução da escrita chinesa: do desenho ao ideograma
  1. Pictogramas (formas figuradas)
  2. Símbolos indiretos (formados por substituição). Exemplo: fu, "cheio", deriva do ideograma de "jarra".
  3. Complexos lógicos ou associativos (combinação de dois ou mais emblemas/encontro de ideias). Exemplo: hao, verbo "amar", é combinação dos emblemas de "mulher" e "criança".
  4. Os determinativos fonéticos (imagem e som): acrescentados a outros emblemas, podem estabelecer uma ponte semântica ou indicar a presença de radicais comuns. Por exemplo, t'ong ("juntamente") + jin (metal) = "cobre"

Nota-se, na composição dos caracteres chineses, uma articulação semântico-lógica, em que os signos não transpõem a fonética, mas esta surge de forma autônoma como resultado das manobras com significantes, significados e referentes.

Livro sobre gramático indiano Bhartrhari

A linguística indiana[editar | editar código-fonte]

Símbolo do Sphota

A organização da linguagem na Índia talvez constitua a mais antiga base da abstração da linguística moderna, sua linguística se aproxima da teoria da enunciação.

No início, a escrita era quase inexistente e a fonetização da escrita foi tardia. Suas fonéticas e gramáticas foram organizadas em estreita relação com a religião e o ritual védicos.

Teoria do Sphota[editar | editar código-fonte]

Segundo o gramático Patanjali, o sphota apareceria no fim da articulação de todos os sons da palavra, seria o ponto da explosão do sentido. Enquanto, para Bhartrhari, sphota é a unidade mínima do universo infinitamente divisível.

Ele considera que o som não é uma simples exterioridade do sentido e que a significação é um processo. A partir de suas reflexões, a linguística indiana vai mais longe que a europeia ao declarar que não se pode parar a divisão da cadeia sonora em elementos sempre menores.

O alfabeto fenício[editar | editar código-fonte]

Alfabeto fenício
Moeda fenícia

A escrita fenícia é, geralmente, considerada como a antepassada do alfabetismo moderno.

Foi no mundo siro-palestiniano, mais particularmente entre os Fenícios, que se produziu uma notação puramente fonética das línguas, por meio de um número limitado de signos, que deram mais tarde o modelo do alfabeto que marca cada fonema.

Février a considera, porém, incompletamente fonética, pois, apesar de ter banir os ideogramas, continua a ser até certo ponto ideográfica.


Obras publicadas[editar | editar código-fonte]

  • Séméiotiké. Recherches pour une sémanalyse, 1969;
  • Le Texte du roman. Approche sémiologique d´une structure discurcive transformationnelle, 1970;
  • História da Linguagem, 1974
  • About Chinese Women, 1974;
  • Revolution in Poetic Language, 1974;
  • Polylogue, 1977;
  • Powers of Horror. An Essay on Abjection, 1980;
  • Tales of Love, 1983;
  • Black Sun, 1987;
  • Strangers to Ourselves, 1988;
  • The Incredible Need to Believe, 2007;
  • Possessions: A Novel, Murder in Byzantium, Seule une femme, Teresa, my love, 2008;
  • Pulsions du temps, 2013;
  • L’Horloge enchantée, 2015[4].

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. O VELHO E OS LOBOS Os laços de "Cora" nas linhas de Julia Kristeva[https://web.archive.org/web/20220328221053/https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq03079912.htm Arquivado em 2022-03-28 no Wayback Machine]
  2. a b Honse, Alek (2020). Só Podia Ser Mulher !. [S.l.]: Clube de Autores, 2020. 675 páginas 
  3. Kristeva, Julia (1969). História da Linguagem.Tradução de Maria Margarida Barahona. 70. [S.l.]: Lisboa: Edições 
  4. Kristeva, Julia. «Julia Kristeva». Consultado em 28 de março de 2022 
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