Lei-ponte

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Na filosofia contemporânea, principalmente no fisicalismo, uma lei-ponte é uma lei que liga os predicados da teoria reduzida (a teoria a ser reduzida) com os predicados da teoria reduzindo (a teoria que alguém está reduzindo)[1]. Basicamente, lei-ponte é uma lei que permite uma redução da explicação fenomenológica de qualquer disciplina científica humana ou natural para uma lei da física[2].

Exemplos[editar | editar código-fonte]

Há muitos exemplos de leis-ponte e, provavelmente, a mais famosa é a lei de Boyle-Mariotte que explica o comportamento de um gás baseado na pressão, volume e temperatura que é reduzida para uma teoria cinética fornecida por Maxwell e Boltzmann[3].

Fodor oferece um exemplo na ciência econômica, a lei de Gresham, que afirma que "um bom dinheiro (valorizado) é expulso pelo dinheiro ruim (desvalorização)". O correlato físico da lei de Gresham seria que moedas que têm o seu valor em termos de qual tipo de metal ela foi feita. Quanto mais raro ou precioso for a constituição física das moedas, mais rapido elas tendem a desaparecer de circulação[4].

Modelo de redução nageliano[editar | editar código-fonte]

O princípio da lei-ponte foi descrito nos debates (1949, 1961 e 1970) de redução na filosofia da ciência iniciada pelo modelo da teoria de redução de Ernest Nagel, que também recebeu considerável atenção na filosofia da mente[5]. Nagel descreve seu modelo como:

"A redução é efetuada quando as leis experimentais da ciência secundária (e se ela tem uma teoria adequada) são mostradas (através de leis-ponte) serem as consequências lógicas dos pressupostos teóricos (inclusive das definições de coordenação) da ciência primária". Ernest Nagel (1961: pg. 352)[6]

Modelo de redução fodoriano[editar | editar código-fonte]

Jerry Fodor analisa primeiramente o que, exatamente, uma redução das leis das ciências (química, biologia, fisiologia, etc.) para a física deve significar. Ele considera uma suposta lei numa tal ciência:

S1x → S2y

S1 e S2 são entendidos como predicados na ciência que desejamos reduzir a física, e assim o que essa fórmula diz é que x tendo propriedade S1 faz que y tenha a propriedade S2. Agora, se o reducionismo é correto, então o que é uma lei em uma ciência especial, é que deve ser um caso especial de uma lei da física, por isso, se a expressão acima é uma lei em alguma ciência especial, S, deve, então, ser redutível a alguma lei na física , tal como:

P1x → P2y

onde P1 e P2 são predicados da física.

No entanto, Fodor afirma que P1 e P2 não pode ser apenas qualquer predicados em física: eles devem si próprios, no mínimo, serem extensionalmente equivalentes aos predicados S1 e S2[7] na ciência especial. E assim, não só a fórmula acima deve ser uma lei da física, ela também deve ser uma lei que:

S1x ↔ P1x

e

S2y ↔ S2y

Ou seja, para Fodor, ela deve ser uma lei que uma coisa tenha a propriedade S1 (ou seja, que ele "satisfaz" S1) se e somente se ele também tem ("satisfaz")P1, e que uma coisa satisfaz propriedade S2 se, e somente se, ela também satisfaz propriedade P2. Estas duas últimas fórmulas é o que Fodor chama de "leis-ponte", uma vez que elas fazem a ponte para ligar as duas ciências. Elas dizem que é uma lei que algo tem uma propriedade das ciências especiais, quando, e somente quando, ela também tem uma determinada propriedade física. Consequentemente, declara Fodor, que se as leis-ponte são leis que nos permitem reduzir uma ciência especial para a física, então eles devem ser entendidas como declarações de identidade. É preciso que os predicados de ciências especiais e os predicados físicos ser idênticos e não meramente, extensionalmente equivalente[8].

Referências

  1. On Some Patterns of Reduction por C. GLYMOUR (‎Vol. 37, No. 3 - 1970) publicado em 13 de junho de 2005 por "Dietrich College of Humanities and Social Sciences" da fundação Carnegie Mellon
  2. SUPERVENIENT BRIDGE LAWS por TERENCE E. HORGAN em "Philosophy of Science" (Vol. 45, No. 2 (Junho, 1978), pp. 227-249) publicado por "The University of Chicago Press" em nome da "Philosophy of Science Association"
  3. Theory Reduction in Physics: A Model-Based, Dynamical Systems Approach por Joshua Rosaler em 27 de novembro de 2013, publicado pelo "Center for Philosophy of Science, University of Pittsburgh"
  4. An Analysis of Jerry Fodor’s “Special Sciences: (or: The Disunity of Science as a Working Hypothesis) ”: Questioning Fodor’s Classification of Chemistry as a Special Science por Ryan E. O’Neil (2014)
  5. Physicalism publicado em Fev. 13, 2001, na "Stanford Encyclopedia of Philosophy"
  6. "The Structure of Science. Problems in the Logic of Explanation" por E. Nagel - Nova York 1961
  7. LEIBNIZ’S ARGUMENT FOR THE IDENTITY OF INDISCERNIBLES IN HIS CORRESPONDENCE WITH CLARKE Arquivado em 11 de junho de 2011, no Wayback Machine. por Gonzalo Rodriguez-Pereyra no "Australasian Journal of Philosophy" (1999, 77 (4), pp. 429-438
  8. Jerry Fodor and his “Special Sciences” por Kent Baldner publicado pelo "Department of Philosophy of Western Michigan University"
Ícone de esboço Este artigo sobre filosofia/um(a) filósofo(a) é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.